...Dimas...

Nasci na nobreza.

Meu pai, o rei Willian III governou por muitos anos o reino de Conad com punhos de ferro.

Cobrava altos impostos, fazendo com que aumentassem a pobreza, e as diferenças na escala social.

Para ele, existia apenas o nobre e o humilde.

Não tinha como ele aceitar que seu povo, poderia trazer prosperidade ao seu país se não tivessem que lutar arduamente pela seu sustento.

Nossa terra tinha muitas minas com pedras preciosas, e ele as usava como um meio de fazer o povo comum pagar as altas taxas de imposto que ele cobrava.

Eu tenho um meio irmão que meu pai trouxe para casa, seu nome é Harry.

Poucos sabiam que ele era o filho ilegítimo, já que ele o trouxe junto com sua amante e ela trabalhou por anos como sua empregada e, como pagamento, ela podia criar o seu filho.

Isso mesmo, além de tudo, meu pai deixou que a amante morasse conosco.

Isso é normal, para os nobres, mas deixar o chamado "bastardo" ser tratado como um membro da família real, é totalmente novo.

Mais novo do que isso, a amante, ao contrário do que muitos possam pensar, é uma mulher jovem e simples que foi claramente seduzida pelo meu pai.

E por sua humildade, não tinha nenhuma ambição, a não ser cuidar de seu amado filho.

Minha mãe, pobre mulher, aguentou várias humilhações de várias outras amantes que apareceram e permaneceram por ali.

Mas graças a Deus nenhuma delas engravidaram, então quando o meu pai enjoava delas, as mandavam embora.

Mas essa mãe do Harry, chamada Lena, minha mãe sentia um carinho especial.

— Ela me lembra quando eu era jovem, ingênua e acreditava em todos...

Inclusive no falso juramento do meu pai, de que seria fiel a ela e somente a ela.

Embora eu seja o filho legítimo, sempre fui o rebelde dos três, ainda tenho a minha irmã que é a mais nova de nós.

Mesmo sabendo da verdade, sempre considerei o Harry como meu irmão, minha mãe se certificou disso desde o começo.

E eu passei a admira-lo, mais até do que o meu próprio pai.

Meu pai, sabendo desse meu lado rebelde, sempre tentou me colocar "nos eixos" mas isso foi inútil.

Um dia, ele decidiu que como ninguém sabia que o Harry era ilegítimo, ele disse que seria o próximo na linha se sucessão.

Mas, se ele pensava que essas palavras fariam com que eu, ou o Harry ficássemos um contra o outro, ficou muito decepcionado.

Na verdade, era exatamente isso o que eu queria.

O Harry sempre foi mais diplomático e educado do que eu.

Quando íamos a escola, ele era sempre elogiado pelo seu respeito aos mais velhos e seus esforços para sempre ser o melhor, já eu...

Então, fiquei feliz quando o meu pai deu o anúncio a todos do reino, de que assim que ele morresse, ele seria o próximo a ficar com o trono.

Os anos se passaram, e nós três, como irmãos, nos tornamos unidos, mas nem tudo foram flores nesse período.

Minha mãe, acabou sofrendo de uma tristeza profunda pelas inúmeras quantidades de amantes que meu pai levava em casa.

Mesmo sendo algo normal, minha mãe nunca gostou de humilhar ninguém, então ela sempre evitava essas mulheres, mas a maioria delas faziam o oposto.

Quando não estávamos em casa, elas faziam o inferno para a minha mãe, chegaram inclusive a segurá-la atrás de uma porta no escritório do meu pai para que ela visse uma delas tendo relações com ele.

Isso foi a gota d'água que faltava para ela adoecer e morrer em questão de semanas.

Essa história, só descobrimos depois, quando uma delas se arrependeu do que fez, e deixou uma carta confessando os seus pecados.

Meu pai quando soube disso, mandou enforcar todas elas.

Mas isso não significava que ele estava arrependido.

Só que ele não queria que a nobreza o visse como um ser desprezível que era.

Ele acabou obrigando a Lena a se casar com ele, mas ela se matou um dia antes do casamento.

Essa tragédia fez com que nós como irmãos, se unissem dessa dor em comum.

...Phantom Nightmare....

Depois do luto, fizemos um pacto.

Um pacto de que nada, nem ninguém vai nos separar, nos dividir, e que se alguém tentasse nos prejudicar, faríamos a vida dessa pessoa um inferno.

E com isso, fomos formando cada um a sua personalidade.

Continuei contra as regras que regiam a sociedade, e de observar a maneira como esses malditos tratavam os mais humildes.

Nenhum deles perceberam que são seres humanos?

— Se acalme Dimas, quando eu for rei, vamos poder fazer grandes mudanças.

— E até lá, eu serei obrigado a ver as injustiças que essas pessoas fazem com aqueles mais humildes, eu não aguento.

Minha irmã, que sempre anda com a gente, disse em tom de brincadeira:

— E você vai fazer o quê? Vai virar um Justiceiro, roubando dos ricos e dando aos pobres?

— huuum...

— Dimas, pelo amor de Deus estou brincando, nem pense nisso.

— E por que não? Eu sei lutar, gosto de usar estratégias, e ainda vou ajudar quem precisa.

— E vai virar um BANDIDO.

— Sim, mas se ninguém souber quem sou e não for pego, posso me virar, é perfeito.

E daí não ouvi mais nada do que ela disse, porque estava planejando tudo, desde o disfarce que eu usaria, até às estratégias que eu faria.

Deixei meus irmãos de fora, porque era o certo a fazer, eu sou o único que poderia fazer isso, além disso, não quero que nada aconteça com eles.

Então, no dia seguinte passei a agir como um Justiceiro, que roubava dos ricos e entregava aos pobres, o que deixou o meu pai furioso.

Ele tentou fazer várias emboscadas para tentar me pegar.

Os nobres estavam cada vez mais irados com esses ataques, mas virei uma espécie de herói para os mais humildes.

Prometi ao meu irmão, que assim que ele assumisse o trono, não seria mais um justiceiro.

Colocaram o meu cartaz como recompensa, "Phantom nightmare", foi esse o nome que escolheram, já que não faziam ideia de quem eu era.

Mas isso seria uma perda de tempo, eles estão pedindo ajuda para o povo, pois é justamente a eles que eu ajudo.

Como normalmente faço, consegui a informação de que um carregamento de ouro seria transportado para os molcons, uma das famílias mais ricas e influentes de quase todo o mundo.

Essa seria uma oportunidade perfeita para pegar uma boa quantia, e ajudar três vilarejos em volta que estavam passando fome.

Me preparei, junto com mais 5 aliados que me ajudam a pegar e distribuir os "espólios".

Mal sabia que se tratava de uma cilada.

Quando chegamos até lá, o carregamento existia, mas era bem menor do que esperávamos, o que nos fez entender que tinha algo errado.

De repente, apareceram muitos guardas, não tive tempo de contar, só disse aos meus companheiros para fugir o mais rápido possível.

Peguei um dos sacos de ouro, não entendi o porquê, mas saí de lá como se custasse a minha vida, e de certa forma, custava.

Fui atingido por duas flechas, uma delas com certeza era envenenada, deixando seu motivo bem claro:

Eles me queriam mortos.

Consegui me esconder deles, conheço aquela floresta como a palma da minha mão, e fiquei escondido nos arbustos.

Depois de um tempo, quando estava prestes a perder a consciência ouvi as vozes de duas mulheres.

Estavam a procura de ervas, não sei muito bem, quando uma delas pôs a mão perto do arbusto em que eu estava, eu segurei o seu pulso e pedi ajuda, antes de apagar por completo.

Acordei numa casa bem simples, na verdade numa casa caindo aos pedaços e uma senhora cuidando de mim.

— Nossa! Que bom que você acordou, moço, você quase matou a minha sobrinha do coração.

— Sua sobrinha?

— Sim, ela foi buscar mais ervas para cuidar de você.

— Foi a mão dela que eu peguei?

— Sim, você tem sorte que ela não é de gritar, tinham guardas por perto, e você seria pego.

— Por que acha que estava fugindo deles?

— O veneno que estava em seu organismo, só os guardas reais podem possuir.

— Por que não me entregaram?

Ela olhou nos meus olhos, suspirou e disse:

— Eu sei quem você é, e sei o que faz pelo povo.

...Fim das lembranças...

— Como está esse vilarejo?

— Bem, a sua ajuda salvou muitos da fome, o rei tirou tudo que podia daqui. Também deu forças para os trabalhadores forçados continuarem nas minas.

— Fico feliz com isso, o rei tem feito só isso por aqui?

— Algumas famílias venderam as suas filhas para o rei.

Eu já sabia disso, infelizmente além de serem vendidas, são entregues as famílias nobres, onde se tornam empregadas, ou no pior dos casos, amantes.

— Faço de tudo para esconder minhas sobrinhas, sempre quando os guardas aparecem.

— E por que faria isso?

— Alguns guardas também se aproveitam da situação, e eu não quero isso pra elas.

— Entendo.

— Agora você precisa descansar mais um pouco, esse chá vai ajudar, felizmente eu tinha o antídoto, e a flecha não atingiu nenhum órgão vital.

Olhei para onde estavam as minhas coisas e vi o saco de ouro.

— Se importa de pegar aquele saco pra mim?

A senhora foi e pegou, mas percebi que não estava sabendo do que se tratava.

— Quero que fique com isso, compre ou arrume essa casa, esse é a minha forma de te agradecer.

Logo depois de tomar o chá, eu apaguei.

Acordei com alguém me sacudindo, no meio da noite.

— Moço, por favor, acorda! Os guardas estão chegando para uma vistoria.

Quando abri os olhos, encontrei uma mulher com o rosto coberto:

— Por que está assim?

— Eu tenho que fingir que tenho uma doença contagiosa, então os guardas não chegam perto, mas ouvi dizer que alguém te delatou.

Me levantei meio grogue e fui para onde ela estava me guiando, para os fundos.

— Siga por esse caminho, quando chegar numa rocha enorme vire à esquerda, lá, verá uma cachoeira e você pode se esconder até amanhã na gruta, toma esses elixires para tomar e amanhã se sentirá revigorado, aí você pode fugir.

— Por favor me diga o seu nome.

— Eu ....

...BAM BAM BAM...

Abram a porta para uma inspeção em nome do rei.

— Por favor, vá.

— Agradeço por tudo que fizeram por mim.

E saí pelo caminho, espero que elas fiquem bem, daqui uns dias, quando a poeira abaixar, eu voltarei para verificar, se elas forem pegas, vou dar um jeito de salvá-las.

— Dimas, o que está fazendo aqui sozinho no escuro?

Perguntou o meu irmão , depois de me ver por tanto tempo sem me mexer.

Quase sempre faço isso, aquilo foi um momento em que eu tive medo, achei mesmo que iria morrer.

Se aquela família não tivesse me salvado, eu teria morrido.

Depois de uns dias , voltei para aquela vila na esperança de encontrar aquela família e agradecer com mais calma, e ver melhor as responsáveis pela minha salvação.

Mas quando cheguei lá, elas já não moravam naquele lugar e ninguém sabia para onde elas foram, devem ter usado o dinheiro para comprar uma casa, fiquei feliz por ter ajudado mais uma família.

— O que está fazendo aqui, Harry?

— Preciso conversar, e a Lizi está viajando, então sobrou pra você...

— Sobre o que você quer falar? Ainda sobre a sua amada?

Ele conheceu uma garota há alguns meses por quem ele se apaixonou loucamente, chega a ser irritante, ele disse que ela não é da nobreza, e por isso, ele ficou constrangido de dizer quem ele era.

E é melhor mesmo, a última coisa que ele precisa é de uma interesseira.

O que salva é saber que meu pai, não vai ficar com raiva ou se intrometer no relacionamento de nenhum dos filhos, já que esse foi o último pedido das duas mães.

— Estamos indo muito bem, ela é maravilhosa e perfeita, um doce de pessoa, acho que vou contar pra ela a verdade, e acho que vou fazer o pedido.

— Como é? É sério? Você vai se casar com ela?

— Qual parte do "estou apaixonado" você nao entendeu?

— Poderia pelo menos esperar a nossa irmã voltar e apresentar essa mulher pra nós primeiro, antes de tomar essa decisão?

Acho que estava falando sozinho porque de repente ele me mostra um anel, ele deve estar enfeitiçado.

— você comprou esse anel?

— Era da minha mãe, ela me deu, e disse que eu deveria entregar para uma pessoa especial, então, não imagino outra pessoa que possa ficar com ele.

— Desisto! Sério, não consigo ter argumento com você, então faça o que quiser, espero mesmo que essa moça valha a pena.

— Ela vale meu irmão, ela é a minha alma gêmea.

Sempre achei absurdo esse termo "alma gêmea" quer dizer, será que existe mesmo uma pessoa que foi feita pra você?

E se você se casar com outra pessoa e depois conhecer a "escolhida"?

Ela vai passar a ser a sua alma gêmea ou a sua esposa é que vai ser sua nova alma gêmea?

E se ela for Atingida por um raio? Você estará condenado a morrer na solidão? Ou terá que renascer pra encontrá-la?

Acho que o absurdo se deve mais ao meu pensamento ou a alegria de ver o meu irmão tão feliz.

E eu achar que algo vai dar errado.