Eu sempre fui uma criança curiosa, isso sempre foi algo bom para mim, costumava aprender as coisas bem mais rápido que o das outras crianças… por causa dessa característica consegui desenvolver a fala mais rápido, a escrita, e até mesmo alguns dons como tocar violão.
Para todos isso deve ser algo ótimo, por que eu estaria reclamando de algo que me disponha está à frente dos outros?
Esse habito, o ser curioso, me trouxe também malefícios. Não está entendendo? Pois bem, vou te contar a minha história.
Me chamo Ana, tenho 22 anos, curso administração, uma pessoa normal? Quem me dera ser…
A dois anos atrás eu estava em casa sozinha a noite entediada procurando o que assistir ao abri o YouTube um vídeo me chamou atenção onde estava escrito: meditação para abrir o terceiro olho. (Sempre fui cética ok? Nada nunca tinha acontecido comigo)
A curiosidade falou mais alto, resolvi assistir, o vídeo iniciou com uma voz masculina calma dizendo para que eu procurasse um lugar calmo e escuro para iniciar a meditação guiada.
O vídeo se iniciou: oi, eu sou o Nicolas, serei seu tutor hoje, feche os olhos e se acalme, respire fundo, eu vou te guiar nessa jornada, respire devagar e observe o seu peito subir e descer…
(Senti meu corpo relaxar e o tempo desacelerar ao meu redor)
Iniciou um som de natureza, pássaros cantando, rios, coaxar de sapos…. Esses sons inicialmente me trouxeram uma paz inexplicável… o som começou a ficar mais altos e mais rápidos, com uma frase em latim ao fundo. No início eu não liguei para a frase (meu grande erro) e continuei a ouvir o vídeo… minutos se passaram e eu comecei a ouvir barulhos em casa, e me sentir como se eu tivesse sendo observada. Achei que era coisa da minha imaginação, comecei a presta atenção na frase que dizia:
— Tertius oculus tuus aperiatur, et videat te malus, sicut eum videas.
Um som de vidro quebrando me assustou e me tirou do transe, desliguei o vídeo e fui procurar da de onde vinha o barulho. Ao chegar na cozinha vi uma jarra quebrada e a geladeira aberta.
— Mas como eu estava sozinha? Ou não estava?
Limpei tudo e me convenci de ter colocado a jarra eu mesma na ponta da mesa, por isso quebrou. Fui dormi sem nem pensar muito sobre.
3 da manhã, ouço sons de passos ao lado da cama, abri os olhos, meu rosto virou de imediato para o canto mais escuro do meu quarto, escutei um barulho de grunhidos, por mais que eu tentasse enxergar, não conseguia ver o que fazia aquele som, o ambiente ficou pesado, não conseguia me mexer, mal conseguia respirar me faltava ar. Um grunhido maior foi ouvido por mim, sons unhas arranhar o piso de madeira, barulho de algo pingando como se a pia do banheiro estivesse pingando. Comecei a ouvir passos pesados caminhando, arregalei os olhos quando vi vindo em minha direção, saindo direto do canto escuro: um ser de quase dois metros, com a cabeça putrificada, sangue pingando diretamente da boca, sem olhos e um sorriso macabro. Gritei em desespero quando uma voz me disse:
— oi Ana, você queria tanto nos vê, agora também te vemos, cuidado a sua curiosidade vai te matar.
Mais uma terça, quatro horas da tarde e me encontro deitado nesse ambiente silencioso rolando os olhos pelas paredes, observando alguns informativos colados informando algumas fobias que para mim chegam a ser engraçadas. Vejo listadas as mais frequentes, como aracnofobia, o medo de aranhas, outras estranhas como tripofobia, que é a aversão ou incomodo ao ver imagens com “buracos?”. Passo os olhos novamente até ver a minha ali estampada, me causando gatilho. Respiro fundo enquanto o psiquiatra espera que eu me sinta confortável para falar. Como me sentir confortável? Ele acha que eu sou doido, assim como todos os outros.
Tudo o que eles dizem é: continue tomando sua medicação e você vai melhorar.
— então senhor André, o que te traz aqui? Tem tomado seus medicamentos?
(diz ele me tirar do meu devaneio)
— Sim, doutor, continuo tomando meus remédios, mas eu ainda o vejo toda noite, não teria nada mais forte?
Digo com a voz cansada, olheiras profundas e cada vez mais magro.
— eu ainda o vejo a noite, ele fica me chamando com uma voz tenebrosa, os olhos negros e sem vida, a maquiagem borrada como se escorrendo do rosto, vejo sangue no seu rastro.
Respiro exausto, esperando o médico me encarar como se tudo não passasse de um sonho
— André, você é Coulrofobia, um trauma do passado, o nosso inconsciente e a cultura popular, pode ter te trazido esse gatilho, por isso estamos tratando sim? E tentando descobrir a causa. O palhaço que você diz vê toda noite é só seu subconsciente te pregando uma peça, ele não pode te tocar, ele não é real, entende?
Aceno com a cabeça, exausto de toda essa conversa, só desejo pegar meus remédios e ir embora.
Volto para casa, meus pesadelos têm se tornado cada vez mais constante, toda noite escuto passos e aquela voz me chamar, sei que é ele, só pode ser aquele palhaço. Me olho no espelho, nem reconheço mais a imagem a minha frente, era para ser eu ali refletido? Então quem é esse homem só os ossos, pálido? Desisto te tentar me vê. Decido tomar as medicações, banho e vou jantar, me sinto sonolento, imaginei que ficaria assim ao dobrar a dose por conta própria, que mal haveria sim? Só quero dormir uma noite em paz. Tranco tudo em casa e vou me deitar, uma hora depois tudo recomeça.
Me falta ar, a sensação de ansiedade, enjoou, sinto minha boca seca, paraliso, mas como? Isso só acontecia na presença de algum personagem, alguém fantasiado de palhaço.
Oh não, ele está aqui. Essa frase me invade o pensamento, como modo de defesa inconsciente cubro minha cabeça com o lençol, escuto gargalhadas.
— Ele não é real, ele não é real, ele não é real, você não é real (grito desesperado, na intenção que isso vá me acordar desse pesadelo).
Ele não pode me tocar, não é real. É só minha cabeça me assustando, tento desesperadamente me acordar, porém, dessa vez algo novo acontece, algo que me deixa aflito, sinto as garras dele me segurar pela perna, sinto arder, sinto sangrar… me desespero, porém, continuo o meu mantra, de repente tudo para, e eu apago, como se estivesse exausto demais para se quer abri os olhos.
Acordo no outro dia, são 8 da manhã, minha cabeça lateja, observo o quarto ao redor, nada de anormal, apenas o meu quarto. Decido me levantar para fazer minha higiene matinal, ao tirar o pijama vejo o que tanto temia, os arranhões profundo na minha perna direita.
— Talvez eu não seja tão doido assim em doutor, se ele não é real como eu tenho feridas que sangram feitas em um pesadelo?
Oi, eu sou o Alan, tenho 34 anos e vou contar um segredo que queria ter ouvido anos atrás: palavras tem poder, cuidado com o que você fala na hora da raiva, ou melhor, quem você chama.
Minha família é formada de pessoas com o dom de ver o que ninguém consegue enxergar, somos sensitivos sabe? Uma pessoa mais sensível ao sobrenatural, digamos assim, minha mãe sempre viu coisas, vultos, passos, energias, já meu pai morreu no dia do meu nascimento, mas ele também tinha ligação com o mundo espiritual, minha mãe dizia que ele era um anjo encarnado. E eu? Sempre neguei meu dom, mesmo sentindo presenças de quem não estava ali, ao menos não fisicamente.
Ouvir conselhos a minha infância inteira do tipo:
- Alan, se você escutar vozes te chamando a noite, só responda depois do 3 vez, pode ser a morte te chamando.
- Alan, não fale palavrões como desgraça... ela vai acabar aparecendo para ti de tanto você chamar por ela.
- Não beba Alan a bebida alcoólica abre o seu corpo para as coisas ruins entrar.
Eu nunca acreditei nessa baboseira, achava que era somente ela tentando me controlar, mas por muito tempo segui os seus conselhos, até chegar a adolescência e me revoltar, me tornei um rapaz rebelde que não parava em casa, bebia, fumava, não seguia nenhum conselho de ninguém.
Namorei por dois anos a Ana, minha mãe não gostava dela, diziam que ela não agregava em nada na minha vida, e despertava o meu pior, e bom ela estavam certas, quando comecei a sair com a turma dela, queria parecer legal comecei a fazer coisas que eu não me orgulho como roubar para impressionar a garota que eu amo, ela achava super legal e bom, por ela eu fazia, mas que jovem escuta os pais? Ora eu estava apaixonado e cego que amor por ela (ao menos eu achava ser amor, eu só tinha 17 anos, me julguem). Um belo dia resolvi sair com ela para uma festa em outra cidade, passaria o fim de semana lá e voltaria na terça pela noite, minha mãe não gostou nada da ideia, eu ainda estava estudando e na segunda pela manhã iria ter prova, tivemos uma briga feia na hora da minha partida e no auge da minha raiva eu disse:
- eu vou para festa mãe, nem que seja com o diabo, mas eu vou.
Entrei no carro, mesmo com todos os protestos da mesma e fui embora sem olhar para trás, deixei minha mãe chateada e chorando, mesmo sendo rebelde nunca tinha surtado com ela, sempre fomos próximos, passei o caminho em silêncio pensando no que disse para minha mãe e o quanto a magoei, me arrependi, mas já era tarde, já tinha dito aquilo a ela.
Chegamos no local que iriamos ficar somente a noite em cima da hora da festa começar, tomamos banho e fomos para tal festa eu, a Ana, e mais dois amigos nossos, a festa não foi tão boa e la para as três da manhã já não tinha quase ninguém no local, me sentei dizendo aos meus amigos:
- To cansado, não aguento mais dançar, vamos embora?
A Ana se aproximou me olhando serio dizendo querer ficar mais um pouco, fiz que sim com a cabeça e ela voltou a dançar, escutei um barulho e me virando para vê o que era, vi um homem alto, com o cabelo bem alinhado penteado para trás, sua pele era bem branca, estava todo vestido de social, uma calça preta, e uma camisa branca, um olhar ameaçador. Olhando diretamente para mim, ele disse sorrindo:
- Alan já quer ir embora? Eu não quero ir, estou me divertindo tanto e como você disse que viria comigo, então vai voltar comigo…
Ele continuou a falar enquanto me dava tapinhas no ombro.
Travei na hora lembrando das palavras que disse a minha querida mãe: “eu vou para essa festa, mãe, nem que seja com o diabo, mas vou”.
Ignorei achando que era brincadeira dos meus amigos, que eles estavam querendo me assustar... o homem calmamente sentou-se ao meu lado ainda com o sorriso largo nos lábios. Continuei olhando para os meus amigos e minha namorada que de longe me observava, esperando uma explicação para aquela piada de mau gosto, mas eles continuavam a me olhar tão confuso quanto eu. Com o passar dos minutos fiquei impaciente e me direcionando ao homem perguntei:
- Quem é você?
A única resposta que obtive foi:
- Ora o diabo, tu não disseste que vinha a festa comigo? Vai voltar então comigo, seja para casa ou para o inferno.
Me desesperei com o cheiro de enxofre que comecei a sentir, minha pressão caiu, desmaiei, quando voltei a mim minutos depois olhei assustado para os meus amigos perguntando onde estava o homem que me acompanhava? Para o meu espanto o que a Ana me respondeu foi.
- Que homem? Você conversou a noite toda sozinho, nunca te vimos agir daquele jeito, você estava nos assustando.
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