Ana Clara entrou pela porta da pequena casa em que morava em silêncio.

Observou tudo ao seu redor e logo constatou que nada mudará!

Era a mesma coisa à muito tempo!

Olhou ao fundo e viu apenas os péa de sua mãe deitada na cama.

Seus olhos encheram de lágrimas ao lembrar da terrível cena que a atormentava todas as noites durante o sono!

— É você querida?

Maria Luisa perguntou de dentro do quarto.

— Sou eu, mãe!

Ana Clara respondeu caminhando em direção ao quarto e limpando os olhos das lágrimas que teimavam em descer.

Seu coração estremeceu assim que entrou no quarto.

Desde que o trágico acidente ocorrrera, tirando a vida de seu pai e de sua irmã, Maria Luisa havia ficado entrevada em uma cadeira de rodas.

— Como você está mamãe?

Ana Clara perguntou sorrindo.

— Entrevada nessa cama, mas estou bem...

— Não fale assim... eu não gosto!

— Arranjou um emprego, filha?

Maria Luisa mudou de assunto.

— Sim!

— E onde fica?

— Não é muito longe daqui! Poderei vire em casa para fazer o seu almoço..

Ana Clara respondeu com simplicidade.

— Não esquente sua cabeça com isso! Estou me virando muito bem Clara! Já me acostumei com a cadeira de rodas..

— Prometo que daremos um jeito nisso..

Ana Clara abraçou a mãe.

— Não há o que ser feito Ana Clara... já me conformei com o meu estado.

Maria Luisa acariciou os cabelos da filha com delicadeza e ternura.

Ana Clara fechou os olhos tentando lembrar-se de como aquela cara era feliz!

Mas tudo era passado! Havia apenas tristeza e dor no coração de sua mãe.

*

Vitor jogou-se em sua cadeira e pegou o telefone.

— Não quero mais ser incomodado!

Vitor disse a secretária pelo telefone.

Olhou o suntuoso escritório ao seu redor, aquilo não significava mais nada à ele!

Seus vinte e seis anos pesavam como se fose cinquenta!

Tinha visto a vida passar sem faze absolutamente nada!

Sem família, sem muitos amigos de verdade, e com mulheres que se interessavam apenas em seu dinheiro.

Olhou para o relógio mais uma vez, já estava na hora de ir para casa.

Pegou o terno, e a pasta com os contratos da empresa e saiu.

— Não volto mais hoje!

Vitor comunicou à secretária.

— Sim, senhor! Me pediram para avisar que contrataram a nova designer!

Lanna deu o recado ao chefe.

— Obrigado por avisar!

— De nada, Senhor Muniz!

Vitor não se importava con quem era ou deixava de ser contratado.

A única coisa que ele queria era o lucro e seu prestígio contínuo no mercado de joias e da moda!

Sua vida lhe cansava e causava um tédio inimaginável!

Entrou em seu apartamento.

— Que bom que chegou menino!

Graça era a mãe que Vitor nunca conheceu.

— Cheguei mais cedo.

Vitor sorriu ao constatar que a senhora o esperava.

— Sorte sua criança!

A senhora respondeu com um sorriso amável.

— E por que? Posso saber?

— Com toda certeza! Preparei o bolo de chocolate que você gosta... ainda está dentro do forno!

— Com sorvete?

Vitor perguntou sorrindo como uma criança.

— Claro que sim!

A senhora sorriu de volta.

Ana Clara Garcia, 22 anos

Maria Luisa Garcia, 56 anos

Vitor Muniz, 26 anos

Lanna Gonçalves, 27 anos

Graça Silva, 60 anos

Na manhã seguinte, Ana Clara acordou disposta a dar o melhor de si nesse emprego que lhe custara tanto para conseguir.

Tinha feito a faculdade de designer a algum tempo, mas sempre trabalhara como autônoma.

Infelizmente com a mãe naquelas condições não podia se dar ao luxo de não ter um dinheiro certo todo final de mês.

Chegou cedo em frente ao grande prédio de fachada espelhada que tinha os dizeres Muniz's Joias.

Pouca coisa sabia sobre o seu trabalho em si!

Sabia apenas que trabalharia no 12° andar e que seria uma das três designers de joias da empresa e mais nada!

Ana Clara entrou na sala e viu que uma das mesas estava ocupada.

Uma bela mulher loira de olhos azuis a mirava.

— Que bom que você conseguiu o emprego, Ana!

Larissa andou até ela.

— Nem me fale Larissa! É como um sonho.. como você está? Minha afilhada? E o Rafa?

-Uma pergunta de cada vez né?

Larissa revirou os olhos e as duas sorriram.

-Está certo!

-Estamos todos bem e a sua afilhada anda falando muito de você!

Larissa sorriu.

-Não sei como agradecer, Lari!

Ana respondeu um pouco sem graça.

-Pelo que?

-Por ter me ajudado com esse emprego!

-Não tem nada o que agradecer! Sei que faria o mesmo por mim e pelo Rafael!

-Pode ter certeza que sim! Está é a minha mesa?

-A sua mesa é a de frente para minha!

Larissa orientou a amiga.

Ana Clara se ajeitou na grande mesa em frente à Larissa.

Tinha tudo o que precisava ali! Pequenos alicates e uma boa lupa, além dos papeis para desenhar as joias.

— Mas como está sua mãe, Ana?

-Ah, ela está a cada dia mais triste e...

A conversa foi cortada com a entrada de uma mulher de cabelos cacheados e olhos castanhos.

— Olá Carla!

Larissa sorriu para a bela mulher.

— Essa é a Ana Clara, minha amiga! Te falei sobre ela se lembra?

— Claro, Lari!

Carla sorriu.

-Meu nome é Carla Assis, seja bem vinda!

A mulher posicionou em sua mesa.

— Muito obrigada!

Ana Clara respondeu docemente.

— Acabei de lembrar que fiquei encarregada de te mostrar todo serviço, por isso é bom começarmos logo!

— Vamos, então!

— Se precisarem de mim é só pedir um help!

Carla começou a mexer nos objetos em sua mesa.

— Ainda trabalhando naquele projeto, Carla?

Larissa perguntou.

— Sim, o Vitor me deu um bom desafio dessa vez!

Carla espondeu com um sorriso de desespero.

Ana Clara indagou com o olhar e Larissa fez um gesto de "depois eu te explico".

*

Vitor chegou no mesmo horário de sempre na empresa, colocou sua maleta em cima da grandiosa mesa e quando preparava-se para iniciar o trabalho sua secretária entrou.

-Bom dia, senhor Muniz!

Lanna disse com delicadeza.

— Bom dia Lanna, como estão as coisas por aqui?

— Tudo ocorrendo como o planejado! A nova designer já chegou.

-Pode me passar a ficha completa?

Vitor perguntou indiferente.

— Claro que sim, senhor Muniz!

Lanna retirou-se.

Minutos depois a ficha foi enviada para o email de Vitor.

Nome: Ana Clara Garcia

Idade: 22 anos

Estado Civil: Solteira

Aqueles dados eram mínimos, tinha que sabem quem exatamente trabalhava com ele.

Principalmente no cargo que estava sendo ocupado.

Vitor pegou o telefone fixo e ligou para Lanna.

— É só isso que você sabe sobre ela, Lanna?

Vitor perguntou em tom seco.

-Sim, senhor..

— Como assim só isso? Não tem mais informação?

— Sei que ela trabalhou a vida inteira como profissional liberal na parte de designer, nunca teve emprego fixo e mora perto!

Lanna pressionada pelo chefe passou outras informações.

— Isso já é alguma coisa... mas quero todas as informações possíveis sobre ela. Sabe o que fazer não?

— Sei sim, senhor Muniz!

Lanna respondeu rapidamente.

Vitor desligou o telefone, encostou em sua cadeira e pela primeira vez pensou como seria ter uma família de verdade.

Com esposa e muitos filhos.

Às vezes achava que isso nunca aconteceria!

Era cercado de mulheres que prezavam seu corpo acima de tudo e todas elas tendo valores distorcidos.

Vitor respirou fundo.

Gostaria de ter uma filho o quanto antes mas não queria adotar.

Será que alguma mulher estaria disposta a ceder seu corpo para gerar um filho para ele?

Larissa Reis, 29 anos

Carla Assis, 31 anos

Os dias foram passando e Ana Clara seguia com o seu trabalho tranquilamente, absorta no que estava fazendo quando notou a entrada de uma moça pequena e de aparência agradável.

Ela parecia estar a par de todas as coisas que aconteciam na empresa entrou na sala onde estava a trabalhar.

Ela dirigiu-se diretamente a Ana Clara, parando frente a mesa.

— Olá Ana Clara, sou Lanna. Secretária do Sr. Muniz!

Lanna disse com um sorriso no rosto.

Ana Clara já esperava a visita dela. Tinha sido avisada por Larissa.

Respirou fundo antes de responder, apesar de saber do que se tratava pelo fato dela estar ali na sua frente examinando-a de cima a baixo.

— Em que posso ajudá-la?

Ana Clara perguntou educadamente.

— O senhor Muniz quer vê-la!

— Quando?

Ana Clara perguntou

— Ainda hoje.. de preferência!

Ana Clara acenou com a cabeça indicando indiferença.

Tinha acabado de começar a trabalhar, apenas duas semanas de trabalho por isso não tinha nenhuma encomenda.

— Ele quer vê-la depois do almoço... pode ser?

Lanna perguntou.

— Pode sim!

A secretária do Sr. Mumiz sorriu para Larissa e Carla que a olharam sem fazer nenhum tipp de comentário.

— Lari! O que eu faço?

Ana Clara perguntou em tom desesperado.

-Fica calma!

Carla respondeu no lugar de Larissa.

— A Carla tem razão, Ana. O Vitor não é nenhum bicho de sete cabeças...

Larissa respondeu em tom engraçado.

— Até pode não ser... mas ele é o chefe caramba!

Ana Clara expôs sua preocupação.

— E o que isso tem a ver, Ana?

— Como assim o que tem a ver, Carla?

— Não estou te entendendo! Está com medo de que?

-Ah sei lá, Carla! E se ele não for com a minha cara?

— Não fale uma besteira dessa, Ana!

Larissa colocou a mão no ombro da amiga.

— Me conta como ele é!

Ana Clara pediu.

Carla e Larissa sorriram e Ana Clara as encarou.

Carla ostentava um olhar sonhador e abanava-se com as mãos.

Larissa apenas ria olhando para a amiga.

— O que se passa? Uma de vocês pode me contar?

Ana Clara perguntou impaciente.

— Você nunca viu o Vitor?

Carla perguntou indignada.

— Não!

-Ah meu Deus!

Carla disse exasperada.

— Como não... nossa.. não sabe o que está perdendo!

— Do jeito que você fala é como se ele fosse um deus grego!

Ana Clara revirou os olhos.

— Mas é Ana...

Carla se abanou.

— Você não tem ideia do quanto! Ele é um dos homens mais bonitos que eu já vi na vida..

Carla suspirou.

— Prefiro o Rafa..

Larissa voltou para sua mesa.

— Mas é claro né, Lari? Você está casada e muito bem casada! Não pode ficar olhando para os lados!

Carla disse enquanto ria.

— Peraí! Casada sim, cega jamais!

Larissa respondeu rindo.

— Concordo com você, Lari! Mas me diz.. ele é assim.. huum.. gostoso?

— Bota gostoso nisso Ana... ele é perfeito!

Carla abanou-se rapidamente.

— Mas como ele é?

Ana perguntou séria.

— Fisicamente?

Carla perguntou zombando. Ana riu e ficou séria novamente.

— Eu falo! A Carla já está de graça, é só falar no Vitor que ela fica assim... toda animadinha!

— Idiota! Vai chegar um primo dele... tá sabendo?

Carla perguntou sentando em sua mesa.

— Estou sim, mas isso não interessa!

Larissa respondeu.

— Se for tão lindo e gostoso como ele me interessa sim!

Carla voltou sua atenção as joias a sua frente.