NovelToon NovelToon

Divinamente (sendo revisada)

Capitulo 1 - Entre os mortais

Canta-me musa, se você já viu o pôr do sol em um campo de trigo? O quanto é lindo quando os raios alaranjados do sol tocam a plantação fazendo-as brilharem como o mais puro ouro e o balançar das longas ramagens chegar a ser hipnotizador. Para Myra, esse espetáculo era sublime e ela o vivenciava todas às vezes que subia a colina próxima à sua casa em Alphios, um pequeno vilarejo na Grécia. O singelo momento que a natureza emanava sua vida, nada tinha de tão especial, não aos olhos dos demais. Porém, para Myra aquilo era um breve vislumbre da vida após a morte nos Campos Elísios. Com os cantos suaves das aves e a tranquilidade que eram suficientes para transportá-la até seus pais em sua imaginação. Esse era o momento que ela tirava para contemplar o espaço à sua volta.

Essa foi a maneira que a menina encontrou consolo, na beleza da natureza. Logo após perder seus pais quando ainda era uma criança inocente, em um ataque surpresa dos guerreiros de Gygaea, um vilarejo próximo. Desde então, ela foi criada com amor e carinho por sua tia Agapi e seu marido. Agapi nutria um amor maternal por Myra, pois era a única lembrança que tinha de sua irmã querida.

Myra, por sua vez, encontrou um refúgio na natureza para a sua dor. E assim, aprendeu a encontrar beleza no meio da tragédia e encontrar esperança no meio da dor. Mesmo sem seus pais, ela sabia que não estava sozinha, pois tinha Agapi ao seu lado, porem ela sentia que além de seus parentes, havia mais alguma coisa. Todas às vezes que caminhava pelos campos ou bosques, sentia como se algo sempre a acompanhasse.

Oh! Musa, permita-me continuar a triste história de Myra e de seu vilarejo amado! Todos conviviam harmoniosamente em Alphios, um vilarejo próspero e unido, onde todos se conheciam e se respeitavam. No entanto, o destino cruelmente interveio quando Gygaea se tornou uma inimiga implacável de Alphios. Eles não podiam aceitar que Alphios estava prosperando e se tornando um vilarejo de destaque, com suas colheitas exuberantes e suas habilidades artesanais únicas.

A inveja e a ganância dos poderosos em Gygaea rapidamente se transformaram em raiva e hostilidade, e eles seguiram sabotando as colheitas, destruindo casas e matando pessoas sem piedade. A decadência de Alphios era inevitável, e eles estavam perdendo rapidamente para seus inimigos mais poderosos e bem treinados. Os poucos guerreiros sobreviventes lutavam com coragem nas fronteiras da cidade, tentando impedir a supremacia de Gygaea.

Os habitantes de Alphios já se sentiam impotentes e desesperados, sem saber o que podia ser feito. No entanto, eles nunca perderam a esperança de dias melhores em Alphios.

Eles acreditavam que, assim como o sol se punha todas as noites, trazendo uma nova aurora a cada amanhecer, Alphios também se recuperaria e voltaria a brilhar novamente. Com Myra não era diferente.

O dilema que abalou Alphios era grande, e a solução que encontrou parecia absurda. Cultuar Ares, o deus da guerra sangrenta e dos massacres em batalhas, era algo que ia contra a natureza do vilarejo. Por gerações, haviam adorado Deméter, a deusa da colheita, e essa escolha tinha trazido-lhes muitas colheitas abundantes e prósperas. Mas agora, diante do inimigo poderoso que se aproximava, não havia outra escolha senão clamar pela ajuda do deus da guerra.

Desesperados, os anciãos do vilarejo se reuniram para encontrar uma solução. Sabiam precisarem de uma intervenção divina, mas por que Ares? A resposta e simples: Gygaea, seu inimigo declarado, era um vilarejo robusto e forte em batalha, apesar de não adorarem nenhum deus guerreiro sua força em batalha era impressionante.

Alphios precisava de algo feroz, devastador e agressivo para enfrentar o poderoso adversário.

Os anciãos do vilarejo sabiam que Ares não se importava com vilarejos pequenos e sem espírito de batalha. Mas era preciso tentar, e após atravessar a madrugada foi cogitado fazer o “tributo de um dia”.

Esse tributo envolveria três dias inteiros oferecendo-lhe recompensas, promessas e orações em honra a Ares, e no último dia, a mais bela jovem virgem do vilarejo seria entregue para passar um dia inteiro na cama de Ares, se submetendo aos seus luxos, em busca de sua atenção e ajuda divina.

Uma grande discussão começou entre eles, pois quem iria ofertar uma jovem a Ares? Quem deixaria sua filha ou futura esposa se deitar com outro homem mesmo ele sendo uma divindade? Nenhuma pessoa em perfeito juízo concordaria com tal situação. Fora o fato teria que ser uma jovem atraente que agradasse aos olhos de qualquer deus, entretanto todas as jovens mais voluptuosas e bonitas do vilarejo, ou já estavam casadas ou comprometidas, e nenhum dos maridos ou pretendentes iriam querer ver sua mulher, deitada com outro homem, seja ele mortal ou divino.

Foi então que o nome de Myra foi cogitado.

— Mas Myra? Não sei se ela será do agrado de Ares! Convenhamos que ela não é a mais bela do vilarejo, nem a mais formosa, para ser franco, nem acredito que ela tenha alguma beleza. — disse um homem.

— Porém, também não é a mais feia! — disse Sinon. O homem que presidia a reunião.

— Sim! Mas se queremos as bênçãos de um deus, temos que entregar algo à sua altura, ou no

mínimo satisfatório. — indagou Doros.

— Então, por que o senhor não cede uma de suas filhas Doros? Procne e bem graciosa e bonita, tenho certeza que ela agradaria muito os olhos de Ares! — disse Acroneos.

Doros lançou um olhar fulminante.

— Por que não cede você uma das suas? Ou até sua esposa? — rebateu Doros.

E novamente os ânimos se exaltaram. Aqueles homens podiam já ter uma certa idade, mas quando estavam nervosos esqueceram das dores que sentiam.

— Basta! Estamos aqui para resolver um problema e não para começar outro! Seja como for, essa foi a melhor ideia que tivemos a noite toda! Falaremos com Agapi e Phanes, e se eles concordarem e Myra estiver disposta e fazer isso pelo vilarejo, será feito! Ou ao contrário, só nos resta rezar para que nosso fim seja rápido, e sem tanto sofrimento. — disse Sinon aos berros, já exausto.

Capitulo 2 - A chegada do sol

No alvorecer do dia, quando os primeiros raios de luz iluminavam o horizonte. Sinon e Acroneos, guiados por Apolo, que iluminava o caminho que ele traçava no céu, até à casa dos tios de Myra. Ao bater a porta foram atendidos por Phanes, que os recepcionou com um sorriso gentil, retribuído com um sorriso amarelado e um pouco sem graça dos dois anciões ali parados. Phanes os convidou para entrar, a pequena casa estava tomada por um aroma de chá recém-preparado, uma mistura de ervas raras colhidas ali mesmo, que impregnava o ar. Convidando os visitantes a degustarem da bebida. Sentados à mesa, os anciões se entre olhavam enquanto a fumaça subia de dentro da xícara quente. Sinon, então, decidiu começar o assunto com Phanes.

 — E como tem passado Phanes? — perguntou Sinon.

— Bem dentro do possível, tentando salvar o pouco que restou da minha plantação. — lamentou Phanes.

— É! Os tempos estão mesmo difíceis para Alphios! — comentou Acroneos.

— Sim, sim! Esses ataques sorrateiros dos Guyanensis, só dificulta o que nunca foi fácil! Vocês devem saber que a alguns dias atrás queimaram metade da minha plantação?!. — disse Phanes com um certo pesar em sua voz.

Sinon e Acroneos se entreolharam vendo ali uma brecha para propor-lhe o plano que tiveram.

— É sobre isso que viemos falar com você e sua esposa. — disse Acroneos.

— Bem, ontem nós e os outros anciões do vilarejo nos reunimos, e talvez tenhamos achado uma saída para este massacre que viemos sofrendo. — disse Sinon dando uma longa pausa — Entretanto, precisaremos da sua ajuda e de Agapi.

— Como assim? Vocês estão pensando em quê? Já vou logo avisando, nunca peguei em uma espada e a minha esposa jamais irá pisar em um campo de batalha. — disse Phanes se levantando da cadeira.

— Calma homem! Não é dessa ajuda que estou falando! Ontem na reunião foi proposta a ideia de fazermos o Tributo de um dia, para assim conseguir que Ares, lance seus olhares para Alphios. E nós cogitamos a possibilidade de Myra ser o tributo. — disse Sinon.

— Myra!? Ah! Não sei se isso seria possível! Ela é o único legado que sobrou de Dynamene, e minha esposa via sua irmã como uma mãe, ela jurou a si mesma que cuidaria de.

Myra como sua. Ela jamais permitiria isso.

— Sim, sim! Entendemos! Porem isso e para um bem maior, e além mais não é nada de tão perigoso para o tributo em si, o maior perigo são as estradas até o templo em Argos. Mas claro que ela será escoltada até lá — disse Acroneos.

— Não gaste suas palavras comigo, guarde-as para a minha esposa, ela sim que decidirá o destino de Myra. — falou Phanes.

A tensão entre Sinon e Acroneos era grande, eles se preparavam para a difícil tarefa de convencer Agapi a oferecer Myra como tributo a Ares. Eles sabiam que precisariam de muita persuasão para conseguir o que desejavam, afinal, ninguém em sã consciência gostaria de oferecer um parente como tributo, especialmente para um deus como Ares.

As histórias contadas sobre Ares não eram nada lisonjeiras. Ele era conhecido por sua sede por sangue e pelo prazer que encontrava na matança e por perder facilmente o controle com suas insanidades. Mas, ao mesmo tempo, sabia-se que o deus da guerra era poderoso e capaz de trazer vitória para aqueles que o adoravam.

Os três se encaminharam até uma grande árvore onde estavam alguns fardos de trigo, e lá estava Agapi os amarrando. Enquanto caminhavam em direção a ela, os dois anciões pensavam em como poderiam convencê-la.

— Conseguiu afiar a foice que lhe pedi. — falou Agapi.

— Sim, sim! — respondeu Phanes, entregando a foice na mão de Agapi.

— Aconteceu algo? Por que Acroneos e Sinon estão aqui? E com essas caras apreensivas. — Disse Agapi com um sorriso meio sem graça, para seu marido.

— Ainda não! Mas está para acontecer, onde está Myra? — perguntou Phanes.

— Está lá colhendo o trigo com os meninos, por quê? — disse ela apontando para o meio da plantação.

— Vou chamá-la, enquanto você conversa com eles. — disse Phanes indo em direção a seus dois filhos que vinham trazendo mais fardos.

— Nós já falamos com Phanes, mas ele falou que só você poderia decidir. Mas antes peço que pense muito bem antes de dar qualquer resposta. — disse Sinon.

— Decisão sobre o quê? Digam-me logo parem de arrastar suas palavras. — retrucou Agapi.

— É que decidimos fazer o tributo de um dia… E um dos nomes propostos foi o de sua sobrinha, entretanto precisamos da sua permissão, é claro que ela faça por vontade própria para ter algum efeito. — disse Sinon.

Agapi olhou com desdém para Sinon e Acroneos, que agora se sentiam desconfortáveis com a situação. Ela balançou a cabeça, negativamente e disse.

— Minha sobrinha!? Não! — Agapi com uma expressão de incredulidade no rosto. Ela deu uma longa pausa antes de continuar. — Não, não! Vocês deveriam estar envergonhados de propor algo dessa magnitude para uma jovem que já sofreu tanto! E, além disso, sabemos que para fazer essa oferenda, tem que ser uma jovem bonita, e há jovens muito mais belas do que ela que poderia fazer isso!

Sinon tentou argumentar:

— Mas Agapi, Myra é a única que não é casada, nem está para ser desposada. Além disso, ela só ficara lá um dia e uma noite no templo de Ares. Se parar para pensar bem, ela deveria se sentir honrada por ser oferecida como tributo a um deus poderoso.

Agapi soltou uma risada irônica e respondeu:

— Oh, sim! Uma honra! Uma honra tão maravilhosa que talvez fosse melhor que uma nobre fosse ao lugar de minha sobrinha! Vocês não acham?

Sinon e Acroneos se calaram, percebendo que não conseguiriam convencer Agapi com palavras. Eles sabiam que precisavam encontrar outra solução.

— Pode não parecer uma coisa justa! Mais você não acha que essa deveria ser uma escolha de sua sobrinha?! — disse Acroneos.

— O que deveria ser minha escolha? — indagou Myra chegando perto de sua tia e ouvindo o final da conversa.

Agapi, ao vê-la, segurou a pelo braço com firmeza, levando-a para um canto mais distante de Acroneos e Sinon. Myra podia sentir olhar pesado de sua tia sobre si enquanto ouvia as palavras que ecoavam em sua mente como um sinal de alerta.

Myra olhou para seus pés, sentindo o peso da decisão que precisava tomar. Ela sabia que a escolha não era fácil e que suas opções eram limitadas. E se aproximando dos dois anciões, ela falou.

— E se eu recusar? — perguntou Myra, encarando a tia e um dos homens.

— Se você recusar, as coisas podem ficar ainda piores. Acho que você sabe do que estou falando, não é? — disse Acroneos, com um olhar preocupado.

Myra suspirou, sabendo que as palavras de sua tia eram verdadeiras. Ela sabia que as coisas não estavam bem no vilarejo e a situação poderia piorar se nada fosse feito, porem ser um tributo ao um deus inconstante e algo que deve ser considerado.

A jovem saiu correndo, deixando todos surpresos com a sua reação, enquanto caminhava sem rumo, a mente de Myra estava em completa desordem. Ela sabia que estava.

Prestes a tomar uma decisão que mudaria sua vida para sempre, e as possibilidades eram aterrorizantes.

Mas ela também sabia que não podia fugir dessa responsabilidade, que era seu dever como membro do vilarejo. Ao mesmo tempo que se afastava de seus familiares, Myra não conseguia deixar de pensar em sua aparência. Ela nunca havia se sentido, bonita ou desejável como tantas outras mulheres de seu vilarejo.

De fato ela não era atraente, seu corpo magro e pouco curvilíneo não chamavam atenção, com seus olhos verdes, profundos como a floresta, muitas vezes era escondida por seu semblante de um ar triste em seu rosto. Seus lábios finos, por vezes, pareciam desprovidos de vida, sem nenhum brilho ou cor. Seu queixo suave era pouco notável, a única coisa que chamava a atenção naquela jovem eram seus cabelos. De um castanho alaranjados que pareciam incendiar, com suas longas ondulações que iam até sua cintura.

Mais os pensamentos que mais a afligiam eram. Se ela fosse entregue como tributo e não fosse de agrado de Ares? O que poderia acontecer com ela? Todos sabiam das predileções dos deuses, e Myra mais do que ninguém sabia que não correspondia a elas. Mas se ela não se oferecesse, as consequências poderiam ser ainda piores. O vilarejo continuaria a sofrer com as atrocidades do inimigas pessoas que ela amava estariam sempre em perigo.

Capitulo 3 - Escolhas

Myra foi tomada por um misto de angústia e incerteza ao receber a importante decisão. A responsabilidade de proteger todas as vidas em seu vilarejo pesava em seus ombros, enquanto a falta de confiança nos deuses a corroía por dentro. Desde jovem, perdeu a admiração que nutria pelos seres divinos, deixando um vazio em

sua alma.

Apesar de estar disposta a fazer o que fosse necessário para garantir o bem-estar de seus entes queridos, Myra se questionava se Ares, seria misericordioso com seu vilarejo. Todos conheciam as predileções dos deuses, e ela sabia que não as correspondia.

Myra se apercebeu subindo no monte como se sua mente a fizesse ir até aquele lugar em busca de clareza e paz. Lá, ela se sentou e contemplou o horizonte, refletindo sobre o destino.

Foi então que seus olhos encontraram a plantação, e a cena que viu à sua frente a fez sentir ainda mais pesar.

As ramas de trigo ainda tentavam dançar com o vento, mas seu ballet era interrompido pelo lado oposto consumido pelo fogo. Algumas poucas ramas persistiam em sobreviver na vasta área carbonizada, sua dança  agora tristes e melancólicas.

Myra guardou aquela cena com compaixão, sentindo seu coração ser comprimido por uma tristeza profunda. Enquanto as plantas lutavam para continuar seu ciclo, ela viu as ramas se transformarem em pessoas gritando desesperadas, correndo para salvar suas vidas de uma horda de guerreiros implacáveis.

Eles cortavam e dilaceravam tudo em seu caminho, esses guerreiros incendiavam casas e plantações e matavam criações inteiras. Myra viu os rostos dos habitantes de seu vilarejo nas plantas queimadas, e sentiu a dor e o desespero que se espalhou pelo vilarejo.

O ar encheu-se com o cheiro de fumaça e sangue, que impusionava aqueles homens dominados por uma fúria incontrolável e sedentários por carnificina, os guerreiros avançavam implacavelmente, deixando um rastro de destruição por onde passavam. Myra

assistia a tudo em choque, incapaz de agir diante da cena macabra.

Foi então que viu sua tia correndo desesperadamente, carregando nos braços seu primo Scylax, enquanto seu tio tentava alcançar Pythios, seu filho mais velho, que se encontrou perdido em meio ao caos. Mas antes que pudesse elaborar qualquer coisa,

Myra presenciou a cena mais terrível de todas: Pythios sendo covardemente apunhalado por dois guerreiros.

Um grito de agonia escapou da garganta de Myra e de seu tio, unidos em um só tom. Ela observou, impotente, enquanto uma rajada de vento soprou, dissipando a cena trágica que acabara de testemunhar. Myra ficou em pé, olhando para o que sobrou da plantação, chorando e se perguntando se aquele devaneio poderia ser um

prenúncio do que estava por vir.

E mais uma ela sentiu o peso de todas as vidas que dependiam dela e o medo a invadiu. Mas Myra sabia que não podia permitir que seu vilarejo fosse completamente destruído.

Myra nunca havia experimentado uma visão! Ainda mais tão vívida e assustadora, mesmo que fosse apenas uma ilusão, ou coisa de sua cabeça atordoada. Ela caminhou sem rumo a sua casa, desorientada e ansiando por encontrar seus tios e primos a salva. O seu coração pulsava como uma embarcação galés rumo ao frenesi de uma

batalha.  Pelo caminho, ela encontrou Scylax, que carregava um pequeno fardo de trigo.

— Está tudo bem, primo? Onde estão todos? E Pythios, como ele está? — perguntou Myra.

— Estou bem. O que aconteceu, prima? Você está bem? Você ficou muito tempo no sol? — Scylax perguntou, tentando entender o que havia acontecido com sua prima. Myra não conseguiu responder, apenas olhou na direção da casa e viu sua tia indo buscar mais fardos. Ela caminhou em sua direção.

Myra encontrou sua tia que estava com um semblante preocupado, e ela sabia que era devido à decisão que ela té ria que tomar.

— Finalmente a encontrei! Estou a horas te procurando para vir almoçar! — disse sua Agapi.

— Tia, eu já tomei minha decisão. Serei o tributo.

Agapi a olhou surpresa e, por um momento, não soube o que dizer. Mas logo respondeu, tentando convencer a sobrinha do contrário.

— Myra, você tem certeza? É perigoso, ele é um deus violento e imprevisível. Não sabemos o que pode acontecer.

— Sei dos riscos, tia! Mas já tomei minha decisão. Preciso fazer isso.

— Mas pense bem, minha querida. Você pode ser mantido aprisionado, obrigado a fazer coisas que não queira. E se ele não aceitar você como tributo? Não se pode saber o que ele fará com você. — disse Agapi com a clara intenção de mudar a ideia de Myra.

— Mas é algo que preciso fazer. Não importa o que aconteça, eu estou disposto a enfrentar tudo. O pior e saber que eu poderia evitar mais tragédias.

A tia olhou com um misto de respeito e preocupação.

— Está bem, minha querida. Não podemos mudar suas escolhas, mas esperaremos até amanhã

para informar sua decisão. Não apressaremos o inevitável.

Myra sentiu uma angústia, mas sabia que era o caminho que precisava seguir.

Ela não podia compartilhar a visão que teve com ninguém, pois sabia que isso só aumentaria a tensão já existente. Por isso, ela manteve tudo em segredo, guardando consigo a angústia e a aflição que sentia.

Cada segundo que passava parecia uma eternidade, como se o tempo estivesse congelado. O dia se arrastou lentamente, mas no final, Myra sentiu como se tivesse perdido todo o tempo em um piscar de olhos. Ela sabia que sua tia estava preocupada com ela, mas não podia permitir que o medo tomasse conta de

sua mente. Ela tinha que se manter forte, por si mesma e por sua família.

Durante o jantar, Myra tentou agir com naturalidade, mas estava tensa. Ela não conseguia comer, pois sua mente estava em outro lugar. Quando a noite chegou e todos foram dormir, ela finalmente pensou que poderia relaxar um pouco. Foi nesse momento que um de seus primos a interpelou, trazendo-a de volta para a realidade.

Seus pensamentos se misturavam em um turbilhão de emoções, e ela se perguntava se conseguiria manter tudo sob controle. Mas Myra sabia que não podia desistir. Ela precisava proteger sua família e sua comunidade, custe o que custar. E assim, ela se preparou para enfrentar qualquer desafio que viesse pela frente.

— Não te incomoda fazer algo em que você não acredita? — perguntou Scylax.

Todos sabiam que ela diferia dos outros moradores do vilarejo, que tinham fé e confiança nas divindades. E responder uma pergunta como essa ainda, mais de um ser tão novo e já tao atento, foi ainda mais difícil. Ela olhou nos olhos de Scylax e respondeu, com a voz trêmula.

— Eu não sou contra os deuses, Scylax, só acho que eles não se importam tanto assim com o nosso sofrimento. Mas ainda assim, eu preciso fazer o que está ao meu alcance para tentar salvar o vilarejo. É minha responsabilidade como cidadã.

Scylax franziu o cenho, tentando entender as palavras da prima.

— Mas se você não acredita que eles possam nos ajudar, então por que você fará isso? — ele questionou confuso.

— Eu não sei, Scylax. É difícil explicar. Eu só sinto ser o certo a se fazer, mesmo que não haja garantia de sucesso. Eu não posso ficar de braços cruzados enquanto o vilarejo está em perigo.

Scylax pareceu ainda mais confuso, mas Myra o abraçou, dando-lhe um beijo de boa noite na testa.

— Agora vá dormir. Amanhã será um dia difícil, ainda a muito trigo para colhermos. — disse ela, tentando confortá-lo.

Myra se afastou, deixando Scylax em seus pensamentos. Ela só esperava que, no final, suas ações fossem suficientes para proteger sua comunidade.

E ao deitar a jovem se começou a lembrar das imagens que observou na plantação, do desespero, a agonia, e a maldade e perversidade que vinha trajada, de guerreiros. Myra se levantou e foi até a janela, olhando para o céu noturno. As estrelas brilhavam intensamente, como se conversassem entre si, falando sobre coisas que a jovem

desconhecia.

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!