Percebi que todos nós lutamos por uma posição, por mais desapegado e bem resolvido que você seja, vai precisar se encaixar de algum forma, até porque, vivemos em sociedade. Para isso, precisamos ser vistos e ouvidos. Parece fútil, eu sei, também concordo, mas te contarei duas verdades que nessa história, a vida é incrivelmente fútil e eu bastante trouxa.
— Ellie! Senta aqui com a gente, vamos comer algo. — Dandara gritou para mim, já com seu lanche na mesa.
Aliás, eu me chamo Ellie, vou completar 17 anos, estou no terceiro ano do ensino médio e sou uma gigante enganação de duas pernas. Uma enorme mentirosa.
— Como vocês estão? — Perguntei pegando algumas batatas que tinha na bandeja que eu carregava.
— Eu estou ansiosa para o dia dos namorados, acho que Pedro e eu vamos viajar — Ellen sussurrou.
— Nem me fala. Eu comprei uma lingerie linda! Vou matar Marcos do coração. E você, Ellie, o que vai fazer para seu namorado tão misterioso? — Dandara me perguntou, acabei me engasgado com o suco que bebida.
— Ahh.. É.. vou comprar uma ... Algema e... Fantasia — Sim, é mentira. Eu disse que era uma grande mentirosa. A verdade é que não tenho namorado. Tenho problemas sérios para me aproximar dos meninos, mas acabei mentindo sobre isso para me encaixar. Elas só falavam de garotos, a falta de um namorado não ajudava meu entrosamento com elas, sendo nova na escola, tive dificuldade para encontrar amigas.
— Você sempre bem ousada. Poderia contar o nome dele, ou melhor, um foto pelo menos. Você vive dizendo que ele é lindo de morrer. Não vamos arrancar pedaço. — Dandara me olhava como se tentasse me analisar.
— Eu não tenho foto com ele ainda... Ah! Ele está me ligando, tenho que ir — Era uma desculpa, eu precisava sair dali. Se continuasse acabaria sendo pega na mentira.
Corri do refeitório sem olhar para trás, me escondi no banheiro feminino de outro andar, estava esperando o sinal tocar para voltar para sala. Assim não teria como a conversa retornar do ponto que paramos. Eu sei, estou sendo idiota, mas eu não consigo outra forma de me aproximar delas e é solitário o último ano sem conhecer ninguém na sua própria formatura.
— Você não acha? — Parecia a voz de Dandara. Na mesma hora levantei os pés, não queria que me encontrasse.
— Que tudo é uma enorme mentira de Ellie? Mas é claro. Se eles fizessem tudo que ela nos conta. Ele a amasse, ao menos viria buscar ela ou pelo menos, teria uma foto, por mais tímido que fosse, isso só prova que ela está mentindo. Não deve existir namorado nenhum. — Ellen respondeu. Já fui descoberta?
— Eu não gosto muito da ideia de ter uma amiga mentindo para mim. É estranho. — Dandara parecia irritada.
— Eu concordo. Ah. Esqueci meu fone no refeitório! Vamos comigo pegar? — Ellen convidou e elas saíram fofocando sobre outro assunto aleatório.
Gastei mais um tempo no banheiro, esperando o fim do intervalo, quando o sinal tocou, retornei para sala de aula, por sorte, cheguei antes delas, que vieram junto com o professor, impossibilitando que falassem comigo. O professor logo iniciou a aula, que não conseguia prestar a atenção em absolutamente nada. Minha vida social, que quase não existe, está indo por água a baixo. Irei mesmo me formar sem ter nenhum amigos ou falar com ninguém? Isso parece uma péssima forma.
Terminei a aula, acenei para elas de longe e fui embora antes de ser capturada por elas duas e suas dúvidas. Fui caminhando para casa pensando em uma forma de resolver o meu problema. Quando me deparo com um desconhecido, sentado em um banco de praça, falando ao celular e rindo. A resposta dos meus problemas estava ali, eu só precisava de uma foto de um homem com a mesma aparecia que eu descrevi para elas. Loiro, olhos azuis, forte e com um belo sorriso. Estava ali, na minha frente, rindo.
Em missão para foto, diminui o passo, com o celular ligado, fingia está filmando tudo, mas a minha ideia era tirar foto dele e sair correndo. Me aproximei dele o máximo que pude, depois percebi que precisava de mais, talvez um pouco mais do que deveria.
— Hey! Você está me filmando? O que você está fazendo? — O homem disse me olhando sério.
Como ele notou tão rápido? Tanto faz. Eu nunca mais verei ele, só preciso dessa foto. Ignorando que me olhava, fiz várias imagens dele, quando ele se aproximou ainda mais de mim, eu só consegui correr, não ia ser nada bom explicar que iria usar seu belo rosto para consolidar sua mentira.
Deitei no sofá de casa, mandei uma mensagem com a foto para as meninas. Quase aliviada que esse problema estava resolvido. Não demorou muito para obter a resposta delas.
Dandara: Mentira! Você é a namorada do Gabriel? Do 3A! Não posso acreditar
Ellen: Precisamos contar isso a todos. É uma bela fofoca. Vamos ver como ele vai reagir.
Enquanto eu pensava uma forma de impedir o que elas estavam planejando, acho que acabei demorando muito. Percebi que o grupo de mensagens da formatura, com todos os terceiros anos estava agitando. Quando cliquei vi a mensagem que eu mandei para elas sendo compartilhada com todos. Com foto e tudo. O caos estava instaurado.
Dandara: Não vão se pronunciar? @Ellie @Gabriel
Ellie: Desculpa, amor. Não queria que a foto com você fosse divulgada. Minhas amigas ficaram um pouco eufóricas depois de tanto tempo de mistério. Já estou com saudades.
Gabriel: Tudo bem, gata. O mistério parece que foi revelado. Te vejo amanhã na entrada da escola.
O que eu acabei de fazer? Como pude mentir tão descaradamente e ainda fentar sustentar essa mentira. Será que ele quer encontrar comigo amanhã para revelar toda a mentira? Eu nem ao menos tinha ideia que ele era da nossa escola. Eu sei que mentira tem perna curta, mas não imaginei que era tão curta. Como vou encarar ele amanhã?
Eu podia ouvir a chuva ficando cada vez mais forte. Sem ter ideia de como resolver o problema que eu mesma me meti, fui fazer o jantar. Meu pai, Mário Carvalho, não demoraria para chegar em casa. Desde que mamãe morreu, meu pai se dedica inteiramente a trabalhar no restaurante da minha família. Acabei muito cedo aprendendo como arrumar uma casar a fazer comida.
Não demorou muito, como havia imaginado, a porta da sala se abriu. Meu pai entrou completamente ensopado. A chuva definitivamente tinha piorado muito. Meu pai correu para o banho, depois de um tempo já estava abrindo uma cerveja e sentando no balcão da cozinha.
— O que temos para comer hoje? — Meu pai perguntou olhando para o fogão.
— Macarrão com queijo. Aliás, nunca vou entender como alguém que é dono de um restaurante passa o dia trabalhando com comida, chega em casa com tanta fome. Deveria trazer do trabalho a comida prontinha, só para esquentar. — Eu alfinetei ele.
— Estou apenas apoiando e incentivando o seu lado culinário, um dia você deverá assumir o restaurante, preciso que saiba cozinhar muito bem. Veja como um investimento que seu pai está fazendo em você . — Meu pai respondeu virando o copo enquando eu empurrava o prato de macarrão pronto para o lado dele.
— O destino é incerto. Além disso, não tenho certeza se quero assumir o restaurante, mas também não sei se quero fazer outra coisa. Ainda não decidi. — Confessei para ele. Sabia da sua expectativa, mas também queria pensar um pouco.
— Você ainda tem tempo. Você tem as portas abertas. Escolha o que for, eu estarei te apoiando. Só desejo que seja feliz. — Meu pai é assim, eu sei que um dos seus desejos é que eu assuma e toque o restaurante, mas ele sempre apoiará aquilo que me faz feliz, acima dos seus desejos. — Aliás, o macarrão está uma delícia.
Jantamos ali mesmo, conversamos sobre o nosso dia, claro que deixei de fora o fato de ter ser uma completa farsa. Algo me diz que meu pai não ia gostar de saber disso.
Já na minha cama, pensei um pouco sobre a o meu problema, como poderia explicar aquele Gabriel toda a história que acabei metendo ele. Talvez ficasse tudo bem, ele deve ter percebido que não era sua namorada, deve ter apenas dito aquilo para em ajudar. Com toda certeza deve ser uma pessoa boa. Acabei adormecendo criando mentalmente meu discurso de esclarecimento para ele.
Acordei com meu pai gritando desesperado comigo, a janela do meu quarto estava aberta e batendo, meu pai me puxava da cama. O vento estava extremamente forte, o chão do meu quarto estava alagado. Podia ver minhas coisas flutuando na água. Só poderia ser um pesadelo.
— Ellie, levanta, temos que sair daqui. Está tudo alagando mais e mais. Não é seguro ficar aqui, vamos, levante. — Meu pai gritava me puxando da cama. Foi como um estalo, na mesma hora pulei da cama e fui correndo na direção de onde deveria está minhas jóias. O calor da minha mãe estava nele
Eu não poderia ir embora sem a única lembra que tenho dela — O que você está fazendo? Vamos sair daqui. Te compro o que for. Vamos logo.
A única coisa além de mim que meu pai segurava tentando salvar daquela tempestade que parecia prestes a derrubar a casa, era um porta-retrato de casamento dele e da mamãe. Ele não pareceu precisar de mais nada e estava convicto disso. Dava parava ver pelo seu olhar.
— ACHEI! — gritei me abaixando ao ver a caixinha, me molhando completamente. A água já estava acima do meu joelho — Vamos! Rápido. A casa parece está se balançando. Estamos em perigo.
— EU SEI! GRITEI ISSO PARA VOCÊ TEM ALGUNS MINUTOS. — meu pai gritou me puxando do quarto e eu só pude rir. Aquele dia tinha sido um caos do início ao fim.
Assim que saimos de casa, sem saber o que fazer, as ruas estavam alagadas, acredito eu, que não tenha um Uber de barco. Conversava com meu pai alternativas, quando uma árvore enorme que tínhamos na frente da nossa casa caiu destruindo parte dela. Eu não podia acreditar que tudo isso estava acontecendo. O dia não podia ficar pior.
Spoiler, sempre pode ficar pior. Enquando meu pai falava com os bombeiros no celular, tentando um resgate. Eu olhava para nossa casa sem acreditar. Até que fui surpreendida pelo que achei ser totalmente impossível. A casa explodiu. Explodiu! Parecia um filme, um desenho animado. Ouvi um kabum bem alto e quando a fumaça dissipou, não havia mais casa.
— Venha! Os bombeiros estão esperando lá na parte de cima com ajuda. — Meu pai disse me puxando. Eu estava em choque. Deve ser um pesadelo, né?
— Pai, a nossa casa.. ela.. — Eu nem sabia ao menos o que dizer, meu pai me puxava e eu não tirava os olhos da casa.
— Filha, o mais importante para nós está seguro. Estamos bem. O resto não importa. Tudo pode ser conseguido novamente com tempo e algum esforço, mas a nossa vida, ela é única. — Meu pai falou, isso me marcou de uma forma que eu nunca pensei. E isso, mudaria muitas escolhas minhas no futuro.
Os bombeiros estavam tirando as pessoas do bairro, a tempestade não tinha destruído apenas a nossa casa, mas também outras dezenas. Para piorar, uma lagoa que fazia a captação das águas da chuva teve sua bomba quebrada, o que levou ao alagamento do bairro.
Nos abrigamos em um hotel, pelo menos, aquela noite, não tinha lugar para ir. Meu pai e eu passamos horas nos olhando sem acreditar no que tinha acontecido. Nossa casa, móveis, objetos, tudo havia explodido. Tínhamos toda uma vida naquela casa, mas só havia sobrado eu, meu pai, uma foto de casamento dele e o colar da minha mãe. Eu não sabia se ria ou chorava.
— Filha, não se preocupe. Darei um jeito em tudo isso. — meu pai prometeu. E eu confiei
— Perdemos tudo, né? — perguntei desanimada.
— Não perdemos o mais importante, a nós mesmos. Enquanto estivermos vivos, podemos lutar e conquistar tudo que queremos. — meu pai falou animado.
— Eu sei. — Não, eu não sabia. Antes daquela noite, minha maior preocupação era manter uma mentira idiota para sustentar minhas amizades e não me formar sozinha. E agora... Isso parece tão, mas tão idiota.
Acabei adormecendo. O que poderia fazer além disso? Acordei com meu pai me chamando para ir a aula. Eu não estava nenhum pouco animada.
— Filha, o importante depois de uma queda como essa é saber como reagir. Isso ensina muito mais do que você pode imaginar. Levante a cabeça, essa será apenas a primeira vez que você chegará no fundo do poço nessa vida. — Meu pai disse acariciando a minha cabecinha. Fiquei na dúvida se ele estava me consolando ou me aterrorizando.
— Você tem alguma plano? Eu volto para o hotel? Para... Casa é impossível. — Queria ter a mínima ideia do rumo que minha vida tomaria.
— Farei alguma ligações, vai demorar bastante para casa ser construída, vou ver com alguns amigos se tem como nos abrigar. Não tenho como pagar um hotel, a reforma da casa será absurda. Vão ter que refazer a casa quase que do zero. — meu pai parecia desanimado.
— O fundo do poço, né? Está tudo certo. Beba uma água, se refresque e junte forças para subir novamente. Eu farei o mesmo, papai. Vamos ficar bem. Estamos bem. Isso que importa. — Eu disse abraçando ele. É uma situação bastante complicada, tenho que apoiar ele e não causar mais dor de cabeça.
Terminei de me arrumar, coloquei o colar da mamãe. Hoje mais do que nunca estava sentindo falta dela. Ela saberia o que dizer para ajudar o papai. Eu me sinto um pouco pequena, inútil e problemática. No máximo, irei atrapalhar.
Eu estava com a cabeça em outro lugar, quando ao chegar na escola me deparo com o loiro da foto na frente do portão. Sim, o Gabriel. Eu tinha esquecido totalmente desse problema. Não faço a mínima ideia do que fazer. Qual era o discurso que eu tinha pensado mesmo?
— Ellie! Como você está? Seu pai está bem? Fiquei sabendo do que aconteceu. — Dandara me disse me abraçando antes de chegar ao portão.
— Você conseguiu pegar alguma coisa? Está precisando de algo? Posso te emprestar algumas roupas minhas. — Ellen falou me segurando do outro lado.
— Estamos bem. A única coisa que consegui pegar foi o colar da minha mãe e meu pai a foto de casamento deles. Nossa casa, literalmente, explodiu com tudo dentro. Talvez eu aceite algumas roupas emprestadas. Meu pai comprou esse moletom em um supermercado perto. — respondi ainda olhando para Gabriel que sorria para mim maliciosamente.
— Depois da aula podemos ir na minha casa, você escolhe algumas roupas que você goste. Tenho algumas que eu nem usei. — Ellen parecia bastante preocupada.
— Posso emprestar também algumas roupas, maquiagens e coisas de limpeza para você. É só uma fase ruim. Estamos com você no que precisar. — Dandara disse me abraçando.
— Licença. Bom dia. Posso dar uma palavra com minha namorada? — Gabriel falou olhando nos meus olhos. Eu estava paralisada. No fundo, queria contar a elas a verdade, mas eu não sabia que ter apoio ajudaria tento nesse momento. Não queria perder minhas amigas por uma mentira tão boba.
Naquele momento, eu entendi a avestruz que enfia sua cabeça na terra para se proteger. Eu queria fazer isso naquele minuto. Como ia lidar com todo esse caos?
— Certo. Desculpa atrapalhar os pombinhos. Te esperamos na sala, Ellie. Trouxe algumas maquiagens, caso você precise. — Dandara falou saindo.
— Você tomou café? Eu tenho alguns lanche na bolsa, tá? Podemos comer quando você voltar. — Ellen disse acenando.
Elas parecem boas amigas, eu que estou sendo péssima nessa história. Como deixei essa mentira ir ta longe? Como posso virar atrás? Será que desmentir tudo agora será ruim. Me sinto tonta.
— Você está bem? Está pálida. — Gabriel me olhava confuso.
— Podemos sentar um pouco? Muita coisa está acontecendo na minha vida. Minha cabeça não parece está processando bem toda informação de uma vez. — Expliquei para ele. Eu realmente queria sentar.
— Vamos sentar ali. — Gabriel apontando para um banco, dentro da escola.
Concordei acenando com a cabeça, caminhei atrás dele em direção ao banco. Ele era realmente lindo. Seu cabelo era loiro bem claro, um pouco maior do que os meninos costumam usar. Seus olhos eram azuis e tinha costas largas.
— Então, pode me explicar desde quando namoramos que eu não fui informado? Na verdade, até ontem, depois da confusão no grupo da formatura, eu nem sabia da sua existência. — Gabriel disse me olhando sério.
Eu expliquei tudo para ele. Do começo ao fim. Minha difícil em me relacionar com meninos, sobre minhas amigas e também meu medo idiota de ficar solitária na escola. Fui totalmente sincera. Ele ouviu tudo calado.
— Você é idiota? Quer uma amizade construída com mentiras? Você faz coisas que não acredita e diz mentira para se aproximar delas? Não é mais fácil apenas procurar pessoas que você realmente tenha alguma afinidade? — Gabriel fazia careta. Achando minha atitude ridícula.
— Eu... Gosto dela. Elas foram as primeiras a falarem comigo, mesmo depois de boatos terríveis circularem depois que entrei na escola, elas não se importaram com o que falava. E... Eu precisava de amigas. Elas não são ruins, sabe? Na verdade, costumam ser muito carinhosas e calorosas. Sabendo que minha casa havia sido destruída pela tempestade de ontem, elas estão oferecendo ajuda. Eu sei que parece fútil, mas... Algumas coisas aconteceram antes de vir para cá. E eu realmente precisava delas. — tentei explicar, não podia falar sobre o meu passado, mesmo que fosse o real motivo para não querer ficar sozinha, mas eu não estava pronta para falar o que aconteceu na outra escola.
— Me parece idiota, fútil e sem sentido, mas parece que você já está decidida a viver uma mentira. — Gabriel concluiu rindo.
— Então, aceita ser meu namorado falso por um tempo? — perguntei sem pensar. A decepção veio na mesma hora. Ele riu alto.
— Você é fofinha como um cachorrinho. Que tal fazer assim, eu aceito seu namoro falso, mas você terá que ser uma espécie de ajudante. Fazer algumas coisas para mim. — Gabriel sugeriu.
— Ajudante? Que tipo de coisas você pretender que eu faça? — falei me afastando dele. Ele era mais um babaca? Ia se aproveitar de mim?
— Ahn? Que medo é esse? Eu que deveria está assustado. Você é a louca que bate foto dos outros na rua e explana que é seu namorado. Ora! De qualquer forma, eram atividades básicas, mas chatas do cotidiano. Como comprar meu lanche, fazer minhas atividades escolares, esse tipo de coisa. — Gabriel explicou.
— Você é um preguiçoso! — disse chocada com a proposta descabida dele.
— E você, uma mentirosa. A escolha é sua. Qualquer coisa explicou agora que você não é minha namorada, apenas uma stalker. — Gabriel me ameaçou mostrando o celular.
— Tá certo. tá certo. Faremos assim. Eu aceito. — Pensei. Ele não está pedindo absurdos. Apenas que eu faça alguns serviços em troca de manter uma relação falsa. Se pensar bem, me parece até uma boa troca.
— Então aqui está meu caderno. Não precisa anotar na hora da aula, faça em casa. Te darei o caderno no final de semana e você transcreve todo conteúdo da semana para ele. Pego na segunda. Aqui está os trabalhos que preciso para segunda. E na hora do lanche te aviso o que quero comer. — Gabriel me entregou tudo e se levantou. — Vamos?
— Para onde? — perguntei confusa.
— Deixar você na sala de aula, idiota. Nunca teve um namorado? — Gabriel perguntou rindo e eu fiquei em silêncio. Eu realmente nunca tive um. — Isso é sério? Você nunca teve um namorado e por isso decidiu inventar um? Que loucura. Sua cabeça deve ser um caos completo.
— Ah! Também não é assim. Eu apenas tenho prioridades diferentes da sua. — respondi enquando caminhavamos até a minha sala.
— Sua prioridades são no mínimo fúteis. De qualquer forma, não me importa. Apenas anote direitinho as aulas. Não faça eu me arrepender de ter topado essa loucura. Te vejo no intervalo. — Gabriel sussurrou no meu ouvido, na frente da sala. Senti meu corpo se arrepiando completamente. Ele riu e acenou para uns amigos, antes de se aproximar deles.
Acho que nunca anotei tão bem o conteúdo. Não deixei nada de fora. Até mesmo o que o professor falava eu estava anotando. Eu sei. Sigo sendo uma idiota, mas pelo menos, meus problemas sociais estavam resolvidos. Sobrando apenas... Eu ser uma sem teto. Que delícia.
— O que vai lanchar hoje, Ellie? — Dandara perguntou depois do sinal tocar. Eu estava pensando se deveria ir ou não atrás do Gabriel, mas surpreendentemente, ele apareceu na porta da sala acenando para mim.
— Já que nosso namoro foi descoberto, vamos começar a lanchar juntos. Me desculpem. Eu vou indo. — Expliquei e sai correndo. Era outra mentira. Eu apenas virei a empregada dele e precisava comprar seu lanche.
— Aqui o dinheiro. Quero um sanduíche natural e um suco de laranja. — Gabriel disse colocando o dinheiro na minha mão e saiu andando — Vou esperar no banco de mais cedo.
O idiota nem mesmo esperou resposta minha e saiu. Odiava comprar algo na hora do intervalo. Parecia uma guerra. Um caos. Sem filas, respeito ou dignidade. Conseguir comida na lanchonete era uma massacre, seleção natural, apenas os fortes sobrevivem. Depois de muita luta e algumas cotoveladas, comprei o maldito lanche e entreguei para ele. Quando estava saindo ele agarrou minha mão.
— Sente e vamos lanchar. Todos estão nos olhando. Se lanchar separados acabará gerando boatos que não estamos juntos. Pelo menos, com o namoro falso, o número de pessoas irritantes ao meu redor diminuem. — Gabriel disse comendo o sanduíche.
Sentei ao lado dele e comemos em silêncio. Não tínhamos muito para falar. Algo eu notei enquanto comia, todos que passavam acenavam para ele. Será que ele é popular? Eu entrei a pouco tempo, não conheço ninguém. Acho que terei que procurar um pouco sobre ele. Meus pensamentos foram interrompidos por uma mensagem do meu pai.
Pai: Encontrei onde ficaremos. Venha para o restaurante depois da aula. Daqui iremos. Beijos.
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