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Midnight - A Cantora E O CEO

Prólogo

O nascer do Sol é quando os sonhos morrem. E no crepúsculo eles florescem. É o que eu sempre penso quando acordo pela manhã e deixo meus sonhos na cama. Indo preparar a mamadeira da Sophie e passar alguns poucos e preciosos minutos admirando minha pequena estrela, antes de vestir meu terninho preto e encarar a realidade.

A vida não é um conto de fadas, e muito menos uma produção de Hollywood sobre uma artista talentosa que largou tudo para viver de música e se tornou uma grande estrela internacional. Apenas talento e esforço não são suficientes em alguns casos. As vezes, você precisa mesmo é de um bom tanto de sorte. E eu nunca fui sortuda.

A minha maior manifestação de sorte nos últimos anos aconteceu poucos dias atrás, quando eu fiz uma entrevista para secretária em uma das maiores empresas de Nova York. E por algum milagre, ontem de tarde eu recebi a notícia de que queriam fazer um teste comigo, mas para um cargo diferente.

Agora aqui estou eu, sozinha em um escritório na cobertura, encarando a tela de um computador com uma tonelada de e-mails para serem enviados. Porquê aparentemente, a funcionária anterior era bastante incompetente. Apesar de eu acreditar que o chefe é que deve ser muito temperamental. Pelos comentários hostis das garotas no prédio quando cheguei, parece que o grande CEO da Corporação Upper gosta de trocar de assistente como troca de gravatas.

Mas não vai ser assim comigo. Nem que eu precise me desdobrar em treze, eu não vou perder esse emprego. O salário é muito bom para que eu desperdice essa oportunidade. E eu já enfrentei uma tonelada de coisas antes, não vão ser algumas patricinhas de coque que vão me intimidar.

Para manter o alto astral do escritório e agilizar o processo desgastante do serviço, coloco uma playlist nos fones de ouvido, e antes que eu possa perceber, estou murmurando as letras de música e balançando o corpo levemente na cadeira. Apenas para cair do cavalo minutos depois. Quando giro na cadeira animadamente, dou logo de cara com ninguém menos que o chefão.

— Então é você a nova assistente que o pessoal do RH me recomendou? - o homem diz assim que eu arranco meus fones com pressa, parado no batente da porta com os braços cruzados.

— É... Sim, sou eu, senhor... - Tento disfarçar meu rosto ficando vermelho feito um tomate quando me levanto para cumprimentá-lo. - Crystal Amber, às suas ordens.

— Se vamos trabalhar juntos, eu sugiro que deixe seus fones de ouvido para seus momentos de lazer, Srta Amber. - ele ergue uma sobrancelha, sem me cumprimentar de volta.

— Sim, senhor. Vou me lembrar disso. - ajeito meus óculos, evitando olhar em seus olhos.

— Está disponível para me acompanhar até a minha sala por um instante? - ele me dá um olhar sério, como se visse através de mim. - Era para isso que eu estava te chamando, mas parece que a Senhorita não me ouviu.

Por um segundo, penso seriamente em abrir a janela e me jogar daqui de cima. Mas então lembro da razão pela qual eu vim para esse escritório em primeiro lugar. Uma garotinha de cabelos dourados e sorriso doce. Endireito minha postura e pego o iPad de trabalho antes de voltar minha atenção ao homem de terno.

— Não vai se repetir, senhor. - devolvo seu olhar com determinação e o sigo, fechando a porta atrás de mim e levando a chave, o que não passa despercebido por ele.

— Alguma coisa te preocupa? - ele questiona por cima do ombro, sem olhar para mim.

— Não, senhor. Eu apenas prefiro me certificar de que ninguém interfira no meu trabalho. E honestamente, é meu primeiro dia na empresa, não acho que seja tempo o suficiente para depositar minha confiança em alguém. - guardo minhas chaves no bolso do terninho.

— Entendo. É uma decisão sábia da sua parte. - ele me guia até sua sala. - Entre e sente-se.

Obedeço em silêncio, enquanto ele vai até a recepção e troca algumas palavras com a secretária antes de vir me encontrar. Ele caminha pela sala em silêncio por alguns instantes, enquanto eu termino de enviar os e-mails.

Dando uma boa olhada nele, consigo concluir que minhas colegas não estavam erradas, ele realmente não é de se jogar fora. Um homem alto, usando um terno italiano de alta costura, provavelmente feito sob medida, mas de muito bom gosto. Ombros largos, barba feita e os olhos verdes intensos. Seus lábios com um desenho que parece se encaixar perfeitamente aos lábios de qualquer mulher, e cabelos escuros e levemente ondulados tocando os ombros. Os fios parecem macios e agradáveis ao toque, semi-presos em um coque atrás da cabeça. Ele cheira ao ar fresco após uma tempestade, e um outro perfume amadeirado e marcante que nunca senti antes. Não me admira os olhares de inveja das suas funcionárias quando souberam que eu seria sua assistente.

— Diga, Srta Amber, você se acha capaz de trabalhar na função de Assistente Pessoal do CEO de uma das maiores empresas da cidade de Nova York? - ele questiona sem me olhar, observando os prédios da cidade pela grande janela de vidro.

Eu levo alguns instantes para assimilar a pergunta, e ele se vira para me observar com seus olhos presunçosos. Por um segundo, ele parece ver algo muito interessante em mim, mas não dura mais do que isso.

— Bom, senhor, eu acredito que todos têm capacidade para fazer qualquer coisa que se propuserem... O que define a capacidade de uma pessoa, na minha opinião, é o empenho que ela têm em fazer o seu melhor no que se propuser a fazer. - Respiro fundo, baixando o olhar para a tela acesa do iPad nas minhas mãos. - E da minha parte, o senhor têm a minha palavra de que farei tudo o que estiver em meu alcance para atender as suas expectativas sobre o meu trabalho.

Ele me dá um sorriso deslumbrante, se aproximando para me cumprimentar com um aperto de mão.

— Seja bem vinda...

Meia-noite.

Quando finalmente termino o primeiro dia de expediente na Upper Corp., já são nove da noite. E eu já estou atrasada para o primeiro show dessa noite. Após me certificar de que tudo está em ordem na minha nova sala, sigo para o elevador já com o meu telefone em mãos.

Aperto o botão do térreo repetidamente, concentrada em meu telefone, sem perceber quando meu chefe entra no elevador e me observa pela visão periférica. Apenas quando ele pigarreia ao meu lado é que me dou conta de que ainda estou no prédio da empresa.

— Problemas com o elevador, Srta. Amber? - ele checa seu relógio.

— Uh? - afasto a mão do botão como se tivesse levado um choque. - Não, senhor.

Evito olhar para ele, digitando rapidamente uma mensagem para meu amigo Trevor, avisando sobre meu atraso. Mal termino de enviar o texto quando recebo uma ligação. O refrão da música How You Doin? da Little Mix toca por três segundos enquanto eu me amaldiçoo mentalmente por não ter deixado para avisar quando estivesse no táxi.

— Crystal? Onde você está? - a voz masculina soa alta no telefone, fazendo Lucian me olhar de canto com curiosidade.

— Eu tive um imprevisto, vou chegar alguns minutos atrasada... - Tento soar despreocupada sob os ouvidos atentos do meu novo chefe, enquanto brinco com uma mecha de cabelo.

— Você é a estrela da noite, Crystal. Nós sabemos. Mas já tínhamos conversado antes sobre os seus atrasos. - Trevor grita no telefone, para soar mais alto do que a música de fundo.

— Eu sinto muito... Prometo que vou compensar. - Aperto os olhos por um instante, me perguntando porquê é tão demorado para descer algumas dezenas de andares. - Trevor... Eu sei que isso é pedir demais, mas se importa em deixar meu vestido separado para mim? Eu vou dar um jeito de me aprontar no caminho...

— Se isso for fazer você subir naquele palco mais rápido... - ele suspira ao telefone. - Eu vou fazer isso. Mas você vai ter que vestir o que eu escolher.

Ele não espera por uma resposta, desligando o telefone e me deixando sozinha com Lucian Falcone, que parece bem intrigado com minha conversa ao aparelho.

— Será que a segurei por muito tempo no escritório? - ele pergunta em um tom casual.

— Não, senhor... - continuo concentrada no meu telefone, dessa vez mandando mensagem para minha irmã mais nova, afim de saber como estão as coisas em casa e com a minha filha.

— Sinto muito se tiver atrapalhado algum compromisso seu. - ele suspira, ajeitando as mangas do terno. - Mas como seu chefe, devo lhe alertar que seu cargo na Upper exige sua disponibilidade 24/7. É para isso que estarei te pagando.

— Eu sei, senhor. Eu li cada palavra do nosso contrato, pode ter certeza. - minhas palavras soam mais ásperas que o previsto, e sinto meu corpo esquentando com a irritação. - Minha vida pessoal não irá interferir no meu desempenho na empresa, eu garanto. E devo advertir que é um pouco cedo para fazer julgamento do meu profissionalismo.

Para minha sorte, as portas do elevador finalmente se abrem no andar térreo, me dando a preciosa chance de sair de perto de Lucian. Me apresso para fora, enquanto ele caminha calmamente pelo saguão. Já do lado de fora, começo a tentar o meu melhor para chamar um táxi enquanto solto meus cabelos e guardo meu óculos na bolsa. Mal presto atenção quando Lucian sai do prédio e para á alguns metros de distância, checando seu relógio outra vez.

Após alguns segundos, um carro de luxo para a nossa frente, seguido por um táxi. Eu me apresso para o veículo amarelo e acabo esbarrando sem querer no italiano, que ergue os olhos para mim e parece se espantar, ficando sem reação.

— Sinto muitíssimo, senhor... Tenha uma boa noite. - ajeito as lapelas de seu paletó e sua gravata, com pressa, antes de correr para o carro. - Hotel Midnight, por favor...

......................

Espero ansiosamente enquanto minha amiga, Rose, fecha o zíper do vestido de couro sintético vermelho brilhante, que se ajusta ás minhas curvas com perfeição. Trevor têm um ótimo gosto, mas ele as vezes se esquece que meu trabalho de stripper não é aqui no hotel. O traje que ele me fez vestir é um tanto quanto provocante.

Ajeito as ondas do meu cabelo loiro ao meu redor e a gargantilha de cristais no meu pescoço antes de conferir meu batom vinho uma última vez. Respiro fundo e subo no palco do restaurante, esquecendo completamente sobre Crystal, Upper Corp e o resto do mundo. Quando toco no microfone, o mundo inteiro se transforma em notas musicais e luzes.

Sob os olhares admirados dos telespectadores em suas mesas, as notas de Lovely, da Billie Eilish ganham vida na minha voz. Seguida por outras três canções pedidas pelo público. Por um minuto, eu penso ter visto o Sr. Falcone entrando no restaurante, acompanhado de uma dama. Mas me concentro de volta nas músicas, fazendo o meu melhor para não me prender a idéia. Até que Lucian e sua acompanhante se acomodam em uma mesa bem na frente do palco.

Café e Trabalho

Continuar o show sem olhar na direção do Sr. Falcone exige toda a minha força de vontade. E mesmo estando determinada, meus olhos sempre acabam voltando para ele, como se atraídos por um ímã.

Eu normalmente não tenho interesse algum em me envolver com ninguém. Sou mãe solteira e uma aspirante a cantora tentando construir uma carreira. Não existe espaço para paixões e casos amorosos na minha agenda. E o pouco espaço que deixo para isso, é ocupado pelos livros de romance e novelas virtuais.

Sentir atração pelo meu novo chefe é a mesma coisa que assinar minha carta de demissão, é algo impensável. Então só tenho uma única alternativa viável... Listar uma infinidade de possíveis defeitos para ele, sem a menor pretensão de checar a veracidade da lista.

Enquanto volto para casa após a apresentação, penso sobre isso. Ele provavelmente é arrogante, presunçoso, machista, mulherengo, egocêntrico, egoísta, autoritário. Deve ser cheio de manias e eu não duvido que tenha TOC. Ou um chulé insuportável que exija um vidro de talco em cada sapato para conseguir sair de casa. Eu diria até que ele é cheio de frescuras em relação a comida, nunca deve ter provado um cheeseburguer ou um hot dog brasileiro.

Continuo tentando me convencer de que não há nada interessante sobre Lucian Falcone, até me deitar para dormir, depois de conferir Sophie em seu berço e conversar com minha irmã Alice sobre meu primeiro dia de trabalho na empresa.

......................

Na manhã seguinte, quando acordo, já existe uma mensagem do Sr. Falcone no meu telefone. Levar um café expresso com cafeína extra para ele, em sua sala, assim que eu chegar. A mensagem foi enviada ás quatro da manhã.

Mais um defeito para a lista: Workaholic. Lucian Falcone é um viciado em trabalho que dorme o mínimo necessário todas as noites... Não que eu tenha alguma moral para julgar, mas qualquer defeito é válido.

Escolho um terninho azul royal dessa vez, e tranço meus cabelos com bastante cuidado. Não posso me dar ao luxo de mostrar a eles que não dormi muito bem essa noite. Então não hesito em cobrir minhas olheiras com maquiagem e fazer um bom serviço para parecer saudável e ultra profissional.

Me despeço das minhas meninas antes de correr para o Starbucks mais próximo, enquanto mando mensagem para o Sr. Workaholic, perguntando se deseja mais alguma coisa da cafeteria. Acabo pegando dois expressos super cafeinados para viagem e indo para o prédio da corporação. Ao chegar, cumprimento as recepcionistas, as quais em sua maioria me ignoram ou torcem o nariz ao me verem.

Subo direto para a cobertura, buscando ser o mais simpática possível com as secretárias. Mal bato na porta da sala do CEO quando ele praticamente berra para que eu entre. Respiro fundo, torcendo para que ele não atire uma pasta na minha direção quando eu abrir a porta.

— Bom dia, senhor... Trouxe o café que pediu. Super cafeinado e sem açúcar. - coloco o copo sobre sua mesa e ele murmura um agradecimento antes de erguer os olhos para mim, parecendo exausto.

— Cancela a minha reunião das dez, por favor. - ele parece estar bem distante, dando um longo gole em sua bebida enquanto olha para um ponto fixo em sua frente. - Vejo que a Senhorita foi pontual dessa vez. Tudo isso para não ter que compensar seu atraso?

— Acredito que a pontualidade é uma qualidade importante no meio profissional, apesar de ser difícil manter ela de vez em quando, Senhor. - dou um gole no meu próprio café, puxando meu telefone do bolso para cancelar a reunião. - O senhor não parece muito bem essa manhã, precisa de mais alguma coisa?

— Sim. Uma passagem só de ida para o local mais inacessível e remoto que puder pensar. - ele passa a mão pelos cabelos, olhando para os prédios do outro lado da janela. - E também de companhia para o almoço. Vou passar na sua sala. Finja que é uma reunião com investidores.

— Sim, senhor... - coloco nosso almoço na agenda como ele pediu e ergo meus olhos para seu rosto, murmurando mentalmente um defeito aleatório da lista já citada. Diante da sua expressão de desânimo, ouso tentar tirar um sorriso dele. - Para qual local o senhor deseja a passagem? Transilvânia? Talvez as montanhas do Tibete ou uma ilha remota no Caribe?

— A Fossa das Marianas parece o destino ideal. - Lucian sorri sarcástico, dando uma leve risada.

— Nesse caso, vou tratar de alugar o melhor equipamento de mergulho também. E talvez testar minha fluência em baleiês para encontrar um guia turístico a altura. - dou um leve sorriso para ele ao ouvir sua risada, indo em direção a porta.

— Sem fones de ouvido dessa vez, Srta. Amber. - ele me dá um sorrisinho malicioso - E sem girar nas cadeiras do escritório, por favor. Caso a senhorita não esteja ciente, aquele monitor alí mostra justamente sua sala...

Viro completamente para a porta, dando outro gole no meu café e ajeitando o óculos, coberta de vergonha. Antes de sair, olho na direção que ele indicou, vendo que realmente existe um monitor lá. Droga.

— Não se atrase para sua primeira reunião do dia, senhor. É na sala de reuniões do 23º andar, com o CFO. Em exatos 5 minutos.

Deixo a sala sob o olhar surpreso do Sr. Workaholic, me dirigindo logo a meu próprio escritório.

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