O sol despontava preguiçoso no céu de Belénopolis, iluminando as ruas calmas da pequena cidade. Victória acordou ao som do despertador, sentindo a rotina a chamá-la como de costume. Aos 18 anos, a jovem carregava o brilho nos olhos de quem tinha grandes sonhos e o coração pulsante de determinação. Seu quarto era um reflexo de sua alma criativa: croquis espalhados, manequins com tecidos coloridos, e uma máquina de costura que parecia nunca descansar.
— "Hoje vai ser diferente," pensou enquanto olhava para um dos desenhos mais recentes em sua prancheta. Era um vestido simples, mas cheio de personalidade, algo que ela esperava ver um dia nas vitrines mais elegantes do país.
Na cozinha, seu pai, Allan, já estava de pé preparando o café da manhã. Ele fazia questão de cuidar de tudo antes de sair para o trabalho. O cheiro de pão fresco e café preenchia a casa, criando uma sensação de conforto que Victória adorava.
— Dormiu bem, filha? Continua tendo aquele sonho?— perguntou Allan enquanto mexia no fogão.
— Dormir, dormi. Sonhar... ah, pai, eu sonho todos os dias! — respondeu com um sorriso.
— Só não se esqueça de que o mundo não é feito só de sonhos, mas de trabalho duro. — Ele olhou para ela com carinho, mas com aquele toque de preocupação que só um pai pode ter.
Victória sabia que seu pai fazia tudo por ela. Desde que sua mãe os deixou, ele assumiu todos os papéis em sua vida, sendo ao mesmo tempo amigo, conselheiro e protetor. Apesar disso, ela não conseguia evitar sentir uma certa curiosidade sobre quem era sua mãe e por que ela os havia abandonado.
Na faculdade de design de moda, o dia foi corrido. Entre aulas teóricas e práticas, Victória e sua melhor amiga, Bruna, aproveitaram para conversar enquanto trabalhavam em um projeto conjunto.
— Você tem que acreditar, Vic! Esse vestido vai ser o sucesso da semana cultural. Aposto que o Chang vai ficar impressionado quando vir! — disse Bruna animada, sem tirar os olhos do croqui.
— Chang? Faz tanto tempo que não o vejo... Acho que ele nem deve lembrar de mim. — Victória deu de ombros, tentando não demonstrar o leve rubor que surgiu em suas bochechas.
— Claro que lembra! Vocês eram inseparáveis quando pequenos. E com toda essa história de ele ser bilionário agora, aposto que ele vai vir pra cá só pra te impressionar. — Bruna piscou com malícia, fazendo Victória rir.
No fim da tarde, de volta em casa, Victória se sentiu inspirada e passou horas na máquina de costura, dando vida ao seu vestido. Para ela, cada linha e cada ponto representavam mais do que tecido: eram pequenos passos em direção ao futuro que sonhava.
Enquanto isso, Allan dirigia para casa após mais um dia cansativo no trabalho. Seus pensamentos estavam divididos entre os problemas no emprego e a aula de administração que o aguardava à noite. Ele se preocupava com Victória, sabia que ela era forte, mas também sabia que o mundo podia ser duro com sonhadores.
Assim terminava mais um dia comum em Belénopolis, mas no horizonte, algo grande estava para acontecer. Victória sentia que sua vida estava prestes a mudar, sem saber que o destino já começava a tecer novos fios em sua jornada.
A manhã começou agitada na casa dos Souza. Allan saiu cedo para o trabalho, carregando consigo a habitual marmita e uma dose extra de café. Victória, ainda imersa em seu próprio mundo criativo, aproveitou a tranquilidade da casa para ajustar os últimos detalhes do vestido que planejava apresentar na semana cultural.
Na empresa de transporte onde Allan trabalhava, a movimentação era intensa. Ele tinha um bom relacionamento com os colegas, mas seu chefe, Nawaki, era conhecido por ser rígido e exigente.
— Allan, preciso que você faça essa entrega pessoalmente. É para um cliente importante, e não quero erros! — ordenou Nawaki com o tom firme de sempre, entregando um envelope lacrado.
— Claro, senhor. Pode deixar comigo. — Allan respondeu, tentando ignorar o peso da pressão.
O endereço o levou até a Puro e Forte, uma renomada empresa de comércio de café que Nawaki administrava com habilidade. Ao chegar, Allan notou a atmosfera sofisticada do local. Ele entregou o envelope e, ao sair, sentiu o cheiro marcante de café fresco no ar. Esse aroma lhe trouxe lembranças do passado — de momentos simples e felizes ao lado da mulher que amara, antes de ela desaparecer sem explicações.
Enquanto isso, Victória aproveitou o dia para se encontrar com Bruna. Elas decidiram ir ao Hotel Y, onde Beto, namorado de Bruna, trabalhava como chef. Era a desculpa perfeita para experimentar uma de suas famosas lasanhas, algo que Bruna nunca recusava.
— Vocês estão aqui de novo, hein? Não sei se vêm por minha causa ou pela comida. — Beto brincou, colocando o prato fumegante na mesa delas.
— Pela comida, claro! Mas sua companhia é um bônus. — Bruna respondeu, arrancando risadas de todos.
Enquanto saboreavam o almoço, Victória comentou sobre a semana cultural e como estava nervosa para apresentar seu vestido.
— Vai dar tudo certo, Vic. Aliás, ouvi uns boatos de que o Chang comprou o Hotel Y. — Beto disse casualmente.
Victória engasgou com a bebida.
— O quê? Como assim?
— É sério. O antigo dono, Seu Carlos, decidiu se aposentar, e Chang comprou tudo. Ele deve chegar à cidade esta semana. — Beto explicou enquanto voltava para a cozinha.
Victória tentou disfarçar a ansiedade. Chang, seu amigo de infância, agora era um bilionário que investia em tecnologia. O que ele estaria fazendo em Belénopolis? E por que ela sentia o coração bater mais rápido só de pensar nele?
De volta ao trabalho, Allan foi chamado ao escritório de Nawaki. O chefe parecia mais sério do que o normal.
— Allan, eu confio muito em você, mas preciso que saiba que a empresa está passando por dificuldades. Dependemos de clientes como o de hoje para manter as coisas funcionando. — Nawaki fez uma pausa. — Estou contando com você.
Allan saiu do escritório com a cabeça cheia. Ele sabia que precisava se esforçar ainda mais, não apenas para manter o emprego, mas também para dar a Victória a chance de realizar seus sonhos.
Naquela noite, enquanto Allan preparava o jantar e Victória o ajudava a cortar os vegetais, ela decidiu contar sobre a conversa com Bruna.
— Pai, sabia que o Chang está voltando para Belénopolis? Ele comprou o Hotel Y.
Allan parou por um momento, segurando a faca no ar.
— Chang... aquele menino que vivia aqui quando você era pequena?
— Sim. Parece que ele ficou rico e está investindo na cidade. — Victória tentou soar indiferente, mas Allan percebeu o brilho em seus olhos.
— Bem, se ele está de volta, talvez seja uma boa oportunidade para você. Amigos assim podem abrir portas, mas cuidado, filha. O dinheiro muda as pessoas.
Victória sabia que seu pai queria protegê-la, mas, no fundo, ela estava curiosa. Quem era o Chang agora? E o que sua volta significaria para sua vida?
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No silêncio da noite, enquanto Allan revivia as memórias do passado e Victória sonhava com o futuro, Belénopolis se preparava para receber um visitante que mudaria tudo.
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Era uma manhã fresca em Belénopolis. Victória saiu apressada de casa, carregando sua bolsa cheia de tecidos e croquis. O coração batia acelerado com a expectativa do encontro com Bruna, sua melhor amiga, e o avanço nos preparativos para a semana cultural. Na praça central, onde o sol iluminava as árvores e o som dos pássaros preenchia o ar, Bruna já a esperava.
— Até que enfim, Vic! Pensei que tivesse esquecido de mim. — Bruna brincou, abraçando a amiga.
— Esquecer você? Nem se quisesse! Mas meu pai me prendeu com outro sermão sobre não deixar o trabalho atrapalhar os estudos. — Victória revirou os olhos, arrancando risadas de Bruna.
As duas seguiram para a faculdade, onde passariam a manhã em uma sala improvisada, cheia de cores e ideias. O projeto que estavam criando juntas era ousado: Bruna, com seu talento para pintura, ajudava Victória a transformar tecidos simples em obras de arte.
— Eu estava pensando... — disse Bruna, mergulhando um pincel em tinta vermelha. — E se adicionarmos detalhes florais aqui? Vai dar um toque romântico e moderno.
Victória olhou atentamente para o tecido.
— É uma ideia ótima, Bru! Mas precisamos pensar na costura. Se sobrecarregarmos o tecido, pode ficar pesado.
— É por isso que você é a mente prática, e eu, a artista maluca. — Bruna sorriu.
Enquanto trabalhavam, uma notícia começou a circular pela faculdade: Chang havia chegado à cidade e estava visitando o Hotel Y, sua nova propriedade.
— O quê? Ele já está aqui? — Victória perguntou, surpresa, quando um colega passou pela sala comentando sobre a novidade.
— Parece que sim. E ouvi dizer que ele vai participar da semana cultural. Talvez ele esteja procurando talentos para investir. — O colega respondeu, deixando Victória ainda mais nervosa.
No intervalo, Victória e Bruna foram ao refeitório e encontraram Beto, que estava entregando uma encomenda de bolos de chocolate que preparara no hotel.
— Beto, é verdade que o Chang está no hotel? — Victória perguntou, tentando soar casual.
— É verdade. Ele chegou ontem à noite. Parece que está reorganizando tudo e quer conhecer cada detalhe. — Beto respondeu, enquanto Bruna roubava um pedaço de bolo.
— Ele é tão sério assim? Pensei que o Chang fosse mais... descontraído. — Victória disse, lembrando-se do garoto sorridente que conhecera na infância.
— O tempo muda as pessoas, Vic. Mas uma coisa eu posso garantir: ele não para de falar de você.
Victória ficou sem palavras. O que Chang poderia querer com ela?
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Enquanto isso, Allan também sentia os ventos da mudança. Durante sua aula noturna de administração, ele recebeu uma mensagem inesperada de seu chefe, Nawaki:
"Precisamos conversar amanhã cedo. É urgente."
O tom sério da mensagem o deixou apreensivo. Estaria prestes a perder o emprego? Ou seria algo relacionado ao cliente misterioso que visitara a empresa naquela semana?
De volta à faculdade, Victória terminou o dia sentindo-se exausta, mas realizada. Ela e Bruna haviam feito grandes progressos no projeto.
— Você vai ver, Vic. Esse desfile vai ser incrível, e o Chang vai ficar sem palavras. — Bruna disse, abraçando a amiga antes de irem embora.
Victória sorriu, mas, no fundo, ainda sentia um frio na barriga. A presença de Chang parecia trazer algo mais do que nostalgia. Era como se um capítulo importante de sua vida estivesse prestes a começar.
Enquanto caminhava para casa, o céu tingido de laranja pelo pôr do sol, Victória viu um carro de luxo parar na frente do Hotel Y. Ela não conseguiu enxergar o rosto do motorista, mas sabia, instintivamente, que Chang estava ali, observando-a de longe.
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