Nove anos antes...
Fogo! Havia muito fogo, as chamas
tinham tomado toda a minha casa, eu não entendia, mas como aquilo estava
acontecendo? Eu tentei sair correndo, mas fui segurada pelos braços por uma
policial, impedindo minha passagem. Ela não entendia, eu tinha que entrar,
precisava ajudar.
― Minha mãe
está lá dentro, por favor, deixe-me ir, preciso ajudá-la.
― Não pode
criança. Não pode...
―
Por favor... ― implorei.
― Não tem
como alguém ter sobrevivido a tantas chamas ― falou outra
pessoa ao seu lado.
― Minha...
Minha mãe morreu? ― minha voz estava embargada. Eu podia ver
o fogo, mas não acreditava que aquilo estivesse acontecendo, não com a minha
mãezinha.
― Provavelmente
sim! Só saberemos com certeza quando for possível entrar e verificar com a
equipe de perícia. Tinha mais alguém que morava com vocês?
― Meu
padrasto, ele também estava em casa hoje.
― Vamos,
vou te levar para a delegacia, lá poderá ligar para alguém.
― Não tenho
mais ninguém, todos morreram.
― Eu sinto
muito, menina.
Era
quase certo que todos tenham morrido no incêndio.
Agora
eu estava sozinha no mundo, sem ninguém.
Seis anos antes...
― Bom dia amor!
― Bom dia! Como estão as mulheres
de minha vida?
― Estamos muito bem!
― Tenho que fazer um projeto para
uma grande empresa, eu vou ter que ficar fora por dois dias, sentirei muita
falta das duas.
― Quando será essa viagem?
― Pretendo ir amanhã cedo, assim
estarei de volta no final de semana.
Levantamo-nos e depois de fazer
nossa higiene, tomamos banho, assim que estávamos prontos, descemos para tomar
café.
Saí para trabalhar, estava muito
feliz, apesar de o meu casamento ter passado por muitas brigas e ciúmes de
ambas as partes. Quando Sara descobriu a gravidez, ela mudou totalmente,
tornando-se muito mais atenciosa e carinhosa, no começo até estranhei, mas com
o passar dos meses, vi que a gravidez lhe fez bem.
Os dias se passaram rapidamente. A viagem tinha
sido produtiva, consegui montar todo o projeto e ainda consegui que a minha
equipe o realizasse em menos de um ano, a minha empresa tem a estrutura para
fazer desde o acabamento, jardinagens e compras de móveis, combinando assim,
com todo tipo de ambiente, por esse motivo somos muito requisitados.
Desço na garagem de casa, e assim
que abro a porta, sinto o silêncio do ambiente, vou andando e a chamo.
― Sara,
cheguei amor.
Não tive resposta, então resolvi
subir até o nosso quarto, quando eu abri a porta, o lugar estava todo revirado,
as minhas roupas estavam jogadas por todos os cantos, fui ao seu closet e
estava totalmente vazio, segui para o outro lado onde ficavam minhas roupas e
percebi que o cofre tinha sido aberto e que tudo que estava dentro dele, tinha
sumido, em cima do criado mudo havia um pedaço de papel.
"Eu tentei, mas não consigo mais fingir,
não me procure, eu nem sei se essa criança e realmente sua".
DEDICATORIA
A vida,
por mais dura que seja nunca devemos desistir dela.
As
minhas leitoras que sempre estiveram ao meu lado, mesmo quando pensei em
desistir, e por fim, a minha filha e ao meu genro, que estiveram ao meu lado
quando tudo parecia escuro.
Saio do meu quarto e mais uma vez
tinha passado da hora de me levantar, o silêncio me diz que minha filha ainda
não acordou, mas não encontro Pedro na cama. Vou ao banheiro fazer minha
higiene e assim que termino, me arrumo e, saio do quarto, mas quando eu chego
ao corredor, vejo Pedro sair do quarto de minha filha, o que me deixa
desconfiada e como ele está se arrumando, ou melhor, arrumando sua calça,
espero ele descer e entro no quarto de Bia, não a vejo na cama, que está uma
bagunça só, escuto o chuveiro, vou até o banheiro e quando chego, posso ver que
ela está chorando, sigo em passos lentos e abro o box, o que vejo me deixa
horrorizada, minha filha tem marcas por todo o corpo, seu olhar para no meu e
suas lágrimas continuam caindo.
―O que aconteceu Bia?
― Não foi
nada, mãe!
―
Como assim
não foi nada, Beatriz? Que marcas são essas pelo seu corpo?
― Não, por favor, esquece isso
mãe!
― Quero que me conte o que está
acontecendo, eu vi o Pedro sair do seu quarto, se arrumando.
― Eu não posso contar mãe! Se eu
falar, ele vai matar nós duas como ele matou o papai.
― Do que você está falando?
― Ele disse que foi ele que matou
o meu pai, porque ele tinha descoberto o que ele fazia, e como ele iria à
polícia contar e por isso que ele mexeu nos freios do carro e meu pai não
conseguiu parar.
― Filha, eu quero que me conte
tudo o que ele vem fazendo com você e desde quando isso acontece.
Minha filha me olha e começa a
dizer que desde antes de Pedro vir morar com a gente que ele passava a mão
nela, que depois do casamento, ele foi ao seu quarto na nossa primeira noite, e
isso não parou mais, e que vem acontecendo há dois anos, quando ela tinha
apenas 13 anos.
A dor que estou sentindo nesse
momento não tem como ser descrita, o meu peito aperta tanto. Como isso pode ter
acontecido dentro da minha própria casa e eu não ter percebido?
Depois que o João morreu, o Pedro
se tornou alguém muito importante em nossas vidas, sempre estava presente e
quando ele me pediu em casamento, eu só pensei que a nossa vida poderia mudar,
eu conseguiria manter a nossa casa e manter os estudos de minha filha, sem ser
preciso tirá-la da escola particular, fiz isso pensando em seu bem-estar, mas
agora vejo que errei. Nunca imaginei que o Pedro poderia ser esse monstro.
― Filha, termine seu banho e se
arrume para escola, que eu já venho arrumar suas coisas ― passei a mão em seu
rosto. ―Não se preocupe, isso vai terminar hoje, e me
desculpe, eu nunca imaginei que você estava passando por isso e me sinto
culpada.
Saí do seu quarto e fui até o
meu, eu não conseguia chorar, o bolo que se formou em minha garganta deixava
até mesmo as minhas lágrimas presas. Vou até onde ficam as nossas
documentações, pego tudo, o cartão do banco com os dados da conta corrente onde
era depositado o valor todo mês da pensão do meu marido, o cartão da poupança
que ele fez para a faculdade de nossa filha, tudo que pudesse dar a ela uma
vida digna. Com isso ela teria algo para começar a viver novamente. Sigo de
volta para seu quarto, quando chego, vejo que ela já está arrumada, vou até a
sua mochila e coloco tudo bem escondido, por cima deixo seu material escolar.
― Filha, depois de pronta, desça
para tomar seu café, vou pegar algo dentro do meu quarto e já desço, deixe que
eu leve sua mochila quando descer.
― Está bem, mãe!
Vou para o meu quarto, pego uma
folha e a caneta. Fico um tempo pensando como começar o que preciso dizer. Não
posso demorar muito, por isso me apresso.
Filha, quando você nasceu foi o melhor
presente que Deus nos deu, ficamos tão felizes com a sua chegada, a felicidade
de seu pai ao te pegar pela primeira vez, foi inesquecível.
Ver você crescendo e se tornando o nosso motivo de
viver, era a nossa alegria. Quando seu pai nos deixou, imaginei que me casando
com outro, eu a continuaria dando o mesmo conforto, mas hoje vi que me enganei,
vejo que errei ao colocar um monstro dentro de nossa casa, mas, eu juro que ele
nunca mais irá tocar em você novamente.
Perdoe-me filha, e nunca se esqueça de que
tanto eu, como seu pai, sempre te amei muito, estou deixando junto com essa
carta uma foto nossa para que toda vez que você sentir saudades, a olhe e nunca
se esqueça da gente.
Eu a amo muito, e espero que você encontre uma
família que possa te dar todo o amor que você precisa para continuar sua vida,
espero que esses dois anos que sofreu calada possa ser apagado de sua memória,
e que seja forte para enfrentar qualquer obstáculo que a vida colocar em sua
frente novamente, seja uma mulher forte e determinada.
Eu sempre estarei com você por toda sua vida.
Beijo meu anjinho e perdoe essa mãe que a ama
mais que tudo.
Com todo o meu amor, sua mãe.
Dobro a carta e saio novamente do
meu quarto, entro no dela e pego sua mochila, deixo a carta com os documentos,
fecho e começo a descer as escadas, vou até a cozinha, onde a encontro e Pedro
tomando café. Olhar para aquele monstro me dá nojo, mas eu não posso demonstrar
que sei o que ele fez, senão o meu plano não dará certo.
― Bom dia amor! ― saúda quando me
vê.
― Bom dia ― respondo o mais
natural que consigo.
― Hoje eu vou trabalhar só à
noite, passarei o dia em casa, é bom ficar com a minha mulher.
― Fico muito feliz por ter você
em casa o dia todo.
― Sabia que ia gostar, pena que a
Bia tem que ir para a escola ― ele olha para ela e minha raiva aumenta.
― Ela não pode faltar, hoje tem
aula importante, não é Bia?
― Sim mãe!
― Como você ficará em casa hoje,
pode escolher o almoço que quiser, eu faço.
― Gostei, quero comer carne de
panela, amo muito quando você faz.
― irei fazer e farei também um
puré de mandioquinha que sei que gosta também.
― Então, hoje eu terei o melhor
almoço de todos ― diz ele.
Você nem imagina, penso dando um
sorriso sem mostrar os dentes.
― Com certeza meu amor, esse
almoço será o melhor de todos.
Vejo minha filha se levantar da
mesa, ainda triste, ela vai para o seu quarto escovar os dentes, volta e pega
sua mochila, se despede de Pedro que a abraça forte, passa a mão pelo seu
rosto, se levanta e sai da cozinha, essa cena me dá nojo. Ela vem até a mim, eu
a abraço, me seguro para que as lágrimas não caiam, pois esse será o último
abraço que darei a minha filha.
Vou com ela até a porta, segurando sua mão e quando
vejo o carro da escola parado na porta, me viro para ela e digo.
― Nunca se esqueça de que eu a
amo, independentemente de qualquer coisa, não me julgue, você é o melhor
presente que Deus nos deu.
― Por que está falando assim,
mamãe?
― Por nada meu amor. Agora vá...
Ela se afasta e entra no carro
escolar. Vejo-o sair e agora eu deixo as lágrimas caírem, e respiro fundo,
volto para dentro de casa, limpo meu rosto, vou arrumar os quartos, depois
desço e vou preparar o almoço.
Depois de pronto, vou até o
armário de limpeza e pego um frasquinho que tem lá, despejo todo o seu conteúdo
na carne, espero um tempo para que o conteúdo do frasco incorpore à comida,
hoje até pimenta eu coloquei para que nada fosse percebido. Arrumo a mesa, e
vou até a sala onde ele está assistindo televisão.
― Amor, o almoço já está pronto e
servido na mesa ― ele abre um sorriso para mim. Não correspondo, em vez disso,
digo. ― Como estou com muita dor de cabeça, irei me deitar e só vou almoçar
quando a Bia chegar, você se importa de comer sozinho?
― Não me importo! Pode se deitar,
depois que comer, eu arrumo a cozinha, e quando a Bia chegar, eu mesmo vou te
chamar.
Vou para o quarto, me sento na
cama e espero por uma hora, estou muito nervosa, mas não vejo alternativa. Saio
do quarto, vou descendo as escadas devagar e quando chego à cozinha, o vejo
ainda se debatendo no chão, olho para ele, não consigo sentir pena.
O que ele fez com minha filha não
tem perdão, antes de fechar seus olhos definitivamente, ele me olha, mas a
minha dor é muito maior em saber que ele matou meu marido e abusou de minha
filha por dois anos, isso acabou comigo. Ando até a pia, pego um copo com água,
ligo todas as bocas do fogão, pego uma vela na gaveta, saio da cozinha e subo
as escadas em direção ao meu quarto. Quando chego, abro a gaveta da cômoda, e,
pego três comprimidos e tomo todos de uma vez só, vou até um canto e acendo a
vela em cima da mesinha, me deito. Só espero que o remédio faça efeito antes
que as chamas cheguem até a mim.
Agora eu realmente vou encontrar
quem realmente amei e que nos amou, sinto os meus olhos se fechando e ao mesmo
tempo posso sentir o calor se apoderar do quarto, agora não tem mais volta, só
peço a Deus que cuide de minha filha. A escuridão toma minha vida, estou em
paz.
Ver aquela criança tão desesperada
tentando ajudar sua mãe em meio ao fogo me comoveu, e mais ainda quando ela me
contou que não tinha mais ninguém no mundo, sou policial a mais de 15 anos, já
vi muitas famílias destruídas, muitos pais ficarem sem seus filhos, e muitos
filhos ficarem sem seus pais. Sempre me emocionou muito tudo isso, mas essa
menina tinha um olhar expressivo, que mostrava que sua dor não era apenas por
perder sua mãe, que tinha algo a mais.
Depois que chegamos à delegacia,
ela ficou em um canto com seus pensamentos perdidos, tive que entrar em contato
com a assistente na Central de adoção, um dos órgãos que fica dentro do
Ministério da criança, localizado em Ontario. Ela deveria encontrar alguém que
pudesse tomar conta dessa menina. Depois de esperar quase duas horas, a representante
enviada pelo Ministério, chega.
― Boa noite Roseli!
― Boa noite Stella! ― saudei. ― Stella,
a menina se chama Beatriz Ferreira, ela perdeu hoje, a sua mãe e o padrasto,
segundo ela, o seu pai faleceu há quase três anos, sua mãe era brasileira, e
veio para o Canadá à procura de emprego, e foi aqui que ela conheceu o seu
marido, sei que nesses casos, vocês tentam achar alguém de sua família e se não
encontrar, ela irá para adoção. ― ela apenas assente com um meneio de cabeça e
eu continuo. ― Mas Stella, sabemos que com a idade dela, será muito difícil
alguém a adotá-la, então, eu sou uma mulher sozinha, se os familiares dela não
forem encontrados, eu gostaria de entrar com o processo de adoção.
― Com certeza, Roseli. Com essa
idade é quase impossível achar alguém que a adote, tentarei fazer o processo o
mais rápido possível e comunicarei ao juiz de menores, caso a família dela não
for encontrada, recomendarei que ela fique em um lar provisório, com você no
caso, e que você tem interesse em adotá-la definitivamente.
― Eu agradeço muito.
― Como você é uma pessoa
conhecida, o processo pode ser mais rápido, e como o juiz está querendo que as
crianças dentro da instituição, sejam todas adotadas, e, por esse motivo, os
processos não estejam demorando tanto. Também tem a questão do apoio financeiro
que o governo dar nesses casos para ajudar com as despesas até que ela esteja
com a maior idade.
― Quando a ajuda financeira, não
será necessária. Mas se conseguir que ela venha ficar comigo, isso será ótimo.
Agora vou apresentá-la ― olho para a menina que continua no mesmo lugar. ― Beatriz,
pode vir aqui um momento, por favor?
Ela me olha e se levanta sem
muita vontade. Deve estar assimilando tudo ainda.
― Olá Beatriz ― Stela a
cumprimenta com um sorriso.
― Essa é Stella, ela ficará
responsável por você, vai tentar localizar alguém da sua família, se não
encontrar, será colocada para adoção. Eu quero muito adotar você, mas só se
você quiser, porque com sua idade, o processo de adoção é muito difícil, as
pessoas preferem crianças menores.
― Se não encontrarem ninguém da
minha família, a senhora me adotaria?
― Sim!
― Eu quero!
― Então vamos esperar, mas, hoje
você precisa ir com a Stella para uma casa de apoio, eu vou visitá-la todos os
dias, assim podemos nos conhecer melhor, o que me diz?
― Eu vou gostar muito de conhecer
a senhora melhor.
― Quero que me chame de madrinha
e não de senhora, e eu vou te chamar de Bia.
― Sim, madrinha.
― Vou vê-la amanhã, se precisar
de qualquer coisa, é só me pedir.
Stella segura em sua mão e as
vejo sair pela porta, essa menina me emocionou de um jeito que eu não sei
explicar. Término meu turno e vou para casa, e assim que eu chego, sou recebida
por Pitoco, o meu cachorrinho, meu único companheiro. Vivo sozinha há muito tempo,
tive vários relacionamentos, porém, os homens só quiseram me usar, nunca houve
um que quisesse nada sério, por isso, me dediquei a minha carreira. Hoje, sou a
Segundo Tenente do Distrito policial, ganho muito bem, e nem sempre faço
trabalhos nas ruas, mas como dois policiais faltaram hoje, tive que ir no lugar
deles, acho que foi Deus, porque só assim, eu conheci a Bia.
A semana se passou, e conforme
Stella me falou, não encontraram nenhum parente vivo da mãe da Bia, ela foi
colocada no sistema para adoção, mas como eu já tinha entrado com o processo,
teria que aguardar a decisão do Juiz e nem tudo correu como esperávamos, pois a
Bia não pôde ir para um lar provisório como pensamos à princípio, e tivemos que
esperar todo processo judicial, só através disso que o processo de adoção será
feito. Nesse caso, agora era esperar o Juiz liberar. Se eu fosse aprovada,
conseguiria adotar qualquer criança que tivesse no sistema, tanto na minha
cidade, como em outra, mas eu estava determinada em ajudar a Bia, talvez no
futuro, eu adotasse outra.
O processo demorou mais de seis
meses, foi necessário pesquisar no Brasil, se realente a mãe da Beatriz não
tinha nenhum parente vivo que pudesse ficar com sua guarda. O juiz tentava de
todas as maneiras, ajudar as crianças que estava há muito tempo no sistema, por
isso, logo eu levaria a Bia para minha casa.
Eu arrumei tudo para que ela se
sentisse bem comigo, fui fazer compras, montei seu quarto, onde antes era o meu
escritório, deixei o quarto com cara de menina. Comprei roupas e a matriculei em uma escola militar, onde eu estudei e
ficava mais perto de casa, ela não precisaria pegar transporte. E o dia de
buscá-la tinha chegado, aqui estou eu na porta esperando ela ser trazida pela
Stella, meu coração está batendo forte, nesse tempo que passamos juntas, eu
descobri a menina meiga e inteligente que ela era, mas ainda tinha alguma coisa
que ela escondia, não sei se é pelo fato de estar totalmente sozinha no mundo,
ou se existe outra coisa, mas deixaria que ela mesma me conte quando se sentir
a vontade. A espera durou quase vinte
minutos, e quando ela apareceu, seu sorriso me mostrou que ela tinha mesmo me
aceitado como sua madrinha, a pessoa que iria cuidar dela.
― Está pronta para conhecer a sua
nova casa?
― Sim, estou, madrinha.
Agradeci a Stella, e seguimos
para a nossa casa, e assim que chegamos, ela olhava tudo com curiosidade, até
que Pitoco apareceu e fez a festa com ela, os dois se deram muito bem. Fui
mostrar o seu quarto, mostrei também as roupas e os calçados que tinha comprado
e disse que se ela não gostasse de nada, que poderia trocar, falei da sua nova
escola, disse que tinha mudado o meu horário de trabalho, pois, eu queria
passar mais tempo em casa, antes não tinha o porquê, mas agora com ela, eu
achava necessário. Ela foi até a cama, abriu a mochila e me entregou a carta
que sua mãe tinha deixado para ela, também tinha sua documentação e cartões de
bancos, eu disse que não íamos precisar mexer em seu dinheiro, que eu tinha
como nos sustentar, e que ela deixasse isso para quando fosse fazer sua
faculdade.
Depois que eu li a carta, o que eu
desconfiava veio à tona, existia sim, algo que a Bia não tinha me contado, e
pelo que vi, a sua mãe cometeu suicídio explodindo sua casa, mas, eu não iria
falar isso para ela, mas no dia seguinte, eu pediria para que o departamento
especializado em investigação verificasse tudo sobre sua família, inclusive
sobre seu padrasto.
― Bia, eu não arrumei as coisas
no seu closet, porque queria que olhasse uma por uma, você pode fazer isso, aí
se não gostar de algo, é só separar que vamos amanhã mesmo trocar, arrume como
você quiser, eu comprei tudo que achei necessário, mas se faltar qualquer coisa,
me avise ― ela apenas sorriu, olhando tudo. ― Vou fazer o nosso almoço e depois
se não tiver terminado, posso te ajudar.
― Farei isso, madrinha.
Ela tira de dentro da mochila uma foto, nela está
sua mãe, seu pai e ela, vejo que ela fixa o seu olhar e não demora muito as lágrimas
caem pelo seu rosto, vou até ela, sentando na cama e a abraço.
― Não chore, eles sempre vão
estar com você, mesmo não estando aqui de corpo, mas o amor de pai e mãe nunca
muda, mesmo eles não estando aqui, e eu tenho certeza depois que li a carta,
que sua mãe jamais vai te abandonar.
― Eu sei madrinha, mas eu sinto
tanta falta dela, eu não entendo como foi que minha casa pegou fogo, eu já não
tinha meu pai e Deus levou minha mãe também, eu fiquei sozinha, se a senhora
não me adotasse, eu iria ficar no orfanato até aparecer alguém para me adotar,
e lá eu vi muitas crianças com a mesma idade que a minha, que ninguém queria.
― Não fale assim. Deus sabe o que
faz, se sua mãe teve que ir embora, foi porque era a hora dela, Deus nunca faz
seus filhos sofrerem, todas as nossas dores têm sempre um motivo, seja para nos
tornar uma pessoa melhor ou como forma de lição. Foi preciso que sua mãe
morresse para que eu adotasse você, até eu encontrá-la, nem tinha pensado nessa
possibilidade, é por isso que eu digo que Deus sabe sempre o que faz.
― Por que nunca quis adotar
ninguém?
― Esses dias eu pensei nisso, mas
não encontrei nenhuma resposta, acho que não era o momento, eu sempre vivi
sozinha com o Pitoco, mas acho que estou ficando velha e preciso de companhia,
e você apareceu no momento certo.
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