GAEL SILVA
— Filho, acorda! Vai se atrasar para a sua entrevista de emprego.
Quando Gael escutou a palavra emprego, ele deu um pulo da cama, pois estava a precisar muito de ser contratado logo, ele teve que largar tudo e voltar para casa, agora que a sua mãe está doente e já fazem quatro meses que ele está a procura de um emprego e ele não conseguiu mais do que cansar as suas pernas.
Para alguém que largou a faculdade, é bem difícil encontrar o seu lugar no mercado de trabalho, mesmo que ele não estivesse a ser muito exigente. Ele já havia se candidatado a cargos desde garçon, até gerente de loja de roupas.
No momento ele sobrevive dos bicos que faz nos finais de semana no quiosque do tio. Mas, o negócio é pequeno e o tio já tinha funcionários de longa data, ele não achou justo tomar a vaga de outra pessoa.
— Obrigado mãe, se você não me tivesse chamado, eu não conseguiria acordar.
Ele dá um beijo na bochecha da mãe e corre para a casa de banho, ele não pode perder essa oportunidade. A empresa em que ele vai fazer entrevista é uma das mais conceituadas no ramo de moda e comandada pelo grande empresário Ravier Valente.
Gael idolatra esse homem e tem uma queda imensa por ele também, mas Ravier é conhecido por seus romances com supermodelos, além da sua fama como um homem de gelo, sem sentimentos e coração, nunca vai se interessar por alguém como ele, que além de pobre, está longe de ser uma supermodelo.
Por tudo o que já ouviu sobre Ravier, Gael suspeita que ele seja homofóbico também, devido a algumas declarações que ele deu à imprensa. Mas, para ele isso não importa muito agora, contanto que ele consiga o emprego e esconda a sua sexualidade de todos, como ele sempre fez. Só quem sabe que ele não é heterossexual é sua mãe e os caras com quem ele ficou na faculdade.
Gael se olhou no espelho, ele estava usando o terno que usava no estágio da faculdade, não estava desgastado e ele parecia apresentável vestido assim.
(Imaginem ele mais jovem, com uns vinte e três anos)
Além do terno, ele colocou um sorriso no rosto, pois otimismo foi sempre o seu ponto forte.
Mesmo com toda a dificuldade de saúde, a sua mãe sempre faz questão de mimá-lo como agora, ela preparou um pequeno almoço caprichado. Gael sentou-se e comeu com ela, que estava se esforçando para comer, devido ao tratamento Dona Íris sempre fica enjoada. Mas, Gael está feliz que ela está se esforçando.
Quando ele terminou, se despediu da mãe com um beijo na testa e saiu com todas as esperanças do mundo de fazer parte do grupo de trainee do Magestic, maior grupo de moda do país.
A vaga era para a área administrativa, Gael espera que seus quatro semestres na faculdade de administração lhe dêem alguma vantagem.
RAVIER VALENTE
Se tinha algo que poderia descrever o que Ravier sentia nesse momento, era irritação. Ele não tem o controle sobre a sua vida e isso é frustrante.
Os seus pais o estão precionando para que ele se case o mais rápido possível com Felicit, a filha mais velha da família Garbas. Ameaçaram até de o deserdar e ele não vai perder tudo o que tem, ele lutou demais para mostrar o seu valor. O pior dos dois é o seu pai, a mãe está a ser influenciada nesse sentido.
A sua noiva é como todas as outras garotas que ele já se relacionou, ela é linda, porém nenhuma delas agrada Ravier. No fundo, ele sabe exatamente o que se passa com ele, mas ele jamais vai admitir. Ele foi criado para ser um homem de família e colocar o bem dos negócios acima de qualquer vontade própria.
Ravier tem o seu motorista, no entanto, ele optou por dirigir, pois, assim ele pode pensar.
O seu carro é um Tesla elétrico, ele não gosta nem um pouco, pois não tem o ronco característico dos outros carros, mas essa é mais uma das suas vontades que ele teve que suprimir, pelas aparências.
O carro é bonito, mas não é o que ele quer, o usa apenas por todos acharem que esse carro ajuda a preservar o meio ambiente. r
O que chateia Ravier nesse momento são os ciúmes infundados de Felicit. Ela quer transar com ele todo o dia e como ele se recusa, ela colocou na sua cabeça oca de que ele tem uma amante. Isso parece até ser uma piada na cabeça de Ravier.
Ele tem que pensar num modo urgente de desfazer esse noivado, antes que ele acabe casado com uma mulher louca.
A última exigência de Felict foi que ele demitisse a sua secretária. O que foi uma grande perda para Ravier, a mulher era bastante eficiente, só um CEO para saber o quanto é difícil encontrar uma pessoa eficiente para trabalhar como secretária. Mas, a sua mãe o pressionou para que ele fizesse a vontade de Felicit e assim foi feito.
O celular de Ravier começou a tocar, ele observou o número do seu pai e pegou o aparelho, que acabou a escorregar da sua mão, por reflexo ele tentou pegar o aparelho, isso o distraiu da rua e ele só se deu conta do que fez quando sentiu que o carro bateu em algo, ou melhor, em alguém, que ele constatou pelo retrovisor o corpo estirado no chão.
Ravier não podia acreditar na #¿$?%!¡ que acontecera. Ele tinha se distraído por um segundo e tudo deu errado.
Ele parou o carro imediatamente e foi em direção ao homem jogado no chão.
O trânsito parou e várias pessoas se aglomeravam ao redor do homem, alguns caras que estavam ali, foram para cima de Ravier.
— Aí, foi você que atropelou o cara.
Ravier sabia que se quisesse, podia dar conta deles rapidamente, então ele manteve a calma e disse:
— Foi um acidente, com licença, eu sou médico, posso prestar os primeiros socorros.
Isso não era de todo uma mentira, ele cursou medicina por cinco semestres, até que sua mãe teve um pico de estresse e ele abandonou a faculdade para ajudá-la na empresa.
RAVIER VALENTE
Ravier não podia acreditar em como os abutres da imprensa conseguem ser mais rápidos do que o resgate. Em pouco tempo, eles fotografavam e fazendo perguntas, enquanto Ravier tentava entender o que havia acontecido com o homem.
Ele fez o que aprendeu no único semestre de trauma, ele manteve o homem imóvel, estabilizou o seu pescoço e checava se tinha alguma categoria de sangramento, quanto até que enfim o resgate chegou. Eles então tomaram a dianteira e ele afastou-se, até o momento em que o colocaram na ambulância e ele informou que acompanharia o paciente.
Quando chegaram no hospital, além da imprensa, ele teve que dar uma declaração para os policiais. Que assim que viram o seu sobrenome trataram-lhe com muita cortesia, ofereceram até mesmo segurança, para os repórteres não se aproximarem.
Ravier nem se incomodou de ligar para sua família, ele sabe que a notícia vai chegar mais rápido que um foguete para eles. Antes mesmo que esses repórteres malditos consigam espalhar algo.
O cara atropelado é a maior preocupação de Ravier. Ele estava desacordado e é difícil saber o que vai acontecer com ele. Ele jamais se perdoaria se o homem morrer.
Os paramédicos iriam levar o homem para o hospital público, no entanto, Ravier insistiu para levarem o homem para o Hospital Santa Cura, que pertence ao seu amigo, Luciano Couto. Ali ele vai ser melhor atendido do que num hospital público.
Quando foi fazer a ficha foi outro problema, pois ele não sabe o nome do homem, só depois que procuraram nos seus pertences descobriram que ele se chama Gael Silva.
Encontraram em seu celular o número da mãe e os funcionários do hospital já ligaram para a mulher.
Como Ravier previu, o seu assessor entrava pela porta, ele foi salvo pelo médico que lhe chamou na sua sala. Os seus pais não viriam mesmo, para chamar ainda mais a atenção da imprensa.
Assim que Ravier sentou-se ele perguntou:
— Então, como está o homem?
— Ele está bem e está consciente, então eu penso que o pior já passou.
Ravier respirou aliviado, pelo menos ele não terá esse peso na sua consciência. Agora é que ele se assemelha à sua família, ele só precisa arranjar uma maneira de compensar o tal Gael e fazê-lo ficar com a boca fechada e longe da imprensa.
— Então eu posso vê-lo?
— Claro que sim Sr. Valente.
O médico chamou uma enfermeira para acompanhá-lo. A mulher, uma loira plastificada o olhou com interesse, mas Ravier apenas fechou a sua expressão, estava claro que essa mulher é pouco profissional.
Quando chegou no quarto, havia uma mulher na porta, hesitante em entrar. Ravier suspeitou que essa talvez fosse a mãe do homem que ele atropelara. Ela parece doente e está visivelmente abalada, na certa com medo do que pode ter acontecido ao filho.
— Olá, eu chamo-me Ravier Valente, infelizmente fui eu que atropelei o seu filho, eu peço desculpas desde já pelo que aconteceu e quero que fique tranquila, pois eu vou arcar com todos os custos da recuperação dele.
A mulher olhou para Ravier e disse:
— Só me diz que o meu filho está vivo.
Ravier sentiu um pouco desconcertado com a reação emocionada aquela mulher. Ele abriu a porta ainda sem responder e ambos entraram no quarto.
Antes que eles entrassem, Gael estava dentro do quarto pensando no quanto ele tinha sido azarado. Ele sempre fora na verdade, mas dessa vez ele estava de parabéns.
Bem quando ele estava cruzando a rua e faltava apenas uma quadra para chegar na Magestic, ele foi atingido em cheio por um carro de luxo, depois disso ele apagou. Esses malditos ricos, acham que podem fazer tudo nessa vida.
Gael sabe que ele deveria apenas estar a agradecer agora por estar vivo, mas ele não consegue se conformar com o fato de ter perdido a sua entrevista de emprego, ele precisava tanto disso e agora, ele vai ter que parar por pelo menos uma semana, tempo que ele não tem.
Aquilo tudo era um completo desastre e ele fechou e apertou os olhos para não chorar. Pois essa foi a primeira vez desde que ele voltou que esteve perto de fato de conseguir um emprego.
Depois de um tempo assim de olhos fechados, ele escutou um barulho na porta e ao abrir os olhos, ele viu algo que ele nunca imaginou que veria, sua mãe Iris, entrando no quarto ao lado de Ravier Valente, o CEO todo poderoso da Magestic.
Dona Íris logo se precipitou sobre o filho:
— Querido, você está bem?
Gael gemeu diante do rompante da mãe, doeu tanto que ele nem conseguiu dizer nada num primeiro momento.
— Ai meu Deus! Querido, eu te machuquei?
Ele trincara uma costela e quando Dona Íris o abraçou, ele sentiu a dor como uma pontada.
— Não se preocupa mamãe, eu já estou bem. Eu é que quero saber como você está.
— Eu estou bem, querido, se você está bem é o suficiente para mim.
Gael já tinha quase se esqueço do da presença de Ravier quando este se apresentou:
— Olá, me chamo Ravier Valente.
Ele é um homem imponente e exala arrogância, mesmo numa simples apresentação. O que fez Gael gaguejar um pouco:
— Eu... Eu sei quem você é.
— Muito bem, então vamos direto ao ponto, infelizmente eu o atropelei e eu estou aqui para te compensar, além de pagar por sua estadia nesse hospital.
A postura de Ravier era completamente arrogante e a sua beleza tornou-se nada diante da sua falta de humildade.
Gael achou que os boatos sobre a personalidade ruim de Ravier eram apenas isso, boatos, mas agora ele pôde ver que eram além disso, era tudo verdade.
Gael conhecia bem essa categoria de pessoa, estava cheio delas durante a universidade e ele nunca quis se aproximar de nenhuma delas.
— Obrigado pelo seu interesse, mas já fez o suficiente por mim hoje.
Ravier viu uma (sutil) mudança na postura de Gael, percebeu que ele é apenas um pobre mal-agradecido. Mas, ele não pode sair daqui com a possibilidade desse cara dizer algo sobre ele na imprensa, ele então decidiu sair e esperar a mãe dele.
— Com licença.
Assim que Dona Íris saiu do quarto do filho, pois ele a obrigou a ir até a café comer algo, Ravier a parou.
— Dona Íris, não é?
— Sim.
— Bem, eu quero falar com você sobre uma compensação sobre tudo o que aconteceu, pois, claramente o seu filho não irá aceitar.
— O que te faz pensar que eu aceitarei algo? Nós somos pobres, mas temos dignidade.
— Dignidade não vai ajudar a senhora e o seu filho, quando ele sair do hospital.
Ravier sempre foi um homem muito franco e direto, embora ele tenha uma visão muito pragmática sobre a vida, ele não trocaria toda a sua experiência de vida, por outra vida medíocre.
Dona Íris disse:
— A minha vida e a do meu filho não lhe interessa, penso que o senhor já fez o suficiente por ele.
— Acredito ter tido a impressão de que seu filho estava a ir a um lugar importante quando o acidente aconteceu.
— Sim, ele estava indo à uma entrevista de emprego, mas isso não importa mais, pois eu tenho certeza de que outro já deve ter preenchido a vaga.
Rapidamente Ravier percebeu que esses dois se tratam do pior categoria de pobres, os orgulhosos, ele assumiu outra abordagem.
— Então eu posso contratar o seu filho na minha empresa.
— Não acredito que o Gael vai aceitar isso, o senhor viu que ele não queria conversa.
— Eu posso fazer parecer que foi algo aleatório, o meu nome ficará totalmente fora disso.
— O senhor pode tentar, mas agora dá-me licença que eu preciso alimentar-me.
Ravier ficou para trás com um sorriso no rosto, depois ligou para o Rh da empresa, para que eles fizessem tudo para que Gael fosse contratado.
Gael estava dormindo novamente, com os remédios que ele havia tomado e deitado naquela cama, onde ele não podia se mexer livremente, ele dormiu.
Acordou algum tempo depois, com o seu celular tocando insistentemente. Ele olhou na poltrona logo ali e observou a sua mãe que dormia sentada, ele ficou ainda mais bravo com Ravier, se ele não lhe tivesse atropelado, ele teria agora um emprego e a sua mãe não teria que estar aqui, dormindo numa posição desconfortável para alguém na situação dela.
Ele esticou-se, ainda sentindo dor nas costelas, pegou o celular e atendeu, ele observou haverem pelo menos três chamadas anteriores de um número desconhecido.
— Estou.
— Sr. Gael Silva.
— Eu mesmo, quem fala?
— Aqui é da Majestic, nós estamos a ligar, pois, o senhor não compareceu à entrevista.
Ravier havia se surpreendido, quando deu a ordem ao Rh e descobriu que Gael estava indo exatamente para sua empresa, mas agora ele tinha outros planos para ele.
— Eu tive um acidente, por isso não compareci.
Gael não desconfiou que Ravier estava por trás dessa ligação, pois ele não pensou que o homem se daria ao trabalho de sequer olhar para o lado, ainda mais por alguém tão simples como ele.
— Quando o senhor estará disponível para uma nova avaliação?
— Bem, eu acho melhor convocarem outra pessoa, pois, eu vou ficar por pelo menos duas semanas em repouso.
— Duas semanas?
Gael ouviu a voz da mulher exit-ar do outro lado da linha e ele soube estar tudo perdido realmente, ele teria que procurar outro trabalho.
— Bem, compareça na nossa sede, assim que estiver bem-disposto. O nosso programa visa sempre trazer os talentos para a nossa empresa e não deixamos ninguém de fora.
Gael não esperava por isso e ele decidiu pensar sobre isso enquanto estava se recuperando. Fechou os olhos novamente e colocou-se a dormir.
Os dias passaram e Gael teve alta do hospital. Ele foi para casa com Dona Íris, que esteve ao lado da sua cama diariamente no hospital, mesmo ela estando bem pior que ele.
Quando eles retornaram para casa, à realidade abateu-se sobre eles. Gael não tem dinheiro para nada e as contas estão todas atrasadas. O pouco dinheiro que tinha, Dona Íris usou para se alimentar nos dias que ele esteve no hospital.
Ele pensou que a vida é realmente injusta, enquanto ele foi atingido, teve que gastar o pouco dinheiro que tinha. Ravier Valente o causador do acidente, no entanto, não sofrera um arranhão.
Pela manhã, ele esforçou-se para levantar, não podia continuar parado. Quando ele entrava na cozinha, viu a mãe que espremia o frasco de remédio, no entanto, nada saia dali, tinha claramente acabado.
Nesse momento Gael decidiu que não havia outra opção a não ser retornar para a ligação da empresa Magestic. Ele tem que tentar.
Ravier já havia quase esquecido de Gael Silva e a sua mãe Dona Íris, quando a chefe do Rh ligou para ele lhe informando que Gael Silva ligou, para saber quando deveria ir à empresa.
Ele olhou para o calendário no computador e constatou que não haviam se passado as duas semanas de repouso, como o médico havia recomendado. Mas, se Gael procurava o emprego oferecido, ele tem que aceitar, apenas isso, para que o plano dê certo.
Gael é o plano perfeito para Ravier, pois ele além de resolver o problema dos ciúmes da sua noiva e o problema das suas secretárias, que sempre se apaixonam por ele.
— Mande ele vir amanhã.
Ele foi essa ordem que a chefe do Rh seguiu quando ela disse para Gael vir à empresa no dia seguinte.
Depois que desligou a chamada, o coração de Gael estava um pouco acelerado e ele disse a si mesmo:
— Calma Gael, raramente vai observar o Sr. Valente, um trainee nunca terá acesso ao Diretor-executivo.
E isso acalmou o seu coração, ele olhou para a porta do quarto e constatou a sua mãe ali.
— O que faz querido? Pela casa que faz, parece um homem indo em direção à morte.
Gael sorriu e disse:
— Penso que estou apenas entregando a minha alma ao diabo.
— Não fala isso querido.
— É a verdade mãe, amanhã vou para uma entrevista de emprego na empresa do homem que me atropelou, você viu bem como ele é.
— Eu queria poder te ajudar.
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