Olá me chamo Sofia Menezes, tenho 19 anos.

Perdi minha mãe em um assalto, me lembro como se fosse hoje, nós tínhamos o costume de fazer a noite das garotas, assistíamos filmes, brincávamos, e comíamos bastante besteira.

Naquela noite, nós já estávamos deitadas, quando começamos a ouvir um som de tiros, minha mãe veio correndo para o meu quarto, me pegou no colo e levou para a cama, ela foi até a gaveta de sua escrivaninha, abriu e retirou uma arma ali de dentro, na hora por eu ser pequena e estar assustada, não entendia muito bem oque estava acontecendo e o porquê da minha mãe ter aquilo.

Os barulhos estavam cada vez mais perto, então minha mãe me levou até o seu closet, afastou algumas roupas e abriu uma passagem secreta que tinha ali, ela me colocou lá dentro e pediu para que de forma alguma eu saísse, ela disse que me amava, e que sempre estaria comigo, me deu um abraço apertado e saiu, e ali foi a última vez que a vi com vida, eu tinha dez anos.

Naquela noite meu pai não estava em casa, pois na hora do jantar ele recebeu um telefonema, e disse precisar sair para resolver um problema, minha mãe apenas balançou a cabeça concordando, ele deu um beijo em nossas testas e saiu.

Quando ele voltou para casa, minha mãe já havia morrido, foi ele quem me tirou daquela salinha, me pegou no colo, me deu um abraço apertado, dando beijos e meu rosto, eu perguntei sobre minha mãe, ele abaixou a cabeça por alguns minutos e quando levantou olhou dentro dos meus olhos e disse que tínhamos sofrido um assalto e que ela acabou sendo assassinada pelos assaltantes, que quando ele chegou em casa ela já estava morta,  infelizmente ele não pode salva la, mais que com toda certeza vingaria a morte dela.

Meu mundo veio ao chão, perdi minha mãezinha, minha protetora, minha companheira. E a partir daquele dia tudo mudou, meu pai já não me tratava da mesma forma que antes, me lembro que uma semana depois da morte da minha mãe eu tive pesadelo, como todas as noites depois daquele assalto, eu acordei com medo e fui até o quarto do meu pai mais ele não estava, então desci as escadas e vi a luz do escritório acesa, mais estava saindo uns barulhos estranhos dali de dentro e assim que abri a porta, vi algo que nunca imaginei ver, tinha uma mulher ajoelhada em cima do sofá que ali tinha, meu pai estava atrás dela dando uns tapas em sua bund@, ela gritava e gemia, na hora que vi, soltei um grito e levei minha mão na boca.

Mais meu pai infelizmente me viu, e gritou para eu voltar para o quarto e assim eu fiz, corri escada a cima, me enfiei debaixo do edredom, estava muito assustada, após uns vinte minutos, meu pai entrou em meu quarto furioso e disse que me ensinaria a nunca mais ir até seu escritório sem permissão, naquela noite ele me bateu pela primeira vez, só parou quando eu já estava sem forças e toda machucada, assim que ele saiu me trancou no quarto, eu só chorava e não acreditava que ele havia feito isso, fiquei presa por dois dias sem comer.

Após esse dia tudo desmoronou de vez, eu apanhava frequentemente, e já não estava mais aguentando.

Minha casa começou a ser frequentada por algumas pessoas que soavam ser pessoas barra pesada, mesmo estando de terno e gravata, eles tinham um olhar frio, que dava medo só de olhar para seu rosto.

Passaram alguns anos e meu aniversário de quinze anos estava chegando, eu sempre sonhei em ter a festa dos sonhos, uma verdadeira debutante, minha mãe sempre dizia que quando meus quinze anos chegasse ela daria uma festa para ninguém botar defeito, mais infelizmente isso não iria acontecer.

Três semanas antes do aniversário meu pai veio até o meu quarto e disse que havia pedido para organizarem minha festa, eu fiquei surpresa com aquilo, pois fazia muito tempo que não falava comigo, a não ser para me bater e me xingar. Fiquei feliz, pois parecia que tudo ia voltar como antes, eu iria ser tratada como sua filha, iria receber seu carinho e amor de pai, mas estava enganada.

Faltando um dia para o meu aniversário eu fui falar com o meu pai no escritório e quando estava chegando perto o vi conversando com um senhor de aparentemente 55 anos, o senhor dizia que não via hora de me ter em sua casa, na sua cama, e eu pensando que meu pai iria me defender, ele disse para o velho babão que amanhã na minha festa de aniversário iria anunciar meu noivado com o mesmo, e que em um mês estaríamos casados.

Fiquei com tanto medo e tão impressionada com tudo que ouvi, sai correndo para o meu quarto, e não pensei duas vezes, peguei minha mochila, coloquei o máximo de roupas dentro, peguei meus documentos, agora era só espera meu pai ir para o quarto, ou ele sair, para mim ir até seu escritório para achar algum dinheiro.

Uma hora depois meu pai saiu acompanhado daquele velho, eu esperei alguns minutos e fui até lá, abri uma gaveta e encontrei um bolo de dinheiro, sem pensar muito peguei, coloquei dentro da mochila, agora o desafio era conseguir sair daquela casa que parecia mais uma fortaleza.

Sai pela porta da cozinha que dava acesso ao jardim, me escondi atrás de uma árvore e fiquei esperando o momento certo para fugir, não faço ideia de quanto tempo fiquei ali, mais quando vi o portão sendo aberto, não pensei duas vezes e corri, corri muito, pois quando olhei para atrás os seguranças do meu pai estavam me seguindo.

Corri tão rápido, e por muito tempo, quando der por mim, já estava muito longe de casa, e os seguranças já não estavam mais atrás de mim, acho que foram buscar o carro, porque eu estava numa lojinha de conveniência e os vi saindo do carro, mostrando uma foto minha, para algumas pessoas na rua, fiquei só observando e vi o momento certo que foram embora, chamei um táxi e fui para o aeroporto, como era menor de idade tive que chorar um pouquinho e fazer um drama contando uma história triste para conseguir embarcar, graças a Deus a mulher se comoveu e me liberou, pedindo para que eu ficasse quietinha, e não desce trabalho, que se por acaso alguém perguntasse não era para dizer que ela havia me ajudado, e assim eu fiz.

Fui para o país vizinho, não sabia oque fazer, a única coisa que tinha certeza é que agora definitivamente estava sozinha.

Estava sem saber oque fazer, o dinheiro que tinha pego escondido do meu pai já estava acabando, porque eu havia pagado o táxi e depois comprado a passagem de avião, não dava para pagar um hotel, nem muito menos uma pensão, o jeito foi ficar em uma praça, pensando nos passos que teria que dar dali em diante.

Comprei uma comida e comi ali mesmo na rua, as pessoas passavam e me olhavam me jugando, aquilo era um pouco desconfortável, mas não tinha oque fazer.

Foi se passando os dias, e o dinheiro acabando, fui atrás de emprego, mais por eu ser menor de idade ninguém me contratava, alguns homens passavam por mim na rua e mexiam comigo, uma mulher uma vez passou por mim e me perguntou se eu não queria trabalhar para ela, disse que teria teto, comida, roupa limpa e um pouco de conforto, na hora eu aceitei mesmo desconfiando, pois uma coisa que aprendi é que tudo que vem muito fácil não é bom, e tem sempre um preço a ser pago.

Essa mulher me levou para uma casa grande, onde ali encontrei mais algumas garotas, elas usavam umas roupas chamativas, demorei um pouco até perceber estar em uma casa de prostituição, fui questionar a mulher que havia me trazido até aqui, ela me fez pensar um pouco, me levou até um dos quartos me deu comida, e após refletir bastante, já não tinha mais nenhuma outra alternativa a não ser aceitar e assim eu fiz, a partir daquele dia eu virei garota de programa, perdi minha virgindade que sonhava que só iria perde la na minha noite de nupcias com meu marido, mais por culpa do meu pai assim não foi.

Fiquei naquela casa dos quinze aos dezoito anos, passei por muita humilhação, apanhei algumas vezes, mas também consegui guardar um bom dinheiro.

Em uma noite um velho asqueroso me chamou e me levou para sair e ir até um hotel que ele gostava de levar as mulheres da vida, e aceitei, mais algo me dizia que não iria dar muito certo.

Entrei no carro e a todo momento ele passava as mãos em mim, eu sentia repulsa, mas não podia dizer não, até porque eu estava trabalhando e precisava pagar pelo meu quarto ali naquela casa.

Aquele velho parou o carro no semáforo e me deu um tapa forte na coxa, com o susto eu dei um grito, e como estávamos parados as pessoas dos carros ao lado nos olhou, e um dos caros um homem me perguntou se estava tudo bem, e eu disse que sim, aquele velho ficou com tanta raiva que quando colocou o carro em movimento me deu dois tapas no rosto ao qual só senti o sangue escorrer pela minha boca.

Ele parou o carro em uma rua deserta, me jogou no chão e me estuprou, me usou de todas as formas possíveis e impossíveis, após o ato, me espancou, pensei que ia morrer, eu gritava para ele parar, mas não adiantava de nada, cada grito que eu dava era uma porrada que levava, isso mesmo porrada, após me bater me deixou ali jogada naquele chão toda ensanguentada, e foi embora.

Um homem que estava passando por aquela rua, me viu jogada no chão quase morta, chamou a ambulância e me acompanhou até o hospital, e ficou comigo até fazerem todos os exames possíveis, quando recebi alta dei de cara com aquele homem, lindo na recepção me esperando.

Ele insistiu para me levar até em casa, mais lógico que neguei, pois jamais iria dizer que sou garota de programa, depois de muita insistência ele aceitou, eu chamei um táxi e fui direto para a casa, chegando lá a dona já sabia oque tinha acontecido e para não ter problemas ela me expulsou, eu juntei todas as minhas coisas e fui em busca de um apartamento, assim que encontrei falei com a imobiliária e aluguei.

Ali eu disse que começaria tudo de novo, mais dessa vez diferente, já era maior de idade, e encontraria um lugar digno para trabalhar, mais claro esconderia meu passado de todos.