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Contos De Sangue

Batidas na Janela

*Batidas na Janela

 

Em meados do século XVII, em setembro do ano de 1847, em uma remota aldeia onde atualmente encontra-se a Romênia, na província da Transilvânia, morava a jovem e recatada Liana Ardelean.

Era uma moça simples, que dividia seu tempo livre entre cuidar do pai e dos afazeres domésticos. Morava em um pequeno sobrado, ao lado de um pomar onde colhia maçãs com as quais fazia geleias e tortas.

Seu pai Valerian Ardelean havia se tornado viúvo a poucos anos, e resolveu dedicar-se totalmente a criar sua princesa e ao seu trabalho como tutor do jovem Iulian Albesco, filho do nobre mais rico do povoado. Sonhava que algum dia seu nobre aluno se interessasse por sua menina e que desse modo, ele não precisaria se preocupar em deixá\-la sozinha caso morresse.

Eram tempos difíceis a peste negra ainda não havia sido totalmente erradicada na Europa e o Sr. Ardelean temia adoecer deixando a filha desamparada.

O pai de seu pupilo, era um homem muito exigente, queria que o garoto fosse exemplar na leitura e na oratória, obrigando-o a horas ininterruptas de estudos e leituras.

Poucos eram seus momentos na companhia de Liana, mas mesmo sendo raros, dedicou\-se em ensinar sua menina a ler e escrever, seria mais fácil conseguir um bom matrimonio se ela fosse uma moça instruída.

Naquele dia, precisou ficar até tarde com seu jovem pupilo, chegou em casa cansado, sobre a mesa encontrou um chá ainda morno, acompanhado de uma generosa fatia de torta de maçã que sua filha amavelmente havia preparado naquela manhã. Pensou que homem abençoado eu sou, não se atreveu a ir no quarto vê-la, acreditou que ela já estava dormindo.

O bom homem caiu na cama feito pedra e logo em seguida dormiu, nem o ladrar dos cães, nem a desordem que repentinamente se instaurou na rua foi capaz de acordá-lo.

Sua filha não tinha o sono tão pesado, acordou sobressaltada com o barulho, parecia uma perseguição. O que estava acontecendo? Alguém estava sendo caçado como um animal?

A curiosidade estava por consumi-la. Deveria levantar e espiar? Não seria muito arriscado? Resolveu se conter, logo os barulhos foram se distanciando, voltou a dormir, entretanto suaves batidas na janela a despertaram.

Como seria possível? Seu quarto ficava no segundo andar do sobrado, enfim, a curiosidade a motivou a abrir a janela.

Era um rapaz muito bonito, de cabelos negros e misteriosos olhos azuis acinzentados, como um dia de neblina. Ele estava gravemente ferido na cabeça e no tórax, a camisa branca rasgada revelava a gravidade de seus ferimentos, bem como seu físico atlético.

— Perdoe\-me jovem dama, sei que é tarde e que certamente já estava dormindo, mas preciso muito de sua ajuda.

Liana emudeceu amedrontada, entretanto, seu instinto e seu bom coração não permitiram mandar o rapaz embora. Ficou a admirar suas feições, não conseguia compreender o que estava impedindo\-o de entrar.

— Poderia me convidar a entrar gentil donzela? Estou ferido e os caçadores logo retornaram.

— Por que ainda não entrou?

— Infelizmente, minha condição me impede de transitar livremente... e eu preciso que me convide formalmente a entrar em sua casa. Prometo não machucá-la, senhorita.

A jovem se apiedou dele, seus machucados sangravam, teve medo que ele morresse ou desmaiasse pela constante perda de sangue, ali bem diante de seus olhos. Mas afinal, por que estava tão preocupada com aquele rapaz? Havia acabado de conhecê-lo... de qualquer forma, mesmo sendo arriscado convidar um completo estranho para entrar em sua casa, ela sem pensar nas consequências, apenas o fez.

— Por favor jovem senhor, entre.

O rapaz entrou, ia se curvar para agradecer a bondade de sua salvadora, mas teve uma forte vertigem que o fez cambalear e cair na cama.

Liana rapidamente o ajudou a sentar em seu leito.

— Você está bem? — Perguntou atenciosa.

— Desculpe, além de ferido estou faminto.

— Eu fiz uma torta de maçã hoje cedo vou te trazer uma fatia e uma xicara de chá.

— Traga só o chá senhorita, eu não posso comer.

A jovem estranhou o pedido de seu hospede repentino, se ele estava faminto como acabara de dizer, porque não poderia comer a torta de maçã?

Desceu as escadas iluminando o caminho com um castiçal de três velas, esquentou a água e preparou o chá.

De vota ao quarto, entregou ao rapaz a xicara, ele pegou com as mãos tremulas e bebeu o chá de um gole só.

— Obrigado.

— Deixe-me limpar seus ferimentos, senhor.

— Não precisa se incomodar, apenas me esconda aqui por algumas horas...

— Eu insisto... você bateu na minha janela, desesperado por ajuda, então deixe-me ajudá-lo.

Ele não foi capaz de recusar, ela o ajudou a tirar a camisa rasgada, deparou-se com uma fratura exposta de costela e uma ponta de lança quebrada em seu peito.

— Como é possível você ainda estar vivo? A dor deve estar te devorando. — Indagou chorando.

— Não chore pequena flor, meu corpo é capaz de suportar ferimentos e dores inimagináveis... além disso, a lança não atingiu meu coração. — Respondeu hesitante, acariciando-a no rosto levemente como quem comete o pior dos pecados.

— Eu vou puxar a lança tudo bem? Aguente firme.

Antes mesmo que ele pudesse responder Liana puxou a lança de uma única vez. O hospede inesperado geme de dor e cai de joelhos, quase desmaiando.

O artefato era dotado de uma afiada ponteira de prata e ao puxá-lo bruscamente a jovem feriu a palma da mão. Algumas gotas do sangue dela pingaram no assoalho. O som do suave gotejar invadem os ouvidos do visitante, seus olhos cinzentos flamejaram.

Ele estava muito fraco, mas o aroma do sangue lhe deu força, com velocidade ele se jogou no chão em direção a pequena poça e se dispôs a lambê-la como um animal.

Liana ficou paralisada, sem conseguir formular uma única frase, o comportamento do rapaz a aterrorizou. Após alguns instantes intermináveis sorvendo o sangue do chão ele gradualmente vai recuperando a tranquilidade. Ao se dar conta do que havia acabado de fazer, ele rapidamente tenta se recompor:

— Senhorita.... hum... bem... eu não pretendia que tomasse conhecimento disso... assim... dessa forma.

— O que é você? — Perguntou oscilando a voz indo em direção as suas presas ferozes, objetivando tocá-las.

Ele a impediu segurando seu pulso, afirmando com cautela e convicção:

— Não faça isso... pode se machucar...

— Você parece melhor... — Disse com a voz tremula olhando a cicatriz enorme deixada pela lança, que misteriosamente parou de sangrar e fechou.

— Realente estou melhor... ainda quer me ajudar?

— Sim... — Respondeu monossilábica.

— Qual seu nome senhorita?

— Liana Ardelean e o seu senhor?

— Eu me chamo Veaceslav Dalca, as suas ordens, pequena flor. — Respondeu fazendo uma cortês reverencia.

Ela sorri tímida e ele decide revelar completamente sua identidade:

— Bem senhorita, eu sou um vampiro, entretanto, não herdei essa condição de meus pais... a cerca de 200 anos atrás em 1647, eu estava viajando sozinho pela estrada nas proximidades do lago Ciric. Levava diversas joias na minha sacola de viagem eram uma encomenda do Duque Robert Drummond para a esposa, eu estava incumbido pelo joalheiro de levar as peças pessoalmente ao castelo dele.

Infelizmente naquela noite, a sorte não era minha companheira de viagem. Eu estava sendo seguido e em um determinado momento onde a estrada estava completamente deserta, fui abordado por dois ladrões.

Mediante a minha recusa de entregar a mercadoria, fui cruelmente espancado e deixado na estrada, a beira da morte, sem meu cavalo e sem as joias. Fiquei ali dois dias, meus ossos foram todos quebrados, estava exausto, finalmente me dei por vencido, cansei de lutar fechei os olhos e roguei a Deus que a morte me encontrasse rápido.

Foi ai que minha pequena fada madrinha apareceu. Ela aparentava ter cerca de 9 anos, mas na verdade, a garota tinha mais de um século, lembro nosso dialogo como se fosse ontem:

“— Tio... você está com problemas?

Levantei os olhos para admirá-la era apenas uma criança, o que fazia na floresta tarde da noite?

— Nada com o que deva se preocupar garotinha... o que faz aqui esta hora?

— Sai com a mamãe para caçar... você está sangrando... — Disse ela com a voz sibilante entre os mini caninos que acabaram de brotar.

— Eu posso salvá-lo senhor... mas minha mamãe não pode saber... meu pai me ensinou a transformar humanos em vampiros, é uma coisa que devemos fazer apenas para salvar alguém que amamos ou para manter alguém conosco para sempre...

— Garotinha... é a primeira vez que nos vemos, por que você me salvaria? Volte para junto de sua mãe e não a desobedeça.

— Gostei de você tio... e como saberei se aprendi o ritual se não praticar? Deixa eu ver... primeiro bebo seu sangue... depois você bebe o meu... não vou te matar... pelo seu cheiro você já está morrendo... vai ser como dormir, e quando acordar vai ser um vampiro.

A garotinha seguiu os passos do ritual, depois sentou no chão do meu lado dizendo com doçura:

— Vou lhe fazer companhia tio... até você dormir.

— Qual seu nome jovenzinha?

— Sou Jennifer Drummond. — Respondeu sorridente.”

Eu fechei os olhos e quando acordei o sol estava prestes a nascer e minha salvadora já havia ido embora. Com uma velocidade que eu desconhecia, me abriguei em uma caverna ali perto e fiquei lá ate escurecer... a nova sede me consumia, a luz do sol queimava a minha pele.

Quando anoiteceu farejei os ladroes em um vilarejo tentando vender as joias, para a minha sorte sem nenhum sucesso. Eu os segui até a estalagem onde estavam hospedados, recuperei as joias e me fartei com o sangue deles. Recuperei meu cavalo e finalmente pude ir ao encontro do Sr. Robert Drummond entregar as peças... qual não foi minha surpresa ao encontrar minha pequena fada madrinha brincando com o irmão gêmeo entre os corredores, tocamos um sorriso cumplice e eu nunca mais a vi.

Após terminar seu relato Veaceslav voltou a se sentir fraco, ela acomodou seu hóspede na cama perguntando de forma prestativa:

— Como eu posso ajudá-lo?

— Não ouso lhe pedir mais nada... você já fez muito.

— Sei que está com fome, corro algum tipo de risco se você se alimentar de mim?

— Não posso lhe pedir isso, devo ir embora agora mesmo. — Respondeu ele tentando se levantar, caindo da cama.

— Você mal consegue ficar de pé, não seja orgulhoso.

A jovem o ajudou a sentar na cama, o cheiro do sangue dela na palma da mão o provocava sem tréguas, ele diante da oferta generosa não pode mais resistir.

— Não tenha medo. — Disse ele tomando a jovem pela cintura, afastando as longas mechas castanho claras do pescoço jovem e tentador.

Seus caninos surgem ávidos por acariciar a sua pele macia, sem rodeios ele a morde, alimentando-se dela sem pressa, sentiu suas forças voltando e todos seus ferimentos sendo curados pouco a pouco.

A jovem deixou escapar um gemido, seria de dor ou de êxtase? A quanto tempo se alimentava dela? Pareciam segundos mas, e se fossem horas? Com medo ele interrompeu a mordida imediatamente. Checou seus sinais vitais, ela estava bem, deu um pouco de seu sangue a ela para ajudá-la a se curar mais rápido a envolveu em um abraço repleto de gratidão.

— Devo ir agora. — Afirmou satisfeito.

O visitante abriu a janela pulou no galho da arvore próxima, estava descendo quando os caçadores o avistaram.

— Lá está ele. — Gritou um deles que estava armado com uma besta.

A jovem ainda com a janela aberta solicitou que ele voltasse, os caçadores retornaram correndo. As casas da rua eram muito parecidas e todas tinham arvores em seus quintais o rapaz armado se confundiu e não tinha mais certeza em qual casa o vampiro havia se abrigado. O grupo então, decidiu investigar todas as casas da rua. Isso lhe proporcionou o tempo necessário

para pensar em algo para enganá-los.

— Vou precisar de mais um favor seu. — Afirmou ele tirando as roupas.

— O que? — Indagou a jovem corando.

— Vamos fingir que somos noivos e que estamos em um momento de intimidade.

— Senhor eu... eu não sei se posso fingir isso.

— Eu ajudarei a compor o personagem. — Respondeu ele jogando a moça na cama e deitando sobre ela.

O barulho de alguém arrombando a porta violentamente a deixou nervosa.

— Vou precisar que confie em mim... faça barulhos como se estivesse fazendo amor.

— Eu não sei fazer isso... — Respondeu chorando.

— Não chore, não lhe farei mal, por favor acredite em mim... vou lhe dar alguns estímulos... apenas como incentivo para dar veracidade a farsa... eles estão subindo as escadas, não temos tempo.

Dito isso o visitante a beijou no pescoço e carinhosamente a envolveu em seus braços, a jovem surpresa não conseguiu se conter, as mãos dele acariciavam suas pernas sob sua camisola comportada, ela não pode mais segurar sua voz e gemeu em delírio. Quando os caçadores entraram se deparam com um casal apaixonado na cama em caricias preliminares. Em um reflexo ela gritou com os invasores:

— Quem são vocês? O que fazem no meu quarto? Como se atrevem a interromper eu e meu noivo em um momento de intimidade? Saiam daqui imediatamente! Desapareçam!

Os caçadores intimidados saíram imediatamente, implorando perdão, extremamente envergonhados, o visitante não se conteve e deixou escapar uma gargalhada divertida.

— Você é fabulosa senhorita... as companhias teatrais de Londres estão a perder uma atriz brilhante.

— Gostaria de vê-la outra vez pequena flor... mas por hora já lhe causei muitos problemas... — Afirmou de modo gentil acariciando seu rosto com delicadeza.

— Não vá. — Pediu ela esticando a mão para tocá-lo.

Liana envergonhou-se quando se deu por conta que pediu ao

seu hospede repentino para ficar, tentou disfarçar sua ousadia, dando a entender que era uma questão de cuidado.

— O sol... está prestes a nascer, eu salvei sua vida... duas vezes... você me deve isso.

O visitante, vestiu suas calças e olhou rapidamente pela janela. Os galos do terreiro vizinho já anunciavam o amanhecer.

— Tens razão bela dama, diferente da minha fada madrinha, eu sou o que os vampiros puros-sangues costumam chamar de andarilho, vampiros que nasceram humanos e que não tem titulo de nobreza e nem posses. Se eu tivesse dinheiro, eu poderia comprar um anel solar de uma feiticeira, mas isso custaria um valor que não disponho.

— Esse anel é muito caro senhor?

— Sim... é uma relíquia inestimável! Também não poderei retornar a estalagem onde eu estava hospedado, obviamente será o primeiro lugar onde os caçadores irão me procurar.

Vou aceitar seu convite e ficarei até o anoitecer, mas sinto que já abusei de sua hospitalidade.

Ela educadamente se levantou para deixar a cama para o seu hospede inesperado, ele a impediu dizendo afetuosamente:

— Não precisa abrir mão de seu conforto por mim, logo o sol vai nascer, eu dormirei dentro do seu baú.

— Então vou esvaziá-lo.

A garota começou a tirar do baú lindas bonecas de porcelana e a guardá-las de baixo da cama, pensou que o pai devia estar realmente muito cansado... toda aquela confusão e ele não acordou para ver o que ocorria.

Eram tantos brinquedos, Veaceslav ficou pensando que sua salvadora deveria ser jovem demais, o que estava pensando quando pediu que ela simulasse sexo com ele?

— Qual sua idade jovenzinha?

— Tenho 16 anos.

— Estou envergonhado por ter pedido que deitasse comigo, sinto que tirei vantagem de você. Perdoe-me.

— Se não fosse por isso, talvez você estivesse morto agora.

— Você é muito generosa senhorita Ardelean.

Liana votou a deitar, o desejo do seu coração era que ele deitasse com ela, afinal apesar de não demonstrar, a invasão dos caçadores a apavorou, entretanto, não se atreveria a pedir... o vampiro deitou no baú dando um cordial boa noite, fechando a tampa em seguida*.

Anel de Noivado

Anel de Noivado

A jovem levantou antes das 8 horas, precisava preparar o café da manhã de seu pai antes dele sair para atender seu nobre aluno.

— Pai, você não acordou com cães ladrando e com os barulhos na rua ontem à noite?

— Não filha, cheguei muito cansado e em seguida dormi.

Aquela noticia a alegrou, queria manter seu hospede em segredo e não via a hora de novamente anoitecer para poder mais uma vez vê\-lo. Alguns minutos depois de tomar café, seu pai saiu para lecionar.

Liana queria muito falar com Veaceslav, entretanto, de forma alguma ousaria abrir o baú antes de escurecer. As lendas eram claras, a luz do sol poderia transformá\-lo em cinzas.

O dia demorou o dobro do tempo para passar, incontáveis foram as vezes que foi até a janela verificar se já havia escurecido. Por que estava tão ansiosa? Certamente seu hospede não iria a lugar nenhum.

Resolveu varrer a casa para tentar se distrair, fez uma deliciosa torta de maçã e a trocou por uma galinha com seu vizinho. Esquentou água e tomou banho na tina de madeira, escolheu seu melhor vestido e separou uma das camisas de seu pai para seu hospede vestir.

Finalmente anoiteceu, ficou na dúvida se deveria esperar pelo despertar de seu convidado ou se ela mesma deveria acordá\-lo. Fortuitamente, não precisou decidir, o ranger da dobradiça do baú fez seu coração acelerar.

— Boa noite pequena flor.

Antes que ele pudesse dizer outra coisa a moça prontamente tratou de mostrar o quanto desejava mimar e cuidar de seu hospede.

— Boa noite Sr. Veaceslav, separei uma camisa do meu pai para você vestir, bem como providenciei algo para o seu jantar.

— Agradeço sua preocupação, mas desde que me tornei vampiro não consigo sentir o gosto dos alimentos... e essa é a maior desvantagem da minha atual condição. — Respondeu vestindo a camisa.

— Deixe\-me cuidar de suas feridas...

— Bem senhorita... graças ao seu sangue, eu estou curado.

Liana não pode evitar de ficar surpresa, entretanto não queria que seu hóspede percebesse sua inquietude e voltou a insistir que ele comesse.

— Eu troquei uma das minhas tortas por uma galinha... você

poderá se alimentar dela e depois eu posso cozinhá-la para o meu

pai. — Disse ruborizada, surpresa consigo mesma.

— Você já fez muito por mim, não devo abusar de sua hospitalidade, no entanto confesso que eu apreciaria muito vê-la de novo. — Respondeu recolhendo uma mecha de seus cabelos e sentindo seu perfume.

Veaceslav era muito atraente, cada gesto dele a envolvia como um cálido abraço.

— Vou aproveitar que está cedo e visitarei o joalheiro. Talvez ele tenha algum trabalho para mim. Não devo retornar agora a estalagem para pegar meus pertences, nem minhas economias. É possível que os caçadores estejam lá escondidos, esperando a minha volta.

— Ir ver o joalheiro também é arriscado...

— Estou precisando de dinheiro...

— Por favor... tenha cuidado.

— Terei! Obrigado por tudo... senhorita Liana.

O vampiro se despediu da jovem e sumiu na noite escura. Liana deitou de bruços abraçando o travesseiro, admirando a janela aberta. Por que ele foi embora? Que tolice! Como ela conseguiria ocultar um homem em seu quarto? De que forma o esconderia de seu pai? Chorou de saudade de seu hospede que acabara de partir até ser vencida pelo sono.

Vários dias se passaram sem notícias de Veaceslav, pensou em ir visitar o joalheiro em sua oficina, perguntar se ele sabia do paradeiro do rapaz. Todavia, abandonou a ideia depois de pensar melhor. Como justificaria seu interesse repentino? Só a saudade do vampiro era sua fiel companheira.

Já fazia quase três meses que haviam se encontrado, estava tentando se conformar e aceitar que jamais o veria de novo. Deitou melancólica, sempre chorava antes de conseguir dormir, a noite era o pior momento do seu dia.

Estava quase cochilando quando mais uma vez, suaves batidas na janela a despertaram. Acordou sobressaltada, seria ele? Correu afoita em direção a janela, abriu e se deparou com uma misteriosa figura envolta em uma capa marrom com capuz.

O vulto enigmático tirou o capuz revelando sua identidade:

— Boa noite senhorita Ardelean, perdoe-me por ter ficado tanto tempo sem dar notícias. Em minha defesa, devo dizer que estava viajando a trabalho por ordem do meu amigo e empregador joalheiro.

Liana abriu um sorriso encantador, ficou sem palavras, pois

pensou que jamais o veria novamente.

— Posso entrar minha pequena flor? — Perguntou ele por mera cortesia, pois um convite para entrar em uma casa, feito a um vampiro só pode ser retirado por meio de feitiçaria.

— Claro! — Respondeu sem conseguir esconder o quanto estava feliz.

Veaceslav entrou, sorrindo enigmático. Ajoelhou de forma solene, pegando uma pequena caixa de veludo preto no bolso secreto de sua capa.

— Senhorita, eu não queria voltar a vê-la sem lhe trazer um presente. — Disse ele abrindo a caixa revelando um anel de ouro branco ornamentado com uma adorável pedra de quartzo rosa.

— É lindo! — Disse a jovem emocionada.

— Meu empregador fez especialmente para você... pedi que fosse confeccionado em ouro branco, pois vampiros não podem manipular prata. — Respondeu ele colocando o anel no dedo da jovem e beijando sua mão carinhosamente.

— O dinheiro que gastou nesse presente, poderia servir para comprar seu anel solar.

— Infelizmente não... eu precisaria ter o valor equivalente a dez anéis de ouro e pedrarias para pagar um único anel solar.

Apenas vampiros ricos, de linhagem nobre possuem uma relíquia tão preciosa quanto um anel solar.... Mas não se preocupe com isso, seu sorriso pagou tudo que gastei nessa joia.

— Veaceslav...

— Liana, eu não tenho nada a lhe oferecer além do meu amor, não tenho bens, residência fixa e gastei todas as minhas economias nesse anel... entretanto sei que me arrependerei profundamente se não revelar o que sinto por você...

A jovem sentiu que seu coração iria pular pela boca, foi invadida por sentimentos conflituosos, queria dizer que também compartilhava daquele mesmo amor, entretanto sua voz embargada insistia em não sair.

— Pequena flor, sei que não tenho direito... mas esse é um anel de noivado... e eu seria o homem mais feliz do mundo se aceitasse casar comigo.

A declaração de amor, bem como o pedido de casamento inesperado surpreenderam a moça.

Seu pai aprovaria sua escolha? Resolveu não pensar nisso agora, seu coração seria o seu guia... e ele estava ordenando que

aceitasse aquela oferta humilde, porém sincera.

— Eu... eu aceito, Sr. Dalca.

O vampiro que ainda estava ajoelhado, segurando a mão de sua noiva, levantou rapidamente, envolvendo-a em um abraço afoito. Apesar do pedido corajoso, ele não tinha a menor ideia de qual seria a resposta da jovem.

— Confesso que você me surpreendeu ao aceitar meu pedido.

— Também quero te ofertar algo para lembrar de mim. — Disse a jovem buscando uma pequena caixinha de madeira cuidadosamente escondida no fundo do armário.

— Pequena flor... não precisa me dar nada em troca...

— Considere um empréstimo. Afinal, é a única recordação que tenho da minha mãe. — Afirmou ela sorridente abrindo a caixinha e revelando seu conteúdo.

Era um medalhão de ouro amarelo, em formato oval, desses que ocultam retratos em seu interior. Veaceslav abriu a joia e dentro, encontrou duas pequenas gravuras pintadas a mão.

Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Liana tratou de apresentar as mulheres retratadas.

— Esta, é a minha mãe quando era jovem e essa sou eu quando tinha 14 anos.

— Continua linda...

O vampiro colocou o colar no pescoço, orgulhoso. Seria seu talismã. Seu amuleto da sorte.

Liana sentou no chão oferecendo o baú ao seu convidado:

— Sente-se. — Solicitou de forma cortês, alegre.

— Não vou demorar, agora que aceitou meu pedido, preciso de novos trabalhos, juntar dinheiro para pagar seu dote, quem sabe... futuramente comprar uma pequena casa.

— Pretende fazer o pedido ao meu pai?

— Certamente, mas não agora... vou deixar que você prepare o terreno, depois virei visitá-la e formalizarei o pedido.

— Não posso contar como nos conhecemos... muito menos revelar sua verdadeira identidade...

— Bem, você é criativa senhorita Ardelean... certamente vai pensar em alguma coisa, confiarei em seus talentos.

— Porque não passa a noite aqui? Ficou tanto tempo sem vir me visitar... achei que nunca mais iria vê-lo.

— Em breve, devo me ausentar da Transilvânia, vou transportar algumas joias até a província da Valáquia.

Eu estou hospedado no vilarejo vizinho, consegui recuperar meus pertences com o estalajadeiro, mas, entretanto, aqueles malditos caçadores levaram o meu cavalo.

— E como conseguirá viajar a trabalho?

— Meu cavalo ajudava a manter meu disfarce e a esconder minha identidade, era meu fiel companheiro, perdê-lo, de fato me entristeceu... mas não preciso dele para me deslocar em minhas viagens.

Posso me transformar em lobo, morcego ou simplesmente fazer asas demoníacas surgirem nas minhas costas. Porem terei que redobrar meus cuidados para não chamar muita atenção.

— Veaceslav... eu não sou uma moça ambiciosa, não preciso de nada disso. Estar com você, já é suficiente.

— É o mínimo que posso fazer... minha noiva merece conforto e não vou permitir que saia de sua casa para viver ao meu lado viajando por estas estradas perigosas.

Depois de um período de silencio, apenas admirando-a com apresso, o vampiro concluiu:

— Devo ir agora senhorita.

Antes de sair o vampiro encheu-se de coragem e ousadia reivindicando os lábios da jovem com um beijo, selando o compromisso firmado entre eles. Liana entregou-se por completo ao beijo apaixonado... agora teria algo concreto para se apegar quando a saudade do seu amado vampiro estiver a sufocá-la.

Visita Inesperada

Visita Inesperada

 

Veaceslav visitava a noiva com regularidade, sempre trazia algum presente para a jovem... flores, brincos, luvas. Seu doce sorriso e seus beijos apaixonados eram seu pagamento.

Com a mesma frequência de suas visitas, os noivos trocavam sangue, mesmo o vampiro não conhecendo todas as responsabilidades que esse significativo ato implicava, sem ter a compreensão necessária, Veaceslav tornou Liana seu cálice.

Estava se preparando para dormir, quando mais uma vez as costumeiras batidas na janela fizeram seu coração acelerar.

— Não esperava por você hoje, senhor meu noivo!

— Então devo ir embora? — Perguntou acariciando seu rosto.

— Não diga bobagens! — Respondeu sorrindo!

— Já contou sobre nós ao seu pai?

— Ainda não... guardo o anel debaixo do travesseiro toda vez que preciso estar com ele.

— Pois apresse\-se. Na minha próxima visita, entrarei pela porta da frente e jantarei com vocês.

— E como pretende fazer isso? Vai beber meu sangue enquanto pede autorização ao meu pai para me desposar?

— Seria divertido... mas não. Eu consigo comer, apesar de não sentir o sabor dos alimentos e nem ficar saciado... se eu estiver com fome, posso comer tudo que estiver servido e mesmo assim continuarei com fome. Como vampiro, preciso de sangue para viver. Entretanto... um segredo de cada vez... por hora me contentarei em revelar nosso compromisso e conhecer seu pai.

A jovem precisaria imaginar todos os detalhes do primeiro encontro. Onde o conheceu, como ele a abordou e como surgiu o convite para jantar e conhecer seu pai. De forma alguma poderia dizer a verdade, pelo menos não agora.

— Está ficando tarde... devo ir.

— Ainda é cedo... suas visitas são tão curtas!

— Quanto mais tempo permaneço em seus aposentos, mais aumenta o meu desejo de te beijar... por isso sempre procuro abreviar o meu tempo ao seu lado pequena flor.

Liana ruborizou. Como diria que também desejava beijá-lo sem parecer oferecida? Enquano pensava no que dizer, sentiu a mão do noivo tocando sua nuca. Não havendo nenhuma resistência por parte da jovem, Veaceslav se atreveu a beijá-la, acomodando-a no leito e em seguida deitando-se sobre ela.

O beijo tornou-se mais intenso e ousado, o vampiro a abraçou envolvendo-a pela cintura apertando seus quadris. Sem querer, ela deixou escapar um gemido de prazer através de seus lábios entreabertos, sua respiração tornou-se ritmada, suas mãos deslizavam pelas costas dele onde não se encontrava nenhum vestígio ou cicatriz dos terríveis ferimentos de outrora.

Involuntariamente, a jovem afastou um pouco suas pernas permitindo que o noivo se acomodasse confortavelmente entre elas. Liana ruborizada e tímida, começou a experimentar sensações que ela desconhecia.

As reações da jovem, apesar de sutis, despertaram os desejos adormecidos do vampiro, que temia não conseguir se controlar. Seus caninos surgem, famintos, acompanhados de um volume que destacava-se sob suas calças. Para tentar não ultrapassar os limites impostos por ele mesmo, o sedutor Sr. Dalca pediu sussurrando no ouvido sua amada:

— Liana... eu posso fazê-la minha?

— Do que ele estava falando. — Pensou aflita, pois em seu entendimento ela já pertencia a ele.

Na ausência da resposta ele repetiu sua pergunta:

— Pequena flor... responda... Eu posso fazê-la minha?

— Veaceslav... Perdoe-me, eu não sei o que você quer dizer. — Respondeu a moça constrangida.

O vampiro envergonhado, mais uma vez, se deu conta de que Liana não tinha nenhuma experiência. Ela perdeu a mãe muito jovem, provavelmente o pai nunca teve essa conversa com ela. Arrependido, tratou de se retratar.

— Não se preocupe... Eu é que deveria implorar pelo seu perdão, sua resposta me fez enxergar que ainda é muito cedo para isso.... Prometo que antes de casarmos lhe direi tudo que precisa saber sobre a intimidade de um casal.

A jovem não ficou satisfeita com a resposta, porém não ousou questioná-lo, os breves momentos que passavam juntos não deveriam ser desperdiçados com brigas ou discussões.

— Agora eu realmente preciso ir. Você deve ir dormir, eu sei

que acorda cedo.

— Antes de ir, alimente-se de mim... só assim terei certeza que não está partindo zangado... — Suplicou com a face corada.

— Eu jamais me zangaria com você, meu amor. Não poderei recusar sua oferta... estou faminto.

O vampiro ajoelhou perante ela com respeito e devoção mordendo-a no pulso de forma tão delicada que ela mal sentiu sua pele ser perfurada pelas presas. O noivo se alimentou dela por alguns instantes sorvendo sua seiva com apetite.

Liana fechou os olhos e desfrutou do momento como se fosse um beijo demorado, estava feliz por poder fazer algo por ele.

Depois de saborear seu banquete, ele furou o dedo indicado em suas presas e ofertou um pouco de seu sengue a ela, adornando seus lábios como um batom vermelho carmim.

— Durma bem senhorita, dentro de uma semana virei conhecer seu pai. — Disse ele decidido vestindo sua capa e colocando o capuz.

— Uma semana? Espere Veaceslav... é muito pouco tempo!

Foi inútil. Antes que ele pudesse ouvi-la e antes de obter uma resposta o vampiro saltou pela janela fazendo surgir sua assas de morcego e sumindo na noite escura.

Liana deitou na cama e se cobriu com o lençol pensativa.

— Uma semana... — Repetiu em voz alta.

Como contaria ao pai que repentinamente estava noiva e que iria apresentá-lo ao rapaz em apenas uma semana? Nem se possuísse toda a criatividade do mundo tornaria sua tarefa mais fácil. Ansiosa não conseguiu pregar os olhos a noite toda, ficou rolando na cama de um lado para outro até o amanhecer. Levantou quando ouviu os galos do vizinho cantarem.

Preparou o café da manhã do pai e sem apetite ficou observando-o comer.

— Não vai tomar café filha?

— Estou sem fome...

— Está tudo bem?

— Pai... eu conheci um rapaz enquanto fazia compras no mercado. Casualmente eu continuei a vê-lo todas as vezes que sai... ele deseja conhecê-lo para pedir minha mão.

— Como? Pedir sua mão? — Gritou o pai cuspindo o gole de café que acabara de beber deixando a xicara de porcelana cair.

— Liana, meu aluno planejava pedir sua mão no final deste mês, em sua festa de aniversário de 21 anos. O que direi a ele se por acaso o jovem Iulian suspeitar que você anda flertando no mercado diante de todos?

— Pai, você não ouviu uma palavra do que eu disse? Eu e Veaceslav estamos apaixonados.

— Filha... eu proíbo de continuar a vê-lo. Antes de ir trabalhar, irei até o lar de órfãos do Convento e trarei uma jovem para trabalhar em nossa casa. A parir de hoje ela fará todas as compras do mercado em seu lugar.

— Mas pai... eu não quero ser noiva do Iulian. — Afirmou a jovem chorando copiosamente.

— Lamento filha, mas eu sei o que é melhor para você! Vou sair agora, quero ir no Orfanato antes de ir trabalhar. Não saia de casa e receba a nova criada assim que ela chegar.

O Sr. Ardelean saiu deixando a filha inconsolável. Liana sem saber o que fazer, retornou para seu quarto, deitando na cama colocou novamente seu anel de noivado e ficou um tempo incalculável olhando para ele sem cessar seu pranto.

Como contaria à Veaceslav que seus planos receberam um balde de água fria... orou à Deus suplicando que o noivo viesse vê-la antes daquela semana terminar.

Permaneceu deitada a manhã toda, quando estava pestes a pegar no sono, vigorosas batidas na porta a surpreenderam. Ainda era dia então descartou a possibilidade de ser seu vampiro, desceu as escadas apressada e atendeu a porta. Era uma garota de aproximadamente uns 13 anos, estava acompanhada de uma freira que não perdeu tempo em se apresentar:

— Boa tarde senhorita Ardelean, sou a Irmã Piedade do lar dos órfãos. Esta jovem é sua nova criada, ela se chama Mircea e a partir de hoje vai morar aqui.

Liana não conseguiu responder nada, ficou olhando-a em silencio, fechando a porta quando a religiosa finalmente foi embora. Pensou que talvez aquela menina pudesse ser sua aliada, resolveu ser o mais afetuosa possível para conquistá-la.

— Olá Mircea, eu me chamo Liana. Você está com fome? Fiz ontem uma deliciosa torta de Maçã... você aceita uma fatia?

A menina sorriu tímida balançando a cabeça positivamente, aceitando a fatia de torta.

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