O dia começou agitado. Mike tinha passado tempo demais em três reuniões e estava exausto. Tudo o que ele queria era chegar em casa e se jogar na cama ao lado de Natasha, sua esposa. Ele ainda era profundamente apaixonado por ela, mesmo depois de cinco anos de relacionamento.
Embora se diga que a paixão dure apenas dois anos, Mike acreditava que isso era uma questão de encontrar a pessoa certa e valorizar esse amor. Os anos não importavam quando se encontrava a pessoa certa.
Mike sempre foi discreto sobre seus sentimentos e relacionamentos, seguindo o exemplo de seus pais, que eram um raro exemplo de valores e um modelo de casamento feliz. Ele aspirava a ter o mesmo amor, parceria e harmonia em seu próprio casamento.
Seu pai já havia lhe dito que ele não seria nada, não teria alcançado metade do que alcançou sem a mulher maravilhosa que ele mantinha ao seu lado e agradecia por isso. Eles eram muito felizes juntos. Claro, eles tinham seus desentendimentos e discordâncias, mas o amor deles superava tudo isso, e eles sempre sabiam como resolver os problemas sem machucar um ao outro.
Mike não era perfeito, mas nunca machucou intencionalmente uma mulher por egoísmo. Embora fosse popular na escola e na faculdade por sua beleza e inteligência, ele nunca incentivou ninguém a se aproximar dele se não estivesse interessado. Se alguém se iludisse, não era responsabilidade dele.
Ele se diferenciava dos amigos. Não se importava com as piadas e brincadeiras dos "pegadores" entre eles. Seu pai o ensinou que um homem sem convicções era apenas uma marionete nas mãos dos outros, e Mike tinha plena convicção de quem era e do que queria para seu futuro. Isso não incluía festas inconsequentes, relacionamentos vazios e acordar confuso e cheirando a álcool. Ele não tinha nada contra essas coisas, mas sabia que não era o seu caminho. Ele tinha certeza de que a maioria de seus amigos acabaria se afundando nesse ciclo vicioso, mesmo depois de casados.
Agora, casado há três anos, Mike só conseguia pensar em estar com sua esposa. Ele decidiu planejar um fim de semana especial para eles em um lugar que ela sempre quis conhecer. Ele trabalhava muito, pois havia herdado a empresa de seu pai logo após voltar de sua lua de mel, e ainda havia muito a ser feito. No entanto, ele sempre tentava compensar sua ausência quando podia. Então ele chamou sua secretária, animado.
-- Luíza, por favor, venha ao meu escritório.
Quase imediatamente, Luíza apareceu na porta. Ela entrou assim que ele acenou com a mão para ela.
— Sim, Sr. Scott.
— Reserve duas passagens para Nova York e cancele qualquer compromisso para o próximo fim de semana.
— Mais alguma coisa, Sr.?
— Não, obrigado.
— Sr. Scott... O Sr. Monteiro está aqui e quer falar com você. — Ela disse, timidamente.
Mike franziu a testa ao ouvir Luíza mencionar Elias, mas decidiu deixar isso de lado. Ela certamente tinha algum interesse nele.
— Pode mandá-lo entrar.
— Sim, com licença. — Ela se virou nos calcanhares e saiu da sala.
Logo em seguida, Elias entrou, passando por ela sem perceber que ela o observava antes de sair e fechar a porta atrás dele. Elias era charmoso e tímido, mas quando se soltava...
— O que você quer, Eli?
— Vim te perturbar, ó grande CEO! — Elias riu e sentou-se na cadeira em frente a Mike. — Não tenho boas notícias, pelo menos não para você.
— Qual é a teoria da conspiração desta vez? — Mike brincou.
— Erik está te traindo, mas você ainda acredita que ele é seu amigo. Só isso.
— Já conversamos sobre isso. Sua implicância com ele beira a insanidade, Elias.
— Eu não viria até aqui para dizer bobagens. Não preciso estar em sua sala para falar mal daquele idiota. O bar seria mais apropriado. Olha só isso. — Elias jogou uma pasta com arquivos na mesa.
Mike pegou os documentos e começou a ler cada folha com atenção. Sua expressão foi mudando gradualmente a cada página, ele não conseguia acreditar no que estava lendo.
— Aqui diz que Erik tem desviado dinheiro de uma de nossas filiais, está envolvido em lavagem de dinheiro, contratos fraudulentos; há adulterações nas planilhas dos últimos nove meses, comparadas com as verdadeiras, e também há anexadas negociações com nossos concorrentes. Lembra do último problema que tivemos com os fornecedores? Adivinha só? Erik estava por trás disso! Ele tem contas em paraísos fiscais para onde envia o que rouba de você.
— Desde quando você está investigando isso?
— Números são a minha especialidade. Você sabe disso! Eles me relaxam, mas quando não estão corretos... isso me estressa! Investiguei e cheguei a essas conclusões. Não se esqueça que sou um hacker, foi fácil descobrir o que estava acontecendo, e tem mais.
— Mais? — Mike parou de ler e encarou Elias com uma expressão carrancuda.
— Sim. Mas você me mataria apenas por mencionar algo assim. Você confia mais neles do que em mim.
— Diga logo! Já estou de péssimo humor.
— Ele tem se encontrado com Natasha.
Ao dizer isso, Elias prendeu a respiração, esperando que Mike avançasse sobre ele. Mike nunca admitia calúnias sobre sua esposa, e Elias fechou os olhos, esperando ser atingido pelo amigo. Mesmo que eles praticassem luta juntos, Mike sempre levava a melhor, e quando estava com raiva, ele ficava cego. Portanto, era perigoso deixá-lo irritado e mexer em seu ponto fraco era quase suicídio.
Mas o soco não veio.
Elias soltou o ar devagar, ainda desconfiado, mas abriu os olhos e sentiu um alívio ao ver que não estava com um hematoma para mostrar "orgulhosamente" por aí.
Porém, seu coração apertou quando viu o estado em que o amigo ficou ao olhar para um pequeno pedaço de papel com uma imagem. Elias não sabia que a foto estava ali. Mike ficou pálido e depois vermelho, e mesmo tentando se controlar, uma lágrima insistiu em cair.
Elias realmente desejou ter levado um soco ao vê-lo naquele estado. Mike continuou olhando para a foto. Era uma imagem no final do arquivo que mostrava Natasha e Erik se beijando em um restaurante afastado da cidade.
Eles estavam juntos.
Seu melhor amigo.
Sua esposa.
Juntos!
Mas o que diabos estava acontecendo? Contra fatos não há argumentos. Sua mãe nunca tinha gostado dela, afinal. Eles sempre...? Não! Mas o que diabos estava acontecendo?! A mente de Mike estava a mil por hora.
Ele precisava agir com inteligência. Se ela tinha decidido levar as coisas para esse lado, ele seria um cavalheiro e jamais a machucaria... fisicamente. Ele lidaria com Erik também. Agora, Mike conhecia o segredo dos dois, além de conhecê-los muito bem, ou talvez não, dadas as circunstâncias. Ele não sabia quando reagiria emocionalmente à situação, mas precisava agir enquanto ainda estava calmo o suficiente para isso.
Será que eles estão juntos agora? Ele não conseguia evitar pensar.
— Elias... posso confiar em você?
— Precisava me insultar assim?
— Preciso de suas habilidades como hacker. Tenho um plano para dar uma lição neles.
— Será um prazer acabar com aquele idiota, chefe!
— Ótimo! — Mike chamou Luiza, apertando um botão. — Chame Natasha e Erik, por favor. Marque um jantar para nós.
Quando Mike voltou sua atenção para Elias, seus olhos azuis estavam sombrios. Elias sabia o que aquele olhar significava. Primeiro a raiva, depois a indiferença, que era ainda mais dolorosa do que os socos. Mike estava em modo de ataque, e sua calma estava se esvaindo a cada tique-taque do relógio. Embora nunca imaginasse que diria aquilo, Elias respirou fundo e disse:
— Vamos para o Ringue Dark?
— Inesperado, mas aceito! — Mike franziu a testa com o convite, ainda mais vindo de Elias.
Elias era bom, mas não gostava de lutas sangrentas que levassem à exaustão. Para ele, essa era uma surpresa bem-vinda. Estranha, mas bem-vinda.
Eles se levantaram e saíram para a luta clandestina.
Um telefone tocou;
Dois telefones tocaram;
Mas ninguém atendeu.
O som dos gemidos e xingamentos de Natasha e Erik ecoavam por todo o ‘flat’ impedindo-os de ouvir qualquer coisa que não fossem... gemidos e xingamentos! Eles estavam a horas no impasse de quem cedia, mas eles adoravam sexo e os dois se completavam nisso. Todas as fantasias, de todas as formas, eles realizavam e foi isso que os levou até onde estavam.
Natasha era uma linda loira alta de olhos verdes e corpo esguio. Parecia uma modelo, mas seu rosto angelical não valia um tostão para quem conhecia bem a 'peça'. Ela sabia como envolver um homem e deixá-lo louco por ela. Precisava ser desejada para se sentir no controle e a sua figura a ajudava, com toda a certeza.
Ela aproximou-se de Mike num baile beneficente quando ambas famílias foram apresentadas e sentaram na mesma mesa, viu ali uma ótima oportunidade para envolver o belo herdeiro e assim o fez. No decorrer da conversa ele encantou-se com ela e começaram a sair. Dois anos depois se casaram.
Ela era muito mimada porque nunca precisou trabalhar e tratou de garantir um bom casamento. O marido era lindo, jovem e milionário, a sua vida não podia ser mais perfeita. Mas depois do casamento as coisas esfriaram para ela, pois gostava de se divertir e Mike só trabalhava.
A morte do pai dele o jogou no meio de uma empresa e uma empresa no meio deles, ela queria filhos e ele fez vasectomia para esperar até eles irem morar no exterior, o que ela havia adorado. Mas ela precisava de diversão. O tipo da qual o seu esposo não compartilhava do mesmo gosto; ela era livre na cama, nada tradicional como Mike.
Erik era o típico moreno alto, bonito e sensual. Os seus encantadores e provocantes olhos castanhos eram uma armadilha para moças inocentes e o seu sorriso aparentemente radiante escondia puro ódio e inveja.
Ele sempre esteve ao lado de Mike, eles se conheciam desde que vieram ao mundo. Nasceram no mesmo dia e as suas mães eram amigas próximas, eles moraram no mesmo condomínio toda a infância.
Mike o considerava um irmão, mas Erik não tinha o mesmo sentimento. Ele invejava Mike por se dar bem na escola, com as garotas... vivia o comparando ao amigo e ele não suportava aquilo. O seu pai sentia mais orgulho do vizinho que do seu próprio filho.
Eles nem tinham o que competir, sempre tiveram de tudo, eram totalmente diferentes um do outro, sim, mas ainda assim ele não conseguia ficar feliz por nada que o amigo fizesse ou conquistasse. Ele sempre se sentiu à sombra de Mike e o odiava por isso, mesmo sendo bom no que fazia, todo o destaque era do amigo. Ele sempre foi o segundo, o ‘step’. Queria ser melhor que Mike. Mas, sem um Mike... ele seria o único!
Erik segurou as mãos de Natasha acima da cabeça dela e a penetrou por trás com força, ele amava sexo anal e achava ela linda de costas. Ele sentia muito por ela, um desejo desenfreado de sexo e luxúria, ela era linda, claro, um banquete daqueles não se rejeita. Mas o ápice do seu prazer era saber que estava fodendo a mulher tão preciosa e respeitável de Mike em lugares e locais que ele jamais imaginou.
Comer a sua putinha foi a coisa mais bem feita que eu fiz, irmãozinho. Em breve tudo que você ama, será meu. Erik pensou, gozando do prazer de estar dentro da mulher de seu amigo.
— Vai quebrar o meu pau, porra?! — Ele rosnou no ouvido de Natasha e intensificou as estocadas.
— Essa é a intenção, fôda-me se for capaz. Ah! — ela rebolou no pau dele e empurrou para trás o fazendo dar uma tapa na bunda dela.
— Isso, vadia.
— Vai com calma que da última vez você me deixou marcada, seu idiota!
— Larga aquele veadinho e a gente resolve isso.
— Me fode e falamos sobre isso depois.
Natasha virou de posição e montou em Erik, ela adorava pular nele e tomar o controle da situação. O homem era bom e resistente e fazia as vontades dela na cama como ninguém! Ela se apaixonou pelo jeito leviano de Erik assim que o viu, tê-lo foi mais fácil ainda já que tinha acesso a ele sempre; por ser amigo do seu marido. Ela tinha o marido e o amante dos sonhos!
Eles se encontravam uma vez por semana no mesmo lugar e horário fazia um ano e já haviam combinado de derrubar Mike, mas Natasha ainda estava receosa porque não queria perder a vida que tinha com o marido. Ela não o amava, mas ele cuidava dela como Erik jamais faria. Ela sabia disso.
Mas... se eu tenho tudo agora, porque arriscar? Dois monumentos para mim... um para o amor e outro para a orgia... parece-me delicioso. Natasha pensou.
Mesmo que Erik fosse sua paixão mais derradeira, ele não tinha o prestígio de Mike, era só um funcionário na empresa do amigo assim como o pai dele foi. Mas ela esquecia tudo isso quando ele a segurava pela cintura e a estapeava até gozar. Mike não fazia isso, ele era um cavalheiro. Uma tapa ou dois no máximo no auge do prazer era muito.
Pensando nisso ela quicou com mais vontade o fazendo revirar os olhos e chegar ao clímax com ela. Eles deitaram ofegantes na cama satisfeitos pela semana. A figura de Erik para Natasha era incrível a luz da tarde e o ângulo que ele estava o deixava ainda mais sexy para ela.
Erik a olhava maravilhado com a beleza dela. Mesmo que fosse casual a princípio, ele havia desenvolvido algo por ela. Não era amor ainda, mas, uma possessividade, talvez. Ele não sabia poder encontrar alguém tão compatível, mas tão diferente dele em simultâneo.
— É hoje, Nat. Já está tudo pronto!
— Não precisa me lembrar, Rik.
— Você ainda está a ponto de desistir.
— Eu decidi, não foi?! Então eu vou até o fim.
— Assim eu te pego outra vez.
— Não mesmo. Preciso de tempo para essas marcas sumirem até Mike chegar em casa.
— E você ficará viúva e desolada.
— E bilionária.
— E toda minha!
Eles se olharam e se agarraram outra vez. Erik estava duro e Natasha pronta para mais, mas foram interrompidos pelo som dos celulares.
- Seu cachorrinho deve estar ligando.
— Olha quem fala, o cachorrinho de chumbo do alfa!
- Sua vadia! Repete isso no velório dele quando eu estiver fodendo você na sala ao lado. Ai você vai ver quem é o alfa.
Natasha sorriu e levantou-se. Ela tinha medo de Erik as vezes, ele tinha um ar sombrio que ela amava e a deixava louca, mas também a fazia sentir calafrios. Ele era capaz de fazer tudo o que planejava e ela sabia que não podia voltar agora que foi tão longe, de qualquer maneira perderia tudo se Mike descobrisse que ela ia para cama com o melhor amigo dele. Traição era o fim de tudo para ele, sem exceção, sem conversa.
Ela vestiu um roupão e pegou o celular no sofá. Assim que abriu a tela, viu inúmeras ligações perdidas do escritório de Mike e uma mensagem da secretária dele com informações de um jantar. Na mesma hora Erik apareceu na sala com o celular na mão, confuso com a mesma mensagem, mas logo os seus olhos brilharam com uma ideia.
— Vamos nos arrumar, querida. Temos um jantar entre amigos para ir. — Erik sorriu o seu sorriso mais sinistro fazendo Natasha engolir em seco.
— Você me assusta, sabia?!
— Sabia, e eu adoro isso. Agora vá, nos vemos mais tarde.
Natasha tomou banho e saiu deixando um Erik satisfeito e ansioso para trás, o seu plano daria certo de qualquer maneira, ele garantiria isso. Ele abriu uma garrafa de vinho e serviu-se vitorioso, já vislumbrando tudo que em breve estaria nas suas mãos.
--- De quem é esse vinho aqui? --- Ametista olhou pela cozinha procurando.
Ninguém respondeu; estavam todos ocupados e não dava tempo de falar coisa alguma naquele momento. Se os pedidos fossem entregues um segundo sequer atrasado, a gerência pegava pesado na punição.
Afinal, eles eram referência em sabor e bom serviço; um restaurante caro como aquele não aceitava menos que a excelência, então ninguém deu atenção a ela.
Ela olhou para a taça e tentou resistir a tentação de beber um gole, mas não conseguiu; pegou a taça e bebeu o vinho. E gostou muito, não era de mercado como os que ela comprava para beber com os amigos, não era tão ruim quanto ela pensava, pena que era tão caro pagar por uma taça daquilo.
Ainda curtindo o sabor levemente amargo do vinho, ela lambeu os lábios de olhos fechados saboreando as notas aromáticas que ela nem sabia quais eram, mas eram agradáveis a seu paladar; sentiu como se fosse uma sommelier de vinhos. Mesmo que não soubesse explicar, se nas provas de vinhos fosse requisitada a opinião dela, ela com certeza diria:
--- Isso é simplesmente divino! --- ela pensou alto ainda saboreando o gosto do vinho em seus lábios. --- Huuuum!
No instante em que ela pousou a taça na bancada, uma silhueta apareceu atrás dela limpando a garganta. Era Clermont, o maitre do restaurante. Ametista suspirou com um sorriso travesso, pois provavelmente bebeu o vinho que ele deixou ali, mesmo não sabendo o motivo. Ela ficou parada esperando a bronca, seria a milésima na semana.
--- Vejo que o trabalho está tão leve que sobra tempo para apreciar um bom vinho, não é, Srta. George? --- ele olhou para a taça vazia e depois lançou um olhar severo a Ametista que ainda estava de costas.
Ela congelou no lugar. Aos poucos foi se virando para encarar o maitre que a olhava carrancudo, não ia dizer nada mas nunca praticava o mantra, a única coisa que ela não devia fazer era falar, mas...
--- O vinho era seu?
--- Seu, sabemos que não era!
--- Eu perguntei, mas ninguém me respondeu.
--- Então deduziu que podia beber?! Que audácia de sua parte, Ametista!
--- Bom, eu quem lava a louça, a taça estava perto do meu setor de trabalho.... só bebi porque a taça estava limpa, claro! Se tivesse uma marca de boca aqui, o vinho ia pro ralo, o que seria uma pena.
Clermont estava habituado a tagarelice de Ametista e gostava, mas precisava fazer a linha durão para disfarçar o grande apreço que tinha pela moça.
--- De fato me parece que tem tempo. Suas funções não são suficientes para lhe manter ocupada? Posso lhe arrumar mais algumas.
--- Bom... eu lavo pratos, ajudo os chefs... sou a única que faz hora extra e... ah! Sou a última a sair porque tenho que deixar a cozinha impecável para o dia seguinte e ainda atendo na recepção quando é folga das meninas... tá leve não, viu?! Daqui a pouco chega uma pilha de pratos... aí já viu! O vinho é realmente ótimo, qual o nome?
--- Engraçadinha e abusada, não é?! Será descontado do seu salário, mocinha!! --- o homem se aproximou dela. --- Você não está sendo paga para beber vinhos.
Ametista nunca entendeu o porquê de Clermont não gostar dela. Desde que começou a trabalhar no restaurante, ele a tratava com rispidez e certa frieza. Ela o achava lindo e admirava o homem até, mas ele não podia ficar perto dela que parecia que vespas estavam rasgando sua pele de dentro para fora. Ela achava que era personalidade dele ser mal humorado e não ligava; ele era chato com todos no restaurante por ter algumas funções aquém de seu cargo, mas tinham vezes que ele era insuportavelmente implicante.
No fundo, Clermont era apaixonado por Ametista desde que a viu entrar na cozinha do restaurante pela primeira vez. Ele tinha acabado de voltar da França, recomendado por um amigo que frequentava o lugar.
Ela chegou já animada e conversando com as pessoas como se já as conhecesse e do jeitinho dela, conquistou não só o seu espaço no trabalho, mas também alguns admiradores por alí. Isso o deixava com raiva pois ele era mais velho, mesmo que não aparentasse ter 38 anos.
Para ele, ela ainda era uma flor desabrochando e se tivesse que escolher entre ele e as outras opções... ele não estava certo de que ela pensaria nele como a escolha ideal. Ele tinha receio de falar e ela o achasse ridículo, ele nem sabia se ela tinha alguém...
Mesmo assim, deixou o vinho alí para ela, sabia que não resistiria a curiosidade. Ela adorava olhar a adega e tinha uma garrafa que ela gostava muito, mesmo sem saber pronunciar o nome, ela sempre olhava para a mesma garrafa toda vez que ia na adega.
Ele pagou pelo vinho, mas deixou a taça num ponto cego da cozinha, onde as câmeras não alcançavam e se escondeu para espiar. Eles realmente não podiam ser flagrados bebendo, mas ele sabia o que estava fazendo, ela não se prejudicaria.
--- Ô Clemente, sua função é servir vinho lá fora, a minha é limpar a cozinha aqui dentro. O copo estava sujo e eu limpei. --- Ela deu de ombros e começou a brincar com os dedos na bancada. --- Eu estava aqui pensando... o que essa taça de vinho cheia estava fazendo aqui na cozinha se não era o lugar dela? Não podemos ir lá fora e a taça não anda se servindo de vinho sozinha. Acho que mais alguém aqui tá bebendo as custas do trabalho, não? Agora, vai lá fazer o seu que eu faço o meu, Clemente.
Clermont estava vermelho de raiva, ele odiava ser chamado de Clemente e foi justamente por causa de Ametista que os funcionários do restaurante começaram a chamá-lo assim também. Ela achava engraçada a sonoridade do nome dele e acabava por chamá-lo de Clemente.
Como uma boa carioca, ela brincava com as coisas pra descontrair e achava ele um fofo quando ficava irritado, o sotaque dele aparecia mais e ele parecia uma pimenta de olhos verdes. Era sem maldade, era parecido para ela, ela esquecia! Mas mesmo assim ele odiava cada vez que ouvia seu nome errado.
Odiava mais ainda vê-la sorrir para ele. Ele sonhava em beijar aqueles lábios e vê-los todos os dias, sentir seu corpo reagir a ela em segredo... era uma tortura para ele, que nunca soube lidar com seus sentimentos.
--- Clermont, Ametist! Clermont S'il vous plaît ! --- ele disse exasperado.
--- A-ME-TIS-TA. --- ela soletrou chegando bem perto dele e olhou para cima para olhá-lo nos olhos. --- Comprenez-vous, Clermont ? Não é assim que fala?!
Clermont engoliu em seco, ela estava tão perto... como uma frase tão simples pôde provocá-lo daquele jeito? Ela nunca tinha falado o nome dele corretamente antes... para ele, seu nome nos lábios dela soou tão sexy que ele queria beijá-la alí mesmo, mas se conteve. Ela poderia acusá-lo de assédio e não era aquilo que ele queria, então ele apenas disse:
--- Sua garrafa preferida!
--- Hã?
--- O vinho... --- ele apontou para a taça vazia e saiu sem dizer mais nada deixando Ametista confusa.
Ele deixou o vinho? Ela ponderou. Porque ele faria isso... ele nem gostava dela, né?!
Um carrinho de pratos chegou e ela foi para sua função ainda pensando na atitude estranha de Clermont.
Deve estar morrendo... mas o vinho é bom mesmo. Tenho bom gosto!
--- Tem mais pratos a caminho, preta! Faz aquela mágica aí que o Chef está surtando. --- um garçom levou os pratos até ela e saiu correndo chamado por um grito distante.
--- Pode deixar! --- Ametista disse para ninguém e recomeçou seu trabalho cantarolando.
"Quiero amar y sin pensar entregarlo todo. Quiero que mi corazón interbambie su lugar con el de alguien especial. Quiero despertar, te quiero encontrar y me quiero enamorar."
Distraída na canção que tinha acabado de aprender, ela se desligou do resto e rapidamente lavou os pratos com sua técnica de lavagem inovadora, que ela não contava a ninguém. De repente ela sentiu uma presença e se virou para olhar mas não viu nada. Não era a primeira vez que sentia aquela sensação; como se alguém a estivesse observando, aguardando por algo. Um arrepio atravessou a espinha dela e não de um jeito bom.
--- Cruzes! --- ela se sacudiu para afastar a sensação estranha. --- acho melhor não ficar bebendo no trabalho mesmo! Ou será que esse lugar foi construído num antigo cemitério e tá assombrado? Porque só assim, meu pai! Isso já tá estranho. Tá amarrado!
Ametista se benzeu e voltou a seus afazeres mas logo correu para a frente da cozinha para ajudar os outros.
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