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Arte Do Amor

Renato Sodré

Tudo tem um começo e a nossa infância marca a nossa história para a vida inteira.

Venho de uma família humilde de três irmãos. Meu pai era artesão e minha mãe professora numa escola rural do interior de Minas Gerais. Meu pai fazia artesanato em pedra sabão para vender nas feiras regionais.

É daí a minha paixão pela arte e cores. E meu amor pela vida e pela diversidade da arte mineira. Mas o meu grande amor mesmo é por uma pessoa que sumiu do meu alcance e que sonho encontra-la novamente...

O ano é dois mil e doze, meu nome é Renato Sodré e moro na pacata cidade mineira de Ouro Preto, uma cidade colonial na Serra do Espinhaço, na zona leste do Brasil. É conhecida pela arquitetura barroca, que inclui pontes, fontes e praças, e pelas ruas calcetadas íngremes e sinuosas. Uma das mais conhecidas cidades mineiras, Ouro Preto foi o berço da Inconfidência Mineira e primeira capital do estado. Está nos livros de história do nosso país. Os quais minha mãe ensina numa escola pública na zona rural. Eu escuto essa história todos os dias que com orgulho ela ensina para alguns poucos alunos particulares aqui em casa nas suas horas vagas.

Eu hoje tenho treze anos e estudo pela manhã e ajudo meu pai a tarde com a pintura das peças de pedra sabão. Meus dois irmãos são mais velhos que eu, Ricardo tem quatorze e Rogério tem dezesseis. Meus pais não perderam a mania dos antigos de colocar nome nos filhos todos com as mesmas iniciais. Isso sempre foi motivo de chacota na escola, pior é minha mãe que chama todos os nomes para chegar no filho que ela quer chamar.

Meus irmãos estudam e trabalham na confecção das peças ajudando meu pai, eu fico na parte das pinturas e acabamentos que é um serviço mais delicado.

Chego em casa correndo para tomar um banho e fazer minhas tarefas para o dia seguinte e encontro com duas meninas esperando minha mãe para as aulas particulares, elas são lindas mas uma me chamou a atenção por seus lindos olhos verdes e sua pele clara. Ela aparenta ter minha idade e percebo sua timidez ao cumprimentá-la, ela abaixa a cabeça e responde em voz baixa.

Corro para tomar meu banho e desço para a sala onde minha mãe está lecionando, ela se assusta por eu querer assistir sua aula pois nunca me interessei por essa matéria.

Sento bem em frente a Maria Sofia, a linda garota que me fez gostar de história.

Minha mãe passa um exercício e nos deixa a sós na sala, somos em cinco alunos. Eu e mais dois garotos, Maria Sofia e sua amiga Aline. Ela não me olha e está muito focada nos estudos.

Termino em primeiro as questões que já estão decoradas na minha cabeça e pergunto se ela quer minha ajuda.

__ Não precisa, já terminei!

__ Nossa, que bom!

Ela me olha deixando claro que eu não a encabulei terminando primeiro.

Assim foram todos os dias de aula, ela sempre me surpreendeu com sua capacidade de terminar as questões primeiro e a sua facilidade em absolver o que minha mãe ensina, pareço enfeitiçado por seu jeito de olhar e como ela sorri para sua amiga que cochicha em seu ouvido algo que a deixa com as bochechas rosadas.

Os meus dias se resumem em espera-la para a aula de reforço. Espero o dia em que vou conquistar sua amizade.

Maria Sofia

Minha história não me define, pois tive uma infância conturbada, apesar de ter tido o amor dos meus pais, mas uma vida marcada por desencontros e tragédias.

Meu nome é Maria Sofia, tenho doze anos e moro com meus pais na cidade de Mariana que é colada a Ouro Preto. Sou filha única de um casal de comerciantes local. Temos uma loja de móveis rústicos e sempre que posso ajudo meus pais no comércio. É uma maneira que encontrei para passar mais tempo com eles pois trabalham muito e quase não tem folga.

Morar em cidades turísticas tem suas desvantagens, o comércio fica aberto de domingo a domingo e não temos tempo para lazer.

Três vezes por semana eu vou a Ouro Preto fazer aula particular com a dona Berenice. Ela é uma excelente professora e tem me ajudado bastante nas matérias que tenho pouco domínio.

Hoje conheci seu filho Renato, ele é lindo e tem um sorriso encantador. Minha amiga Aline ficou toda mexida por ele. Eu também fiquei mas ela disse que viu primeiro e tenho que me conformar pois somos amigas e nossa regra de amizade é de quem viu primeiro. Vale para roupas, calçados, objetos pessoais e não para garotos.

Nunca ficamos com ninguém pois ainda somos muito novas mas olhar não tira pedaços.

Tenho poucos amigos, meus pais são bem rigorosos e não gostam que eu fique de muitas amizades, acham que me influenciam e que podem me fazer algum mal.

Sou filha única e tenho uma super proteção paterna. Ao mesmo tempo que sofro com o vício de bebida do meu pai, ele tem a cada dia ficado mais fraco para o álcool. Minha mãe tem lutado para manter seu casamento pois está difícil conter os efeitos da bebida em nossa família. Ele é muito trabalhador mas os problemas pessoais tem afetado o lado profissional.

Às vezes vejo minha mãe chorando por ter sido humilhada por ele na frente dos clientes da loja ou algum maus tratos que ele faz com ela quando estão sozinhos.

Fora da bebida ele é uma excelente pessoa e ela o ama e tem dó de deixa-lo sozinho.

Nos momentos de angústia ela fala em ir embora para bem longe e largar tudo. Tenho medo que isso aconteça pois eu amo muito meu pai e não quero que ele fique sozinho.

A família e os amigos já se afastaram e sua depressão aumentou muito. Minha avó é a única que vai lá em casa, não sei se isso é bom pois ela vive falando na cabeça da minha mãe que se alguma coisa pior acontecer com ele ela será culpada.

Ele me abraça sempre e diz que sou a única razão para continuar vivendo. Minha mãe tem medo de irmos embora e ele fazer uma loucura.

A única pessoa que sabe o que passamos dentro de casa é minha amiga Aline, ela me dá apoio e posso contar com sua amizade.

Geralmente quem vai conhecer Ouro Preto, vai a Mariana. São muito próximas uma da outra e podem ser exploradas com a deliciosa viagem de Maria Fumaça. Eu adoro morar aqui e não trocaria por nenhum outro lugar do mundo.

Estou na aula de dona Berenice e Aline senta se ao meu lado e Renato senta do outro. Vejo que minha amiga está incomodada pois ele fica puxando conversa comigo o tempo todo. Sinto que estou entre eles e isso me incomoda eu não posso perder a única amiga que tenho.

Estou em silêncio fazendo o exercício que foi passado e vejo que Aline está atrasada pois só presta atenção no que Renato está falando. Ele por sua vez me faz uma pergunta atrás da outra e eu o respondo por educação.

Estou terminando de responder as questões e coloco minha mão na cadeira para descansar meu braço. Sinto sua mão sobre a minha e meu corpo gela. Ele segura firme e me olha dentro dos olhos e nossa comunicação visual é um sinal de que estamos nos entendendo.

__ Algum problema, Sofia?

Aline me pergunta desconfiada de que alguma coisa está acontecendo. Estamos de mãos dadas por baixo da mesa e meu coração está acelerado.

Soltamos nossas mãos e rapidamente pego o caderno com as duas mãos e os fecho para guardar.

__ Não está acontecendo nada, só lembrei que tenho que passar numa loja para pegar uma encomenda da minha mãe.

Ele sorri do meu constrangimento, e fecha seu caderno.

__ Espera só um minuto que eu vou ao banheiro.

Aline sai e nos deixa sozinhos.

__ Sofia, me passa seu telefone para podermos conversar.

__ Eu não posso, sinto muito!

__ Pronto! Vamos?

Saímos da casa dele e fiquei o tempo todo ouvindo o quanto Aline o achou bonito e o quanto ele estava perfumado. Ela não parou de falar nele, sabe até os pequenos gestos que ele faz quando está escrevendo.

Passo na loja e pego a encomenda da minha mãe, olho para trás e o vejo vindo em nossa direção. Meu coração está dando piruetas e minhas pernas estão bambas.

__ Ainda por aqui, meninas?

Aline como sempre muito pra frente responde:

__ Já estamos indo pegar o ônibus, quer vir com a gente?

__ Não é má idéia, estou de bobeira mesmo.

Ele fala olhando dentro dos meus olhos e sinto um rubror no meu rosto.

Ele fica entre nós duas e Aline não para de falar um só minuto, quando vamos nos despedir para entrarmos no ônibus ele beija meu rosto que está em brasas.

Entramos no ônibus e Aline está com a cara amarrada:

__ O que foi aquilo, Sofia? Ele te beijou no rosto!

__ Eu não tenho culpa, foi ele e não eu quem provocou essa situação.

__ Mas você gostou, está estampado na sua cara, você não está respeitando a regra de quem viu primeiro.

__ Ele não é um objeto, Aline!

Quando dei por mim eu já estava a respondendo, é uma coisa muito chata ficar entre esse jogo.

Desço do ônibus me despeço dela que não me responde, quer ficar com raiva o problema é dela.

Eu não aguento as pirraças dela, já chega os problemas que tenho dentro de casa.

Chego na sala e meu pai está esparramado no sofá, está trêbado e minha mãe está chorando no quarto. Pelo visto a briga foi feia, estou com meu peito apertado e um nó na garganta. Abraço minha mãe que não contém às lágrimas, ela está sofrendo muito e eu sofro com ela.

Meus pais, minha base.

Os dias vão passando e acabei não indo mais a aula de reforço essa semana, também não vi Aline esses dias. A situação na minha casa não são as melhores. Meu pai não tem conseguido ir a loja pois tem estado bêbado dia e noite. Minha mãe tem se desdobrado no serviço da casa e da loja, ela é uma mulher valente e não deixa a peteca cair.

Sou Carla, tenho trinta e cinco anos e sou mãe da Maria Sofia, ela é a minha razão de viver. Nesse momento difícil ela tem sido meu amparo e minha força para enfrentar essa turbulência.

Meu esposo tem problemas com álcool e está numa fase em que não fica sem beber nenhum dia. Vejo que Sofia tem amadurecido precocemente por causa disso, ela tem sido meu apoio e o ponto de eixo do seu pai.

Ela vai a aula e me ajuda na loja. Três vezes por semana ela tem aula particular, é uma maneira que encontrei de tira-la desse meio infernal que estamos vivendo.

Ao menos distrai com alguma coisa fora dessa louca turbulência.

Eu não consigo entender o porquê que seu pai de um ano para cá tem bebido tanto. Ele está cada dia pior .

Sinto que alguma coisa o tem afligido muito, ele essa semana não quer ir a loja e fica dando desculpas para a bebedeira.

Ainda tenho uma sogra abençoada que me culpa o tempo todo pelo que acontece com o filho querido.

Meu nome é Luiz, tenho trinta e cinco anos e sou casado com Carla e pai da Sofia. Ela é minha razão de viver, mas tenho me auto destruído com a bebida por conta de uma loucura que eu fiz. Não tenho coragem de falar a verdade com minha família e por covardia eu bebo para fugir da realidade.

A pouco mais de um ano eu traí minha esposa com uma funcionária da loja. Tenho vivido um martírio todos os dias, pois tenho sido chantageado por ela que ameaça a contar para minha família que a criança que ela está esperando é fruto dessa escapulida.

Sei que a criança não tem culpa e muito menos minha família. O culpado sou eu e também por ser um covarde. O que mais me dói é ver minha esposa dedicando seu tempo para ajudar a funcionaria mãe solteira. Bárbara é tão maliciosa que usa da boa fé da minha esposa para me chantagear.

Ela está grávida de quase oito meses, tenho minhas dúvidas a respeito do filho ser realmente meu e se ela não está fazendo isso tudo só para me atormentar.

No início foi uma atração física e depois fiquei entranhado nas suas artimanhas.

Depois de muitos dias sem ir na loja, decido encarar os problemas. Minha filha fica toda feliz ao me ver chegando no serviço, ela vem ao meu encontro e me beija. Quem tem uma filha tem um amor eterno.

__ Pai, que bom que o senhor veio para a loja, Bárbara não veio trabalhar hoje, está indisposta e eu não quero deixar minha mãe sozinha trabalhando.

__ Você tem reforço hoje? Pode ir eu ajudo sua mãe.

Saio da loja mais tranquila, depois de dias só o vendo bêbado hoje ele está sóbrio. Tenho uma certa insegurança pois não sei se o encontrarei assim quando voltar.

Aline ainda não está conversando comigo, mas também não a vi direito por esses dias. Ela teve uma virose e não foi a aula.

Chego na casa de dona Berenice e Renato está na sala conversando com os outros garotos que estudam com a gente. Aline não veio, deve estar se sentindo mal, depois da aula eu devo ligar para ela e saber o que está acontecendo.

Sentamos um ao lado do outro e como quem não quer nada Renato começa a conversar, estou um pouco sem graça mas vou me acostumando com o ambiente. Ele fala dos seu trabalho e de como gosta de pintar as peças, fico interessada pois adoro tudo que envolve artes. Apesar do meu sonho é ser modelo.

Durante a aula, sua mãe explica a matéria e sinto sua mão pegar a minha por baixo da mesa, está virando um hábito e não posso negar que estou amando.

Sinto um calafrio pelo meu corpo e uma sensação que eu ainda não havia sentido. Passamos assim quase o tempo todo da aula. Eu não consigo me desvencilhar dos seus ataques inocentes. É prazeroso essa sensação estranha, apesar de ser muito jovem mas é algo novo para nós dois.

Estou caminhando para o ponto do ônibus e ouço alguém me chamando. Olho para trás e e ele está correndo até meu encontro.

__ Sofia, você esqueceu sua bolsa de lápis.

Ele está afoito pois correu uma longa distância

__ Obrigada, saí e nem me dei conta.

Falo guardando junto com meu material em minha mochila.

__ Eu anotei meu telefone, está dentro da bolsinha. Se você quiser conversar comigo é só me ligar ou mandar uma mensagem.

__ Está bem! Só não vou te garantir que farei.

__ Por quê não?

__ Não temos idade para isso e meu pai não gosta que eu fique conversando com quem ele não conhece.

__ Eu só quero sua amizade, não vou te arrancar pedaços. kkk

Seu sorriso é lindo e faz minha pele ficar igual pimentão.

__ Vou pensar, se der eu te ligo.

__ Vou ficar esperando.

Ele me beija novamente o rosto e fico sem graça. Ele sabe ser gentil e gracioso. Entro no ônibus e rapidinho adiciono seu número no meu celular. Jogo o papel fora para não correr o risco do meu pai descobrir. Não coloco seu nome na agenda, escrevo Renata no lugar para não dar motivos de brigas com meu pai e a Aline.

Chego em casa e meu pai está sóbrio como a muitos dias eu não via. Minha mãe prepara o jantar e meu pai está vendo um filme na televisão.

__ Filha, senta aqui com o pai.

Me sento ao seu lado e deito minha cabeça em seu peito. Me sinto segura e protegida quando ele está assim. Gostaria que fosse todos os dias como agora.

Minha mãe nos chama para jantar e percebo que eles estão bem, gostaria muito que fosse assim todos os dias.

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