FELIPE
Eu sempre fui uma pessoa apegada a família, mas a primeira vez que tive que sair da minha saudosa cidade no interior de Minas Gerais, eu me tornei alguém que não cria raízes.
Sinto saudades da minha família, mas eu sempre ligo para minha mãe, meus irmãos e o meu padrasto, que eu chamo de pai, na verdade ele sempre foi o meu verdadeiro pai.
Jorge é o meu genitor, mas ele e a minha mãe nunca se casaram, e depois que ele formou uma nova família, a gente perdeu um pouco do contato, principalmente por sua religiosidade e ele não aceitar que eu sou um policial.
Assim que me formei em Direito na UFJF, com vinte e dois anos, eu fiz o concurso para PF, e eu fui aprovado em terceiro lugar, foi uma felicidade para minha família materna, e demorou apenas um ano e meio para que tomasse posse, podendo assim escolher ficar na Capital mineira.
Agora as coisas mudaram, e eu terei que passar um tempo no Rio de Janeiro, não sei quando e se um dia voltarei para a unidade que estou desde quando me tornei policial.
Ontem foi a despedida com os meus colegas, várias pessoas especiais, que passei mais de três anos.
— Eu acho que devemos terminar dessa vez. — Vitória fala quando fecho a minha terceira mala.
Vitória foi minha primeira e única namorada, estamos juntos desde a faculdade, mas ela não parece animada com minha partida para outro estado, e eu nem a julgo, pois se fosse ela, eu também não estaria bem.
Olho a mulher loira de cabelos cacheados, a mesma garota que me conquistou no início da faculdade e que eu amo muito.
Vitória veio morar comigo há dois meses, mas eu ainda não sabia que seria transferido. E agora nossas brigas são constantes, pois ela está construindo sua carreira em BH, e não aceitou ir embora comigo, mas não queria que eu fosse também.
— Vitória, eu não quero brigar no meu último dia aqui. — Me sento na cama, e ela suspira.
— Eu vou sair um pouco. — Ela avisa, pegando sua bolsa e a chave do carro, e saindo do quarto.
Olho pela janela do apartamento, e eu suspiro, pois não terei mais essa vista, pelo menos não por enquanto.
Eu comprei esse apartamento depois de um ano morando aqui, e não vou desfazer dele, pois a Vitória vai continuar morando aqui, e talvez a Cecilia, minha irmã mais nova, virá no próximo ano morar aqui para estudar.
Mesmo ficando um pouco mais distante da minha família materna, eu vou conviver com os gêmeos, Fernando e a Ananda, os filhos de vinte e três anos do meu pai biológico, que felizmente não são como nosso pai.
Antes que eu fizesse um ano de vida, o meu pai biológico, deixou a pacata cidade de Serra da Liberdade para morar no Rio de Janeiro, e assim conheceu a mulher da sua vida, Sheila, que eu particularmente gosto muito, só merecia alguém melhor do que ele.
Até os meus dezessete anos, eu me dava bem com meu pai, mas depois que entrei na faculdade de Direito e falei que queria ser policial, ele veio com sermões que me estressava cada dia, e no fim cada um seguiu seu caminho, conversando somente em datas comemorativas.
Volto para cama, e sei que estou pensativo sobre minha viagem, mas eu não queria terminar com a Vitória, estamos juntos há mais de oito anos, e eu acho que me casarei com ela um dia.
Meu celular começa a tocar, e dou um sorriso quando vejo a foto da minha mãe, e assim que atendo a chamada de vídeo, ela me acena com um sorriso.
— Oi, filho. — Encaro seus olhos azuis, exatamente como os meus, e eu mando um beijo para ela.
— Oi, minha rainha.
Minha mãe, Luiza, tem apenas quarenta e cinco anos, ela brinca que eu fui seu presente de aniversário de dezoito anos, pois eu nasci um dia antes dela completar tal idade.
Às vezes eu sentia que a minha chegada atrapalhou a vida da minha mãe, mas ela sempre deixou claro que eu fui um lindo presente em sua vida.
Mamãe não aceitou se casar com Jorge, mesmo os meus avós quase a obrigando. Ele sempre fez sua obrigação como pai, mas ele também nunca quis se casar com minha mãe, o que foi bom, pois hoje ela é mais feliz com meu pai Carlos.
— Que carinha de tristeza é essa?
Faço careta com sua pergunta, mas me ajeito na cama para explicar melhor o que está acontecendo em minha vida.
— Vitória não aceita a minha ida, ela falou em terminar. — Conto, e ela revira os olhos.
— Vocês estão juntos há quase dez anos, eu também terminaria com você. — Ela brinca, mas sempre há uma verdade em suas palavras.
— Mãe!
— Termine com ela, deixe que a menina encontre alguém que ame. — Ela pede.
— Eu a amo! — Resmungo, e ela me encara e sei que está com as mãos na cintura.
— Rio de Janeiro é um pouquinho longe.
— Mamãe! — Falo mais manhoso, e consigo ouvir a risada do meu pai, e sei que ele está escutando tudo.
— É sério, Felipe, eu não estou brincando, você tem quase trinta anos...
— Mamãe, eu acabei de completar vinte e sete anos! — A corto, e ela me encara com raiva.
— Vai me deixar terminar?
Sua voz parece brava, e eu dou de ombros, como se não tivesse escolha, pois ela falará de qualquer forma.
— Sim, mamãe.
— Vocês estão em situações diferentes, se estão brigando tanto, precisa que algo seja resolvido, então deixe ela livre para pensar no que fazer. Se vocês voltarem um dia, talvez seja para a vida. — Ela me encara profundamente, eu fecho meus olhos, passando as mãos pelos meus cabelos.
— Tudo bem, vou esperar ela chegar e conversaremos melhor. — Falo, e meu pai surge na tela.
— Escute sua mãe, ela sabe das coisas. Quando tiver um jogão do seu tricolor com meu Mengão, eu estarei em sua casa. — Ele informa e eu mando um beijo para ele.
— Com certeza vou adorar ver o Fluminense acabando com seu time. — Provoco, e ele manda dedo, me fazendo gargalhar.
— Veremos, merdinha!
Agora sou eu que devolvo o dedo do meio para ele que desaparece da tela rindo.
— Corte esse cabelo. — Mamãe exige, e eu nego com a cabeça.
— Deixe seus cabelos desse jeito, igual do seu pai. — Papai grita de algum lugar, eu gargalho quando minha mãe revira os olhos.
Eu tinha cabelos curtos, mas depois que deixei meus cabelos crescerem, nunca mais os cortei, eu me sinto bonito e fico parecido com meu pai, assim como ele mesmo mencionou.
— Faça o que achar melhor.
Ela desliga antes que eu posso perguntar sobre a Cecilia, e eu apenas suspiro, voltando para as malas.
Ananda me ajudou arrumar um apartamento que estivesse tudo que precisasse, o lugar fica no mesmo prédio que ela mora com o namorado, para o desespero do meu pai, que não aceita que sua linda filha esteja cometendo fornicação.
Jorge é um cantor gospel, vive viajando o Brasil, e até foi no ano passado para alguns países europeus, e ele quer que todos os seus filhos não cometam pecado, mas isso é impossível, somos pecadores.
Fernando é o único filho que vai na igreja, mas ele é diferente do Jorge, e não vai na mesma igreja do pai, ele é da Adventista, e ainda assim recebe críticas do senhor perfeição.
Escuto o conselho da minha mãe, e mando uma mensagem para Vitória, avisando que precisamos conversar.
Como sou péssimo na cozinha, e vivo pedindo comida, eu peço algo que a Vitória goste. Levo minhas coisas para o outro quarto, pois não iremos mais compartilhar a cama hoje, e talvez nunca mais.
Assim que vejo a porta se abrindo, eu me levanto do sofá, e abro meus braços para ela que caminha em minha direção.
— Desculpe, eu estava muito chateada. — Ela começa a chorar, e eu inclino sua cabeça para beijar sua testa.
— Você tem razão, devemos terminar. — Falo, e ela me aperta em seus braços.
— Não, assim que possível, eu vou viajar para o Rio. — Ela promete, eu nego.
— Você merece mais, Vivi.
Ela chora um pouco, e eu a ajudo se sentar no sofá, abraçando carinhosamente, esperando que ela fique bem para encerrar nossa história.
RUBENS
Olho para o Daniel, e ele analisa os novos armamentos que chegaram e sairão da comunidade Fabiana o mais rápido possível.
— Eu aceitei comandar o morro, mas eu não quero colocar a vida dos moradores em perigo! — Aviso, pegando uma das duzentas armas que chegaram essa manhã.
Na verdade, eu fui obrigado, mas isso ninguém sabe e nem saberão.
— Rubinho, você não vai conseguir proteger todos sempre. — Meu amigo fala, devolvendo a arma para caixa.
Meu pai, Fabiano, resolveu se aposentar temporariamente para viver em alguma ilha no Caribe com suas namoradas, pois sim, ele tem várias.
Eu tinha uma vida normal em Paris, mas eu sabia que um dia eu poderia ser o chefe do morro que o meu bisavô criou e achou que era uma monarquia que devia passar de geração em geração. Eu tinha um discurso pronto para negar essa função, mas meu pai foi astucioso e cruel, e com um dia de conversa, ele me fez assumir todas as responsabilidades daqui.
— Chefe, aquele moleque que deve uma grana acabou de brotar na Residência. — Tiago, o único que contratei para trabalhar comigo, informa.
Meu pai já tinha sua tropa, e eu apenas pude chamar Daniel e Tiago para se juntar a mim, e felizmente eles aceitaram essa vida de merda.
— Chegou a sua hora de botar terror! — Daniel pisca, me entregando uma arma, e eu olho para meu amigo revirando os olhos.
Seguimos para fora do depósito, e eu suspiro quando vejo várias pessoas ao redor do moleque. Queria dizer para o garoto ir embora, mas eu estou há dois meses nesse lugar e ainda não consegui ter a confiança do pessoal.
O garoto não tem nem quinze anos, e parece amedrontado e machucado, então o agarro pela camisa e o coloco na minha visão, depois o arrasto para minha sala.
— Chefe, ensina esse moleque que não se deve usar a droga que vende. — Leandro chuta o garoto, e eu queria socar a boca dele.
— Eu ensinarei, enquanto isso faça o trabalho de vocês! — Exijo e sou seguido por Daniel que revira os olhos.
— Seu pai era firme, um grande homem de respeito! — Dudu grita, e eu não paro para escutar sobre meu pai.
— Vocês estão caçando sarna para se coçar, babacas! — Daniel resmunga, pegando sua arma da cintura. — Façam o que o chefe mandou ou querem que o mande embora daqui com um tiro na bunda?
— Valeu! — Agradeço ao Daniel, e jogo o menino no sofá do meu escritório.
— Eles sabem que você não fará nada com o garoto. — Ele suspira, olhando para o rapaz.
— Qual seu nome? — Pergunto ao menino.
— Marcelo, eu juro que vou arrumar a grana. — Ele faz falsas promessas, e eu seguro em sua gola.
— Eu te darei um dinheiro, você voltará com esse dinheiro amanhã e eu nunca mais quero ver a sua cara, entendeu? — Dou um tapa em sua cabeça, odiando meu pai por aceitar que crianças desse jeito seja trazida para o tráfico.
— Sim, senhor, eu nunca mais apareço aqui. — Ele promete, enquanto o Daniel olha pela janela de vidro.
— Grita com ele! — Daniel faz sinal, e eu reviro os olhos, me virando de costas e respirando fundo.
— Seu bandido de merda! Traga meu dinheiro amanhã, ouviu? Vou te matar da próxima vez que me dever algo!
Xingo o garoto de todos os nomes possível, e me sinto mal quando me lembro do meu sobrinho que está em casa esperando a minha chegada.
Miguel, o filho da minha única irmã, que morreu em um acidente de carro há quatro meses, o que acelerou o motivo da minha volta para o Brasil e consequentemente minha obrigação como um membro da família Barros.
Daniel chuta o garoto para fora da minha sala, e eu me sento na mesa, suspirando com o coração gelado.
— Parece marrento, mas é uma criança cheia de tatuagens que não está pronto para essa vida. — Daniel balança a cabeça, e se ele não fosse meu melhor amigo, eu o mandaria embora daqui.
— Eu passei minha infância toda pegando em armas, droga e vendo meu pai transar com várias mulheres. Posso ser o dono desse negócio, mas será do meu jeito. Não quero crianças trabalhando comigo, entendeu? — Grito, e ele me encara assustado, depois começa a rir, e eu fecho meus olhos me segurando para não socar a cara dele.
— Agora falou como um dono do morro de respeito! — Ele debocha, e eu me afundo na cadeira.
— Peste! Pega uma cerveja para mim, pois preciso saber quem será o próximo a morrer na lista do meu pai! — Resmungo, abrindo o caderno de dívidas que meu pai possui.
Se algo der merda, eu não tenho como ligar para meu pai, pois o filho da puta não avisou para onde iria, ele só me ligou duas vezes até aqui.
Passo a manhã toda na famosa “Residência”, conhecido por todos da comunidade como o castelo do rei do tráfico da Fabiana.
Meu pai morava aqui, mas eu não sou louco de ficar aqui. Eu sou traficante para que o Miguel não assuma essa responsabilidade, pois meu pai faria de tudo para colocar aquela criança na perdição.
Cresci escutando o legado do Barros, no começo achava o máximo, mas depois fui entender o crime, e agora apenas não me importo mais em que categoria esse legado se encaixa, eu só preciso fazer meu trabalho e proteger as pessoas.
Talvez pareça um fraco agora, mas eu vou pegar o jeito disso, e serei temido como meu pai, mas proteger a minha família e a minha comunidade sempre será a real finalidade.
Saio da Residência bem tarde da noite, e sigo para casa, quando abro a porta o lugar está silencioso, e eu sei que o Miguel já está na cama.
Meu sobrinho fará quatro anos no próximo mês, e eu farei uma festa para ele, mas preciso ficar mais presente na vida do meu pequeno, pois agora é somente, eu, ele e a tia Lucia.
— Ele já está na cama. — Lucia surge ao meu lado, e eu coloco a mão no coração, olhando para mulher jovem ao meu lado todo arrumada.
Ela tem vinte e cinco anos, é a única irmã do meu pai e me ajuda com o Miguel diariamente, e por isso veio morar comigo, mas eu não quero prendê-la as minhas obrigações.
— Vou ao baile hoje, mas no sábado você pode ir. — Ela pisca, e eu faço careta.
— Não gosto de funk, lá só toca isso.
— Não é um dono do morro mesmo! — Ela gargalha e acena saindo de casa.
Jamais sairia em uma terça-feira para ir ao um baile escutar música que não gosto, jamais.
Subo até o quarto do Miguel, e entro em silêncio, esticando o cobertor para que ele não sinta frio.
Beijo seu rosto, e dou um sorriso me lembrando que a professora dele disse que sou muito parecido com ele, e ele se referiu a mim como pai.
Minha irmã não sabia quem era o pai dele, e isso nunca foi algo estranho na nossa família, pois nunca conheci minha mãe e ela tampouco a dela.
Eu pelo menos tive uma avó, mas ela morreu há quatro anos, e nem era a mãe da tia Lucia, pois essa ela também não conheceu, mas foi criada por muito amor pela mãe do meu pai.
O nome da comunidade é em homenagem a vó do meu pai, mais conhecida como a rainha do meu bisavô e única esposa que ele teve durante toda vida. Exemplo que nunca foi seguido pelo meu avô e pai.
Já fiquei com algumas garotas da comunidade, mas evito fazer isso para não se tornar meu pai e por não querer ter compromisso com alguém.
Saio do quarto do Miguel e sigo para meu ateliê, o meu lugar secreto, onde realmente me sinto alguém.
Meu pai sempre acreditou que sairia do Brasil para cursar Finanças, mas eu sou um estilista, a minha vida era Moda. Quando voltei ao Brasil, ele me fez prometer que não contaria a ninguém sobre isso, mas eu continuo criando meus croquis para grandes empresas e escondendo meu nome para que ninguém saiba que sou dono do morro.
Eu desenhei todas as cinquenta tatuagens que tenho no meu corpo, como um garoto sem proteção, eu fiz minha primeira tatuagem aos quinze anos, mas não algo que eu recomende para alguém.
Um ateliê, é onde realmente quero estar, mas fui destinado a vida no morro é assim será por muitos anos.
Eu não pareço um garoto da favela, eu cresci aqui, mas morando fora do Brasil, eu perdi boa parte da minha cultura e agora terei que aprender novamente muitas coisas.
Tudo que desejo é respeito do pessoal logo, mas sei que será árduo isso, pois respeito se conquista.
FELIPE
— Você viu as novas fotos da Vitória? — Ananda se joga no meu sofá com o celular na mão.
Ananda é negra, alta e tem cabelos cacheados longos. Sua beleza certamente veio da sua mãe, pois ninguém da família saiu puxando o Jorge.
A minha irmã acabou de se tornar psicóloga, e sempre que pode quer fazer uma sessão comigo.
— Ela me bloqueou.
Logo quando posei no aeroporto, eu não conseguia ver as coisas da Vitória, e não me importei com isso, apenas estou tentando esquecer os bons momentos que vivemos, pois meu amor por ela, isso não passará.
— Ela já assumiu um novo relacionamento.
Saio do meu lugar, e me sento ao lado dela, pegando seu celular, onde tem várias fotos da Vitória com seu colega de escritório. Poderia ser fotos de amigos, mas tem umas segurando as mãos, dizendo que ama e coisas que casais fazem.
— Ela superou facilmente. — Suspiro, devolvendo o celular dela.
Pego o meu e excluo todas as fotos que tenho com ela, pois quero seguir em frente também.
— Carla falou que você ainda não aceitou a solicitação dela. — Ananda muda de assunto, e eu reviro os olhos para minha irmã.
— Eu nem conheço a Carla! — Resmungo, olhando a solicitação que recebi depois de um churrasco na varanda da casa da Ananda e do Gabriel.
— Foi aquela garota que te apresentei. — Ela informa, e eu dou de ombros.
— Eu estava bêbado com o seu namorado, Ananda, eu só lembro de várias garotas que você jogou em mim.
— Eu só quero que se divirta. — Ela se defende.
— Eu estou trabalhando, e quando tenho um tempo, quero passar com meus irmãos. — Informo.
— Fernando convidou a gente para sair no sábado. — Ela muda de assunto, e eu confirmo.
— Jorge vai? — Questiono.
— Não, certamente não, os dois filhos rebeldes e o outro de uma igreja diferente, ele certamente não parece animado em reunir a gente. — Ela fala, e eu dou uma gargalhada.
— Isso é engraçado, mas muito sério.
— Você não se importa com ausência do nosso pai, né? — Ela indaga, e eu dou de ombros.
— Já me importei, mas o Carlos é tão incrível que eu não ligo se tenho a presença do Jorge em dias importantes da minha vida.
Ela me encara triste, mas sabe do que estou falando, pois ela já contou muitas vezes que o papai queria a obrigar se casar com o namorado.
— Ele não devia ser assim. — Ela lamenta, e eu beijo sua testa.
— Eu preciso trabalhar.
Aceno para minha irmã, que tem a chave do meu apartamento, e saio de casa com minha mochila, pois o dia será longo.
Nunca é fácil ser o novato em outro lugar, principalmente quando você sabe, mas precisa de alguém para te orientar melhor.
Sigo pela orla, e eu já estou quase me acostumando com a brisa do lugar, para uma pessoa que sempre viveu em um estado sem praia, isso aqui é muito bom, pois eu sou um praiano, sempre viajei para lugares com praias.
Rio de Janeiro é uma cidade maravilhosa, mas ainda não tive a chance de conhecer nem um por cento da cidade, e isso me deixa assustado, pois eu vim de uma cidade que poderia andar de olhos fechados, sem contar que conhecia muita coisa em BH.
Assim que paro na Superintendência, eu já recebo olhares de algumas pessoas. O prédio é enorme, mas todos sabem que chegou um novo investigador para a Delegacia de Controle de Armas e Produtos Químicos, também conhecido como DELEAQ.
Assim que chego a minha sala, que divido com mais cinco investigadores, eles me encaram sério.
— Franco, o chefe te aguarda na sala. — Victor informa, ele é o mais legal da turma e que me ajuda com boa vontade.
— Obrigado.
Deixo minha mochila na minha cadeira, e sigo para a sala do delegado, que é no fim do corredor.
Bato na porta, e escuto um entre, e assim que abro, o Senhor Pedro se levanta, e eu ajeito minha postura para ficar diante dele.
— Bom dia, Felipe, eu espero que esteja gostando dos seus primeiros dias aqui. — Ele aponta a cadeira para mim.
— Sim, senhor, é um bom lugar para trabalhar. — Confirmo, pois eu já passei por isso uma vez, mas eu sair sendo um querido por todos em BH e sou desprezado por alguns aqui.
— Você é novo por aqui, então tenho um trabalho para você. — Ele joga uns papeis em minha mão.
Começo a folhear, mas é como se fosse coisas aleatórias procurando por encaixes.
— Nunca escutei sobre o Complexo Fabiana. — Comento, lendo o nome nos papéis.
— É um morro desconhecido por muitos, mas é um grande fornecedor de drogas e armas que vive sendo passado de geração em geração por uma família bem conhecida na comunidade. — Ele explica.
— Fabiano é o traficante? — Pergunto, lendo uma ficha do homem que só tem sua foto de identidade.
— Pelas nossas investigações, sim, mas queremos mais, queremos prender esse desgraçado! — Ele fala, sério, e eu concordo.
— Começarei as investigações hoje, senhor. — Afirmo, fechando a pasta, e ele me encara com um sorriso.
— Você é carne nova, Felipe, então terá que se enfiar de cabeça nessa investigação. Seus colegas não querem isso, eles preferem investigar outros morros, mas eu quero total atenção nesse caso, filho.
Ele me encara sério, e sei que não ficarei sentado pesquisando sobre o Complexo Fabiana.
— Temos informantes nessa comunidade? — Indago, e ele afirma.
— Sim, a Deborah, ela uma policial civil infiltrada, ela te ajudará com a entrada na comunidade. — Ele me entrega outra foto de uma ruiva.
Depois de mais algumas informações, eu volto para a minha sala, pois preciso pesquisar sobre a comunidade.
— Já ouviu falar do Complexo Fabiana? — Caio, o mais inconveniente do grupo pergunta.
— Não, é tipo uma cria de favela, certo? — João continua, e eu me sento diante do computador, fingindo não se importar com eles.
— Vai encontrar somente cinquenta gramas de maconha naquele local, Franco. — Mateus bate em meu ombro.
— Só estou aqui para contribuir com a segurança pública. — Informo.
Assim que os três idiotas saem, eu sinto a mão do Victor em meu ombro, e o mais antigo dos investigadores me encara pensativo.
— Não ligue para as provocações deles, eles só querem pegar um morro grande, mas ainda não estão prontos para isso. — Ele revira os olhos, e eu dou um sorriso.
— Só estou aqui para fazer o meu trabalho, Victor. — Afirmo mais uma vez.
— Se precisar de ajuda, eu estou aqui para te auxiliar.
— Obrigado.
Ele sai da sala, e eu permaneço de frente para o computador, buscando alguma informação do lugar que preciso investigar.
Fabiano parece um homem reservado, ele não tem nenhuma passagem pela polícia e nunca se meteu em qualquer encrenca.
Gosto de investigação no campo, eu me sinto mais disposto e parece que estou no controle da situação.
Não sei o que me espera naquele lugar, mas há algo encoberto, eu darei o melhor para prender o traficante que comanda aquele lugar.
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