Capítulo Um
Recomeço
O festival de espadas começa amanhã e, com ele as lembranças de Will, de seu sangue derramado. Depois de tudo que me ocorreu, comecei a colecionar espadas. Parece um hobby agora. As vezes aposto espadas. Para ganha-las. Jogo sujo, para aliviar minha mente que lembra-me que sou uma mortal.
Thalya estar parada em frente a porta, conversando com seu namorado humano. Não desconfiam que ele seja humano, Thalya se mostrou ótima pessoa em esconder segredos e, eu me tornei ótima em não contá-los.
Passo para o meu quarto, onde estão minhas espadas, em uma parede. Minha preferida é Zara, uma espada ótima para luta, onde tem uma pintura fosca, tem meu nome nela, assim como as outras.
Estou treinando sem parar durante semanas. Semanas que parecem voar por serem rápidas demais.
— Não vai para a escola? (Thalya aparece com os olhos avermelhados, mas finjo que não notei isso).
— Estou indisposta hoje. (Eu sento na mesa da escravidinha e, começo a tentar escrever, passo todos os dias assim, escrevendo cada sentimento, poderia está escrevendo para Will, para Ester. Mas não posso. Então continuo escrevendo para alguém que não vejo, não converso, nem ao menos sei quem é.
Não existe.
Thalya suspira pesadamente e eu a encaro, ela está tentando não falar mais do que deveria, sei que está, acontece que, Thalya teve uma discussão com Denys, por falar demais. Ela está tentando mudar e vejo como está sendo duro para ela.
— Eu vou ouvir, Thalya. (Minhas palavras a deixa aliviada, ela então toma de volta o ar que estava segurando).
— É sempre assim, você não faz nenhum esforço, vem sendo assim durante meses. Sabe quantos meses você ficou sem ir para escola até agora? (Vejo-a dar um breve suspiro, segurando denovo, tentando conter as palavras).
— Prometo que irei amanhã, eu não venho contado os dias que faltei.
Thalya olhara para meu rosto, olhou para minhas mãos que não me obedeciam e, sempre estavam balançando. Mais e mais.
— Por favor, cumpra.
Não tenho prestado a atenção para Thalya esses últimos meses, cada vez mais os cômodos parecem mais largos, nos separam a cada minuto que se passa. E essa última conversa durou mais que as anteriores, não sei como conseguimos viver parcialmente, duas pessoas que moram juntas, mas que não trocam palavras, que bizarro.
Passo novamente os olhos para a escravidinha e, começo a escrever. Como se não bastasse, escuto fogos, sendo direcionados em direção a nossa casa. Lucas está dentre eles, com um sorriso diabólico no rosto, Amélia também estar, Benis é o único que não está, Rocke solta mais fogos de artifício.
Olho pela janela e, vou até lá, acabar com essa palhaçada, já me cansei disso.
Pego uma jaqueta e vou para a porta, pego também, outro artifício, vou fazê-los pagarem pela mesma moeda.
— Que merda é essa? (Falo olhando em volta, o jardim está coberto por púrpura, a lua está refletindo um tom cinzento na grama, nas roupas dos idiotas. Costumo me referir a eles assim.
Idiotas.
Amélia_ Precisamos soletrar? (Amélia pegara outro fogo, e o solta para cima, suas gargalhadas são encobridas pelos estouros do fogo).
— Por que não soltam em outro lugar? (Vejo-a dar um breve sorriso, passa por Lucas, que a encara com dúvida).
— Porque queremos soltar fogos aqui. E você não pode fazer nada para impedir. (Diz Lucas com uma prévia, aproveitando-se da ideia de ser irmão do rei, um rei humano, que patético).
— Posso. (Minhas palavras foram quase que um sussurro, mesmo que eu não queira tenho medo das consequências que eles podem dar).
Lucas_ Como? Não vai me dizer que você conseguiu algum encantamento. (Ele ri como autoritário, mas suas palavras foram fáceis demais para atingir o alvo, ele entregou uma flecha para quem já tinha o arco).
— Seu irmão conseguiu? Ele é um humano não é? (Vejo-o trincar os dentes, rosnando para mim como uma fera, antes de vir me atacar).
— Eu me pergunto, como você pode ser um Pontapho? (Ele avança até mim, derrubando-me no chão, antes de me acertar um soco em meu rosto).
— Eu posso matar você, agora. (Suas palavras fazem quase um efeito de medo em mim, mas, acho que meu ódio por ele sempre será maior).
Ele tenta socar meu rosto mais uma vez, mas não o deixo, enquanto estou tentando desviar, procuro uma faca para apunhalara-lo, não vou mata-lo).
Não hoje.
Consigo atingir um pouco de sua perna, ele estremece e rosna ainda em cima de mim.
Consigo me soltar de suas garras, volto engatiando para trás, enquanto Amélia o olha assustada, pelo menos acho que não vão me estressar durante esses dias, ou talvez fique pior que antes.
— Você acha que pode sair assim? (Rocke está cego pelo ódio, não posso dar abertura para ele, se não vou ser morta, tudo que quero seria arruinado).
— Não tô saindo ilesa, ele me acertou dois socos. (Olho para ele, que não percebe que estou ferida, ele vem até mim, parecera faminto por meu sangue).
Continuo caminhando, pelo menos não estou longe de casa, mas acho que hoje não vou dormir.
Que merda eu estava pensando em esfaquear o irmão do rei?
Abro a porta, aliviada por conseguir chegar, mas sou puxada para trás.
Por Rocke, é claro.
Rocke dar um sorriso no canto da boca, pega uma faca do bolso, com um sorriso ainda maior, me assusto por um momento, mas sou interrompida por ele. Que tenta me atacar, consigo desviar de seus golpes correndo para dentro de casa.
— Vai fugir? (Indagou Rocke, não é isso seu idiota, estou levando-te para o quarto, onde tem uma quantidade surpreendente de lâminas que facilmente contariam seu pescoço).
Entro no meu quarto, fingindo-me está atrasada, para ele entrar. (Ao entrar percebo seu rosto confuso ao ver tantas espadas).
— Eu iria te matar. (Falo aproximando-me da espada).
— Tente, porque não é isso que quero fazer aqui. (Ele fala assustado, não encarando-me no rosto).
— Especifique-se. (Eu ordeno, apontando a lâmina para seu pescoço, o olho mais confusa, pelo seu decreto. Deve ser uma tática para se aproximar de mim).
Rocke abaixa sua arma, dar alguns passos a frente, em minha direção. Meu coração começa a acelerar, minha respiração começa a fraquejar.
— Não acha óbvio demais? (Ele me olha confuso). _ está tentando se aproximar de mim para me matar. (Ele sorri sem mostrar os dentes, estava certa).
— Você também quer isso. Quer se aproximar de mim para matar-me. (Ele retruca, ainda mais próximo).
— Mas eu não finjo ser essa minha vontade. (Eu o olho, dou alguns passos a frente, ele parece gostar de ser enganado e, eu gosto de enganar).
Rocke suspira pesadamente com minha presença, depois passa sua mão em minha cintura, incrível como pode tocar-me sem aquelas mãos frias de alguns minutos antes.
Ele me encara por alguns segundos, depois passa as mãos pelo meu rosto.
— Sabe quantas vezes pensei em você? (Eu sorrio para ele , não acreditando no que diz, sei que é mentira, todos eles mentem).
Os idiotas mentem.
— Não gosto de mentiras. (Eu falo, logo depois de alguns segundos nos olhando, ele passa seus lábios pelos meus, estavam com gosto de vinho, se eu não estivesse aceito beija-lo, ser beijada, eu acreditaria que ele estaria me forçando a beija-lo. Suas mãos são firmes em minha cintura, me obrigando a não voltar mais atrás, seu beijo é intenso, o ardor do gosto do seu beijo é indelicado, mas gosto disso, cada vez mais fundo. O gosto do desejo apenas por esses minutos, o gosto de saber que isso é para atacá-lo. O gosto de se sentir enganada e ao mesmo tempo estar enganando-o, é leve, profundo, me prende em cada segundo que se passa.
Mas nada se compara em como era sentir tocar os lábios de Will, porquê eu sentia o sentimento de desejo e paixão, os dois alinhados. Queria ter aproveitado mais seus beijos, seu toque, o frescor do desejo nítido em seus olhos, nos meus. A verdade é que nunca vou deixar de amá-lo
Queria ter feito mais que apenas um beijo.
Passo minhas mãos pela lâmina, aponto em seu pescoço, lembrando-te que não fui enganada por ele.
Ele sorri, se afastando-se da minha boca.
— Não vale você matar-me aqui. (Ele falara com medo, apontando também sua lâmina).
— Toda hora vale apena. (Eu digo, mas abaixo minha espada). .
Rocke_ Não agora. (Ele falara sério, olhando diretamente para meus olhos , tão profundamente que, meus pensamentos deveriam estar estampados no rosto.
— Você perdeu. (Ele franzi o cenho, tentando conter o riso, eu também faço o mesmo, esperando sua resposta).
— É, perdi. (Não esperava por essas palavras de aborrecimento, mesmo que eu tinha a certeza que ele estava mentindo para me atacar durante o beijo, gostava do mínimo porcento que me dava a esperança de que ele estava sendo verdadeiro, mas as únicas verdades que diriam para mim em voz alta, seriam aquelas que machucassem-me).
Nos olhamos apenas de soslaio, evitando novamente encarar suas pupilas azuis, que me lembram as que Will me olhava.
— Seus amigos estão esperando. (Digo por fim, ele me encara mais uma vez, pega sua faca no chão e a coloca no bolso).
— Espera. (Ele para assim que coloca a faca no bolso, com um rosto excêntrico). — Eu ganhei a aposta, eu quero sua faca. (Ele me olha com dúvida, pegando a faca e a olhando como se nunca estivesse a visto, eu apenas observo seu gesto).
— Garanto que, essa não é a melhor que tenho. (Ele diz, erguendo as mãos para mim, entregando de vez a lâmina).
— Não é a minha também. (Falo pegando a faca, enquanto a pego Rocke toca minha mão de forma estranha, como se quisesse me puxar para ele).
— Algum problema? (Eu pergunto, olhando cada centímetro do belo e esculpido corpo, se não fosse um idiota, eu teria feito algo mais).
— Nenhum. (Ele anuncia, dando um passo em falso para a porta).
A noite pareceu chapada demais para mim, primeiro eu esfaqueei um príncipe, beijei seu amigo e, ganhei mais uma aposta. -aperto com mais força a faca em minhas mãos, depois de perceber que estou parada, em frente a porta, totalmente imóvel, como se estivesse vendo uma alma. Desço as escadas para acompanhar Rocke até a saída quando saio do meu transe, ele sai sem dar uma palavra, apenas me olha, novamente em fundo aos meus olhos, antes que ele diga algo, fecho a porta, depois subo as escadas, diretamente ao quarto. Olhando-o pela janela, penso que talvez...
Ele esteja se enganando porque gosta.
Ou talvez queira me enganar, porque talvez seja um novo objetivo deles, me fazer de uma idiota, uma coisa que jamais vou aceitar ser.
Thalya está parada no batente da porta, com os braços cruzados, analisando-me das unhas até o último fio de cabelo. Isso é estranho, porque ela nunca está acordada tão tarde, ela costuma deitar 20:30, eu costumo ir dormir 03:40, quando vejo que minhas olheiras estão fartas e meu corpo pede por cama.
— Algum problema?
Capítulo Dois
Vejo-a arfar, ainda na mesma posição, esperando para que explique-a o porquê de Rocke um cara que odeio tanto estava no meu quarto.
— Por que Rocke estava aqui? Ou melhor, por que estavam juntos? (Thalya indagou com o rosto enfurecido, eu a observo sem explicação, porque não há uma que ela entenderia).
— Rocke e eu... (começo a falar, com os olhos diretamente para o chão, porque se eu conseguir desvendar uma mentira improvisada, olhar para seu rosto vai ser o mesmo que escrever na minha testa “ Eu sou uma mentirosa e, nesse momento, estou mentindo para você!”).
— Espero que seja uma explicação convincente o bastante para eu esquecer dos dias treinados para violentar Rocke, os dias que me contou sobre como ele era irritante e os outros, espero que seja convincente o bastante para fazê-la esquecer de imediato que ele encobriu sua respiração com um soco no estômago, um dia antes de seu querido Will morrer enquanto ele estava segurando-a e, forçando-a ver àquela tortura.
— Fizemos uma aposta. (Digo por fim, vencida pelas palavras de Thalya, mas não pude conter mais uma vez um desejo carnal, são nessas horas que percebo como sou fraca, para humilhar-me de forma tão passiva deste jeito, e apenas me dar conta quando Thalya esfrega palavras duras em meu rosto, como se fossem tapas doídos até demais).
— Que tipo de aposta!? (Thalya semicerra os olhos, enquanto sou eu arfando o ar para fora e inspirando-o de volta).
— O tipo sujo que você odeia, apostamos em quem não sedia primeiro por um beijo, eu ganhei. (Quando termino de falar, Thalya suspira denovo, ainda encarando-me nos olhos, não fui capaz de mentir desta vez).
— Qual foi a recompensa? (Thalya pergunta como se estivesse desapontada, mas que tem uma sensação que não devia, perguntando para suavizar a merda que eu fiz).
— Eu fiquei com a lâmina dele. Está na gaveta. (Eu digo passando logo atrás dela, que vai examinar a lâmina).
— Como você conseguiu aceitar essa lâmina? (Sua pergunta me fez ri, porque ela ainda olha para o valor da lâmina em tanta desanda).
— Isso eu não sei, acho que foi pelo momento. (Eu olho seus gestos, olhando a lâmina como se a detestava).
— Não passou de um beijo. (Ela diz, confessando para si própria, gera também como uma pergunta retórica, por isso não respondo).
Thalya suspira mais uma vez, depois eu vejo-a olhar para mim de forma descritiva, acho que todos estão querendo me intimidar.
Tenho vontade de perguntar para Thalya nesse exato momento, o porquê de todas as vezes que a vejo conversando com seu namorado humano, sempre há lágrimas envolvidas. Mas talvez ela não queira falar sobre isso, porque nunca a vi comentar sobre ele para mim. Mas pensando em outro lado, o meu. Ela questionou-me a poucos minutos sobre Rocke e eu.
— Por que estava chorando? (Ela franzi o cenho e, percebo que Thalya não entendeu a pergunta, ela parece confusa com a pergunta aleatória). — Quando a vi conversando com seu namorado humano. (Expliquei-a, enquanto ela ressalta as sobrancelhas e franzi o rosto).
— Não estamos em um tempo legal no nosso relacionamento. (Nunca a vi feliz quando fala com ele, talvez, eles nunca tiveram em um tempo legal no relacionamento).
— Isso é sobre os Pontaphos, ou ele? (Eu a pergunto, que parecera infeliz com a pergunta, mordendo as bochechas e semicerrando os olhos no chão).
— Ele está pensando em voltar para o reino mortal. (Diz ela com um olhar amargurado para o chão, especificamente para meu tapete vermelho. Fazendo-me entalar, como se as palavras ditas por ela, entrelaçassem em meu pescoço como um nó, é ruim ficar longe de quem você ama, eu sou uma metáfora para isso).
— Você confia nele? (Eu a pergunto enquanto ela se encolhe não sabendo como responder).
— Devo confiar, porque aceitei ele dentro desse reino, mas não sei se devo. Entende? (Faço um gesto para que Thalya senta-se na cama, ela senta e depois começo a falar novamente).
— Ele é um humano Thalya. Ele mente, ele trai mesmo que não queira. Eu fiz isso com meu próprio reino que um dia eu governaria, fiz isso com Will, com tia Clarise e tio Esteven, jamais me esquecerei que sou uma traidora. A traição para um humano é inevitável. (Thalya pousa sua cabeça em meus ombros, assim que ela chega em minha pele brusca, eu me sinto ereta).
— Tenho medo de Mark me trair, ou me usar. (Ela fala num sussurro, consigo medir o peso das palavras).
É a primeira vez que ela cita o nome de seu namorado humano, Mark, parece um nome de alguém que esqueceu de crescer.
— Não estou de dando baixas esperanças, mas Mark pode ser a pessoa que estar infiltrada aqui, no reino Estelar. (Vejo-a dar um breve suspiro, também faço o mesmo, tentando conter o peso das palavras que foram ditas para uma pessoa tão fraca como Thalya).
— Estou tentando não pensar nesta possibilidade. (A única coisa que consigo fazer agora é confirmar, Thalya estar tão vulnerável desde que seu namorado humano chegou, e, agora ele quer ir novamente.
Que idiota.
Ficamos ali por um tempo assim, mesmo que eu a ame, amo mesmo, queria que aquela situação acabasse. Porque não gosto de vê-la assim e esta é minha tática para abafar o problema, ignorá-lo até quando o problema não faça mais efeito em mim. Mas eu nunca o resolvo, sou sempre uma covarde que vira as costas para tudo ao seu redor, até mesmo para pessoas que me trazem problemas, eu simplesmente finjo que não existem, não me orgulho disso, mas não paro e acho que nunca vou parar.
— Acho que vou dormir. (Thalya falara limpando as lágrimas, que caiam. Finjo não ver, porque acho que sentirá a vontade se perceber que não estou vendo àquilo).
— Durma bem. (Eu falo acompanhando-a até a porta do quarto).
Quando tranco a porta, cubro o rosto com as duas palmas da mão. Esfregando os olhos, e passando as mãos pelo cabelo. Mais uma noite que não vou esquecer, não tão fácil.
Porque eu me senti bem, com as coisas que aconteceram, só não sei oque está reservado para mim amanhã, não sei se estarei bem como estou hoje, porque certamente Lucas vai revidar de forma cruel como sempre.
Pego a lâmina e a coloco de volta na gaveta da mesa da escravidinha, olho para a caixa que fiz assim que a Guerra deu uma trégua, assim que os humanos novamente quase exterminaram os Pontaphos.
Pego a caixa que obtém cartas para Rall, meu psiquiatra no reino mortal, para Will, meu amor verdadeiro e para Ester, minha antiga amiga.
Pego a primeira carta, para Rall.
Rall, estou sem tempo para escrever, me tornei uma inimiga do seu reino, que um dia eu pude chamar de meu. Estou tendo dificuldades para estar em meio aos Pontaphos, mas busco me acostumar.
Hoje eu cheguei de uma luta, eu ganhei e estou muito feliz por isso. Ganhei uma espada nova, chamarei de Estella, porquê ela brilha e causa uma chama em meus inimigos. Os dias se passaram lentamente, os festivais estão próximos e, me preocupo com isso, vamos lutar em frente ao rei. Também quero concertar minha dignidade para os Pontaphos, eles não confiam em mim, não confiam em mim por ser uma traidora de meu próprio reino, eles tem razão, estão cobertos por razão. Mas isso não lhes dar a oportunidade de tirar minha dignidade em frente aos meus olhos. Sabe, um dia eu estava caminhando para a floresta Mirt, costumo ir até lá para treinar arco-flecha e, Lucas – O irmão do rei, me atingiu com uma flecha envenenada.
Escapei dessa por sorte, porque eu sabia como lidar com estas situações, que aprendi com Ester, minha amiga mortal.
Outro dia fui arrastada por Amélia, Lucas, Rocke e Benis, eles me encheram de socos, voltei para casa cheia de hematomas no rosto.
Mas falando também nas minhas conquistas, conquistei uma coleção de espadas, por apostas que jamais falei para Thalya – Minha amiga daqui de Estelar. Conquistei também uma medalha da AEP, Academia de Espadas Pontapho. Consegui ela numa jogada mortal com a princesa Gatriza, da corte Matriz, uma corte bem conhecida em Campus, suas características são o vermelho, a Corte mais alta.
Minha corte é Nevegall, é mediana, não tão alta, mas é melhor que outras.
Minha Corte aí em Alaska costumava ser uma das melhores, assim como a corte dos Salles, éramos vencidos pelo orgulho por sermos altos, as disputas nunca eram o fim entre os Salles e os Brancos.
Tenho me acostumado também com a guerra, eu sei que os humanos não vão parar por aqui, tem que exterminar todos os Pontaphos para eles darem uma trégua, mas eu não vejo motivos para uma guerra, não sabia que uma guerra seria tão horripilante assim, todos os corpos mortos sendo carregados, espadas cravadas em seu peito, afundados no seu sangue cristalino, você sabia que o sangue dos Pontaphos existem cristais? Eu soube também que eles pagam mercadorias com seu sangue, é tão nojento, parece o tipo de comercial negro onde o Alaska acha petulante, eu também acho.
Também quero aproveitar nesta carta, para perguntar como estão as coisas por aí, em Alaska. Querendo ou não você ouviu que fui uma grande traidora do reino dos meus tios, mas não acredite apenas na ideia de eu ter um gênio igual a minha mãe, porque agora entendo oque ela sentiu quando buscou interferir na vida Pontapho, ninguém citou que meu pai traia ela com minha tia, ou talvez ninguém citou como ela se sentia em carregar a vida de uma Rainha competente, ninguém jamais falou sobre uma parte humana sua, que não servia para apenas governar um reino que entraria em colapso com um reino que não o fez nenhuma ameaça, simplesmente porque não gostavam da ideia de serem um reino com uma riqueza rente com a sua.
Eu não estou errada em não querer governar um reino como este, você sabe disso.
Estou com saudades de seus sermões.
Lanna Brancos
Capítulo Três
A carta parece imensamente grande quando a pego, mas, depois de um tempo lendo e ainda sentindo o mesmo sentimento – Culpa injusta, me acostumo com as palavras escritas.
Não deveria me sentir assim, porquê estou certa, sei que estou, mas ainda assim sou culpada em trair o reino de forma tão indecente como esta. Mas acho que a culpa deveria passar mais quando se sabe que não dar para voltar atrás e, mesmo que voltasse faria novamente, este colapso que criei entre meus tios e eu, resultou também em minha liberdade, em não ter guardas perseguindo-me por todo tempo, de não estar entre as garras enormes dos meus tios, tentando convencer-me que aquilo era por causa de minha mãe, escondendo o porquê que ela fez aquilo com o reino anos atrás.
Guardo novamente a carta em seu envelope azul-marinho com o carimbo do reino Pontapho. Passo para a caixa e a guardo, depois passo para a próxima carta, a carta que escrevi para Ester.
Uma carta de desculpa à ela.
Ester.
Estou a um tempo pensando se você acompanhou a guerra de perto, porque quando ainda morávamos no penhasco do Palácio, você me contava que iria para o exército e, que não queria ver-me chorar por isto. Quando você falou aquilo pensei que era como uma despedida de morte e que não nos veríamos mais. E realmente foi, não nos vemos desde aquele dia, que seus olhos brilhavam mais que a púrpura de seu vestido cinza com pequenos cristais brilhando, lembro-me ainda disto.
Eu deveria ter dito para você que eu sentiria saudades e não saberia como viver sem sua presença por muito tempo, mas eu não contive o orgulho de não esboçar nenhum sentimento àquilo que você disse. Me desculpe Ester por isso, as palavras estavam afundados na garganta, você esperava por algo mais sentimental da minha parte. Mas você não viu nenhum remorso, mas, eu sei oque eu senti Ester quando disse aquelas palavras, sei que deveria ter falo, mas sou egoísta demais para falar sobre essas coisas, por isso me mantive calada.
Quando fui até o salão onde todos estavam para contar realmente oque eu queria à você, você estava bêbada e todas as palavras que eu diria seriam descartadas pelo vinho mais tarde, você não se lembraria de nada que disse. Foi por isso Ester e, me desculpe por não falar isso pessoalmente.
Depois do festival, não tive tempo para ir à sua festa e não podia desmoronar em sua frente, isso seria ridículo e, sei que aquilo seria egoísmo da minha parte. Porque odeio quando veem pedir desculpas depois do ocorrido, quando não há mais esperanças para concertar o erro.
Então me mantive no palácio, sem lhe pedir desculpas ou demonstrar oque deveria ter demonstrado, sei que isso foi burrice, mas a outra opção eu neguei a mim mesma que nunca faria aquilo.
Não me acostumei ficar longe de você, de Will e de Rall, porque eu realmente gostava da sensação pura que sentia quando estava com alguns de vocês, sei que não posso voltar mais atrás e que a única vez que iremos nos encontrar é quando estaremos no campo de guerra em lados opostos. Como quando encontrei Will, quando vi sua morte em minha frente, um cara que amei tanto sendo morto diante à meus olhos, enquanto eu estava sendo agarrada por Benis e Rocke – um dos Pontaphos que me odeiam.
Aqui, depois da guerra se tornou mórbido, não tem um ar de incerteza que sentia antes. Agora tenho a certeza que não importa onde esteja nunca vou estar em um cenário de contos de fadas.
Não há um lugar assim, que sempre sonhamos, estamos em tempos de guerra e, não há flores para se cultivar.
Sei que está com o mesmo pensamento que eu, porque sempre esteve com seu pensamento assim, desde antes, quando as coisas eram mais fáceis para nós.
Dentre este tempo que passei em Estelar, passei a colecionar espadas, ando ganhando lutas também, eu ganhei uma aposta ontem, em quem não gritar com um espinho das mãos do Espinhoso – o capitão da AEP – Academia de Espadas Pontapho. Eu ganhei a aposta contra um aluno de lá e com ela uma punhal. Que obtém uma pintura azul de detalhes vermelhos, é minha peça preferida para pequenas batalhas, costumo sair com ela preza na perna, escondida por baixo do vestido. Neste momento estou usando ela, é sempre bom estar preparada para um ataque.
Enfim, está carta é somente para lhe pedir desculpas sobre a noite do festival de espadas, as vezes eu me sufoco, tampouco não morri na guerra, porque para mim sempre é bom fechar os ouvidos e tampar os olhos com uma faixa. Esconder um problema sempre foi a minha forma de lutar contra ele.
Estou com saudades eternas.
Lanna Brancos
Fico alguns segundos encarando a carta, que nunca me disponibilizei para ser entregue aos destinatários.
Guardo novamente a carta em seu devido lugar, a carta já está meio amarelada devido a estar guardada por muito tempo.
Passo os olhos pela cama, olho o relógio que marcam 04:40 da manhã, estou com poucas horas para descansar, tenho que acordar às 06:00 para ir à escola.
Hoje foi um dia trabalhoso, tive muitas novidades para serem contadas na manhã seguinte, vou escrever sobre o ocorrido para Ester e talvez para Rall.
Deito na cama de algodão, desligo a luminária da mesinha que tem ao lado da cama e fecho os olhos, imaginado que amanhã será um dia legal, mas sei que não, porque Lucas irá revidar o golpe que dei em sua perna.
Quando acordo, a aurora está sentilante batendo contra a janela do meu quarto, parece que quando fechei meus olhos, a luz venho.
Não durou nem cinco minutos de sono.
Vou até ao banheiro e escovo os dentes, tiro a tensão do meu corpo com a água fria.
Visto um vestido azul-marinho, com mangas ombro-a-ombro onde tem pétalas azul quase preto, em primeira vista o tom de azul seria confundido pelo preto.
Calço um par de botas azul-escura, arrumo meu cabelo numa trança prendida para trás, contorno os olhos com lápis e depois coloco o crachá da escola, uso também Estella, prendida em minha coxa direita, num suporte que peguei no porão da casa.
Desço as escadas com passes rápidos, pego um chá feito por Thalya está na varanda olhando para o nada, pego um bolinho vermelho, com uma camada no meio dele muito doce, parece calda de morango. Mas com uma cor mais ríspida.
— Eu já vou indo! (Passo por ela, que me dar um sorriso sem graça e acena para mim).
Vou andando até a escola, com um certo medo de encontrar com Lucas, ou talvez Rocke porque não sei como encará-lo depois do que aconteceu ontem à noite.
— Lanna! (Alguém me gritara pelos fundos da escola, olho em volta e não vejo ninguém que poderia me socorrer se isso é uma emboscada).
A única coisa que me faz ir até lá, é a voz, é uma voz feminina e nada parecida com a de Amélia, porque Amélia tem uma voz como a de um mosquito e essa parece mais firme, talvez mais madura.
Quando aproximo-me do jardim da AEP, vejo Gatriza sentada em um dos bancos, arqueio as sobrancelhas e franzo o cenho, confusa por Gatriza esta aqui tão cedo, não costumo frequentar a escola no horário dado pelo Espinhoso, costumo sempre vir uma hora antes e, hoje... vejo Gatriza no mesmo horário, talvez ela sempre esteve aqui, sempre costumou violentar os horários também, ser inimiga dos ponteiros, mas, não sei oque faz sozinha.
— Precisa de mim Princesa Gatriza? (Eu faço uma reverência mínima com o vestido, flexionando o pescoço para baixo, Gatriza acena com as mãos para que eu pare com a reverência).
— Sente-se. (Faço o que Gatriza pediu, enquanto a encaro nos olhos).
— Estava pensando, nos festivais de espadas. (Ela falara, não sendo especifica com o que queria dizer).
— E? (Eu indago)
— Estava pensando que talvez eu fique contra você nas lutas. (Dou um suspiro impacientemente não querendo imaginar o que Gatriza quer dizer).
— Sem rodeios por favor. (Digo para ela que arqueia as sobrancelhas, ela parece nervosa com oque digo).
Mesmo Gatriza tendo alto poder contra mim, ela é meiga e doce demais para sentir ódio de alguém, ela talvez nem conheça essa palavra. Eu a conheço bem.
— O que quero dizer, é... um pedido. (Espero por ela falar mais uma vez, ela simplesmente não consegue ser mais específica, odeio esperar).
— Estou a ouvir. (Desde ontem até agora, estou sendo movida para psiquiatra de todos, parecem querer colocar seus fardos em cima de mim, esperando que eu minimizassem seus problemas).
— Meus pais, eles pediram para que eu impressionasse o príncipe Lucas, decretando laços com o reino, eu só posso fazer isso se eu vencer. Mas eu sei que, não vencerei de você. (Fico plasma com o que Gatriza falara, não gosto de perder e, não sei se vou conseguir ver minha dignidade indo embora junto à esperança, tudo por deixar Gatriza vencer).
— Me desculpe Gatriza, mas, não sei se vou conseguir fazer isso. (Digo em meio aos suspiros).
— Você consegue. (Gatriza choraminga ao meu lado).
— Minha dignidade está em jogo, os Pontaphos acham que por obterem poder em seu sangue, podem fazer tudo oque querem com os humanos, o rei vai está lá, esta é minha única chance de lidar com isso, eu preciso vencer este torneio. (Gatriza me olha com seus olhos puros mas que por algum acaso lembra-me de uma fera, assim como os olhos de Rocke).
— Certo. (Ela diz levantando-se do banco e indo até a frente da escola).
Suspiro olhando meus pés, olho para a extensão do Palácio das bestas, longe daqui. Observo os Violetas andarem de um lado à outro pelos corredores da escola – Violetas domados pelo rei.
Caminho pelo corredor e observo a sala onde terá a primeira aula será do professor Nikchel.
A janela está aberta, vou até lá e entro por ela, evitando encarar nos olhos sanguinários de Lucas na entrada da Academia.
Busco a última cadeira da fileira, porque assim nenhum dos idiotas irão sentar atrás de mim, não vou precisar correr o risco deles me apunhalar pelas costas.
Pelo menos a aula de hoje não vai ser tão tediante, porque o ser Nikchel sempre busca inovar nas aulas, ele é um astrônomo fascinado pelo espaço, suas aulas estão focadas somente em saber sobre o lado obscuro das estrelas.
Tive um caso com seu assistente, ele é um obscuro, mas pude ver a cor de suas pupilas, até hoje não sei porque não decidi ficar com ele, ele ainda me olha da mesma forma que antes, quando eu falei que seus olhos mel eram lindos.
— Entrem! (O s.r Nikchel falara para a multidão de alunos que veem entrando, ele franzi as sobrancelhas para mim e eu dou um sorriso).
Para mais, baixe o APP de MangaToon!