...Nadine narrando...
Nadine Ezra
Usava um lindo e sofisticado vestido branco naquele dia especial. Estava prestes a ser batizada. Caminhei para dentro de uma igreja católica, enquanto meu pai sorria para mim com ternura. Havia acabado de completar doze anos de idade a alguns dias atrás. Meu pai havia feito uma linda festa de comemoração para mim, junto a amigos do bairro. Poucos compareceram. Parecia que éramos pessoas não gratas. Percebi tarde demais o que estava acontecendo.
Naquele lindo dia de sol, senti a água levemente gelada molhar a minha testa suada. Me virei ao ouvir sons de homens conversando com certa agressividade. Falavam sobre algo que eu não consegui entender. Me lembro de tudo como se tivesse acabado de acontecer. Ainda esta muito fresco em minha memória. Os homens que entraram segurando suas armas grandes, o rosto assustado do meu pai. A forma como ele estendeu seus braços pedindo para que aqueles homens não atirassem nele me marcará para o resto da vida. Os olhos assustados da minha mãe. Ela sabia o que aquilo significava. Sabia o que queria dizer. Eu nunca conseguirei entender o porque tudo aquilo precisou acontecer.
– Fuja, filha! Corra! – Ela disse quando tentava distrair um dos homens.
Minha mãe abraçou o meu pai enquanto eu permaneci parada, olhando para aquela cena. Eles não se importaram com ninguém quando atiraram nas pessoas que estavam ali sem pensar em mais nada. Éramos felizes, nossa vida havia acabado de melhorar, e agora, eu não tinha mais ninguém.
Um dos Homens olhou em minha direção e somente então eu criei coragem para correr. Em meu coração, senti que estava os abandonando, mas hoje eu sei que foi o melhor que eu podia fazer. Teria morrido com eles, e sei que não gostariam disso. Meus sapatos brancos batiam contra a calçada enquanto eu corria por aquele bairro simples que havia acabado de me mudar. Aqueles homens me perseguiam. Era fim de tarde. As pessoas fugiam das ruas quando os viam passar. Ninguém enfrentaria a máfia, exceto meus pais. Porque tiveram que vender drogas para viver? Ele tinha um emprego bom, e embora não lhe pagasse bem, garantia o nosso sustento, a nossa vida juntos. Passei por uma pequena barraca de feira abandonada com frutas ainda dentro dela derrubando algumas maçãs ao esbarrar. Me escondi em um beco, onde havia uma lixeira. Pensei um pouco se deveria estrar ali, mas que escolha eu tinha? Subi no contêiner e o fechei. Era pesado. Quem reviraria o lixo? Os vi passar. Joguei alguns sacos em cima de mim e fechei meus olhos, tentando me concentrar para não tremer demais. Eu pude ouvi-los cada vez mais perto. Aqueles passos aterrorizaram-me nos sonhos por muito tempo. Me concentrei para não entrar em pânico. Eu pude ver a claridade quando um deles abriu a tampa da lixeira.
– Ela fugiu, esqueça!
– Mas o chefe ordenou que matássemos todos eles.
– É só uma menina, vai acabar morrendo na rua sozinha de qualquer forma. Esse mundo é doentio, você sabe.
E então, ouvi passos se afastando dali, mas não pude sair. Esperei em silêncio até que estivesse noite, muito tarde e então eu finalmente criei coragem para ir embora daquele lugar. Meu cheiro era horrível. Cai no chão ao tentar descer. Eu sabia que não poderia voltar para casa. Então para onde eu iria? Que escolha eu tinha?
Minha história é triste, eu sei, mas essa não é a história principal, e sim, como acabei me casando com um homem sedutor que viria a se tornar o meu carrasco, o meu pesadelo, o Don da Cosa n Nostra. Mas para que vocês entendam isso, eu terei que contar do início. De como eu o conheci e me apaixonei por ele. Como amar alguém que odeia? Bom, procurei essa resposta por muito tempo, mas confesso que ainda não sei.
Sempre fui uma mulher sorridente apesar de tudo. E como uma boa curiosa, adoro ler sobre qualquer coisa. Folhetos, livros, informativos, jornais, manuais. Qualquer coisa que me dê algum tipo de conhecimento ou que me distraia da realidade difícil que vivo atualmente. Me virei sozinha por muito tempo. Tenho dezoito anos e ainda vou me formar na escola. Eu também não tenho amigos com quem posso contar, ou algum parente. Moro em um quarto alugado em um prédio perigoso. É tudo que posso pagar. Gosto de fazer trabalho voluntário em finais de semana quando tenho folga. Creio que em outra vida, eu seria médica. Leio tudo sobre anatomia, sobre como cuidar das pessoas.
Depois de acordar cansada após poucas horas de sono, me levanto e vou em direção ao meu trabalho. Ainda estou na metade do dia. Costumo limpar alguns lugares, e finalmente consegui um emprego em uma empresa, como faxineira. Estava tão feliz. Oh, eu mal sabia o que aquilo significava quando entrei. Se pudesse voltar no tempo e avisar a mim mesma para não ir... Mas maquinas do tempo não existem, muito menos borrachas que apaguem o meu passado. Peguei a condução como todos os dias e desci em frente a empresa Milano. Era lindo. Eu finalmente teria estabilidade. Havia acabado de entrar de férias no colegial e pretendia guardar dinheiro suficiente para a minha formatura. Queria ser normal ao menos uma vez.
Respirei fundo ao entrar naquele lugar suntuoso. Olhava tudo ao redor com tanto encantamento. Jamais havia visto algo como aquilo além de em minha imaginação.
– Você é a Nadine?
– Sim. – Respondi.
– Venha comigo. Eu lhe darei a sua farda e lhe mostrarei o serviço.
– Sim senhora.
– Sim senhora? Já gostei de você! – A mulher diz.
Sorrio para ela. Eu sempre estou sorrindo, mesmo quando triste. – Obrigada.
– Bom, este aqui é o vestiário. Você deve se trocar todo dia ao chegar. Nós não permitimos roupas sociais para funcionários da limpeza e cozinha. Bom, este é o seu armário. – Ela me entrega uma chave. –Por favor, se troque. Esperarei lá fora para mostrar seu serviço.
Me troquei o mais rápido que pude e arrumei meu cabelo em um coque alto com dificuldade por causa do comprimento longo. Calcei as sapatilhas que fazem parte do uniforme e abri a porta.
– Estou pronta.
A mulher me analisou dos pés a cabeça. – Esta ótima. Pode usar um pouco de maquiagem se quiser, mas nada exagerado.
*continua...
...*** Nadine narrando ***...
Nadine Ezra
Grego Milano
A mulher me analisou dos pés a cabeça. – Está ótima. Pode usar um pouco de maquiagem se quiser, mas nada exagerado, é claro.
– Oh, eu não uso.
– Ótimo. É melhor assim, vai por mim. Algumas pessoas não sabem dosar.
Sorrio. – Imagino!
– Bom, me acompanhe! Caminho atrás dela enquanto abre e fecha algumas portas. – Você deve limpar alguns banheiros ao longo do dia. Não se preocupe, não será a única a fazer todo o serviço. Há mais duas como você, esta bem? Sei que o serviço é pesado, mas você logo se acostumará.
– Eu não tenho medo de trabalhar, posso dar conta disso.
– Ótimo.
Passamos por uma sala grande da qual ela sequer fala a respeito.
– E quanto a esse lugar? Olho para a porta fechada. Por algum motivo, senti que havia algo ali.
– Bom, o que você tem que saber é que não deve entrar nessa sala. Nunca! Em hipótese alguma a limpe, a menos que seja o seu trabalho fazer. Você entendeu?
– Sim, eu entendi.
– Então é isso. Bom, eu vou deixar você começar. Esse aqui é o deposito onde estão as coisas que deve usar na limpeza.
– Por onde eu começo?
– Comece limpando os banheiros, por favor.
E assim eu fiz. Limpei cada pedacinho daquele lugar, dos infinitos banheiros que haviam naquela empresa. Já era tarde quando finalmente acabei o meu serviço. Deveria receber por semana. Troquei de roupa e voltei para casa. Eu mal pude ver televisão, ou ler. Estava cansada demais para qualquer coisa.
Quando acordei pela manhã o sol queimava a minha pele. Não haviam cortinas, por isso, esse tipo de coisas sempre aconteciam. Também costumava chover dentro do meu quarto. Mas eu não podia reclamar. Ao menos havia um teto sob minha cabeça. Não era mais como antes, quando ainda estava na rua, e aqueles homens tentavam abusar de mim enquanto dormia. Mas eu resisti. Eu sou uma guerreira, como minha mãe costumava dizer antes de falecer.
Quando voltei para o meu trabalho na empresa, me troquei e rapidamente comecei a limpar o chão. Estava ajoelhada em um corredor, em frente a aquele escritório. Era cedo, e eu acreditei mesmo que não havia ninguém ali, mas a porta se abriu. Olhei para cima e o vi pela primeira vez. Ele já possuía aquele olhar gélido e postura impecável de homem intocável e impenetrável que tem agora.
– Eu gosto de mulheres aos meus pés, mas não esperava que fosse no sentido literal.
Sorrio sem graça, mas ele ainda permanece sério. – Me desculpe, eu vou me retirar.
– Não quer entrar?
– Não senhor. – Eu sabia bem o que aquilo significava. Porque um homem com quase trinta anos me convidaria para entrar em sua sala se não quisesse algo comigo?
– Interessante!
– O que? – Sorrio, enquanto volto a esfregar o chão.
– Você é a primeira que recusa.
Perco o meu sorriso no mesmo instante. Ele sempre se achava daquela maneira? – Desculpe.
– Não precisa pedir desculpas toda hora. – Apenas faça o seu trabalho.
– Se permite que eu pergunte, qual o seu nome?
– Porque quer saber?
Sorrio sem jeito. – E você esta sempre por aqui? Trabalha aqui?
– Digamos que eu ajude o dono.
– Algum conselho sobre ele?
– Se mantenha longe. Ele não costuma ser muito paciente.
– Legal. Meu nome é...
– Eu não perguntei.
Aquele homem arrogante caminhou por onde eu havia acabado de limpar. Deixou marcas do seu sapato italiano caro em todo o chão molhado. Praguejei. Mas ele era provavelmente um dos meus chefes, então o que eu poderia fazer? Apenas voltei e limpei tudo. Sempre gostei de cantar enquanto fazia o meu serviço, e por isso chegava mais cedo. Eu não pretendia atrapalhar ninguém com a minha voz feia. Não sou perfeita, não tenho sei cantar, mas isso não me impede de extravasar dessa maneira. É a melhor forma para me distrair do trabalho pesado.
Segurando o esfregão, voltei a passar pano por todo o corredor. E em uma simulação, me envolvi em uma linda valsa segurando o cabo daquele instrumento de limpeza. Estava de olhos fechados, mas pude me sentir observada. Eu os abri. Aquele homem estava ali, parado, com seus braços cruzados e o olhar que não saberia decifrar. Me julgava? Estava me odiando? Eu sequer conseguia saber se ele pretendia me demitir depois daquilo. Mas ele não disse uma única palavra quando eu parei de dançar. Ele voltou a entrar em sua sala, onde se trancou.
– Nossa, que vergonha. Por que eu sempre faço esse tipo de coisa? – Conversei comigo mesma como sempre fazia. Eu estou sozinha a tempo de mais para não ser ao menos um pouquinho maluquinha.
Voltei a limpar aquele corredor mais uma vez. Droga de sapato masculino que sempre sujava tudo. Porque ele tinha que trabalhar tão cedo quanto eu?
Depois de finalmente terminar. Fui em direção a outros locais onde deveria limpar. Era tão cansativo. Toda hora eu deveria voltar e refazer algo que alguém havia sujado.
Quando finalmente pude descansar. Lembrei-me de que em dois meses deveria voltar para o meu inferno pessoal. Eu sinto falta daquilo hoje em dia. Ao menos eu conhecia o que eu deveria lidar todos os dias. Não era um mistério para mim. Não havia nada de complexo em ir para a escola e ser atormentada todos os dias. Os meninos que se aproximavam porque sabiam que não havia família para que orientar. Eles sempre achavam que eu seria fácil. Ou aquelas garotas esnobes que jamais seriam minhas amigas. Ninguém seria. Em uma escola como aquela, onde eu era bolsista, haviam pessoas realmente milionárias, esnobes. Tudo em mim era motivo para piadas. Minhas roupas, meu cabelo, o corte dele, o porque de eu sempre estar com os mesmos pares de sapatos... Mas ora essa, eu não sou uma centopeia, posso viver com dois pares de sapatos e estarei muito satisfeita se nenhum deles me deixar na mão no meio do corredor do colégio ou durante a aula de educação física. Oh, eu era realmente muito boa naquilo, exceto quando perdia o jogo por ter o sapato descolado. Eu fui odiada por aquilo.
...*** Grego narrando ***...
Grego Milano
Nadine Erza
– Pai, como a Hanna está?
– Ela esta bem. Apenas faça o seu trabalho. Eu me encarrego de cuidar dela.
– Eu vou acabar com aqueles desgraçados. Não importa o que eu tenha que fazer.
– Tudo a seu tempo. Sabe bem que ele vai cometer um erro em algum momento. Essa será a hora de ataca-lo. Antes disso não. – Responde da forma calma que costuma agir o tempo todo.
– Mas...
– Já disse. Você é o don, mas ainda é meu filho.
– Sim senhor. – Respondo entre dentes. – Eu sei disso. Sabe que eu não vou contra sua palavra. Mas você também sabe que isso não vai ficar como está. Eles andam por ai, livres, como se fossem intocáveis. Eu quero muito prega-los em um gancho de carne e jogar agua fervendo até que a pele se dissolva completamente. E você sabe que eu vou fazer.
– Eu sei. Apenas espere! Seu irmão Fabrízio esta indo ai. Ele volta da Cecília hoje, não se esqueça.
– Não me esqueço de nada. Nunca!
O meu casamento foi arranjado como muitos da máfia, não há nenhuma novidade nisso. A questão é que eu era muito jovem quando me envolvi com ela. Aquela mulher ousada, mesmo tendo sido criada com tantas restrições me encantou. Ela encantava a todos. E esse era a droga do problema. Ela também não sabia se controlar, não sabia obedecer. Eu amava cada parte dela, mas eu também a odiava muito. Até que a perdi. Eu a tratei da melhor forma que pude, e nem isso foi o suficiente. Nada era.
Sentei numa cadeira de aço. Bebi um gole de café e senti a vida voltar ao meu corpo. Uma flor caiu de cima da arvore, fazendo com que eu olhasse para cima brevemente. Havia uma mulher sentada em um dos galhos. Estava lendo algum tipo de livro didático. Ri comigo mesmo. Ou ela é nova aqui, ou ainda não me conhece. Seja como for, isso não pode acontecer outra vez.
– O que você esta fazendo ai?
A mulher virou seu rosto de forma tão brusca que seus lindos cabelos se desfizeram do coque no alto da cabeça. Ela balançou suas pernas de forma inocente. – Oi, você de novo? – E sorriu para mim. Ninguém sorria para mim, ainda mais daquela maneira tão inocente. E essa merda me deixou intrigado. Ela realmente não sabe quem eu sou?
– Não faz mesmo ideia de quem eu sou, não é? – Olhei para ela com os olhos meio abertos por causa do sol.
– Não! Ela dá de ombros.
– Eu sou Gre...
– Eu não perguntei. – Ela diz de forma brincalhona.
Aquilo normalmente me deixaria enfurecido, mas por algum motivo, eu ri. Confesso que foi a primeira vez em muito tempo. – É justo!
– Então, estranho. Também está tentando dar um tempo do trabalho? Eu gostei daqui, é bem tranquilo sem todas aquelas pessoas conversando. E é lindo.
– É muito. – Respondo sem pensar enquanto olho para ela.
Sem perceber o elogio, ela sorri para mim, concordando mais uma vez. O que há com essa garota afinal? Porque eu não a assusto? Eu sei que há algo de sombrio em mim toda vez que olho no espelho. E perder a minha esposa destruiu a minha alma. Ela destruiu a minha alma.
– Eu acho melhor voltar ao trabalho. Soube que o chefe é muito bravo. Imagine só.
– Eu ouvi falar.
Ela para por um instante enquanto analisa como descer dali. Deu-se conta tarde demais que não consegue. Típico.
– Pode me ajudar a descer?
– Não! – Respondo. Eu não sou um cavalheiro, nunca fui, e não faria nada sem que me devessem algo em troca.
– Por favor. Vamos lá, eu ajudo você com o trabalho.
– Creio que não saberia realizar as minhas funções.
– Oh, por favor...
Penso um pouco. – Você me deve algo, não se esqueça.
Estendo os braços para ela, mas antes que a instrua em como descer, ela se joga, derrubando a nós dois. O livro cai sobre a minha cabeça ainda aberto. O retiro.
Ela ri copiosamente, enquanto eu estou irritado. Eu odeio essa merda, e odeio quando algo não sai como eu quero.
– Acho que eu exagerei.
– Você acha?
– Bom. – Ela se levanta, passando as mãos pela roupa. – Bem feito! Quem sabe assim você absorve algo sobre bons modos.
Me levanto, enquanto estendo o livro para ela. – Leve isso com você!
– Fique! Talvez você consiga aprender por osmose.
– Leve com você!
– Sim, senhor. – Ela diz, de forma debochada. – Tchau! – E então sorri para mim mais uma vez. Porque esta sendo gentil? Que garota estranha
Pegou o livro das minhas mãos e então saiu com aquele pequeno nariz empinado. A observei sair. Aquela bunda redonda que se mexia enquanto ela caminhava com rapidez. Imaginei o que aconteceria se eu desse um tapa nela. Droga. Eu não deveria estar pensando nessa merda. Eu tenho quantas mulheres eu quiser, porque ela me interessou? Não tem nada demais. Apenas aqueles olhos grandes e castanhos inocentes e aquele cabelo que eu gostaria de enrolar em uma mão cheia e usar como rédea ao fode-la de quatro. – Mas que droga! – Praguejo.
– Falando sozinho, irmão?
Olho para o lado, enquanto meu irmão Fabrízio caminha pelo gramado verde. Me levanto e o cumprimento em um abraço terno. – Quando você chegou? Eu ia buscar você.
– Não quis atrapalhar. Sabia que encontraria você aqui.
Enfio as mãos nos bolsos. Meu irmão esta ótimo, apesar de tudo. Ele teria mesmo que ser o Consigliere. Certamente é mais calmo que eu, e isso o torna perfeito para a função. O deixei por tempo demais a frente da máfia enquanto cuidava das coisas em minha casa, mas agora tudo irá mudar. Não posso mais ficar atrás de uma droga de mesa. Ainda quero sentir a sensação da vida se esvaindo por minhas mãos. A adrenalina de fugir do fogo cruzado, e das perseguições.
– Vamos até a minha sala e você pode me contar como estão os nossos negócios.
– Perfeito. E quanto as mulheres daqui? Os nossos bordéis?
– A mesma coisa de sempre. Mas achei que estivesse feliz com sua esposa.
– Emilly está grávida. Não me leve a mal, mas uma mulher que não faz sexo com seu marido não pode reclamar quando ele a trai.
– Isso é entre vocês. Mas ao que parece, vocês fazem, ou ela não estaria grávida.
– Porque é a obrigação dela estar. Mas agora que há um bebê, sabe que não posso machuca-la para não arriscar a vida dele. Esta difícil controla-la.
– Eu imagino. Mulheres são complicadas. Eu fui brando demais com a Lucy.
– Isso eu tenho que concordar. Aquela mulher vivia muito solta e acabou acontecendo aquilo.
Me viro para ele. – Está me culpando?
Fabrízio olha para cima ao me encarar. Eu provavelmente sou dez centímetros mais alto que ele. – Claro que não. Mas todos cometem falhas, até mesmo o don.
– Eu ainda não era o don.
– Mais um motivo, então.
– Mas ao que me parece, você também não cuida bem da sua esposa.
– Eu faço o que esta ao meu alcance. Ela é filha da máfia, sabe que não posso pegar tão pesado. Alguns corretivos são mais que o suficiente. Mas se continuar a me encher o saco, dou fim a aquela vida. Ninguém precisa saber que uma mulher não morreu no parto.
– As vezes acho que você é pior que eu.
– Não faria isso?
– Se fosse necessário, mas não assim. Não dessa maneira.
Chegamos a minha sala. Abro a porta para o meu irmão, que segura em seu terno e caminha para dentro.
Conversamos durante algum tempo sobre como faríamos para matar o filho do procurador geral e a merda de uma filho do promotor de justiça. Era uma droga. Os nossos inimigos tinham mesmo que ser filhos de homens em nossas folhas de pagamento? E porque diabos eu ainda deveria manter o acordo? Na máfia, o sangue é pago com mais sangue. É o justo.
– Bom, eu estou indo agora. Me avise se precisar de algo. Preciso verificar o carregamento de armas.
– Eu tenho que cuidar de papelada... Quem diria que ser don fosse tão divertido, não?
– É, irmão. Eu não gostaria de estar no seu lugar. Um trabalho difícil...
Passo algum tempo sentado em minha mesa enquanto assino papéis e fecho negócios. Já está muito tarde quando finalmente decido que é a hora de voltar para casa, para as coisas que ela deixou.
Havia enviado a merda de um memorando sobre a dispensa da cooperação pelos serviços do maldito promotor Lee e do procurador Bradford.
Caminho até o estacionamento. A chuva forte bate contra o chão de concentro, enquanto ouço passos de alguém caminhando em minha direção. Eu nunca posso me distrair nesse ramo. Há todos os tipos de pessoas para me matar. Famílias atingidas, líderes de máfias rivais. Talvez eu devesse mesmo andar com a droga de seguranças o dia todo.
– Senhor Grego Milano? – O homem diz.
Eu reconheceria aquela merda de voz em qualquer lugar. – O que você quer? – Toco em minha arma no mesmo instante. Me controlo para não acabar com aquela maldita vida miserável.
– Meu pai disse que dispensou os serviços dele e que aquilo foi culpa minha. Eu sei que o senhor pensa que fui eu quem...
– Eu penso? – Rio de forma amarga e sombria. – Eu sei quem foi, eu sei o que fez.
– Sim, senhor. Eu não sei quem falou essas coisas, mas saiba que eu realmente não faço ideia de quem fez aquilo. Falei com meu pai, e vão investigar a morte dela e a agressão a sua irmã.
– Ótimo... – Respondo de forma fria.
– Nesse caso, acho que o senhor poderia voltar com os pagamentos, certo? O meu pai vai ficar muito satisfeito com sua generosidade.
– É Claro. – Abro meu terno e pego um talão de cheques, escrevendo nele um valor substancial. O viro para o inútil do Mark Lee. – Isso está bom?
– Perfeito. – Responde animado.
Meu sangue ferve. As palavras do meu pai me veem a cabeça. Eu fui treinado a vida inteira para momentos como esses em que tentam usar minhas fraquezas como armas. Eu não cairia nisso.
– É melhor você ir embora daqui!
– Claro, só preciso pegar isto. – Ele diz.
O cheque molha quando o coloco sobre o capô do carro. O desgraçado olha para aquele pedaço de papel como se sua vida dependesse daquilo. Enquanto ele admira o cheque em suas mãos, eu pego a minha faca presa na cintura.
– Bom, acho que temos um acordo. – Estende a mão para mim.
Imbecil. Estendo a mão para ele, e quanto o pega, a corto fora aos poucos, passando a faca várias vezes no mesmo lugar. Ele grita desesperadamente, enquanto o gesto de puxar na direção oposta apenas me ajuda a cortar mais rápido. Sua mão se solta do osso, fazendo com que ele grite desesperadamente.
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