CHRISTOPHER WALKHEN:
ELLIE MILLER:
SOPHIA WALKHEN:
ANTHONY WALKHEN:
CHRISTOPHER JOHNSON WALKHEN
Estou, agora, sentado na cadeira de meu escritório com as mãos em meu rosto. Após anunciar a contratação de uma secretária, nunca mais tive um segundo livre, sempre havia candidatas.
...•••••...
— Senhorita Bruna Maves, a senhorita é formada em administração?
— Como o senhor é bonito… posso encostar no seu cabelo?
— Próxima!
...•••••...
— Senhorita...— Antes mesmo de eu falar seu nome, ela começa a tirar suas vestes.— Próxima!
...•••••...
— Quais são as suas qualidades, senhora Léia?
— Sou muito profissional, sempre tive boas notas em minhas faculdades, afinal, fiz várias em meus cinquenta e seis anos de experiência, minha humildade é muito evidente, sempre fui a melhor quando se tratava de administração...— A mulher continuou falando outras milhares de suas qualidades… depois se diz humilde.
— Próxima!
...•••••...
— Senhorita Peterson?— Passo minha mão em frente ao seu rosto, mas a mulher continuava dormindo.— Próxima!
...•••••...
Esses acontecimentos e vários outros preencheram todo o meu dia. Quase nem tive tempo para analisar meus papéis e cuidar da empresa... sinceramente, a primeira que aparecer e não tentar nada comigo, falar somente o necessário e se interessar, eu irei aceitar na hora, independente de sua profissão. Essas coisas ocorrem porque minha ex esposa era minha secretária, por isso querem tentar uma chance.
Estava analisando alguns documentos quando o telefone em cima de minha mesa toca. Aperto o botão de atender e ouço sua voz.
— Senhor Walkhen, tem mais cinco candidatas agora, devo mandá-las irem embora e voltarem amanhã de manhã?— Pergunta Melissa, a recepcionista.
— Peça para elas subirem e me envie os currículos antes delas entrarem.
— Okay, senhor Walkhen.— Desligo o telefone e continuo a analisar os papéis. Espero que consiga encontrar alguma secretária nessas cinco candidatas... não aguento mais entrevistar.
Após Melissa sair do meu escritório ao me entregar os currículos, a primeira candidata entra.
— Senhorita Lee, sente-se...— Comecei a entrevista, estava esperançoso, mas tudo isso acabou quando ela abriu a boca, o mau hálito é evidente. Seu currículo é ótimo, mas o mínimo que exijo é uma boa higiene.— Próxima!
— Como assim?
— Próxima! Pode se retirar, senhorita Lee.
— Mas senhor...— Ela se aproxima de mim para falar algo, mas eu viro o rosto e a interrompo.
— Saia, senhorita. Tenho outras candidatas. Caso a senhorita for escolhida, enviaremos um e-mail.— Assim, após muito esforço, a mulher sai do meu escritório.
Pelo amor, o mínimo que alguém tem que fazer é escovar seus dentes, ninguém merece ficar sentindo tal fedor. Era só isso que faltava para o meu dia ficar ainda melhor...(contém ironia).
Fiz mais outras quatro entrevistas, entretanto, nenhuma me chamou a atenção. Ambas falavam as mesmas coisas, tinham os mesmos comportamentos e quase o mesmo currículo. Já vi vídeos em redes sociais que explicam como e o que você deve falar e agir em uma entrevista de emprego, porém, nunca imaginei que quatro pessoas seguidas iriam utilizar o mesmo método!
Quase desistindo de encontrar uma secretária, encosto em minha cadeira e a giro para trás, olhando como a cidade fica linda à noite. Os outdoors com vídeos chamativos. Luzes de postes e semáforos. Faróis de carros. Pessoas andando de um lado para o outro. As luzes das casas. Enfeites de algumas comemorações, como aniversários... É uma visão que raramente percebemos por conta da correria do dia a dia, da qual só consegui analisar agora, quando parei o que estava fazendo para, enfim, dar um tempo e olhar pelo grande vidro que tem em meu escritório, no lugar da parede.
Levanto de minha cadeira e me aproximo do vidro. Pela primeira vez em meus trinta e cinco anos eu analisei essa paisagem, percebendo as diferenças e mudanças que o tempo foi fazendo. Lembro de quando tudo era mais calmo, não havia muitos carros, nem perigo, as ruas estavam repletas de pais olhando seus filhos brincarem, pularem e correrem… mas como o tempo foi passando, não se vê mais essas coisas, o mundo foi se tornando um lugar perigoso, onde, se você deixar uma criança sozinha na rua, a criança desaparece em questão de segundos.
Refletir isso me fez lembrar de meus filhos. Nunca autorizei que Sophia e Anthony pudessem sair de casa, a não ser para fazer compras ou atividades da escola. Então, para tentar substituir a rua, comprei uma casa muito maior que há piscinas e jardins que eles possam ficar seguros, comprei eletrônicos para eles se distraírem e coloquei mais funcionários para os olharem, juntamente com a babá, não quero ter o risco deles serem sequestrados, já que, por serem meus filhos, o perigo é muito maior.
Meus pensamentos são pausados quando ouço uma batida em minha porta.
— Entre!— Ao ouvir o som da porta abrindo, olho para trás, vendo Melissa, mais uma vez.— O que houve?
— Senhor Walkhen, uma mulher acabou de chegar e falou que viu o anúncio de que precisa de uma secretária, então quer fazer uma entrevista.
— A essa hora?— Olho meu relógio, vendo que são quase nove e quarenta e cinco da noite.
— Sim, senhor.
— Okay… deixe-a entrar e pode ir embora, Melissa.— Após se curvar, ela sai da sala. Volto a atenção para o vidro em minha frente e começo a ouvir passos se aproximarem após a porta fechar.
— Senhor Walkhen, eu sou Ellie Miller, e vim para a entrevista de emprego para a vaga de sua secretária.— Uma voz meiga e baixa se pronuncia. Ao ouvi-la falar, senti algo estranho dentro de mim, mas decidi não me importar e me virei, a olhando.
Seus cabelos longos ondulados e castanho-escuro mexiam conforme o vento gélido do ar-condicionado; os olhos cor-de-mel encaravam os meus a todo momento; sua boca com os lábios levemente carnudos e sem nenhum batom me chamou a atenção; seu rosto não tinha nenhuma maquiagem a não ser um delineado simples; sua altura parece ser de 1,69m; sua pele morena parece ser muito hidratada e perfumada, já que daqui sinto o leve e suave cheiro doce de seu perfume; após olhar seu corpo, não pude deixar de notar suas curvas, que, mesmo estando com uma camiseta branca simples e calça jeans preta, ainda são evidentes se olharmos por um tempo.
Enfim, acabo minha avaliação em sua aparência e volto a olhar seus olhos.
— Senhorita Miller, tenho somente duas perguntas para fazer.
— Quais seriam?
— Qual a sua profissão?
— Sou formada em pedagogia e trabalhei em creches por cinco anos. Mas também fiz faculdade de administração.
— Bom...— A olhando, ela não parece ter sido professora de creche, mas cada um tem seu sonho, não é? Se ela quis ser isso, quem sou eu para julgar?— E no quê, exatamente, a senhorita me ajudaria?
— Com tudo que o senhor precisasse no trabalho, como: listas, telefonemas, marcar reuniões, arrumar sua agenda, revisar papéis de contratos… tudo que uma secretária faz.
Diferente de todas que eu já entrevistei até agora, Ellie foi a única que não se gabou ou falou de suas qualidades, então acho que encontrei a minha secretária.
— Senhorita Ellie Miller, a senhorita está contratada, começa amanhã às oito.— Seus olhos se arregalaram e eu percebi que ela se conteve em pular de emoção.
— Sério?!— Assinto.— Estarei aqui amanhã às oito, senhor.
— Espero mesmo, senhorita Ellie.
Assim que chego em minha casa, analiso a correria de funcionários de um lado para o outro, o que era muito estranho, eles só ficavam assim quando alguém era demitido ou havia faltado no dia. Mas, pelo que eu me lembre, ninguém faltou ou se demitiu hoje.
Ainda pensativo caminho até a porta de entrada, o que me arrependo de ter feito, dentro da casa estava muito pior. Sophia estava chorando muito alto e Anthony jogando pratos, talheres e almofadas de um lado para o outro. Quem eles pensam que são para fazer isso? Lhes dei a melhor educação que pude e é assim que me retribuem?!
— O que está acontecendo aqui?!— Grito, me aproximando. Fazendo todos os olhares virem até mim e Anthony parar de jogar os objetos.
— P-pai...?
Tudo em um completo silêncio, todos paralisaram. Mas ainda estava estranho, eles só agiam assim quando a babá não se encontrava em minha residência, porém não me lembro de ter demitido-a.
— Papai!— Sophia, ainda com lágrimas em seus olhos, corre até mim. Abaixo e a pego no colo, seu cabelo castanho ondulado me fez lembrar de Ellie.
— O que foi, meu amor?
— Thony não para de jogar as coisas… isso está me dando medo.— A pequena se encolhe em meu colo.
— Onde está a babá?— Pergunto aos funcionários, que, finalmente, começaram a se mexer.
— Ela se demitiu, senhor Walkhen. A senhorita Alves falou que já estava em uma idade avançada e não queria ter que lidar com Anthony e Sophia, então ela mandou um e-mail se demitindo para o senhor.
— Mas ela só tinha trinta e nove anos...— Fico reflexivo por um tempo, não é novidade nenhuma babá conseguir aturar Anthony e se aproximar de Soph.— Arranje uma nova babá.
— Okay, senhor.— Assim que meus olhos vão para a pequena menina em meu colo, me lembro de outra pessoa: Ellie. Por mais inacreditável que pareça, Sophia é muito parecida com ela. Os cabelos castanhos, ondulados e longos e os olhos cor-de-mel… entretanto, eu nunca havia visto Ellie na vida, essa foi a primeira vez.
— Espere!— Falo, quando a funcionária ainda não havia saído.— Eu mesmo contrato a babá.— Lembrar de Ellie me fez relembrar que ela trabalhou como professora em uma creche, o que significa que ela sabe lidar com crianças. Talvez ter uma secretária que será a babá dos meus filhos seja um bom investimento.
— Certeza, senhor?
— Sim. Agora voltem ao trabalho. Tenho que ter uma conversa com Anthony.— Todos os que estavam na sala de estar se curvam e saem do cômodo.
Enfim, volto minha atenção para o garoto de cabelo e olhos pretos— que se parece muito comigo — no sofá. O encaro e vejo um medo tomar conta da expressão de seu rosto.
— Não adianta ficar com medo agora — digo, me aproximando.— Anthony Johnson Walkhen, o que você pensa que estava fazendo?
— Qual é, pai? Eu só estava me divertindo.
— Cuidado com o linguajar!— O advirto.— Quantas vezes eu terei que te repreender por conta disso, Anthony?! Olha o estado que você deixou a sua irmã! Sophia é muito pequena e jovem para ter que lidar com alguém como você.
— Grande coisa...— ele revira os olhos.— Eu não falo nada quando Sophia começa a chorar e não para mais. Ela é muito mimada!
— Olha quem fala... Suba agora para o seu quarto, você irá ficar sem seu celular, tablet, videogame e televisão por uma semana!
— Mas pai...
— Uma semana e meia! Sem mas, agora sobe.— Me olhando pela última vez e cruzando os braços, Anthony vai em direção às escadas, subindo revoltado.
Olho o cômodo e consigo perceber o estado que o local ficou. Pedaços de porcelana e vidro espalhados, talheres jogados no chão e almofadas espalhadas...
— Por que Anthony é assim?
— Porque nós não temos uma mamãe, papai. Anthony ficou bravo quando chegou da es… escola.— Ela se embola um pouco para falar a palavra "escola" por conta de estar parando de chorar aos poucos.
— Obrigado por falar, querida. Agora você tem que dormir.
— Mas amanhã não tem aula, papai.
— Não?
— Não, estamos de férias.
— Okay, mas você tem que dormir mesmo assim. Agora são mais de dez horas, não é bom para você estar acordada ainda.
— Tá, papai.— Vou em direção as escadas e mando os funcionários limparem a bagunça que Anthony fez. Assim que chego no quarto de Sophia, a deito na cama e cubro-a, que olha para mim com seus olhos brilhando.
— Boa noite, meu anjo.
— Boa noite, papai.— Dou um beijo em sua testa. Fico a olhando por um tempo e depois saio do quarto, indo até Anthony, vendo que o mesmo estava deitado de costas para a porta. Então saio de seu quarto.
— Senhor Walkhen — fala a mulher de cabelos loiros levemente grisalhos, a governanta, se aproximando de mim.— Acho que devo uma explicação pelo que aconteceu com seu filho.
— Deve mesmo. O que houve para ele ficar daquele jeito?
— Hoje ele foi liberado horas mais tarde da escola por conta de uma competição escolar. Mas quando acabou, os professores estavam chamando as mães e os pais para irem até os filhos para tirarem foto. O senhor não estava lá, fui informada de que estava muito ocupado no momento. Então dois colegas de Anthony começaram a falar que a mãe dele havia o abandonado e que o senhor iria fazer o mesmo, já que não se importava com o garoto, mesmo que ele tenha sido o melhor...
A mulher dá uma pausa. Quem esses garotos pensam que são para falarem uma coisa dessas para o meu filho?
— Quando chegou aqui, ele ficou revoltado e falou que tudo que os garotos falaram era verdade... então acabou tendo um pico de estresse e fez o que o senhor viu.
— Quem são os garotos?
— Um se chama Murilo Barros e o outro Peter Lima.
— Bom saber que os filhos dos senhores Barros e Lima estão tratando meu filho assim... já sei como resolver isso.— Saio de perto dela e entro em meu escritório. Já avisei o senhor Lima para não brincar com fogo, pois uma hora iria se queimar… e acho que agora foi essa hora.
O senhor Barros eu também avisei para não mexer com quem está quieto, mas parece que dar informações sobre meu divórcio há três anos não foi o suficiente para ele.
Ainda pensando em como faria o que pretendo, me lembro de realizar uma proposta para minha secretária. Vendo o horário decido ligar rapidamente, havia pegado o número dela em seu currículo, que ela deixou em minha mesa antes de sair. Não demorou muito e a mulher atende a ligação.
— Alô?
— Senhorita Miller?
— Sim, sou eu. Com quem estou falando?
— Aqui é o senhor Walkhen, seu chefe. Desculpa o horário, mas gostaria de fazer uma proposta para a senhorita.
— Ah, sim, senhor Walkhen. Pode falar.
— A senhorita aceita ser a babá dos meus filhos?
Após eu falar isso ela fica em completo silêncio, só conseguia ouvir sua respiração.
— Como?
— A senhorita me falou que trabalhou em uma creche por cinco anos e fez pedagogia, então acho que a senhorita está muito qualificada para ser a babá dos meus filhos. Eu a pago para fazer isso. Trabalhará meio-período como minha secretária e o outro período como babá.
— Senhor Walkhen, eu não preciso de mais dinheiro. Posso ver as crianças primeiro? Pois quero ver se elas vão gostar de mim.
— Claro, mandarei meu motorista lhe buscar.
— Não precisa, senhor Walkhen. Me mande seu endereço e eu mesma vou.
— Okay, como queira.
— Estarei aí às oito, já que é o horário de que eu começaria a trabalhar.
— Tá.
— Boa noite, senhor Walkhen.
— Boa noite, senhorita Miller.— Ela desliga a ligação e eu coloco meu telefone em cima de minha mesa. Nunca ninguém havia falado que não receberia mais dinheiro e que queria ver Anthony e Sophia antes...Ellie é bem diferente das outras mulheres.
...•••••...
Desço as escadas e vejo que Anthony e Sophia estão sentados no sofá, esperando colocarem o café da manhã na mesa. Normalmente eu não costumo fazer quase nenhuma refeição com eles, sempre estou ocupado com algo.
— Pai? O que você ainda faz aqui?
Entendo sua dúvida, mas antes de poder responder, a campainha toca. Já sabia quem havia chegado. Logo, um funcionário vem até mim.
— Senhor Walkhen, uma jovem chamada Ellie Miller está aqui e falou que o senhor a chamou.
— Ah, sim, deixe-a entrar.— O funcionário sai e eu noto que todos olhavam curiosos, principalmente Anthony.
Logo, uma mulher morena de cabelos castanhos longos, entra em minha casa, o que atraiu o olhar de todos.
— Bom dia, senhorita Miller — falo, me aproximando dela.
— Bom dia, senhor Walkhen. Desculpa, eu quis vir um pouco mais cedo, pois teria que estar às oito no escritório, não aqui.
— Ah sim. Venha, irei mostrá-los para você.— A mulher me acompanha até a sala de jantar, que é aonde meus dois filhos estão sentados, comendo o café da manhã.
— Quem é ela?— Anthony é o primeiro que se pronuncia.
— É sua namorada, papai?— Pergunta Sophia. Me fazendo arregalar os olhos. Não era para ela saber dessas coisas com essa idade.
— Quê? Não! Sophia, quem lhe ensinou isso?
— Jurei segredo.— Ela fez um movimento em frente a sua boca, aonde fechava o "zíper", para ficar quieta. É cada coisa.
— Bom... Anthony e Sophia, esta será a nova babá de vocês, o nome dela é Ellie Miller.— Percebo que Anthony arqueia uma sobrancelha, ele costuma fazer isso com frequência quando desconfia de alguém.— Senhorita Miller, estes são meus filhos, Anthony tem sete anos e Sophia tem três.
— É um prazer conhecê-los.
— Pai, por que ela se parece muito com a Soph?— Essa questão que ele fez foi a que eu estava tentando evitar. Por mais que as duas se pareçam muito, elas não têm nenhum vínculo, mas tenho certeza que farão especulações sobre isso.
— Não sei, isso é bem estranho mesmo.— O fato de todos terem visto e acompanhado a gravidez de Maitê, onde ela estava gerando Sophia, é uma prova de que eu e Ellie nunca tivemos nenhum envolvimento. Porém, minha única preocupação é o que Sophia irá achar de toda essa semelhança.
Percebo que a pergunta de Anthony fez Ellie olhar para Sophia por muito tempo, acho que isso também foi um grande impacto. Mas, sem que eu pudesse fazer alguma pergunta, a pequena menina de cabelos castanhos sai de sua cadeira e anda em passos lentos até nós, parando na frente de Ellie.
— Você é muito bonita.
— Obrigada.— Ela se abaixa, ficando da altura de Sophia, que recua um passo.
— Vou deixá-los a sós. Daqui a trinta minutos nós teremos que ir, senhorita Miller.
— Okay, senhor Walkhen.— Após isso, saio dali e volto para meu quarto, tenho que continuar me arrumando.
Fico em frente ao espelho, percebendo que ainda tenho que fazer o penteado que costumo utilizar no dia a dia. Então pego minha escova e começo a pentear os fios pretos, de forma que ficassem todos alinhados e conforme o meu gosto.
Assim que coloco minha gravata, olho meu relógio, vendo que já havia se passado os trinta minutos. Espero, realmente, que os dois gostem de Ellie… eu preciso de uma babá, mas ver mais gente nova— ela também é nova, entretanto será minha secretária — não me deixa confiante, não costumo confiar nas pessoas, elas têm que ter a minha confiança, o que é muito difícil.
Assim que volto para a sala de estar, vejo que Ellie está conversando com Sophia e Anthony normalmente, nenhum dos dois estão fazendo birra ou coisas do tipo, muito menos a constrangendo… enfim posso respirar aliviado.
— Ellie, você cuidará da gente e ainda será secretária do nosso pai? Isso não é de mais?
— Também pensei assim no início, mas vocês gostariam de ficar toda hora trocando de babá?— Eles negam.— Então, acho que o senhor Walkhen também não gosta de ficar contratando outras pessoas, por isso decidiu me fazer essa oferta.
— É, faz sentido.
— Ellie...— chama Sophia, que recebe a atenção da mulher em poucos segundos — você pode ser minha mamãe?
Tá, essa pergunta de Sophia me pegou de surpresa, e aposto que deva ter surpreendido Ellie também. Porém, fiquei olhando tudo parado, pois, pelo que a governanta havia me falado desde que contratei a primeira babá, era de que Sophia sempre fazia essas perguntas para elas. Entretanto, eu nunca fiquei tão surpreso como agora, senti até mesmo um suor frio escorrer pelo meu rosto.
— Soph, eu não posso ser sua mãe. Não tenho nenhum vínculo com vocês nem com o pai de vocês, e não é algo que eu queira. Mas eu posso ser sua amiga ou, se você preferir, somente sua babá. Ser sua mãe é algo íntimo e inatingível para mim.— Ellie respondeu à pergunta calmamente, e eu notei que Anthony amenizou sua expressão de desconfiança.
A única coisa que quero é que ela possa cuidar deles, somente isso, nada mais.
— Posso fazer outra pergunta?— Sinceramente, essas perguntas de Sophia me preocupam.
— Claro.
— O que é ina... inatingí...— ela tentava falar a palavra, entretanto não estava conseguindo, mas para sua idade isso é normal. Tem até adultos que não sabem pronunciar corretamente.
— Inatingível?
— Isso.
— É uma coisa que não pode ser atingida, conseguida ou alcançada. Na minha frase eu quis dizer que ser sua mãe é algo que eu não consigo, e não quero, alcançar e ser.
— Ah...— a expressão da mais nova se transformou em um rosto triste, o que eu não consegui entender, pois ela nunca agira assim com ninguém.
— Vamos, senhorita Miller? Já estamos atrasados.
— Claro, senhor Walkhen.— Ela se levanta do sofá e arruma sua bolsa.— Tchau, crianças. Nos vemos na hora do almoço.
— Tchau, Ellie.— Após se despedir deles, a mulher me acompanha até a porta de saída.
— Vamos, tenho uma reunião daqui a pouco.
— Eu sei, e a marquei para um horário que o senhor conseguirá chegar sem problemas, por conta do trânsito.— Essa ação dela me pegou de surpresa, Ellie é bem eficiente mesmo.
Assim que a mulher se direciona para o portão de saída, seguro seu braço, confundido com tal ação. Ela me olhou de cima a baixo e retirou seu braço de minha mão.
— Onde você vai?
— Vou para a empresa.
— A senhorita irá comigo.
— Mas eu iria pedir um táxi, e ir com o senhor não é nada profissional da minha parte.
— Senhorita Miller, para trabalhar comigo a senhorita tem que entender que terá que agir de acordo com meus gostos e o que eu quero. Fora que a senhorita terá que me acompanhar em várias reuniões. Você irá a todas elas a pé?— Nunca gostei que as pessoas fizessem o oposto que pedi, ela tem que saber se portar já que será minha secretária e babá dos meus filhos.
— ... Não, mas...
— Vamos. Já estamos atrasados — digo, a interrompendo. Então, cedendo ao meu pedido, ela me acompanha até o carro, entrando no banco traseiro ao meu lado.— Pode ir, senhor Hans — falo ao meu motorista, que começa a dirigir.
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