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ALMA FERIDA

CAPÍTULO 01 - SINOPSE

"UMA ALMA FERIDA E CAPAZ DE AMAR NOVAMENTE"

Anthony é o filho

mais velho da família Guerra, sempre teve tudo na vida, dinheiro, mulheres, boa

educação e uma família amorosa. Já tinha seu futuro escrito pelo seu pai, que

no momento em que se aposentasse, o seu patrimônio seria administrado pelo seu

filho mais velho. Depois que perdeu sua mãe, Anthony se tornou rebelde. Bebendo,

drogando-se, ele se envolveu com pessoas que só o viam como um cofre. Em uma de

suas viagens, descobriu que nem todas as mulheres eram verdadeiras. Com o

coração quebrado, decidiu que nunca mais, nenhuma mereceria seu amor.

"Mulheres são descartáveis, nenhuma terá o meu coração, não sou capaz de amar ninguém,

prefiro ficar sozinho a ter um casamento por interesse. Apenas querem o meu

dinheiro e o status que o nome Guerra pode proporcionar a elas.

"Anthony Guerra"

O que ele não sabe é que o destino colocara uma mulher determinada,

inteligente e linda. Capaz de mudar a visão que ele tem sobre todas as

mulheres.

Após perder seu pai, o único provedor em sua

casa, Maya Feliciano, além de estudar, agora terá que trabalhar para ajudar sua

mãe com as despesas da casa. Com o sonho de fazer faculdade de administração,

ela se dedica dia e noite e quando seu sonho se torna realidade, recebe a

notícia que sua única tia, que mora fora do Brasil, está entre a vida e a

morte, e, que seu último

desejo era ver sua sobrinha. Sem pensar duas vezes, Maya decide ir realizar o sonho de sua tia, só que ela não sabe

que seu destino já está traçado. Uma viagem que era para durar dois meses, se

tornaria sempre.

“Será Maya, capaz de fazer um coração de pedra voltar a bater?”

A

morte do pai de Maya

Maya

Feliciano

Q

uando o policial disse que o meu pai tinha se envolvido em um

acidente de carro e que ele não sobreviveu, todo o meu mundo caiu. Ele era um

homem maravilhoso, que sempre lutou para conseguir dar uma vida melhor, tanto

para mim, como para minha mãe.

Foram dias difíceis, após o sepultamento, sentamos e fomos ver

quais as providências teríamos que tomar. Verificamos as contas e descobrimos

que tudo o que meu pai ganhava era colocado dentro de casa. Não tinha nenhuma

reserva guardada e o que recebemos com a sua morte, apenas nos manteve por um

mês. Tínhamos que procurar um trabalho.

Minha mãe era formada em enfermagem. Quando ela se casou com meu

pai, ele pediu que ela parasse sua carreira, por causa dos plantões que muitas

vezes ia por noite adentro.

Ela só concordou quando engravidou de mim, e, como teve problemas

na gravidez, decidiu que não queria ter outros filhos. Meu pai era

caminhoneiro, fazia apenas viagens curtas e não ficava fora de casa por muito

tempo. Eu estava me preparando para prestar vestibular, seria minha grande

chance de entrar numa faculdade pública aqui na minha cidade.

 VAMOS COMEÇAR A NOSSA HISTORIA

CAPÍTULO 02 - A morte do pai de Maya

Maya

Feliciano

Quando o policial disse que o meu pai tinha se envolvido em um

acidente de carro e que ele não sobreviveu, todo o meu mundo caiu. Ele era um

homem maravilhoso, que sempre lutou para conseguir dar uma vida melhor, tanto

para mim, como para minha mãe.

Foram dias difíceis, após o sepultamento, sentamos e fomos ver

quais as providências teríamos que tomar. Verificamos as contas e descobrimos

que tudo o que meu pai ganhava era colocado dentro de casa. Não tinha nenhuma

reserva guardada e o que recebemos com a sua morte, apenas nos manteve por um

mês. Tínhamos que procurar um trabalho.

Minha mãe era formada em enfermagem. Quando ela se casou com meu

pai, ele pediu que ela parasse sua carreira, por causa dos plantões que muitas

vezes ia por noite adentro.

Ela só concordou quando engravidou de mim, e, como teve problemas

na gravidez, decidiu que não queria ter outros filhos. Meu pai era

caminhoneiro, fazia apenas viagens curtas e não ficava fora de casa por muito

tempo. Eu estava me preparando para prestar vestibular, seria minha grande

chance de entrar numa faculdade pública aqui na minha cidade.

Pretendo prestar vestibular para o curso de Economia. Sempre

gostei de estudar e com a ajuda do meu professor, pude compreender melhor essa

parte dos números. Apenas assim poderia conseguir um emprego na área para

ajudar a minha mãe com as despesas de casa. Por enquanto, não tenho experiência

para arrumar algo na minha área, mas a oportunidade que tiver já estará

valendo.

Minha mãe conseguiu um emprego de cuidadora. Irá cuidar de um

senhor de 80 anos, pois os filhos preferem pagar alguém a tomar conta de seu

próprio pai. Infelizmente, o horário que ela vai trabalhar é muito puxado,

quase doze horas por dia, então, eu terei que estudar e trabalhar e, ainda

cuidar da casa.

— Bom dia, filha. Está animada para hoje?

— Bom dia, mãe. Estou um pouco nervosa, preciso muito passar nessa

prova. Não temos dinheiro para uma faculdade particular, essa também será minha

chance para melhorarmos de vida.

— Vai dar tudo certo. Eu tenho certeza de que você irá conseguir.

— Deus a ouça, mãe.

— Venha tomar seu café, tem que estar bem alimentada.

— Obrigada, mãe.

Não foi fácil, mas dei o melhor de mim, e tenho certeza de que

conseguirei passar.

Saí daquela sala com muita esperança. De volta para casa, resolvi

andar um pouco para espairecer. Quando chego perto de um grande mercado, que

tinha pouco tempo de inaugurado, vejo que tem uma vaga de caixa. Sei que nunca

trabalhei, mas mesmo assim vou tentar. O não eu já tenho, vou correr atrás do

meu sim.

— Boa tarde! Senhor, eu gostaria de saber sobre a vaga de caixa.

— Você tem experiência?

— Não senhor, mas eu tenho muita força de vontade e consigo

aprender rápido. Eu estou

precisando muito de um emprego.

— Vamos fazer um teste, no período de uma semana. Quero ver como

você se sai. Se realmente é capaz, mesmo sem experiência.

— Muito obrigada! Prazer, meu nome é Maya.

— Muito prazer Maya! Sou Vagner, um dos gerentes.

— Tenho duas vagas, uma

para o período da manhã e outra para o período da noite. Com qual você deseja

ficar?

— Se não for pedir muito, eu gostaria de ficar com vaga da manhã,

pois acabei de fazer vestibular e se tudo der certo irei começar a faculdade à

noite.

— Por mim tudo bem. Então, te vejo amanhã às oito horas, não se atrase.

— Não me atrasarei, e, desde já agradeço a oportunidade. O senhor

não irá se arrepender.

Fui para casa muito feliz, pelo jeito as coisas iriam melhorar.

Agora, tanto eu, como minha mãe, conseguimos um emprego. Portanto, só falta

passar no vestibular para a minha vida ficar perfeita.

Não via à hora da minha mãe chegar e contar a novidade. Só queria

que meu pai estivesse aqui, apesar de já ter passado seis meses de sua morte,

eu ainda tenho pesadelos com o dia da sua morte. Sei que minha mãe chora quase

todas as noites, eu a escuto do meu quarto. Muitas vezes eu vou até ela e

apenas a abraço, não consigo dizer nada, porque nessa hora, nada que se diga

vai diminuir a dor.

Vou fazer o jantar e organizar a casa, não quero que ela faça nada

quando chegar. Sei que sempre vem muito cansada e mesmo assim ainda quer deixar

tudo limpo.

Depois de tudo arrumado, vou até meu quarto tomar um banho, tirar

o cansaço. Após o banho, vou até a cozinha fazer o jantar, irei fazer macarrão

ao molho branco, que era a comida favorita do meu pai.

Depois de tudo pronto, vou assistir televisão enquanto espero minha

mãe chegar, coisa que não demora muito.

— Boa noite, mãe!

— Boa noite, filha. Nossa que cara boa, isso quer dizer que você

foi bem na prova, acertei?

— Eu acho que sim, mas não é por isso que estou radiante. Eu

consegui um emprego naquele supermercado novo, que inaugurou há pouco tempo.

Ainda não fui contratada, vou ficar em experiência por uma semana, mas vou me

esforçar muito para conseguir a vaga.

— Essa é uma ótima notícia, mas e aí como foi a prova? Você acha

que foi bem?

— Eu tenho certeza que sim.

Jantamos e conversamos muito, coisa que não fazíamos com frequência,

pois ela sempre chegava cansada e falava o mínimo possível, mesmo quando estava

de folga era igual, já que eu sempre estava estudando. Acho que ela se sente

sozinha, assim como eu. Mais tarde quando fomos dormir, já estava me sentindo

bem e com muita esperança de que daquele dia em diante, tudo seria diferente e,

assim, acabei pegando no sono.

Minha segunda-feira começou muito bem. Fui trabalhar e gostei

muito de tudo que aprendi, as pessoas foram muito legais comigo. Para uma

novata, até que me saí muito bem. E assim se passou a semana.

No dia em que terminaria minha experiência, fui chamada até o

escritório do gerente. Ele me disse que eu me saí muito bem, que estava

contratada e que deveria trazer meus documentos no outro dia para entregar ao

RH. Nem acreditei. O trabalho não era fácil, tinha que prestar muita atenção

para não dar troco errado e também tinha muito cliente que se achava esperto em

passar notas falsas. Emapenas uma semana, já

tinha recebido duas.  Assim, foram se

passando os dias, e a ansiedade de saber o resultado das provas estava me

matando.

Quando o dia chegou, eu não tive coragem de ir verificar se meu

nome constava na lista. Como tinha uma colega, que também tinha prestado na

mesma faculdade, pedi para ela verificar se meu nome estava na lista.

— Maya Feliciano, seu nome está bem aqui. Você conseguiu — disse

com um sorriso. — Vamos estudar na mesma faculdade!

— Você jura que eu passei? Não está brincando comigo não, né

Ester?

— Eu jamais faria isso com você. Não é porque nos conhecemos a tão

pouco tempo que seria louca de fazer uma brincadeira dessas.

—Eu passei! Nossa minha mãe vai ficar muito feliz. Agora sim,

minha vida irá mudar.

Eu não tinha como demonstrar como eu estava feliz. Finalmente

minha vida estava caminhando muito bem, estava empregada e tinha conseguido

passar na faculdade.

— Boa noite, mãe!

— Boa noite, filha. Que sorriso é esse, o que aconteceu?

— Eu consegui mãe! Eu consegui passar na faculdade.

— Eu sabia que você ia conseguir! Estou muito feliz por você, seu

sonho está se realizando.

— Sim mãe, agora tudo vai dar certo. Depois de dois anos eu já

posso fazer estágio em uma empresa, exercendo a minha profissão. No começo não

irei ganhar muito, mas quando estiver formada, o salário será melhor e poderemos

até pensar em mudar dessa casa para um lugar melhor.

— Você nunca deixa de sonhar Maya? Essa casa foi a única coisa que

seu pai deixou, mesmo não sendo num lugar melhor, é só isso que temos. Não

estou dizendo que no futuro não possamos mudar, mas não quero pensar nisso

agora. Vamos esperar você se formar e aí sim, quando você estiver ganhando o seu tão

sonhado milhão, agente conversa novamente.

— Mãe, eu sei que essa casa é tudo que temos e sei que foi nesse

lugar que meu pai gastou todas suas economias, mas não pode me julgar por

querer te levar para uma região melhor. Sabe que esse bairro não tem só pessoas

boas, tem as ruins também, mas tudo bem. Como você mesmo disse, eu vou parar de

sonhar por enquanto e quando eu estiver ganhando bem, nós vamos nos mudar.

A procura de Anthony

Jaime Guerra

Há dois anos meu pai sofreu um infarto, isso imobilizou o seu lado

esquerdo. No começo ele não aceitou muito bem seu estado, ficar numa cadeira

para sempre, sendo tratado por enfermeiros, não era nada fácil para um homem

que sempre esteve ativo. Não parou de trabalhar nem com a morte da minha mãe,

não era fácil ver ele debilitado desse jeito, sem poder fazer nada. Apesar de

estar fazendo fisioterapia, ele não conseguiu segurar com firmeza nenhum

objeto.

Nesse período, tanto eu ,como minha irmã, fazíamos de tudo por ele, mas era

visível em seu olhar a dor de ficar limitado apenas em casa.

Depois que minha mãe morreu, as coisas dentro de casa mudaram

muito, começando pelo nosso irmão, que se tornou mais rebelde do que já era.

Começou a beber e passar noites fora de casa, sempre que aparecia no dia

seguinte, estava num estado deplorável, meu pai, por diversas vezes chamou a

sua atenção, mas nada resolvia.

Chegou a um ponto que meu pai não sabia mais o que fazer. Em um

dia, ao voltarmos da empresa, estranhamos os funcionários que trabalhavam em casa não

estarem presente em lugar nenhum. O que não esperávamos, é que meu irmão

estivesse dando uma festa dentro de casa, com vários amigos que se encontram

pelados numa total orgia.

Havia tanta gente dentro da sala de nossa casa. O cheiro de sexo,

bebida e de erva estava horrível, aquela visão deixou meu pai muito

decepcionado, e, aos gritos expulsou todos, enquanto meu irmão gritava que a

casa também era dele e que poderia fazer quantas festas quisesse.

Depois daquele dia, as coisas que já não eram boas, ficaram

piores. As brigas do meu pai com meu irmão eram diárias.

O meu pai não aguentava mais essa situação. Decidiu que tiraria todos os benefícios que

Anthony tinha, carro, dinheiro,

bloqueou suas contas e todos os seus cartões de

créditos foram cancelados.  Quando ele

descobriu que não tinha um centavo, ameaçou ir embora de casa, mas meu pai

estava decidido a não mudar. Ele colocou meu irmão contra a parede, ele teria

que voltar a estudar, terminar a sua faculdade e ser uma pessoa melhor,

responsável e se dedicar á empresa.

— Você não pode fazer isso comigo, eu sou seu filho!

— Eu te dei de tudo, fiz todos os seus caprichos e o que eu

ganhei? Um filho irresponsável, que até trouxe putas e vagabundos para dentro

da minha casa. Você nem respeitou sua irmã, que mora debaixo do mesmo teto que

você. Então, só cabe a você, se quer continuar com essa vida, pode ir embora,

mas saiba que irá sem nenhum centavo do meu dinheiro, não trabalhei por anos

para sustentar nenhum vagabundo que só quer gastar sem ter nenhuma

responsabilidade. Agora é sua vez de sustentar-se sozinho.

— Mas eu tenho o dinheiro que minha mãe deixou e esse eu posso

gastar como eu quiser.

— Engano seu, ela deixou esse dinheiro para ser dividido entre os

três filhos, está na cláusula do testamento, vocês terão que repartir esse

valor por igual e com certeza não durará por muito tempo em sua mão — meu pai

falava tomado pela raiva. — Um homem com 25 anos nem parece um ser humano, olhe para seu estado, veja

se está parecendo um Guerra — faz um gesto de desdém e continua. — Agora é com

você, decida o que vai fazer de sua vida. Fica,

dentro das minhas condições ou vai embora com sua parte do dinheiro que sua mãe

deixou, porque do meu só vai ganhar novamente quando você virar um homem

responsável e começar a trabalhar.  Até

lá, não terá nada.

Anthony ficou em seu quarto por quase duas semanas e quando saiu

nem parecia o mendigo que tinha entrando nele.

Ele resolveu aceitar a proposta de meu pai. Voltou a estudar, conseguiu formar-se e ainda fez pós-graduação. Foram quase

dez anos de paz, e quando ele decidiu ir viajar por um tempo, meu pai nem se

importou. Tinha conseguido o que sempre quis, ter seu filho mais velho

trabalhando e sendo responsável. Todos nós acreditamos que ele tinha mudado,

continuava saindo, mas nunca mais chegou bêbado ou mesmo levou mais ninguém

para casa, passa vãos finais de semana

estudando. O que ninguém sabia, era o que se passava em sua cabeça, fez tudo o

que meu pai quis, mas sua intenção nunca foi assumir nada, nos enganamos

direitinho.

Com a desculpa de estar cansado, por está trabalhando e estudando

por muito tempo, disse que estava precisando tirar um mês de férias e que iria

viajar para o Brasil com dois amigos de faculdade. O meu pai aceitou, achou que

quando ele voltasse, estaria pronto para assumir seu lugar, não imaginando que

essa viagem seria a última vez que veríamos Anthony.

Já se passaram quatro anos, e até agora nada dele aparecer. Seu

sumiço, com certeza, contribui para o estado que o nosso pai se encontra.

Depois de ele ter ficado doente, fui obrigado a assumir toda direção da

empresa, junto com o filho de seu sócio, que também se aposentou, pois queria

poder curtir sua vida com sua mulher. André se tornou, além de um grande amigo,

um sócio que se dedica a tudo dentro da empresa. Nós dois juntos, estamos

mantendo tudo e, sinceramente, se meu irmão não voltar, tenho certeza de que

conseguirei manter nosso império erguido.

— Bom dia, meu pai. Como você está sentindo-se hoje?

— Bom dia, filho. Estou bem melhor! Não estou mais aguentando

ficar deitado o dia todo, vendo que você está precisando de ajuda com a

empresa.

— Não precisa se preocupar meu pai. Eu e o André estamos dando

conta de tudo, as coisas estão caminhando muito bem, logo a Barbara se juntará

a equipe e vamos distribuir os setores. Eu e o André estamos pensando em

contratar um investigador para procurar o Anthony, as buscas vão começar pelo o

último lugar que ele provavelmente esteve.

— Espero meu filho, que esse investigador ache alguma coisa. Só

assim saberemos se ele está vivo ou não.

— Vou fazer isso assim que chegar à empresa. Não se preocupe, logo

teremos notícias boas ou ruins.

Assim que chego à empresa, a primeira coisa que faço é procurar os

serviços de um investigador. Mando uma mensagem marcando para ainda hoje uma

reunião, não quero demorar a resolver esse problema.

Com tanta coisa para resolver, não vi o tempo passar, é quase hora

do almoço. Eu saí junto com André e no caminho, contei para ele que já tinha

marcado uma reunião para o fim da tarde, com um detetive e que gostaria que ele

estivesse presente como combinamos.

— Alô!

— Senhor Guerra, o Sr. Raffaelo está aqui na recepção, deseja vê-lo.

— Pode mandar subir e, por favor, chame o André. E Vanda, senhor

Guerra é meu pai, não é necessário me chamar assim, já lhe disse mil vezes.

— Desculpe-me! Sr. Jaime, não irá acontecer novamente.

— Tudo bem, quando todos estiverem na minha sala, providencie um

café, não passe nenhuma ligação e não deixe ninguém entrar.

Pouco tempo depois ouço uma batida na porta.

— Entre.

— Mandou me chamar? — diz André.

— Sim, o investigador chegou.

— Senhor! Posso mandar o Sr. Raffaelo entrar? — Vanda pergunta.

— Sim, não esqueça o que eu falei antes — ela acena e sai.

— Boa tarde.

— Boa tarde, Raffaelo. Posso chamar assim né? Não somos tão velhos

para ser tratados como senhor.

— Boa tarde, Jaime. Sim, pode chamar-me pelo meu nome.

— Bem, meu nome você já sabe. Esse é meu amigo e sócio, André —

apresento e indico a cadeira para que se sente.

— É um prazer conhecê-los. Em que eu posso ajudar vocês?

Depois de todos estarmos acomodados, detalhei tudo que havia ocorrido

com meu irmão. Entreguei uma foto e disse que ele falou que irá ficar apenas 15 dias no Brasil e que

logo voltaria, mas que quando fomos verificar, ele não tinha viajado para esse

país e sim para Portugal.

— Então, será esse o primeiro lugar que iremos procurar. Se não

encontrarmos nada, iremos mesmo assim ao Brasil.

— O que importa é termos alguma notícia dele.

— Vou informar hoje mesmo aminha equipe e partiremos em dois dias. Quero dizer

que essa investigação custará muito caro, pois somos três pessoas e cada uma

tem seu serviço, além dos custos da viagem, que também fica á seu cargo o

pagamento.

— Não tem problema com o valor, desde que me traga alguma

informação do paradeiro de meu irmão.

— Tudo bem, se era só isso.

Irei embora para organizar tudo e já vou fazer

algumas pesquisas antes de viajar. Quando souber de qualquer coisa,entro em contato.

— Muito bem, vou ficar no aguardo. Tenha uma boa viagem e qualquer coisa por

mínima que seja, não se esqueça de informar-me.

— Ok, boa tarde aos dois. Até mais.

— O que você achou André?

— Meu amigo, eu espero que esse homem faça seu serviço, que ele

nos traga alguma informação, porque eu ainda acho muito estranho esse sumiço de

seu irmão. Por mais que ele não queria assumir a empresa, não acho que faria

isso deliberadamente.

— Eu espero que você tenha razão, porque seria mais uma decepção

para o meu pai, descobrir que seu filho realmente sumiu por não querer

trabalhar em seu patrimônio.

Com esse assunto já resolvido, continuamos trabalhando. O dia

tinha rendido muito, fechamos mais dois contratos. Quando cheguei em casa,

falei com o meu pai sobre o que o investigador iria fazer e por onde ele

começaria, ele ficou muito esperançoso.

— Onde pensa que você vai com essa roupa Barbara?

— Vou sair!

— Barbara, já tenho problemas demais e não quero mais um. Com essa

roupa você não vai sair para lugar nenhum e não é porque nosso pai está

impossibilitado dentro daquele quarto, que você vai fazer o que quer, já não

basta o Anthony?

— Jaime, eu só vou encontrar uns amigos e não vou me demorar.

Minha roupa não demonstrar o meu caráter, você já deveria saber disso. Nunca

causei nada e não pretendo dar mais desgosto ao nosso pai. Prometo que irei

voltar cedo, só vou me distrair um pouco, coisa que você também deveria fazer,

está visível que anda cansado, já não sai há muito tempo. Não esqueça irmãozinho, que você também é ser

humano e não pode querer carregar o mundo nas costas.

— Tenho muitas responsabilidades nesse momento e sei que não saio

há muito tempo. Vou chamar o André para nós, pelo menos, espairecer um pouco

qualquer dia. Hoje, estou muito cansado, vou me deitar cedo.

Já tinha se passado duas semanas e nada do investigador entrar em

contato. As coisas na empresa estavam correndo muito bem, tanto eu, como o

André, já não tínhamos mais vida como antes, vivíamos apenas para trabalhar,

mesmo ele querendo mudar de ramo.

Ele não quis dizer não ao seu pai quando ele disse que estava

cansado e que precisava que ele assumisse seu lugar, só fez isso para não

contrariar seu pai,

mas seus planos sempre foram outros.

Volto ao presente com o toque do telefone em minha mesa.

— Alô — digo.

— O que você acha de sairmos hoje à noite para jogar conversa fora

e tomar alguns drinks? — pergunta André.

— Você leu meus pensamentos, estou muito cansado e preciso tirar

um pouco desse estresse.

— Mas hoje à noite eu quero muito voltar para casa acompanhado,

nada de terminar minha noite com você, já basta passar todos os dias — diz

André, com voz de riso do outro lado.

— Meu amigo, até eu quero voltar acompanhado.

Depois de combinar de nos encontrarmos mais tarde numa boate, não

muito longe de onde trabalhamos, decidimos que não sairíamos sem encontrar uma

mulher para nos divertir, tanto eu como ele não queremos nada sério.

Já dentro da boate, tratamos logo de pedir nossas bebidas. Notamos

que essa noite estava mais lotada ou nós é que há muito tempo não vínhamos

aqui.

As coisas tinham melhorado, a boate está com um estilo muito

melhor e o espaço também estava maior, a área vip estava mais moderna. Após uma

hora que estávamos lá, meu telefone começou a tocar, um número que eu não

reconheci de primeira, mas como estava muito barulho pedilicençapara as duas mulheres que

nos faziam companhia e para o meu amigo, indo para uma área mais reservada.

— Alô.

— Senhor Guerra?

— Sim, sou eu.

— Encontramos seu irmão.

Eu não sabia o que responder, meu coração quase parou nessa hora.

Eu não sabia se dava graças á Deus por ele ter sido encontrado com vida. Eu não

consegui ter nenhuma reação.

— Senhor, ainda está aí?

— Sim, onde você o encontrou?

— Ele está vivendo numa vila em Águas Santas, na região norte de

Porto, na cidade de Portugal. Devo avisá-lo que seu irmão não parece nenhum

pouco com a foto que me deu, está muito mudado fisicamente. Ele está

trabalhando numa transportadora, como ajudante. Pelo que ficamos sabendo, ele

mora no mesmo lugar, em um dos quartos no fundo da transportadora. Não fala com

quase ninguém, algumas pessoas com que eu falei, me disseram que ele está lá há

quase dois anos.

— Quero que você me passe tudo o que descobriu. Irei viajar daqui

a dois dias para esse lugar, não quero que ele saiba que eu estou indo e, por

favor, não o deixe saber que está sendo observado, tenho medo que se ele

perceber possa sumir novamente.

— Irei mandar uma foto de como ele está neste momento.

— Ok. Até mais, fico no seu aguardo.

Quando volto para a mesa digo logo.

— Raffaelo o encontrou.

Mostro a foto que ele tinha me enviado. Falo todas as informações

que foram passadas pelo detetive. Meu amigo fica sem palavras, assim como eu.

CAPÍTULO 03 - Continuo vivo...

Oliveira

Olho em volta.

— Oliveira está tudo certo para a demolição do prédio?

— Sim! Sr. Antônio.

— Você já verificou se não há ninguém dentro do prédio? Aqui é um

lugar que as crianças gostam de brincar.

— Ainda não!

— Então como você diz que o prédio está pronto para a demolição? Váverificar agora.

— Sim, vou verificar agora! Vamos homens, cada um vai a um andar,

é para verificar tudo.

— Meu Deus do céu, o que é isso?

— Oliveira! Oliveira!

— O que foi homem?

— Tem um corpo aqui.

— Como assim tem um corpo aí?

— Tem um corpo todo amarrado pelos pés e braços, ele está todo

machucado, parece morto.

— Não mexa em nada, estou subindo.

— Só o que me faltava, encontrar um cadáver.

— Meu Deus, quem fez isso com esse pobre coitado, você

verificou se ele está mesmo morto?

— Eu não vou colocar a mão nele não! — diz, Joaquim.

— Tu é covarde por acaso? Nem parece que usa calça. Deixa-me ver.

Chego perto do homem, não sei se rezo para ele estar vivo, mais o

estado em que ele se encontra, duvido muito, coloco minha mão em seu pulso, não

encontro pulsação, não tem nada.

— Ele está morto, quem mata alguém desse jeito?  O cara apanhou muito.

— Joaquim, me ajude a tirar o corpo dele daqui.

— Não vou mexer em gente morta não.

— Então desça e avise o senhor Antônio que encontramos um corpo,

que vai ser preciso chamar a polícia.

— Sr. Antônio! Encontramos um corpo de um homem, todo amarrado e o

Oliveira verificou que ele está morto, tem que chamar a polícia. — nem termino de falar, escutamos os

gritos de Oliveira pedindo ajuda.

— Alguém me ajude aqui, ele está vivo.

— Suba Joaquim, leve mais homens,vou providenciar um carro para levá-lo ao hospital.

— Oliveira! Você não disse que ele estava morto?

— Eu o ouvi gemer, me aproximei e toquei seu rosto, ele gemeu

novamente, seu coração está muito fraco, por isso não consegui sentir quando o

toquei. Parece que ele começou a respirar novamente quando eu cheguei perto.

Esse homem, se ele conseguir sair do hospital vivo, vai ser um milagre.

Hospital

Dr. Amarantes

— Enfermeira! O que temos aqui?

— Doutor! Ele foi encontrado por trabalhadores de um prédio,

estava todo acorrentado, a princípio acharam que ele estava morto, mas disseram

que ele gemeu, aíresolveram trazê-lo, mesmo antes que a polícia chegasse, pensaram que talvez

ele não sobreviveria.

— Olhando para ele até eu estou duvidando.

— Ele foi encontrado desacordado, tem ferimentos pelo corpo todo,

já pedi uma radiografia e uma tomografia da cabeça, pelos ferimentos que ele

apresenta, levou uma forte pancada, o sangue está grudado por todo seu corpo.

— Elisa, peça para Júlio vir aqui, temos que tirar essa roupa

imunda e verificar o estado de seu corpo, e já prepare o soro, ele está

desidratado. Mande limpá-lo e agilize logos esses exames não temos tempo a

perder.

— Sim, senhor.

— O estado desse homem me parece bem grave. Quando

chegar às radiografias, leve-me imediatamente.

— Júlio, me ajude a limpar o paciente. Temos que levá-lo o mais

rápido possível para a sala de exame.

— Como uma pessoa faz isso com outro ser humano? Essehomem apanhou muito, seu

rosto está praticamente desfigurado, vamos rezar para que após esses inchaços

sumirem ele consiga ver novamente. Isso se ele sobreviver — diz Júlio.

— Com

licença, Doutor Amarantes.

— Pode

entrar!

— Estão aqui

os exames do desconhecido. Já o coloquei no soro.

Muito bem, vamos ver o que esse coitado quebrou.

Tem três costelas quebradas, por pouco não perfurou

seu pulmão, seu braço direito está quebrado, sua perna esquerda foi quebrada.

Vamosver o que diz a tomografia craniana.

Aqui está — a enfermeira me entrega.

Pego os exames na mão e começo minha avaliação.

— Ele apresenta um quadro de hematomas intracraniano, causado pelo

acúmulo de sangue dentro do cérebro, por causa das pancadas na cabeça, o caso

dele não é muito grave, ainda bem. Vamos colocar ele em coma

induzido, essa é nossa única opção e vamos rezar para que ele volte do coma com todas suas funções motoras intactas, apesar de estar

com tantas lesões — olho a enfermeira em minha frente. — Euquero deixar ele por um período maior, até todo seu rosto

voltar ao normal para constatarmos que não houve lesões também na sua visão, só

saberemos quando ele acordar. As pessoas com traumatismos cranianos, mesmo não

sendo graves, poderão perder a consciência ou ter sintomas de disfunção cerebral.

— Doutor, será que ele é um criminoso e alguém quis acertar as

contas? Porque no estado que ele chegou, todo sujo e fedendo.

— Não estamos aqui enfermeira para julgar ninguém. Se

ele for ou não uma pessoa ruim, é nosso dever cuidar dele, foi isso que nos

ensinaram na faculdade, você já deveria saber disso e não ficar julgando quem entra

no meu hospital — a repreendo. — Peça para que

o ortopedista veja as fraturas do braço e da perna, devemos fazer a cirurgia

enquanto ele estiver em coma, será muito mais fácil, assim não vai ser

necessário esperar ele acordar, e causar mais dor ao paciente. Eleficará em coma por 48 horas, assim dará tempo do inchaço

de seu rosto melhorar um pouco e o efeito da cirurgia passar.

Com 48 horas o paciente foi retirado do coma, aparentemente não havia nenhum dano no cérebro,

mas só saberíamos com exatidão quando ele acordasse. Os sedativos foram retiradosgradualmente, seu rosto já não estava tão inchado.

Três dias depois

Anthony Guerra

— Olha só! O paciente mais bonito desse hospital acordou. Meu nome

é Elisa, sou a enfermeira que está

cuidando de você. Você consegue falar? Se não conseguir não tem problema, apenas tente balançar um

pouco a cabeça que eu entenderei. Sabe que você nasceu de novo, não é bonitão?

— Onde estou? — minha voz é fraca.

— No hospital de Braga!

— Por favor, me dê água — peço, minha garganta está arranhando.

— Vou molhar apenas seus lábios, você não pode beber nada ainda. Não se mova, porque está

todo enfaixado e não tente mexer muito sua cabeça. Você foi trazido há três dias, seu estado não era muito grave,

felizmente as pancadas que sofreu, não levou você a um trauma mais grave. Após tirar você da sedação, o

médico viu que os danos foram leves. Mas, temos que refazer alguns exames para

saber como está sua coordenação motora, o seu olho esquerdo está muito inchado, vamos esperar ele melhorar para avaliar se sua visão

está boa. Pelo visto sua fala não foi comprometida, você chegou aqui com três

costelas quebradas, por pouco não perfurou seu pulmão. Suaperna esquerda estava com fratura exposta e o braço

quebrado em dois lugares, foi feita cirurgia para colocar tudo no lugar, por um

tempo você não poderá andar, terá fisioterapia, mas penso que não será por

muito tempo. Pode me dizer o que aconteceu?

— Não.

— Pode pelo menos pode me dizer o seu nome?

— Anthony.

— Lindo nome! Combina com você, vou

chamar o médico, já volto. Bem-vindo de volta

bonitão.

A enfermeira que fala mais que tudo sai e eu respiro com

dificuldade. Um tempo depois um homem de brando entra no quarto.

— Boa tarde! Como está se sentindo? — o médico me cumprimenta e

pergunta. Apenas aceno com a cabeça e ele continua. — Sou o Doutor Amarantes,

fui responsável pelo seu atendimento. Aparentemente não houve danos

permanentes, mais teremos que fazer  mais

alguns exames para ter certeza, sua perna tinha uma fratura exposta, tivemos

que colocar no lugar e foram colocados alguns pinos, tanto na perna quanto no

seu braço que foi quebrado em dois lugares, mas fora isso, espero que esteja

tudo bem — ele olha uma prancheta. — Vou recomendar que passe por um psicólogo

do hospital, conforme a enfermeira me comunicou, você não deseja falar sobre o

ocorrido, isso é um direito seu, mas eu acho bom falar com alguém e não guardar

isso dentro de você, posso imaginar tudo que passou pelo estado que chegou

aqui, falar com um profissional será muito bom, não precisa falar nada na

primeira consulta, mastente. Bem, volto depois dos seus exames e falaremos, mas, qualquer coisa é só

chamar a enfermeira Elisa.

O médico verifica o soro e sai. Fecho meus olhos, não quero

pensar, apenas dormir, mas acabo lembrando quando acordei aqui...

Ouvi vozes, não parecia

ser daqueles malditos, tentei me mexer mais não consegui, estava numa escuridão

total, nunca fui homem de temer nada, já fiz muita merda na vida, mais essa foi

a pior, senti alguém se aproximar, sei que falou alguma coisa, mas não consegui

entender, depois caí na escuridão novamente.

Lentamente abri meus

olhos, não queria que eles percebessem que eu estava vivo, já que a intenção

deles era acabar com minha vida. Vi que estava num quarto todo branco, tentei

olhar para o lado e vi uma mulher mexendo em alguma coisa. Vi que ela se

assustou quando perguntei onde estava, não imaginaria que estaria num hospital,

o que será que aconteceu? Elesqueriam me matar, porque

vim parar aqui?

 Eu fiquei furioso com o relato da enfermeira

de como eu fui encontrado, não consegui me mexer naquele momento e não estava

enxergando direito, minha vista estava embaçada.

Saio de minhas lembranças, voltando o presente com uma questão em

mente. Como vou conseguir voltar para casa e contar o que me aconteceu, eles já

me odiavam, se eu aparecer lá desse jeito vai ser pior. Tenho quetomar uma decisão, se eles

não me acharam até agora, é melhor eu continuar sumido, com certeza o meu pai

já colocou meu irmão no meu lugar, não sou mais necessário.

Ficarei aqui por um tempo e vou usar isso ao meu favor, já

que não tenho lugar algum para ir, além do mais ainda tenho que fazer fisioterapia,

o que com certeza vai ser por uns dois meses, assim eu espero.

Quatro meses depois.

Finalmente estou bem, ainda sinto dores de cabeça, o médico disse

que era normal por causas das pancadas que levei e que por um tempo iria sentir. Receitou-me vários remédios, caso sinta dores pelo corpo e principalmente na

cabeça, no período que eu passei dentro do hospital, fui tratado muito bem,

principalmente pelas enfermeiras, os homens me olhavam com raiva, acho que é

porque mesmo todo quebrado, eu ainda chamava muita atenção.

E isso só me confirmou que mulheres são todas iguais, não pode ver

um homem que já dão em cima, elas nem imaginam que para mim agora, mulher vai

ser apenas meu depósito de esperma, que apenas me darão prazer e nada mais. Eu

aprendi muito bem a minha lição.

Quase todas as noites eu tenho o mesmo pesadelo, toda a cena era

vivida e revivida várias e várias vezes. Em alguns momentos, tinha crises

nervosas, que os médicos não souberam o motivo, tinha dia que eu levantava bem

e em outros acordava muito agitado. Sentia ódio, raiva e queria sair socando

tudo e todos, em um dia, eu não me controlei e acabei quebrando o nariz de um

dos enfermeiros.

E, mesmo passando pelo psicólogo, eu não consegui falar sobre o

assunto, tinha vergonha de expor tudo que aconteceu. Não

quero que ninguém saiba pelo que passei, seria vergonhoso demais. Além de tudo,

não tenho paciência para isso, odeio falar sobre mim, existem coisas que eu

quero manter bem escondido, não vou conseguir falar de algo que vai me

perseguir pelo resto de minha vida, jamais confiarei em outra pessoa.

Agora que saí, não sei para onde irei. Segundo o que me informaram no

hospital, estou numa cidade em Portugal, não faço a menor ideia de como vim

parar aqui, só me lembro de ter tomando alguma bebida que ela me deu ede ter acordado naquele lugar imundo, sendo espancado. Meu

dinheiro todo foi roubado, ainda bem que eu tinha perdido todos os documentos

ou também saberiam quem eu era de verdade e poderiam chantagear minha família,

apanhei mais por não ter dado esse tipo de informações para eles.

Saio andando pela rua, não sei nem por onde começar a andar, não

tenho dinheiro e não poderei me hospedar, isso se esse inferno de lugar tiver

um hotel bom, o que não me parece, sento em um dos bancos numa praça próxima ao

hospital, vejo muita gente assim como eu, sem ter o que fazer, fico por meia

hora e resolvo continuar andando, para num farol e ao olhar para o lado, vejo

uma senhora que quase foi atropelada.

— A senhora se machucou?

— Não! Eu estou

bem, eu não vi o carro.

— Consegue se levantar?

— Você pode me ajudar.

— Sim!

— Pronto! Vou te

ajudar a atravessar, tudo bem?

— Sim, obrigada! Você é um amor, querido.

— Aqui estamos — digo quando já estamos do outro lado. — A senhora

está bem mesmo, posso levá-la até sua casa?

— Se não for incomodar, eu gostaria sim. Não tenho mais tanta força como

antes.

Apoio

seu braço no meu e seguimos em silêncio. Quando chegamos e ela aponta onde

mora, eu falo.

— Está entregue.

— Meurapaz

— diz sem soltar meu braço. — Quero que entre e tome um café comigo, é o meu

modo de agradecer o que fez com essa velha aqui.

— Não é necessário, não poderia ver a senhora quase ser atropelada

e não fazer nada.

— Nada disso, euinsisto em que entre.

— O meu nome é Vanda, e o seu?

— Anthony.

— Eu conheço quase todos dessa pequena cidade, mas não me lembro

de ter visto você por aqui, está de passagem ou moramais afastado da cidade?

— Nenhum e nem outro, eu estive internado por quase quatro meses,

eu tinha acabado de sair do hospital quando a encontrei, ainda não sei o que

irei fazer da vida, vou procurar um emprego e tentar achar algum lugar para

morar, sei que não vai ser fácil, já que eu não conheço essa cidade.

— Eu acho que posso te ajudar com o emprego, se você não se

importar em trabalhar com coisas pesadas, tenho um filho que é dono de armazém

de carga e descarga, tenho certeza que lá terá uma vaga e se não me engano, nos

fundos tem alguns quartos que ele alugaparaos seus funcionários, porque muitos vêm de

outros lugares e muitas vezes não tem lugar para ficar, porque aqui não tem

hotel, apenas pousadas.

— Eu não ligo para isso, eu quero mesmo é trabalhar e ter um lugar

para ficar.

— Então pode ficar aqui até ele chegar, assim vocês conversam e

fica tudo resolvido.

— Muito obrigada! Nem sei como agradecer a ajuda que a senhora está me dando.

— Pode me agradecer sempre vindo ver essa velha aqui, sei que

vocês, osmaisnovos, não gostam de conversar com pessoas velhas, mas eu adoraria que viesse.

— Não se preocupe senhora, eu virei sempre que eu puder e eu não me importo que seja de

idade, se todos os jovens tivessem a sabedoria que os mais velhos têm, talvez

não fizéssemos tantas burradas na vida.

Passei a tarde toda conversando com dona Vanda e quando o seu

filho chegou, ela contou minha historia sobre o hospital e como a ajudei, disse

para ele que eu estava necessitando de um emprego e de um lugar para ficar.

Ele falou que tinha uma vaga e que o cargo era de carregador, que

não teria outro no momento, que também tinha um quarto vago, que não era muito

grande, mas que era mobiliado e que eu só precisava levar minhas coisas que

estaria tudo certo.

Eu não quis contar que eu só tinha as roupas que estavam em meu

corpo, mas parecendo que a senhora Vanda lia a minha mente, ela me entregou

algumas roupas de seu filho, que não serviam mais nele e dois pares de sapatos,

dizendo que quando eu tivesse meu primeiro salário, poderia comprar roupas

novas. Nesse mesmo dia eu fui para o armazém, começar ali, o meu novo futuro. O

que minha família acharia disso? Nãoirei mais ser chamando de irresponsável, já que agora eu

mesmo me sustento.

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