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Ceifador

Pequeno Aviso

Antes de postar cada capítulo eu reviso possíveis erros um por um, porém, alguns acabam passando despercebidos. Caso encontre esses erros, fiquem tranquilos, eu sempre estou revisando os capítulos. A história é postada somente nas quintas porque é o dia em que eu estou totalmente livre. Caso queiram conversar comigo, comentar algo ou só tirar um tempo para ler, sempre estarei disponível às quintas feiras para isso.

É só isso, espero que aproveitem os próximos capítulos, beijos da Phoenix. ❤️

Capítulo 1

Era 1h da manhã; mulheres e crianças já estavam em suas respectivas casas, os animais dormiam e a neve castigava os pobres moradores de rua que não tinham onde ficar. O governo não ligava para a situação deles, e até fazia falsas promessas em todo ano de eleição. Os próprios habitantes é quem cuidavam uns dos outros. Eles se ajudavam bastante. O problema é que nem todos eram assim...

  A forte ventania passava pelo rosto da garota como se estivesse lhe desferindo tapas tortuosos. Seus grandes cabelos loiros balançavam cada vez mais à medida que ela corria. Estava na quinta noite de inverno, e a nevasca atrapalhava seus passos, fazendo ela escorregar algumas vezes, logo se levantando e fugindo de novo. Sua respiração falha, as pernas machucadas e o frio que sentiu, a fez pensar em parar para descansar. Só que ela não podia desistir ou seu perseguidor a apanharia.

  Como um meio de escapar dele, ela foi entrando nas ruas escuras e vazias. "Posso tentar pedir ajuda", pensou ela. Mas, em todas as portas que ela batia, implorando por amparo, os moradores apenas fingiam não ouvir. Todos sabiam das regras: assim que o toque de recolher soar às 22h, nenhum ser vivo poderia estar nas ruas. Caso contrário, coisas terríveis poderiam acontecer. A garota sabia disso, contudo, seu chefe não a liberou mais cedo do trabalho e ela acabou sendo a última a sair. Quando já estava voltando, sentiu que um homem a seguia e isso fez com que a jovem começasse a fugir dele.

  Cansada de não ser ajudada, ela já estava começando a perder suas forças, porém, continuava a correr pelas ruas tentando chegar o mais rápido possível em casa. De repente, todas as luzes dos postes, uma por uma, começaram a explodir. Como uma última tentativa, ela entrou no primeiro lugar que viu, só que para o seu azar, era um beco sem saída. A mulher até pensou em voltar, só que na entrada desse mesmo beco, seu perseguidor estava lhe esperando com uma faca na mão. Esse seria seu fim. Ela tentou tanto fugir dele, para então parar logo no único local sem saída. "Por favor, não me mate", ela dizia. Só que o homem não ligou para seu pedido e, mais uma vez, outra garota foi vítima de seus atos suspeitos, cruéis e sombrios.

  Observando de longe, o ceifador olhava para a cena apenas esperando a garota morrer para poder recolher sua alma. Alguns segundos depois, a garota - já morta - estava ao lado do homem que a levaria, olhando para seu corpo sem vida. Ela já não tinha mais sofrimento. Estava "livre" de toda a maldade deste mundo. O ceifeiro a guiou até a nuvem escura atrás deles, e ela entrou sem demora. Sempre era triste para os humanos saberem que já não estão mais vivos. Alguns aceitavam, outros não acreditavam, só que no final, todos precisariam passar pelo mesmo destino. O julgamento. As almas seriam julgadas se mereceriam o paraíso ou a prisão eterna. A jovem garota tinha sido uma boa menina. sempre tão bondosa e otimista, ela desejava um mundo melhor. Mundo esse retirado por outra pessoa. Por ter sido tão boa, em seu julgamento, o paraíso foi escolhido como seu destino final. Um destino em que não terá dor ou culpa. Esse era o destino que muitos buscavam.

  No jardim das almas, um jovem ceifeiro observava de longe aquelas pessoas sendo julgadas para decidir sua última viagem. Ele sentia pena delas. Ver jovens e principalmente crianças que não chegaram nem a aproveitar suas vidas - pois estavam mortos -, era um dos piores trabalhos para ele. Como um bom amigo, Gabriel ficava com esses tipos de missões. Thiago o agradecia, mas também levava broncas do outro. Gabriel sempre dizia que ele não deveria ter pena das almas. Ao mesmo tempo, sabia que esse era um objetivo impossível para Thiago.

  Gabriel até fala que ele não deveria ser um ceifador, era bondoso demais para ser um. Mas, quem era Gabriel afinal? Gabriel é um dos ceifadores de elite mais antigos. Em seus trabalhos, ele nunca cometeu um erro, e também, era o único que conseguia ver as piores mortes humanas. Muitos tinham medo dele, apenas Thiago era sua companhia mais próxima. Uma amizade bem diferente. Os dois não têm nada em comum, mesmo assim são grandes amigos.

- Não entendo como não sente pena deles, Você não tem sentimentos? -Thiago o indagou se aproximando do banco de madeira escura em que Gabriel estava sentado.

- Não. - Uma resposta fria e sem nenhum arrependimento.

- Pois eu tenho. Ver as crianças entrando pelos portões sempre me causa tristeza. Imagina a dor que seus pais devem sentir.

- Thiago, somos ceifeiros. Nosso trabalho é colher almas. Sem almas, sem trabalho.

- Eu nem queria ser um ceifeiro. Esse é sem dúvidas o pior trabalho. - Gabriel concordava com isso. Contudo, infelizmente, não há nada que eles poderiam fazer.

..."Chamando os número 13 e 79, venham até o salão das sombras."...

  Uma voz feminina surgiu nos auto-falantes, solicitando a presença de Gabriel e Thiago. Os dois sabiam o que isso significava: teriam novas almas para recolher. Gabriel estranhou terem chamado seu nome mesmo depois dele ter acabado de retornar. Mas como era a ordem dos superiores, ele e Thiago seguiram até o local.

  O salão estava cheio. Muitos ceifadores iam e viam para receber seus novos trabalhos. Gabriel se aproximou da recepção e uma das moças lhe entregou a esfera azul cintilante que mostraria sua próxima vítima. Ele falou seu número, e a esfera se abriu mostrando uma linda jovem loira de olhos verdes e com algumas sardas pelo rosto. "Mais uma garota" ele pensou e, eram esses os maiores trabalhos de Gabriel - Recolher alma das vítimas de um dos maiores assassinos de Eventide.

..."Não importa quem seja ou o que for, um trabalho é sempre um trabalho."...

Capítulo 2

Angel estava voltando de uma loja de conveniência que ficava aberta 24h, quando uma garota esbarrou nela. A menina era muito parecida consigo, até mesmo tinha cabelos loiros claros como os seus. A garota se desculpou por esbarrar nela e pôs-se a correr novamente. Angel apenas se mostrou indiferente, e continuou caminhando pelas ruas escuras até chegar em sua residência. Ela morava sozinha, por isso não se preocupava muito em fazer grandes compras de mercado. As lojas de conveniência eram suas melhores amigas.

  Gabriel observava de longe a garota, esperando o momento ideal de sua morte. Só que algo estava errado. Gabriel viu o local onde Angel morreria, e esse lugar fica muito longe de onde eles estavam. Confuso, ele escala as janela do apartamento até chegar na janela da garota, vendo Angel sentada na cama fumando. Por sorte, os humanos não podem os ver.

  Ele então atravessa a janela de madeira e caminha indo em direção à porta de saída do apartamento dela para ver se estava trancada. Batidas frenéticas na porta interromperam os pensamentos da garota, e ela apagou o cigarro jogando ele na cesta de lixo. Gabriel saiu da frente ao ver ela se aproximar para poder olhar no olho mágico. Quem ameaçava derrubar a porta era um grande conhecido dela. Angel não queria vê-lo, mas também não deixaria ele esperando no corredor.

- Porque demorou tanto? - O garoto entrou passando por ela, indo se sentar no sofá da mesma. Folgado era um grande eufemismo para ele.

- Estava ocupada. O que você quer? - Ela fechou a porta e apoiou o corpo na parede enquanto cruzava os braços.

- É assim que você trata os velhos amigos?

- Não sou sua amiga Brian. Vai dizer logo por que veio ou vai esperar que eu te coloque para fora?

- Eu estava com saudades de você... - Ele levantou do sofá se aproximando dela. Ele então agarrou em sua cintura e tentou beijá-la.

- Eu não estou afim. - Disse ela se libertando de seu aperto.

- É assim que vai ser?

  Gabriel apenas observava a cena curiosa, esperando até onde iria chegar. O tal Brian mudou de idiota para uma personalidade bem diferente, um tanto ameaçadora. Com agilidade, ele segurou o pescoço de Angel e a prensou contra a parede encarando os olhos dela. Ela tentou tirar as mãos dele de seu pescoço, mas ele continuou apertando-a.

- Seu tempo está acabando, Angel. Quero todo dinheiro que você pegou emprestado para comprar aquelas malditas drogas.

- Me...solta - Ele largou ela no chão, e a garota respirou fundo tentando recuperar o fôlego.- Vou devolver a merda do dinheiro. Só preciso de mais tempo.

- Duas semanas é o seu prazo. Se não me devolver até lá - Ele passou o dedo pelo pescoço e ela rapidamente entendeu o significado.- Espero que tenha entendido.

Brian nem dá tempo para Angel falar alguma coisa, pois saiu apressadamente batendo a porta com certa violência. Era a primeira vez que Gabriel pegava um caso igual à esse. Essa garota ainda iria dar muito trabalho para ele.

Angel respirou fundo e caminhou até a janela. Seu apartamento ficava no último andar, e a garota gostava disso, pois conseguia observar as estrelas e a paisagem de uma forma mais clara. Em seu olhar podia se ver toda a tristeza de sua alma. A garota não tinha com quem contar, e a única pessoa que ela se aproximou é o causador de seus sonhos piores. Caminhando até a cômoda branca de seu quarto, a jovem retirou da gaveta uma cartela cheia de remédios e abriu todos eles os deixando em cima do móvel. Tamanha era sua dor, que ela não aguentava mais a pressão que tinha. Ela sabia que não conseguiria pagar todas as suas dívidas, e para ela, fazer isso era muito melhor do que acabar sendo vendido para virar um brinquedo nas mãos de gente como Brian. Angel pegou quase todos os remédios e colocou em sua mão, respirando fundo para ter forças de conseguir fazer isso. Gabriel estava tentando entender o que a garota iria fazer e, quando teve certeza do que se tratou, ele fez algo que não poderia ter feito. Ele a tocou. A principal regra dos ceifeiros era nunca entrar em contato com algum humano, ou, grandes consequências aconteceriam. Só que Gabriel não poderia deixar Angel se matar ou ele não conseguiria pegar sua alma. A garota deveria ser assassinada e não ter se suicidado.

  Ele segurou nos pulsos dela e a fez deixar cair os comprimidos no chão. Por garantia, ele acabou pisando neles. Pasma, Angel o encarou assustada. "Como esse cara apareceu aqui?" ela pensou olhando-o de cima a baixo.

- Quem é você? Como consegui entrar aqui? - As palavras mal saiam de sua boca, pois estava assustada demais vendo aquele homem que simplesmente apareceu em sua frente. Julgou até estar sob efeito de alguma droga ainda.

- É uma longa história... Mas, que merda você estava pensando? Queria mesmo se matar?

- E daí se eu quiser? Não tem nada haver com isso, eu nem mesmo te conheço! - Ela se afastou dele e começou a andar de um lado para o outro.

- Sou Gabriel. Um ceifeiro que veio levar sua alma.- Gabriel falou no intuito de assustar-la. Mas a única coisa que conseguiu foi arrancar risadas da garota.

- Ceifeiro? Está brincando comigo? Foi Brian quem te mandou para me dar um susto?

- Olha garota, você já está me dando nos nervos. Eu já deveria ter recolhido sua alma há muito tempo. Só não sei que merda aconteceu para você ainda está aqui. - Gabriel falou tão sério que Angel parou de andar para o encarar.

- Então eu morri? Digo, eu queria morrer, só não esperava que fosse tão rápido.

- Você ainda não morreu - ele revirou os olhos. - Porém, sua alma já está marcada.- Ele pensou um pouco e percebeu que tinha deixado passar algo muito importante.

- Você consegue mesmo me ver?

- Mas é claro! Não estou falando com as paredes, emo.

- Emo? - Gabriel perguntou indignado, e pela primeira vez ele quis matar um humano.

- É o que você parece vestido desse jeito. Olha para suas roupas. É toda preta. Na verdade tudo em você... - Disse ela se aproximando dele. - Menos sua cor, você é bem branco. - Ela tentou tocar no rosto dele, só que ele a impediu segurando em suas mãos.

- Nem pense nisso. Se tentar tocar em mim de novo - Uma foice apareceu em uma de suas mãos, e a ponta dela estava apontada atrás do pescoço de Angel - Eu mesmo te mato.

- Então mate. - Ele sentiu que a garota não estava brincando e soltou. Sua foice desapareceu logo em seguida. - Que foi? Desistiu?

- Não sou eu quem irá te matar. - Ele pegou a esfera da alma e passou a analisa-la.

- Por quê? Não seria mais fácil fazer isso? Não precisa "levar" minha Alma?

- Dá para ficar quieta? Você fala muito.- Gabriel sentiu algo estranho na esfera. Ela ainda estava azul - Isso significa que Angel ainda será sua vítima. "Caralho" ele pensou. Não poderia voltar ao seu mundo enquanto a garota estivesse viva e, apenas seu assassino poderia mata-la.

- O que é isso? - ela apontou para o objeto na mão dele.

- Uma esfera da Alma.

- E o que isso faz?- Ele respirou fundo antes de responder-la

- Ela mostra quem eu devo "buscar". Mais alguma pergunta?

- Você precisa que alguém me mate para poder voltar, né?

- Sim...?

- E, se eu te ajuda? Assim você poderá voltar. - Incrédulo ele a olha. "Ela não sente o peso que suas palavras têm?", ele já estava começando a pensar que ela era uma verdadeira louca. Só que diferente dos outros humanos, Angel não temia a morte. Na verdade, era o que ela mais desejava.

- Quer tanto morrer assim? - Ele perguntou, visualizando a garota em sua frente. Ele nunca havia conhecido alguém assim antes, e olha que ele já apreendeu todo tipo de alma, de todo lugar diferente.

Angel nada respondeu, apenas foi até seu quarto e sentou na beira da cama. Gabriel entendeu que a garota falava sério. Só que ele não poderia perder seu tempo sendo um cavalheiro e pedindo que ela desistisse da ideia. Ele precisava dela morta, e, se ela quisesse ajudar, ele não iria recusar.

- Senhor "Anjo da Morte", eu vou dormir. Se quiser ficar, fique à vontade. Só não quebre nada. - Angel dizia enquanto tirava os sapatos e foi até a parte de cima da cama para poder deitar direito. Ela pegou seu cobertor cinza e se enrolou.

-Está achando que tenho o que, 5 anos?

-Quem sabe né... - Ele resolveu ignorar ela e caminhou até a sala para ficar sentado no sofá. Os ceifeiros não dormiam, por isso, ele não se importava muito com esse detalhe. Gabriel até pensou em deixar Angel e ir ver se o tal assassino matou outra pessoa. No entanto, ele não poderia deixar a garota sozinha ou ela poderia tentar se matar sem ele estar por perto. Coisa que se ela fizesse, ficaria presa entre os dois mundos e, ao mesmo tempo, em lugar nenhum.

  Gabriel passou a noite toda vigiando o sono de Angel e, algumas vezes, olhou a esfera para saber se algo havia mudado. Para o seu azar, ela continuava do mesmo jeito que antes. Frustrado, ele ligou a televisão para poder distrair sua mente. E assim, o ceifeiro passou a noite, assistindo e pensando na melhor maneira de fazer tudo voltar ao normal.

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