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Adolescentes Em Apuros

início e caos.

— Tô dizendo senhor, foi um mal entendido.

E é com uma frase tão tosca, para não dizer estupidamente clichê que vamos dar início a outro belo surto épico de criatividade. Vamos então com dicas básicas, porque sério, quem com noção básica solta essa frase merda? Se a sua intenção realmente for assinar um atestado de culpa, parabéns! Basta falar as palavrinhas mágicas: Foi um mal entendido, que puff! Várias luzes piscando irão surgir do além piscando em neon vivo e brilhante bem no centro da sua testa com as seguintes letras: C U L P A D O! Se toca bundão, tem que se esperto pra sobreviver na pista senão tu roda pior que pião por aí, porém sinto em ter que ser tão grosso e dizê-lo que aqui não iremos ensinar meios de sobreviver, afinal a função tá na mão dos seus velhos e não nas minhas, sou só um autor mediano que lava suas queridas mãos sobre isso, ah sim! Para todos aqueles que não possuem pais eu… sinto muito? O que foi?! Aqui é só mais uma daquelas histórias que se cai de paraquedas e que possivelmente terá um humor muito — BASTANTE — quebrado, não espere muito, até porque aqui não é livro de auto-ajuda.  

Ok, agora que esclarecemos alguns pontos, acho que podemos seguir, afinal um bando de palavras foram gastas com informações super inúteis, fica aí minhas desculpas. Mas voltando, nesse instante nos encontramos em uma delegacia, especialmente a 189° que não tem nenhum destaque especial que não seja apreensões de vagabundos e o caso aqui também não é nada diferente, nosso policial em questão aprendeu um guri tentando assaltar uma padaria famosa da região, o que resultou em um balde cheio de bosta já que vários policiais iam lá na padaria tomar o sagrado café que mantém qualquer alma penada de pé. Graças a falta de sorte do nosso protagonista, estamos aqui agora. 

O nosso querido, ou nem tanto assim, amigo Erick pé de vento, como é conhecido galera do morro e crias da boca, muito embora seu real nome seja, Erick Jorgito Silveira, está em maus lençóis tentando convencer o pior dos piores canas de sua inocência no roubo a padaria dos Alert's, só que óbvio, qualquer par olhos via através das mentiras do fedelho preço a cadeira e não tinha como ser diferente com o olhar duro de Leonardo, suas íris negras como borras de café já tinham visto muito daquilo, tudo graças aos 13 anos servindo como um policial. O olhar gatuno tinha se tornado fatal como vigas de gelo e calejados igual o aço para a coisa, não seria um Zé bundão que iria passá-lo para trás sem mais ou menos. Só que sabe, como as leis pedem, todos têm direito a uma explicação e bem, o que custa deixar um pivete sonhar em? A esperança é sempre a última a morrer mesmo, mas sabe, ela é a primeira a te abandonar quando tudo tá dando errado. 

— Certo, tá me dizendo então, que você ter sido pego em flagrante, em plena luz do dia, com direita a testemunhas e a porra da mão armada e só um engano, pivete?! — Foi num suspiro profundo e irritado que as palavras foram expulsas da boca fina de Leonardo. — Tem que ser piada essa droga. — Murmurou ele passando a mão do rosto exausto por tantas horas simultâneas de trabalho. 

— Juro pra ti que não é! 

Olhando o moleque que não parecia ter mais de 19 anos, uma sobrancelha do polícia teve que se erguer por tamanha petulância vinda do outro, Leonardo, odiava aquele tipinho irritante mais que qualquer coisa. Jovens estúpidos demais que juravam ser espertos o bastante para fazer toda a merda que desse na telha, um bando de idiotas que jurava ter o mundo no bolso, todavia a verdade batia nada gentil e aqueles moleques sequer tinham onde cair morto. Se sentiam tão inteligentes, achando que jamais seriam pegos pra valer e isso só os deixava mais desleixados, a confiança de nunca nada dar errado era justamente a sua inimiga, tsc, eles se enforcavam com as suas próprias cordas. 

No geral, a maioria acabava parando ali, até o mais rápido do aviãozinho tinha o seu dia ruim, sendo surpreendido por uma cãibra tão repentina ou um muro que não foi capaz de pular no tempo correto. E o que todos tinham em comum? Idade? Bom, isto também, boa parte era jovem demais na opinião de Leonardo, mas além disso nenhum deles desejava estar na frente do policial mais emputecido com a vida, o que? Eles ainda tinham um pouco de sã consciência e um suposto apreço pelas suas vidas! 

— Já te passei a visão, a novinha lá fez mó b.o com meu nome à toa. — Disparou Erick aborrecido ao lembrar-se da balconista que trabalhava na padaria Arlet. — Fui lá pegar só o meu pãozinho de cada dia e se der, eu explico essa história tim-tim por tim-tim. — Movendo as mãos pra frente, Jorgito tocou a mesa de madeira repetidas vezes com o seu indicador com um ar completo de indignação e revolta, isso acabou por fazer as algemas nos seus pulsos baterem umas nas outras em ruídos metálicos que se espalharam pela sala. 

— Ok, te dou 10 minutos para criar a melhor história que conseguir pra me convencer que foi tudo um grande mal entendido. — Disse Leonardo bufando exausto enquanto pegava sua preciosa caneca de café sem açúcar que tinha escrito com letras grossas a frase: T A F O D A! 

Franzindo o nariz de um jeito cômico, Jorgito ficou horrorizado pela forma que o policial na sua frente ergueu a caneca de café quente a segurando pela parte de cima e não pela sua respectiva alça, como qualquer ser humano decente teria feito. "Esquisitão!" Pontuou ele entre pensamentos, sério! A alça não era um efeito não irmão! Dando de ombros para sua indignação repentina e descabida, ele tinha se desviado do seu objetivo inicial que era dar no pé dali antes que os fofoqueiros da sua cidade fossem dar uma de x9 e contar todo o ocorrido para sua mãe e bom, se sua mãe tão dócil decidisse aparecer por ali, não sobraria nem um pedacinho de Jorgito para contar a história a seguir. 

Por sorte, Erick sempre teve um dom natural para contar histórias convincentes o bastante para tirá-lo de situações complicadas, então muita das vezes ele usava e abusava da sua imaginação fértil e infinita criatividade ao seu favor para livrá-lo de problemas chatos. 

— Valeu parceiro, tu vai vê que foi tudo uma armação doida com meu nome. 

[...] 

A verdade, meu parceiro, é que todo esse rolê aí começou porque a novinha lá que eu citei, a balconista gótica, é doidinha por mim. Não ri não, meu consagrado, to te mandando a real, a Paloma? Ela é a fim de mim desde o parquinho, foi mó B.O quando minha mãe descobriu porque ela era super a favor da ideia da gente namorar, mas sabe como é né sempre meti uns papo de chega pra lá nela, afinal, aqui é só no puro golpe... Não que o senhor esteja interessado em saber dessa parte, claro, na verdade não devia nem ta te contando tanto dos meus corres.

Só que juro, juradinho pra ti irmão, quando a Dona Claudete, minha belíssima mamãe, ficou sabendo, chamou os pais da Paloma, isso bem lá na época que eles ainda eram vivos, Deus os tenha! Hoje em dia aquela guri tá vivendo com um tio todo torto que vive encostando na pobre coitada, não que ele seja um cara ruim, ele daria o mundo pra única sobrinha só que né, velho cachaceiro, daí já viu, mas voltando que atropelei um pouco; o lance é que ela é os pais dela foram no meu barraco pra uma revoada, com direito a tapioca, um cuscuz de cria e uns salgadinhos la da quitanda da Ciça, cê tá ligado, certo? tu pega ali na esquina do Torres com a Orto, é logo ali do lado. São uma delícia! 

Se pá, aquele foi o dia mais constrangedor dessa minha vidinha curta! Ou pelo menos um dos, mais certeza que foi o mais aleatório porque tipo, quem diabos espera encontrar uma gótica em pé na sala assim que acorda, o que? Surpreso por eu acordar na hora do almoço? Não fique, mas sério mesmo, quem quer uma mina afobada no próprio barraco logo cedo? Exato! Ninguém, euem, pior que isso foi a dona Claudete fazendo questão de aprovar as loucuras daquela mina e a mãe dela, foi todo um role mega chato onde ela ficou falando sem parar o quão perfeita nós dois seríamos juntos e blá-blá-blá, todo uma clássica falação de mãe, que seja, ao menos tinha um rango delícia pro meu bucho ficar suave, bom demais matar o que te mata. Só por isso passar a tarde ouvindo duas veias loucas fofocando sobre meu possível futuro casamento com uma gótica e, qual é! Elas deviam tá fumando uns quando insinuavam que eu e a Paloma fazíamos um bom por, assim, nada contra góticos, não sou um 'leke preconceituoso, mas aquela merda tomava mesmo banho!? Até hoje vivo com dúvida, de qualquer forma, eu Jorgito da apavorada não tinha nada haver com aquela morena.

Ok, sim, ela virou uma baita morena, mas quando as gatinhas chovem pra você, como chovem pra mim, por que se contentar com uma só?! O fato aqui é, eu dei um pé na bunda gotica dela e ela nunca superou isso, espalhou por ai um monte de fofoca e meu nome rodou mais que bola em copa, foi um terror. Foi um trampo muito foda até o povo la do morro voltar a me ter respeito, e eu só consegui essa porque meu parça, o Jefferson da Dz7, me deu um arrasto, colou comigo e passou a ir no meu barraco. Pensa num cara muito gente fina? É ele, fi, ele é do tipo de ́ ́ só agradece ́ ́, sabe? a quebrada toda adora o homem.

Se tu quiser, pode chamar ele aqui, meno vai testemunhar ao meu favor que eu não mexo nem faço esses trens errados que aquela louca lá, tá insistindo em me acusar. Na real, pega aquele telefone lá dentro de vamos por os pratos limpos em cima da mesa agora! Ele vem e passa uma fita completa pra você de quem eu sou senhor poliça, tu puxar ai e agora minha ficha vai que tô liso, limpo que porcelana na casa de vó, te contar, não vou entender bem se minha ficha ficar suja por causa daquela mulher não em! De verdade, eu que devia tá me queixando aqui ao invés de tá me explicando, a doida quase quebrou meu pulso por nada, se ferrar em, quem vai dizer que essas novinhas da área baixaram o pique ninja do drive? Ninguém parceiro e tu viu quando chegou lá, não viu? Ela que tava em cima de mim e nem era em um bom sentido, cruzes, só azar nessa vida, aquela cheirada de pó e virada no ódio arregaçou a caceta do meu pulso, ta doendo até agora! E ainda por cima fui acusado, mó diazinho de merda, fui acusado e lecionado num espaço de tempo super curto na minha opinião. 

Isso aí vai dar dois processos nas costas da louca pra ficar esperta, sei bem onde mora, vou passar toda a papelada pro advogado e por pra lascar no lombo daquela pão careca, vai aprender rapidinho a tratar bem cliente bom e fiel como eu. Tá, tudo bem, talvez não dê nada todo esse rolê porque ela é pobre e eu, sabe, meio que não tenho um advogado, mas ainda sim! Uma ameaça pra ela pegar a visão das coisas vai fazer bem, bom, bom, voltando a todo assunto inicial, a Paloma tem rolos antigos comigo, mesmo sem nunca ter rolado nada entre a gente eu não ficaria nem um pouco surpreso de descobrir que ela fez todo uma cena pra cima de mim. 

Aposto que não vai dar 10 minutos e ela vem aqui pedir pra falar comigo, já consigo ouvir até a voz do capeta sussurrando aos meus ouvidos: "Retiro as queixas por um beijinhos, Jorgito" ai, ai gata, mal sabe que minha mãe me criou para ser um homem íntegro que não se vende por menos de 50 mil reais. 

Basicamente é isso que aconteceu hoje, pela manhã tive o desgosto de ser acordado pelo mano Cleber que tava batendo forte que nem um corno no meu portão e, sim, bom ele é corno, mas isso não vem ao caso, uma mana que ele se envolveu não prestava, não que ele não soubesse, ela era a tal da Rita da rua 25 descendo o bar do Juca, a filha da Néia que vende os melhores sacoles daqui. Sabe, meu mano amava muito, mas muito a menina, ele até perdoou uma facada, sabe o que é perdoar uma facada?! Precisa tá muito apaixonado numa criatura pra conseguir, se alguém me esfaqueia assim, eu devolvo, sou muito poucas ideias. E por que ela fez isso? Simples, a guria era um poço de ciúmes e pois na cabeça que o Cleber tava traindo ela com a Samantha, mas todo o Morro sabe que os dois e só melhores amigos, quase irmãos na real, não deu outra então, depois do mano ter perdoado a Ritinha descobrimos alguns dias depois que ela tava dando uns pegas em um velhote rico, aí já viu, o outro podia da luxos e mimos pra bonita e ela não teve o que pensar antes de deixar meu parceiro. 

Se eu vejo ela por aqui vai da pt, essa infeliz me gerou altos problemas. Gastei um bolo de dinheiro pra tentar animar o Cleber, levei pra baile, pro cinema, show, irmão eu vendi meu console da xuxa pra pagar um ingresso do Rock in Rio pra esse garoto e mesmo assim ele ainda tá borocochô, tem como não tô quase desistindo do soldado. Aí tá, o meu mano veio de manhã me chamou para gente trocar uma ideia, a gente jogou conversa fora e marcou também o fute pra quarta agora, tá depois disso ele foi embora e como eu tava de pé já, aproveitei para passar na padaria, não costumo ir ali tá cedo, na real vou mais pro fim do dia, lá pelas 16h. 

Como tava de manhã e a fome de leão não tinha batido ainda só pedi um café e um pão de queijo pra fortalecer, beleza, comi ali meu café da manhã rapidinho, levantei do balcão e tava indo até o caixa onde fica o Alert mais novo, o tal do Armandinho, não conheço esse dai nem de longe só ouço falar mesmo é, bom, não é querendo julgar, mas já que tô aqui né, ele tem mó cara de filho de papai rico e vive aqui Deus sabe lá o porquê e outra, o rapaz é todo medroso nunca vi, nem parece que cresceu vindo trabalhar nessas bancas. Que seja, fui tirar minha grana do bolso pra pagar o que devia e ele já começou a tremer todo, quando estendi a mão pra entregar a grana pro loirinho ele soltou um grito como se eu fosse um marginal e foi aí que a gótica doida apareceu, a Paloma já chegou me puxando pela gola e empurrando sem gentileza, euem não me pagou nem uma bebida antes, me senti usado seu guarda, onde a educação foi parar em!? Aff, te contar, elas nem tentam mais te conquistar já chega cheia de onda. 

Ce pá, fui me defender né, não virei gado pra sair apanhando de mulher bonita, até porque essa função é do Jefferson, juro mesmo, nunca vi homem mais disposto a tomar uns tapas de mulher como ele, tá aí uma boa, eu deveria apresentar os dois, quem sabe desse jeito ela resolve largar do meu pé. Mato dois dos meus problemas fácil, fácil, o Jefferson precisava mesmo desencalhar e por o time dele em algum campo. 

O resto todo você já sabe, o Alert medroso chamou a polícia ao invés da gente bater um papo franco e esclarecer as coisas como se devia, aí tamo aqui agora desperdiçando seu precioso tempo. 

E olha, convenhamos entre nós aqui, esse aí o tal Alert, tem mó carinha de ser gay, soltei mesmo, aquela loira de farmácia parece uma passiva tóxica meu senhor, não é atoa que é o chefe da Ketlin, tu vai mesmo confiar nele? 

Sra. Paloma.

Revirando as orbes de modo modo teatral, o policial tinha parado de escutar num ponto a qual nem sequer fazia questão nenhuma de se lembrar realmente, por outro lado, a voz suficientemente aguda, que ele desconfiava ser capaz de quebrar uma taça com o grito certo, de Jorgito ainda estava ali, falando e falando várias abobrinhas sem fazer a droga de uma única bendita pausa! Aquele idiota o tinha contando praticamente a vida sem que o mesmo tivesse questionado. Leonardo já podia sentir as pontadas de uma possível dor de cabeça o atingindo e tudo que menos queria era começar sua semana com dores fortes e monstruosas, mas o que podemos dizer? A vida nem sempre curtia muito a sua cara que quase, ou melhor, sempre era super azeda. 

Leonardo pensou em como gostaria de estar em casa assistindo alguma daquelas séries mirabolantes sobre casos criminais enquanto tomava nada mais que uma xícara de chá preto e amargo. Claro que esse pensamento nunca se concretizaria, mas não deixava de ser um belo desejo a se ter. Todo mundo tem os seus sonhos, até um policial ranzinza. 

— Essa sua história aí, foi de longe, uma das piores merdas que eu tive que ouvir em toda minha vida atrás dessa mesa. — sem ter um pingo de delicadeza, Leonardo expulsou de uma vez as palavras rudes que tinham se entalado em sua garganta, e ele não fazia a mínima questão de poupá-las. Pondo a sua caneca, que agora estava vazia, sobre a mesa, ele passou rápido as mãos pelos seus cabelos pretos e lisos, os deixando com uma aparência bagunçada. — Tudo o que falou, não faz um pingo de sentido é você ainda por cima passou dos dez minutos que te dei, isso tudo só torna essa droga toda um belo saco, então pivete, e o seguinte, até eu ouvir o depoimento da Sra. Ketlin você vai ficar aqui, detido, entendeu? 

— Mas meu senhor– — sendo interrompido bruscamente, Erick sequer pode finalizar seja lá o que pretendia dizer. 

— Nem começa com essa de "meu senhor", pivete de merda! Meu dia já começou uma bosta por tua culpa, eu espero então que, não melhor, eu estou exigindo pro seu bem que fique aqui bem, mas bem quietinho, ok? Caso contrário eu vou te encher de chute até a droga do Projac e tu vai virar mentiroso lá! — A promessa velada fez um arrepio nada agradável descer pela coluna de Jorgito, o deixando um leve, mas bem levinho ( lê-se: um iceberg inteiro! ) frio na barriga.

— Tá que me pariu, justiça tá cada dia pior, o cidadão de bem não tem mais o seu direito respeitado mesmo viu, te contar uma coisa. — Erick resmungava se encolhendo contra a cadeira. Enrugando a testa, Leonardo o olhou com desdém, tinha lá suas suspeitas que nem o próprio moleque conhecesse seus direitos de fato. 

Levantou o rosto pro alto, Leonardo soltava uma boa série de palavrões mentais e, porra! Às vezes, isto é, quase todo santíssimo dia, ele detestava o próprio emprego, uma ova isso de ter entrado para polícia por amor, ou uma besteira genérica parecida. Sério, que tipo de maluco entrava naquela por amor? Bom, se Leonardo um dia conhecesse alguém assim o daria um saco, nada pessoal sabe, só uma satisfação que ele achava justo e merecido ter. Os fatos eram, nada funcionava naquele trabalho, não realmente, a justiça vivia em uma linha tênue, onde o polícia bem sabia que toda lei tornava-se flexível o bastante para aqueles que tinham uma conta bancária gorda o bastante para calar uns e outros, então, em raras ocasiões onde tudo seguiu bem pra valer a satisfação que vários gostariam de ter ao fazer um trabalho bem sucedido, não o atingia, não de verdade, não quando a frustração por várias outras coisas era muito mais esmagadora dentro de si. E, maldito fosse o dia em que caiu na pilha do amigo de infância, Ernesto, jamais deveria tê-lo dado ouvidos para início de conversa, mas o loiro sonhador foi esperto o bastante para cativa‐lo a entrar de cabeça naquele ninho de cobras. 

Retomando sua atenção pro seu atual e tão infeliz problema, os olhas pratas e frios tal como gelo deslizaram até a cadeira onde o moleque remelento ainda se encontrava, ele que permanecia emburrado murmurando algo que o policial não fazia a menor questão de se prestar a ouvir de verdade. Suspirando por talvez a quinta, ou quem sabe, a sexta vez no mesmo dia, Leonardo se inclinou para trás a fim de se sentir um pouco mais confortável na cadeira. 

— Garoto — Leonardo o chamou desdenhoso e nem fazia questão alguma de esconder seu desgosto. — Quantos anos você tem, em? — A pergunta saiu amarga por entre a sua boca, tinha se esquecido realmente de uma pergunta fundamental como aquela. Parecia até uma piada, em mais de 10 minutos ele ainda não tinha feito o principal dos questionamentos que deveria para conseguir prosseguir. 

— Eu? Ah… então, história meio engraçada sabe, porque assim, eu meio que tenho uns 16 sacas? Tipo, na real fiz hoje mesmo, né, até ontem tava com uns 15 ainda. Se sabe, naquela fase bem pirralho mesmo, agora por exemplo já sou um homem feito, quase igual ao senhor. — Jorgito resolver arriscar, não era tão má ideia assim apelar para velha e clássica puxação de saco, era? 

Dando um riso de deboche, ótimo, aquilo era tudo que realmente tava faltando, ele é um pirralho que nem aquele iguais?! Nunquinha! E nunquinha mesmo! Aquela tinha sido a gota d'água, se Leonardo já estava irritado, agora ele estava verdadeiramente puto e queria muito poder meter a droga de uma tapão na boca daquele filho da cruz credo que falava bem mais que o devido. Nem a pior das tias do policial falava tanto quanto aquele menino que parecia falar pelos ombros. 

Levantando-se exasperadamente, o policial bateu ambas as palmas das mãos na mesa e uma ideia perversa atravessou pelos seus pensamentos mais sombrios e mórbidos, logo, um sorriso torto de triunfo se apossou dos seus lábios finos e ressecados. Embora o trabalho não lhe rendesse a satisfação que desejava, Leonardo ainda podia se divertir um pouco arrumando jeito de ferrar com idiotas burros como Erick. 

— Perfeito, perfeito mesmo! Nesse caso, vou ligar para a sua mamãezinha, pivete. — Leonardo o informou tão casual e despretensioso que mais parecia que dava uma notícia banal e não uma que poderia, sem exagero, custar a vida de Jorgito.  

— O QUE? — A voz de Erick foi expulsa pela sua garganta em um grito agudo de surpresa e terror que ficou claro no fundo dos seus olhos esverdeados. 

— Isso mesmo que tu ouviu meu parceiro, irei pessoalmente chamar a sua mãe aqui e só Deus sabe como eu espero que ela seja o tipo estressada com a vida sabe, agora com a sua licença, preciso recolher mais um depoimento e acho muito bom ficar quieto aí. 

— MOÇO PELO AMOR DE DEUS, OU SEJA LÁ QUEM TU ACREDITA FAZ ISSO NÃO! É sério, vai se papo de sopa de Jorgito para lá e pra cá, um panelaço cheio pra servir janta no morro inteiro, juro, bem juradinho para ti que já tô arrependido, sabe tu pode até me dá uns tapas, só não chama a minha mãe! — as súplicas que saltavam da boca de Erick eram como puro entretenimento para o outro que não continha o sorriso limpo.

— Pensasse nisso antes de foder a porra do meu dia, agora licença, eu preciso coletar o depoimento da Sra. Ketlin e passar um telefonema para sua casa. Então se eu fosse você, tratava de começar a pensar numa desculpa melhor pra sua mãe do que tudo que me falou. — Dito isso, Leonardo deixou a sala em passos apressados enquanto ouvia Erick dar alguns gritos desesperados implorando para que ele não ligasse para dona Claudete. 

Leonardo deu o sinal para que um dos policiais ali presentes mandasse a Sra. Ketlin para a sala de interrogatório e foi até a recepção procurar o número da nossa tão querida dona Claudete. E acredite, ele fez aquilo com a maior satisfação do mundo, seria ótimo ver o garoto levando umas boas palmadas.

Agora um cadinho de nada mais contente, ou com o humor menos drástico, Leonardo foi até a sala de interrogatórios pronto para saber o que realmente tinha acontecido por trás de toda aquela confusão matinal. 

Passando pela porta azul-escura de madeira o interior da sala não era lá grandes coisas, sua estrutura era algo mediano e as suas paredes tinham um tom branco, ou ao menos era isso que deveria ser, já que elas estavam mais para um cinza fosco sem vida. Também não havia muito em seu interior, só o desnecessário, isto era, uma mesa e três cadeiras ao seu redor.

Paloma já estava sentada ali com uma cara nada amigável. Acredite, ela odiava aquela situação tanto quanto Levi estava odiando. 

— Sra. Ketlin, sou Leonardo e sou quem vai conduzir esse interrogatório. Se importaria em responder algumas  perguntas? — O tom era uma mistura de rispidez e educação. 

— Não há necessidade para me chamar de senhora e não, eu não vou me importar em responder as perguntas, contando que isso não leve o dia todo, preciso que seja o mais breve possível. — A garoto de cabelo curto tratou de ser curta e objetiva, ainda tinha muitos serviço pela frente e odiaria perder um dia todo por causa de um garoto sem o menor juízo. 

— Ok, irei ser o mais breve possível, pode ter certeza. — Disse ele sentando-se — Primeiro, gostaria de saber o que realmente aconteceu naquela padaria antes de chegarmos. Já que segundo o pivete burro do lado, você teria agredido ele sem motivos válidos, o que, na minha sincera opinião, parece ser tudo mentira. 

— Parece, porque é, aquele idiota chegou lá por volta de umas 7h e poucas da manhã, o que já foi super estranho porque ele só vem na parte da noite, bem quando a gente tá quase fechando — Paloma resmungou estarrecida ao lembrar-se das muitas vezes que deve que adiar o fechamento da loja porque um infeliz qualquer resolver comprar tarde suas coisas — Só por isso já fiquei esperta com ele, o Erick não tem uma fama muito boa, não é pra menos vive fazendo merdas pra cima e pra baixo, qualquer dia desses a dona Claudete infarta de tanto estresse, mas bom, ele chegou, fez o pedido, comeu e foi até a caixa, foi aí que as coisas ficaram esquisitas. 

— Esquisitas como? — Inclinando-se para a frente, o policial mantinha a concentração em todos os detalhes.

— Digamos que o Erick sempre foi maluco das ideias, né, assim, aquele surtado fica por aí jurando até hoje que sou a fim dele. — A expressão no rosto da morena chegou a ser cômica diante dos olhos de Leonardo que talvez, e só muito talvez, tivesse dado um risinho enquanto pensava um "Idiota" sobre o outro. 

— Você não é? — Muito embora o tom fosse inocente, não havia nada de inocência por trás da pergunta. Se Paloma ao menos conhecesse um pouco mais o policial iria saber com toda certeza que aquilo não passava de uma provocação do tipo mais baixa que existe, a do tipo, que você não nota. 

— ÓBVIO QUE NÃO! — o gritou saiu quase como um ato involuntário, corando logo em seguida, a Ketlin se sentiu constrangida por deixar-se levar por uma pergunta idiota feita aquela, mas era mais forte que si, Erick sempre a tirava e sério com uma facilidade que chegava a ser desumana. — Desculpe. — pediu ela olhando uma das paredes.

— Tudo bem, não importa, por favor continue o depoimento. — Pediu Leonardo calmamente se sentindo satisfeito internamente. Tsc jovens, pensou ele.

— Certo, ah, como eu tava dizendo o Jorgito sempre foi meio lelé da caixola e tudo mais, a pior espécie de gente! Então, óbvio que se um dia ele realmente fizesse merda ia ser de um jeito burro e tosco que nem ele, daí que o idiota me aparece com uma faquinha de brinquedo tentando assaltar o pobre do Armandinho que tava que nem vara verde tremendo, na hora eu surtei, porque ninguém ameaça meu protegido assim na minha cara e saiu batido, aí ótimo, eu que não sou uma flor que se cheire meti o louco e soquei ele sim, perplexo o Armandinho chamou a polícia. 

— Puff, quem diabos assalta com uma faca de brinquedo?! — Leonardo não conseguiu deixar um risinho escapar, mas por descrença que diversão de fato. Tinha que ser super burro pra ter cara de pau de fazer uma merda daquelas. 

— Né? Pra você ver, até pra ser bandido tem que ter dois neurônios funcionais, o que é, ele não tem mesmo, aquele menino quanto mais cresce mais burro vai ficando e nunca pensou em tomar jeito, enfim, foi bem fácil puxar ele e imobilizar pelo pulso. Foi nesse ponto que vocês chegaram e levaram o Eren, não me importo com o que ele contou o deixou de contar e mentira, e se precisar é só conferir as câmaras da loja pra ver o que houve mesmo. — Paloma explicou tudo da forma mais resumida que lhe era possível e ao final de tudo, ela acabou por cruzar os braços com uma leve impaciência, na sua visão já tinha gasto muito tempo ali. 

Ainda que Armandinho não se importasse de fato sobre ela não voltar naquele dia, a Ketlin não perderia um dia de trabalho por motivos tão fúteis como aquele, sim, para Paloma o garoto a sala ao lado da sua era um motivo fútil e banal, para não dizer patético com um direito a pena, de todo forma, não seria ele que atrapalharia sua rotina pré planejada de sempre. 

— Creio que não vai ser necessário, o garoto não fez um esforço básico pra tentar fazer uma história convincente, só ficou ganhando tempo falando sobre a vida toda dele, tsc um saco. — a última parte foi dita com desprezo e Paloma compreendia bem o sentimento. 

— Típico dele. — Pontuou ela sem emoções.

Pensar que um dia de fato chegou a gostar de alguém como Erick a causava calafrios de arrepiar a alma, todavia, aquilo eram águas passadas, ela era uma outra pessoa agora e conseguia ver bem que o romance unilateral não a levaria a canto algum, especialmente para fora daquele buraco que chamava de "lar". 

— Creio que isso seja tudo, agradeço o seu depoimento e também acredito que não será necessário ver a filmagem, mas caso seja, iremos atrás só Sr. Alert então pode ficar sossegada e voltar para suas atividades. — o policial informou dando uma olhada na sua papelada. 

— Não to preocupado, puta com certeza de tá perdendo meu tempo aqui, mas não podia tá mais calma prestando depoimento contra o Jorgito. — Paloma afirmou com sangue nos olhos e um ressentimento bem no fundo do peito, um a qual ela sequer sabia que existia. 

— Fica tranquila garota, esse pé de vento não vai mais arrumar esses problemas, não na minha área e ele também vai receber o que merece,  e de qualquer forma, obrigado, o seu depoimento foi bem mais útil que o daquele Zé Bunda e eu garanto que ele não vai mais tirar sua paz, pelo menos não na padaria.

— Certo, precisando de mais alguma coisa até as 18h vou tá trabalhando. Bom serviço — Paloma falou se despedindo com um breve aceno enquanto puxava sua bolsa bege de volta para o ombro. 

— Obrigado e bom dia. — Se levantando, Leonardo voltou para recepção.

briga é simpatia.

Agora estávamos indo para o instante a qual ligaria para a mãe do pivete, dona Claudete, não tinha nada sido difícil conseguir o contando da senhora em questão, muitas pessoas lhe conheciam o que facilitava todo o serviço, a própria Paloma foi a responsável por acabar dando o número da outra mulher, assim como lamentou pela situação que a mesma iria enfrentar, só que coisas como estas não eram da conta de Leonardo, ele apenas queria ver logo o seu momento favorito chegar e quem sabe, isto até animaria um pouco seu humor. Nada lhe parecia mais satisfatório que poder ver um jovem burro pagar por seus crimes e seu Deus quisesse — e ele queria, e como queria! — o fedelho iria ser estapeado até a mão doer totalmente e judiado por ao menos um longo período. A violência nem sempre era a resposta, às vezes ela era pergunta inteira. 

Diante dos olhos cinzas que tão dificilmente expressavam algo além de um desdém óbvio e direito, a situação que podia imaginar um belo vislumbre o fazia sentir ao menos uma ponta de ânimo para prosseguir sua segunda feira de merda, com alguns puxões fortes na orelha o moleque poderia tomar algum jeito na vida, passar a fazer algo útil de verdade e pensar no próprio futuro, então quem melhor que sua mãe para repreendê-lo? Ninguém, normalmente não havia alguém além delas, raros se tornavam os casos onde a figura paterna era presente, ou se importava, os dois, juntos então? Um artefato difícil de ser achado pros dias de hoje. 

A medida em que, segundos e minutos iam se passando de pressa, Erick passou a sentir um pavor animalesco tomar conta das suas entranhas, elas se formavam como bolos de monstros que maltratavam o seu estômago até dizer chega, a ansiedade nunca tinha lhe parecido tão traiçoeira e seria quanto agora de fato era. Um sentimento morto nasceu no seu peito uma outra vez, um a qual ele tinha feito questão de assassinar e jogar o corpo na vala mais podre que encontrou, mas lá estava ele novamente, renascendo tal como uma fênix teimosa em seu interior… aquele sentimento de sentir-se novamente igual a uma criança — mesmo que não fizesse tanto tempo que de fato foi uma — travessa que foi pega, ou descoberta fazendo alguma das famosas "artes" juvenis. A aflição continuou e ela era precisamente cruel, chegando até a deixá-lo tonto e desnorteado, a sua situação atual era infinitas vezes pior do que só ser pego pintando as paredes brancas de sua casa, dessa vez ele realmente tinha passado dos limites e sabia perfeitamente bem disso, droga como sabia! Tinha enfiado os pés pelas mãos e cágado com tudo, como queria que seu maior problema agora fosse apenas ter quebrado uma xícara de chá do jogo favorito de sua mãe e não estar detido até a segunda ordem na porcaria de um posto policial. Claudete se sentiria tão desapontada… e com todos os motivos do universo pra isso.

— Inferno! — o garoto praguejou batendo as mãos nos braços da cadeira de madeira, um ato burro, admitia, porém não importava. Só queria extravasar sua raiva fazendo algo, por aquele bolor que sufocava sua garganta pra fora de alguma forma nem que isso também o machucasse, porque definitivamente não importava, não mesmo. 

Batendo simultâneamente o pé contra o piso várias e várias vezes, os seus olhos verdes estavam ardendo de leve e Erick para era capaz de dizer se era porque não piscava, ou pelo fato de estar reprimindo sabe se lá o quê, no final, era possível ser um pouco dos dois. Ainda sim, Jorgito permanecia olhando fixamente cada bendito segundo se passar e era tal como uma tortura inconsciente e justa para si próprio, se sua mente estiver melhor ele certamente se ligaria de algo como isso, porém não ligava, tudo o que consegui pensar era quantos minutos ainda o restaria de vida. Dali até a casa de Claudete eram por volta de 30 minutos a pé, considerando que levaria tempo até os policiais conseguirem o número da mulher, isto devia dá-lo alguns minutos extras, talvez algo em torno de 20 minutos? Bom, ele também poderia estar contando com uma mísera cota de sorte de sua mãe não estar em casa agora, se possível ela poderia estar fazendo uma feira, isso sim! Uma feira, dona Claudete podia muito bem estar fazendo um feira, ou até ter saído para o mercado, afinal de contas, era seu aniversário e sua mãe nunca deixou passar em branco... droga! Esse era todo o problema, ela não iria só deixar passar em branco.

A conhecendo como conhecia, ela deveria ter comprado tudo bem no início do mês, era sempre com antecedência para seu menino, sem a menor dúvidas estaria dentro de casa a essas horas terminando de ajeitar tudo o que podia fazendo um delicioso almoço e a sua sobremesa favorita e… droga, droga e droga! Afinal de contas, por que as coisas tinham que tomar justo esse rumo?! Por quê tinha que ser tão estúpido?! Droga Erick! Só o restava torcer entre milhares de orações e preces silenciosas, ele faria uma para cada ser divino a qual lembra-se o nome, bom, ao menos um deveria de ter piedade, não é? Torcia que sim, é torcia ainda mais que os polícias não encontrassem o bendito número em questão, seria mil vezes melhor só tomar uns tapas aqui e ali, e ser jogado em algum rosto vários becos da comunidade do que confessar para mãe que foi preso por tentativa de furto. A confissão o parecia algo tão incabível pois sabia e como sabia que o resultado não seria dos melhores, o famoso Jorgito pé de vento diria tchau, tchau para o plano terrestre em segundos. 

E, certo, digamos que brasileiro é um bicho sem o menor pingo ou vestígio de sorte. Os dias do nosso não amado Jorgito pé de vento estavam traçados, era dali para abaixo da terra… nem nos piores dias Erick achou que iria ver o tio lu tão cedo. Leonardo Ackerman nunca tinha falhado, não pra ver um jovem pagar pelos pecados, e sim, ele conseguiu o número com o maior dos maiores prazeres do mundo, com o contato da dona Claudete e tudo que Jorgito poderia fazer era orar aos céus para que tudo saísse bem e ele no máximo acabasse sem um braço, um olho e com joelhos ralados. Era aceitável até.

Quando Dona Claudete chegou no posto policial foi impossível não saber, a mulher estava só o puro bicarbonato de ódio e raiva, se você tivesse coragem o bastante pra se aproximar e vê o rosto desta, saberia que a mesma tinha longas linhas de expressões e veias que saltavam da testa. Assim que entrou foi como um estrondo, uma manada parecia vir junto da mesma, ou pior, uma tempestade que não passaria tão de pressa. Ah não, não mesmo! Aquela tempestade furiosa tinha a pretensão de ficar o máximo possível. 

— CADÊ ELE?! — A pergunta pulou de sua boca em um grito agudo, e normalmente, Leonardo que desprezava pessoas escandalosas em sua delegacia não se incomodou nem um pouco. Tudo o que o polícia fez foi ter o trabalho de apontar para a porta azul atrás de si, que óbvio, tinha deixado destrancada de propósito, vendo a mulher passar ao seu lado como um furacão descontrolado foi meio que impossível não sorrir com a visão. 

Com passos capazes de fulminar os pisos brancos do posto, a mulher foi até a porta azul sem ao menos agradecer, bom, ela iria fazê-lo mais tarde depois de enfiar um pouco de juízo na mente de seu filho, por hora, ela era apenas uma mãe morta de raiva e puro desgosto. Nunca pensou que no auge dos seus quase cinquenta anos teria que buscar um filho na polícia, por tentar roubar. Onde tinha falhado com ele? A pergunta rondava várias vezes seus pobres pensamentos desde que tinha recebido o telefonema do PM Leonardo, será que não teria orado o bastante para aquele moleque criar juízo? Ou quem sabe, a falta de uma figura paterna tinha no fim chegado para cobrar aqueles anos todos de ausência e negligência, bom, a verdade é que ela nunca soube o porquê de realmente ter acontecido, só tinha e pronto, não tinha mais o que fazer. 

Parando na frente da porta, Claudete exitou por um curto instante, dando um suspiro longo, ela recobrou suas forças e girou a maçaneta entrando com um estrondo pela porta adentro e mesmo que da onde estivesse o rosto do seu filho não fosse visível ela sabia que Erick tinha feito uma cara de pavor e medo, não era para menos se ele saísse com vida dali seria por pura obra divina do todo poderoso. 

— Erick… — A voz da mulher saiu como lâminas afiadas de gelo, era tão passiva que deixava cada parte de Erick nervosa, pois ele sabia, sabia bem que aquele tom falsamente calmo não condizia em nada com o que a mãe sentia agora. Recusando-se a se virar, o garoto via-se novamente muito pequeno, era como retornar a infância, só que a situação era muito mais série, série de mais pra ser honesto. — Erick, olha pra mim. — Pediu Claudete ainda sustentando o tom que começou, o filho ouviu seus passos e como instinto ele encolheu ainda mais na cadeira, mantendo o olhar o mais baixo possível.

Sem coragem alguma, o garoto realmente não queria olhar para a mãe. A situação era como estar numa beira de um penhasco e na sua infinita queda livre estava uma tortuosa e agonizante maré de humilhação, encarar a mãe, agora era como olhar no negrume dos seus piores pecados, que sinceramente? Estavam muito, mas muito longe de serem poucos.

— Mãe... — ele começou baixíssimo, quase como sussurros mudos. 

— Erick, eu disse pra olhar para mim. — repito ela, mas agora usava um timbre mais ríspido, o fazendo gelar, sua mãe estava parada diante de si, soltando uma lamuria melancólico baixinha, nojo de certo modo era um dos sentimentos que atravessava o coração de Jorgito, ela que dançava uma espécie repulsiva de valsa com esfacelos de culpa e até mesmo, constrangimento bailava junto a elas. 

— Desculpa, desculpa, mesmo... — Pediu ele levantando o rosto e, droga! O olhar triste na face de sua mãe era sem dúvidas, a coisa mais agonizante que ele já tinha visto, aquelas bolas de jade que normalmente irradiavam alegria, estavam opacas sem um resquício mísero de brilho neles, quase iguais aos de um cadáver, e bom, Claudete certamente estava morta de desgosto agora, onde tinha perdido seu menininho? Como foi que aconteceu? E principalmente, onde estava que não o viu se perder? Eram esses os principais pensamentos que batiam cada vez mais nos pensamentos bagunçados da mulher. 

— Erick, por que? Eu não te eduquei direito? Eu errei em algum lugar? Se eu errei só me diz por favor, eu oro aos céus toda merda de noite só pra saber onde eu errei com você garoto... — a mulher dizia com um tom de decepção na voz e o nosso pobre Jorgito já estava se debulhando em lágrimas. 

— M-Mãe desculpa... eu só queria algo legal pra hoje- 

Ele foi cortado pelo estalo em seu rosto. Um tapa forte desferido pela sua mãe. Sentindo a região queimar, Erick voltou a cara outra vez para mãe que agora estava chorando, com olhos arregalados… tinha sido a primeira vez que a doce mulher tinha erguido a mão contra si, por mais estressada que ela fosse nunca tinha o batido, não para valer e agora que tinha o feito, não doía, mas… lhe dava uma sensação pesada e vazia que se misturava com sujeira, uma sujeira que era sua. 

— Eu nunca te bati na vida e eu nunca mais vou te bater, essa é a primeira e última vez. Eu estou decepcionada, Erick. — Há essa altura do campeonato, tanto mãe quanto filho estavam chorando em união. 

— Eu... eu, eu juro que nunca mais vai... nunca mais vai- —  a frase morreu no meio da garganta de Erick, lágrimas grossas estavam descendo do rosto pálido de sua mãe, algo que ele nunca tinha visto no seu curto tempo de vida. A mais jamais chorara, nem uma única vez sequer, nem quando as coisas tinham ficado complicadas, ou o seu marido ido embora com uma família "melhor". Claudete nunca tinha derrubado uma única gota de lágrima em meio a tempestade que era sua vida, isto tudo, apenas para transmitir o conforto que seu garotinho merecia, e tudo para que mesmo? Ela já não sabia mais. 

— Não vai, não vai mesmo! — Elevando a voz, ela limpou as lágrimas se recompondo — Eu me mato de trabalhar pra de dar uma vida confortável e pra que em? Eu sempre me esforço, talvez eu tenha sido ausente, eu sinto muito Erick, mas eu precisei, Deus sabe que sim, eu precisava, mas eu nunca mais vou tirar meus olhos de você, nunca, não mesmo! Onde eu errei...? — A última parte foi uma repetição atordoada e ela parecia fora de órbita, como se todos aqueles anos lhe tivessem cobrado algo — Sinto muito, sinto mesmo pelo seu pai. Eu, eu... eu não consegui fazer ele ficar com a gente, meu menino. — o sorriso arrasado e muxo que surgiu nos lábios trêmulos da mulher causou náuseas fortes no estômago de Jorgito, como ele queria gritar que ela não tinha culpa alguma, que seu pai era o único merda daquela história, bom, aquele bastardo e ele mesmo, era como diziam tal pai, tal filho.

— Desculpa mãe, desculpa mesmo, de verdade... Eu não posso dizer que não queria fazer aquilo por que eu fiz por que queria. Mas foi com as melhores intenções...

— Melhores intenções?! Erick, por favor não minta pra mim... dói demais ver você se afastando desse jeito, onde tá o meu garoto? Onde tá o garoto que ria até do vento? — Cada fala doía na mulher como agulhas tão afiadas que poderiam atravessar seus ossos cansados. 

— Eu não sei... eu realmente não sei — cada palavra saia de si trêmula, ele tinha se perdido era verdade, se perdido em algum lugar que sinceramente? Não fazia ideia de onde ficava, ou se existia realmente, apenas sabia que estava num mar escuro, onde não escutava nada ou ninguém, onde tudo parecia irrelevante demais, um lugar onde todo seu senso passou a abandoná-lo. E só havia a si próprio para culpar, ele, suas escolhas e sua tolice. 

Se achava tão esperto, se sentia tão grande, vivia crendo que jamais seria pegou ou afetado, só que mal sabia que era tão pequeno, tão burro, tão vazio… 

— Nunca pensei que um dia veria um filho meu assim, sentando, preso — suspirando, ela pausou por segundos torturantes — Eu não sei o que fazer, mas vou fazer algo Erick, você pode ter certeza disso, só que mais que fazer algo, você precisa saber, saber que se isso acontecer de novo, eu não vou vir mais.

— E o que você quer dizer com isso, mãe? 

— Quero dizer, que se fizer isso de novo, se me fizer passar por essa humilhação outra vez, eu não só não vou vir te buscar, como você também não precisa voltar pra casa. — Lhe lançando o pior dos piores olhares, ela prosseguiu — Se fizer de novo Erick, seja lá o que for, você não é mais meu filho. — A mulher cuspiu duramente e muito embora a dupla nunca viesse saber, tinha um policial atrás da porta ouvindo toda a conversa. 

— Sinto muito. — pedirá novamente. 

— Vou conversar com a polícia e ver o que será de você, então trate de pensar no que irá dizer para o Alert é a Paloma, não só isso se prepare para vender as suas coisas, você irá entregar o que receber com isso para a padaria. Eu fui clara, Erick? — A pergunta saiu seca por sua garganta e tinha um olhar dura como ferro estampando em sua face. 

— Sim, senhora. 

— Nesse caso eu já voltarei, use esse tempo para pensar um pouco nas suas atitudes. 

— Ok.

Terminando de enxugar a trilha de lágrimas do seu rosto, Claudete virou-se e deixou o filho sozinho. Teria um dia muito longo pelo visto, deixando um novo suspiro cansado fugir, não era bem esse o seu planejamento para o aniversário do seu menino… não, não era, mesmo, ela tinha planejado tudo, ajeitando a casa inteira, tinha feito o melhor bolo que lhe era cabível, um almoço farto, sendo o prato predileto de seu filho e restava o direito para uma sobremesa, o pudim pelo qual o jovem sempre morreu de amores. Tudo tinha sido cuidadosamente preparado, apenas para ter o desgosto de ver se esfarelado diante dos seus olhos, tal como água que escorria pelos seus dedos finos, Claudete não podia impedir que cada gota de água fugisse entre a sua mão, era além do seu controle, além da sua vontade… era alcançável e mais ainda sim, tão inalcançável. Com o passar dos anos, foi justo o que Erick tornou-se, um rio sem fluxo, uma maré sem ritmo, um lago inabitável… e água sem destino. 

E isso doía tanto. Dói tanto! No fundo, Claudete sabia que ela tinha feito o melhor que podia, ela sabia! Mas por que o sentimento de auto cobrança nunca ia embora? Qualquer um já sabia só de olhá-la, ela cobrava-se por muita coisa, talvez um pouco exageradamente, ela não tinha como carregar tudo nas costas, ah não mesmo, ninguém podia. Só que mesmo assim, ela cobrou-se, se cobrou quando seu marido alcançou a maçaneta da porta, Cristo como seu coração havia partindo-se naquele dia, porém nada fora dito, ela não falou uma única sequer palavra para ele e sempre que pensava sobre se questionava, deveria ter o implorando para ficar? Isso mudaria alguma coisa? Bobagem! Repetia Claudete sempre que voltava no assunto, nunca teria implorando, não importava o quanto um dia o amou, ela não iria implorar como uma mulher miserável pois sem dúvidas, aquilo era a última coisa que ela era. Uma mulher miserável. 

Desse jeito ele saiu, sem palavras, ou sem o adeus digno que todos mereciam, também não houvera a decência de falar com o filho caçula de apenas 7 anos de idade na época, o pobre garoto que mal compreendia algo, tinha acabado de descobrir o mundo escolar, ainda estava aprendendo sobre o mundo, foi difícil contar-lo e por tempos, para o pequeno Erick seu pai só tinha saído numa viagem longa, então todas as noites, durante pelo menos 3 meses o garotinho rezou contra seu travesseiro para que seu papai volta-se, pois queria o contar as coisas incríveis que tinha aprendido na escola e apresentar os seus novos amiguinhos. Todavia, como podemos ver, nada disso aconteceu, pois o homem a qual um dia Jorgito chamou de pai, nunca voltou, nunca o procurou, tão pouco ligou. 

Ficando para Claudete toda a responsabilidade de criá-lo e contar que o pai jamais voltaria, ela ainda conseguia lembrar-se da tristeza que cravou-se profundamente na expressão do filho e do seu grito chamando-a de bruxa mentirosa, pois no fundo do coração ingênuo ele acreditava mesmo que seu pai o amava. Na noite em que soube, o garoto foi dormir a choros e soluços embolados. Doía tanto em Claudete vê-lo tão fragilizado, ela preferia nunca ter o contado, mas não podia esconder algo como aquilo do filho. 

Ela também culpou-se quando Erick iniciou a vida que levava agora, uma praticamente sem volta, mas ela orava aos seus pelo seu filho, para que ele encontrasse seu caminho e culpava-se ainda mais por te aceito aquilo tudo de certo modo, tinha que ter sido mais dura com ele. Sentia-se sufocada, julgando que não merecia palavras de amor vindas dele. Porque o amor que ele tinha por sua mãe o alcançava, mas será que era o suficiente? Será que ela o retribuía da mesma forma? 

Será que ela errou de uma forma tão grande que todos os arrependimentos quisessem finalmente descer nas lágrimas grossas? 

Claudete sequer percebeu quando estava de frente ao policial, que estava com um copo de água na mão estendendo para ela. Com um olhar vago, ela respirou fundo fechando os olhos. 

— O que vai acontecer com Erick? — Sem rodeios ela lançou a bendita pergunta que precisava fazer. 

— Bom, ele ainda é menor de idade é também dei uma olhada na ficha dele, como não tem nada, não vai ser um problema. — Leonardo falou o mais "doce" que lhe era permitido, sentia empatia pela mulher a sua frente que bebia a água um pouco trêmula e distante na própria cabeça, ele mal podia ter ideia de qual perturbada ela deveria estar de fato. — Já pedi para um dos homens o soltar e você só vai precisar assinar alguns papéis na saída.

— Entendo, sinto muito por ele, eu... eu não sei mais o que fazer — Confessou ela em murmúrios baixos, uma confissão que tinha sido muito mais para si do que para Leonardo, ele apenas estava lá por obra do destino para ouvir seu desabafo sincero. Para ser justa consigo, estava exausta de tudo, da responsabilidade de criar um filho sozinho, de sustentar uma casa inteira e ainda manter-se o mais forte possível. 

— Sabe, eu posso passar para ele trabalhos voluntários, normalmente aplicamos isso para outros tipo de detentos, mas nesse caso faço uma exceção porque vai ser bom tanto pro seu filho, quanto pra você, as horas que estiver trabalhando, ele irá prestar algum serviço comunitário e eu, ou outro policial podemos ficar de olho nele. — A sugestão dada por Leonardo definitivamente não parecia nada mal, ao menos evitava que seu filho fizesse uma nova besteira, terminando de beber a água ela abaixou o copo agora mais calma, ou ao menos, o que era possível para o momento. 

— E quanto a escola? Eu preciso ver isso, eu nem sei mas se ele anda frequentando... — Ela não orgulhava-se em admitir, mas era melhor o fazê-lo logo para lidar de frente com toda situação. 

— Ele pode começar a fazer o turno da noite, você já tá em casa essa hora não tá? — Claudete apenas acenou com a cabeça como respostas — Ótimo, se ele for pra noite você pode verificar ida e vinda, quanto de manhã a gente aqui fica de olho nele. 

A senhora somente concordou, a fala tinha lhe faltado e as palavras tinha morrido num no silêncio em sua garganta, sua mente ficou vaga, uma nuvem carregada e tão áspera de remorsos e dúvidas constantes tomou seus pensamentos embolados, fazendo somente concordar num movimento vaga com a sua cabeça. Um instante depois o policial limpou a garganta, aproveitando e anotando o nome do detento: Erick Jorgito Silveira, e dando o vários trabalhos voluntários na sua ficha, dos quais deveria começar a fazer e cumprir por toda semana. 

— Senhora, mais uma coisa. — Comentou enquanto continuava a anotar no papel — Eu  fui criado por uma mulher também, acho que compreendo que pode ser pesado. — Soltou Leonardo como um comentário casual, tendo do jeito que podia expor sua solidariedade para a mulher. 

— Perdão? — Claudete falou piscando algumas vezes, tinha voltado o seu foco pro policial e considerando sua atual condição, aquela era uma tarefa bastante difícil. Sua cabeça ainda dava muitas voltas em torno do nada, vindo e indo, rodopiando e caindo para pastos vagas com montantes de nada. 

— Bom… — O policial limpou a garganta mais uma vez. Odiava dizer isso em voz alta, assim como também detestava a ideia de ter que expor qualquer mínimo detalhe da sua vida, mas julgando o cenário, Leonardo concordou consigo mesmo que era necessário. — Nem sempre fui um policial, e minha mãe me criou sozinho. Digo isso porque, talvez na delegacia não se resolva tudo,  se a senhora conversar... Talvez... Bom, quem sabe. — Se calou, colocando a ficha na impressora no canto de sua mesa, fazendo uma cópia e rasgando logo em seguida a parte que continha os trabalhos voluntários e os horários.

Claudete ficou pensativa com as palavras do homem, isso de fato a surpreendeu. Mas lhe foi útil. A sua mente poderia estar mais clara em casa, entretanto, esperava que Erick tivesse feito o que tinha mandado fazer. 

— Bem, aqui está. — Gentilmente entregou a cópia com as informações para a mulher, que a pegou com um sorriso pequeno e cansado.

— Muito obrigada, policial. Eu farei o meu melhor. — Disse num tom choroso e Leonardo não precisou ser nenhum gênio para saber que ela estava se culpando, culpado-se por algo que não a cabia mais. Pondo a mão sobre o ombro da mesma, ele apertou com cuidado e solidariedade. 

— Quem tem que fazer isso é seu filho, dona. — Ditou ele acompanhado a mulher até a porta. — Não a senhora.

— Gentileza sua, de novo, muito obrigado por isso, por tudo, vou tentar vê um bom colégio noturno para ele no bairro e torcer pra funcionar. — Olhando a folha nas mãos, uma risadinha nasal a fugiu — Cuidador de creche? O Erick vai odiar, que sirva de lição. — Brincou ela com uma risada baixa. 

— Isso mesmo e, relaxa, vai te um momento de adulto de olhe em pé nele e se quer uma recomendação, existe uma escola na rua 27 descendo a lareira do bar do Júnior, lá tem um colégio que dá aulas noturnas, se quiser acompanho vocês até lá quando forem fazer a matrícula. — Leonardo comentou banalmente a deixando sua recomendação e disposição para uma ajuda. 

— Não precisa, isso já seria um abuso eu n- — Mas antes que Claudete pudesse prosseguir, Leonardo a cortou sem se importar realmente. 

— Faço questão, o moleque pode te jeito e não faz mal dá uma mão, além do mais, me formei lá, vai ser bom pra ele — parando momentaneamente o policial coçou a nuca um pouco receoso das próximas palavras — e também é bom dormir sabendo que vou tá dando uma força pra uma dona que tá pondo esforço pra valer pra criar seu pivete e não só largando o garoto pelos cantos como se não fosse nada. 

— Se é assim, acho que não tenho escolhas muito obrigado... — Calando, ela finalmente notou que não tinha perguntando ainda por seu nome. 

— Leonardo, meu nome é Leonardo. 

— Certo, muito obrigado Leonardo, isso significa muito pra gente. 

— Não por isso, dona Claudete, sabe e só meu trabalho. Aqui, me deixa anotar meu número nessa folha — Pegando o papel da mão da mulher, Leonardo voltou até a sua mesa pra pegar uma caneta e anotar seu número. — Pronto, agora é só você passar na recepção para terminar de ajeitar toda a papelada do seu filho e tá liberada.

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