Capítulo – Um Futuro Não Muito Distante
DANIEL
O mar está calmo demais esta manhã.
Inquietantemente calmo.
As ondas deslizam como véus de vidro, escondendo sob a superfície um mundo de segredos e tempestades. Como você.
Você sempre foi a calmaria antes do caos, a brisa antes da tormenta.
Mas agora… a sua ausência reverbera em cada célula do meu corpo.
Meu peito aperta até arder.
E o lobo dentro de mim — aquele que só conheceu paz ao sentir sua alma tocar a nossa — uiva sem parar, em agonia. Ele chora por você. Por sua ausência. Por esse vazio maldito que consome tudo.
Já se passou um mês.
Trinta dias. Duas horas. Quatro minutos. E vinte e sete segundos.
Desde o momento em que você desapareceu, estamos caindo. Um por um.
Estamos desmoronando sem você.
E o pior de tudo?
É saber que você ainda está viva.
Se estivesse morta… nós sentiríamos.
Mas o que, então? Está machucada? Presa de novo?
Por que não nos chama, Anael?
Por que se cala?
Você nunca nos deixaria assim, sem um sinal, sem uma maldita palavra.
Então por que essa escuridão?
Por que esse silêncio que me sufoca?
As perguntas se acumulam como lâminas em minha mente, e uma presença maldita quebra o pouco controle que ainda me resta.
Miguel.
O cheiro dele chega antes da sua voz.
E tudo dentro de mim — minha confusão, minha dor, meu amor por ela — se transforma em raiva.
Raiva crua. Instintiva. Mortal.
— O que você está fazendo aqui, Miguel? — rosno, sem tirar os olhos do mar.
Se eu olhar para ele, perco o que restou da minha calma.
Mas o filho da puta ignora o óbvio perigo e se aproxima.
— Eu sabia que você ainda era o único com sanidade o suficiente pra conversar — ele começa, calmo demais. — Depois de uma semana rastreando sua energia, perdi o seu rastro. E... não sinto mais nossa conexão com ela. Ou ela a cortou de propósito... ou...
Ele para. Covarde demais pra completar.
Viro de vez, encaro seus olhos com o peso de quem está prestes a despedaçar algo.
— Não ouse terminar essa frase, Miguel. Juro pelo Criador... se você disser mais uma sílaba, vou arrancar a sua maldita cabeça e enfiar no lugar onde você guarda essa sua “esperança angelical”.
Minha voz sai áspera, meu corpo já vibrando com o lobo querendo tomar controle.
Ele suspira.
— Ela ainda está viva, Daniel. Nós vamos encontrá-la. Ninguém vai tomá-la de nós de novo.
Falo com meu lobo, tentando manter o controle.
“Calma... Ela odiaria ver a gente assim. Brigando com o irmão.”
Mas meu lobo só geme em minha mente, rosnando entre súplicas e lamentos.
"Minha... minha... minha..."
Ele está perdendo a sanidade. E eu estou a poucos passos de me juntar a ele.
Se não fosse pela centelha da energia dela ainda correndo por mim, pelo vínculo sagrado que nos une, eu já teria cruzado a linha.
Já teria me tornado um feral.
Como Lucas.
Como os outros.
Suspiro e me deixo cair na areia, observando o mar. Tentando lembrar... o som da risada dela, o calor da pele dela, aquele cheiro único de primavera viva, flores frescas e liberdade.
— Onde estão os outros? — pergunta Miguel, quebrando de novo meu momento com sua maldita voz angelical.
— Onde você acha que eles estão? — resmungo, irritado, sem força para inventar um sarcasmo melhor.
Tento me levantar, mas minha visão gira. O chão some. Meus joelhos falham.
Antes que eu caia de cara na areia, Miguel já está ali, com as mãos apertando meus ombros.
— Que merda, Daniel! Quando foi a última vez que você comeu?! Você quer morrer? Quer ferrar tudo?
A energia celestial que emana dele invade meu corpo, restaurando um pouco das minhas forças.
Mas isso só me irrita ainda mais.
— Vocês precisam estar fortes! Ela precisa de vocês! Os Duques estão segurando como podem a ausência dela, os Príncipes estão à beira de um colapso — ele grita. — E você... você está aqui, morrendo devagar?
A raiva me impulsiona. Me afasto dele.
— Nós não precisamos da porra da sua ajuda. Foi por culpa de vocês que ela sumiu! Vocês criaram esse caos! — cuspo as palavras como veneno. — Eu vou encontrá-la, nem que eu tenha que incendiar os céus e invocar o próprio Ragnarök!
Miguel empalidece.
— Quanto aos outros... — minha voz quebra. — Estão em jaulas. Prateadas. Dopados. Sem controle. Loucos.
Uma risada amarga me escapa.
— Lucas, D-D... Até ele perdeu o controle. Se virarmos ferais, será o fim. E você sabe o que isso significa, não sabe, anjo?
Miguel empalidece ainda mais.
— Sem ela... vai chover sangue.
E é exatamente o que eles querem.
É por isso que a têm.
E por um instante... o mundo para.
O mar, calmo, de repente se revolta.
As ondas se erguem como criaturas famintas.
O vento corta meu rosto como lâminas finas.
E então eu ouço.
"Daniel..."
Um sussurro. Quase imperceptível.
Mas eu reconheceria essa voz até no inferno.
Anael.
— Anie?! Amor?! Onde você está?! Fala comigo! — grito mentalmente, me afastando de Miguel, tentando focar, alcançar o elo que ainda nos une.
Silêncio.
Então, uma centelha.
Um fio tênue de sua presença.
Fraco, mas real.
— Dan... Por favor, não façam nada. Eu vou voltar. Diga aos outros...
A voz dela some como névoa ao vento.
Desespero.
— Não! Fala comigo! Me diz onde está! Você sabe onde está?!
— Desculpe... Me perdoem... Eu só... Eu nunca quis machucar vocês... de novo...
Tento atravessar sua mente, quebrar o bloqueio, mas algo — ou alguém — está protegendo-a. Escondendo-a.
— Por favor, me deixa entrar. Eu aguento. Eu te prometo. Deixa eu te alcançar, meu amor...
A dor explode de repente.
Punhos. Tornozelos. Pescoço.
Correntes invisíveis me queimam até o osso, e meu lobo grita de dor em minha mente.
Caio de joelhos.
Vejo minha pele escurecer como cinzas sobre brasa viva.
Eles estão machucando ela.
Eles vão pagar.
Ao longe, ouço os rugidos ecoando do castelo.
Rugidos de outros lobos... respondendo ao chamado.
Eles também sentiram.
Minhas últimas forças me permitem murmurar:
— Ela... ela se lembra.
É hora de quebrar o selo.
E buscar nossa companheira.
O chão treme com fúria contida.
Eles mexeram com a nossa escuridão.
E agora... nós vamos mostrar a eles o verdadeiro inferno.
O som dos lamentos do meu lobo ecoa dentro de mim como um grito preso — primal, agonizante, desesperado.
Outra chicotada cruel rasga minhas costas, e a dor me atravessa como fogo líquido. Meus joelhos falham. Sinto meu corpo ceder, pesado demais, fraco demais. Estou caindo, sem forças para lutar.
Mas mãos me agarram antes que meu rosto toque a areia.
Miguel.
Ele me segura firme. Seu corpo treme. Seu rosto... é uma máscara de fúria bruta, raiva antiga que agora desperta como um monstro. O chão treme sob nossos pés. O ar se torna denso, opressor, como se o próprio universo estivesse prendendo a respiração.
Sufoco.
É como se mãos invisíveis apertassem minha traqueia. A dor é intensa, mas o que me assusta... é o medo estampado nos olhos dele. Medo por mim.
Meu lobo enlouquece dentro de mim, uiva alto, pedindo para assumir, para nos libertar — mas algo o prende. Alguma força cruel o mantém cativo.
— O selo... já podemos quebr—
Minha voz se quebra com outro golpe que corta como uma lâmina afiada. E então... a escuridão me toma como um amante ciumento. E eu a deixo me levar.
Antes
Cidade: Ilha Itamar
Anael
— Sabia que você estaria aqui, Anael.
A voz de Rafael é um sussurro cortante no ar, vindo das sombras às minhas costas. Fria como uma lâmina encostada na pele.
Viro-me lentamente, deixando para trás a cena que me prendeu, e o encaro por sobre o ombro. Ele está ali, como sempre esteve: encostado à árvore, braços tatuados cruzados, olhar duro como pedra e amargo como sangue seco.
— O que você quer, Rafe? — resmungo, mordendo o interior da bochecha para não explodir.
Eu não o quero aqui. Ele não entende. Não pode entender.
— Estou te vigiando há três meses — ele diz, impassível —. Você está perdendo o controle. Essa sua fixação pelos shifters... está te tornando fraca. Distraída.
Se eu fosse um inimigo, você já estaria morta.
Ele se afasta, mas sua voz continua cravada em mim como espinhos.
— Você sabe suas ordens. Sabe o que deve ser feito. Eles são obstáculos, Anael. Nada mais. Você não pode... sentir por eles.
Sinto minha mandíbula travar. O gosto amargo da raiva, do medo, da verdade me queima a garganta.
— Onde você vai? — pergunto com a voz embargada.
Ele para. Vira apenas o rosto, e sua voz é baixa, porém cruel.
— Procurar Miguel. Desde a última missão, não consigo sentir nossa conexão. Está fraca. Quase apagada. Se você não estivesse ocupada demais observando seus... animais, teria notado.
Meu peito aperta. A ausência dele agora se revela como um buraco escuro.
— Enquanto eu procuro, sugiro que fique no plano espiritual. E evite qualquer contato com os shifters. E Anie...?
— Sim? — solto, com os dentes cerrados.
— Não se esqueça do que você é. Não temos o luxo de amar. Esse jogo sujo tem que acabar. Os humanos não podem saber sobre os sobrenaturais.
As mortes... precisam parar.
E você sabe o que tem que fazer.
— Eu não quero ver você se machucar, irmã. Mas Uriel está prestes a quebrar o juramento. O Conselho quer sangue. E se não for o do culpado, será o seu.
Abaixo a cabeça. A verdade é um veneno doce na língua. Eu deveria obedecer. Deveria cumprir a sentença.
Mas como posso condená-los? Eles são inocentes.
Eles são meus.
Ele abre as asas. Sempre admirei as asas dos meus irmãos — diferentes de tudo que já vi. As de Rafael são prata com as pontas tingidas de vermelho, como se tivessem sido mergulhadas em sangue. As de Gabriel, douradas e incandescentes, como fogo divino.
Vejo Rafael partir. Uma sombra prateada contra o céu cinzento.
E então sinto.
Miguel.
Ou melhor, a quase ausência dele. Uma ausência que dói como faca enterrada no peito. Eu o chamo em pensamento, desesperada:
"Miguel...?"
Nada.
Silêncio absoluto.
Um grito infantil me puxa de volta ao presente.
— Pega a bola, Daniel!
Os shifters mais jovens brincam na areia. Riem. Pulam. Vivem. Tão puros. Tão cegos.
Mas meus olhos não os veem por muito tempo.
Vejo ele.
O alfa. Miguel.
E ao seu lado, Lucas De Santis, o alfa do Forte Orange. Dois homens feitos de carne, dor e aço. Leais. Honrados. Mortais.
E eu os desejo.
Há meses os observo. Escondida nas sombras, tocando o plano espiritual como uma assassina silenciosa. Eles dão seu amor a outras... e eu... eu sangro em silêncio por não ser aquela sob seus braços. Por não ser aquela em seus olhos.
Ciúmes.
Quente, cruel, vermelho. A vontade de destruir qualquer mulher que os toque me consome.
Eu deveria me controlar. Mas não consigo.
Eles são meus.
Mesmo que nunca possam ser.
Respiro fundo. Tento conter a tormenta que se agita dentro de mim.
Você não pode tê-los.
Você não deve.
Não agora. Talvez nunca.
Sussurro para mim mesma, escondida onde ninguém pode me ver. Onde ninguém pode me tocar.
Tudo que posso fazer... é protegê-los.
Mesmo que me custe a alma. Mesmo que me custe a eternidade.
Que se foda o Conselho. Que se foda Uriel.
Se alguém ousar ameaçar o que é meu, que se prepare para conhecer a verdadeira fúria de um anjo caído.
Eu não posso amá-los.
Mas posso destruir o mundo por eles.
Meu nome é Anael. Sou a comandante da Legião dos Arcanjos.
E esta é minha história — feita de pecado, dor e sombras.
Anael
Duas semanas se passaram desde meu último e inesperado encontro com Rafael. Desde então, só encontrei silêncio — um silêncio ensurdecedor, sufocante. Precisei retornar à base por conta própria, desesperada para encontrá-lo. Mas nem uma resposta... nem um sinal. É como se ele tivesse sido arrancado do mundo.
E, para piorar, descubro que não apenas Rafael, mas Miguel e Gabriel também desapareceram. E ninguém — absolutamente ninguém — achou necessário me informar.
Adentro meu quarto com passos pesados e um suspiro que arrasta minha frustração pelo chão. Algo dentro de mim está fora do lugar. Uma inquietação que me corrói.
Eles.
Não consigo tirá-los da cabeça. Daniel. Lucas. Rafael.
Ver meus irmãos tocando outras mulheres me envenena. Uma fúria surda, quente, rastejante me consome toda vez que assisto àquelas mãos — que deveriam ser minhas — vagarem por corpos alheios. Um ciúme doentio. Um instinto possessivo que não posso permitir. Porque essa foi minha escolha. Meu fardo.
Sozinha, eu o carrego.
Afogada nesses pensamentos, quase não ouço a batida na porta. Só percebo quando já é tarde demais. A porta se abre, e Griffin, o primeiro cão de guarda do infame Uriel, entra radiante demais para um lugar como esse.
Merda. Isso nunca é bom sinal.
— O mestre Uriel ordena sua presença na sala oval. Agora.
A voz dele é gélida, vazia. Mas o calafrio que desce pela minha espinha me diz tudo. Algo está muito, muito errado.
Voltar foi um erro. Um erro estúpido.
Este lugar é um ninho de serpentes, e eu acabei de me jogar entre elas. Eles sempre quiseram o que conquistei: minha legião.
Mil batalhas. Mil cicatrizes. Tudo ameaçado pela ganância de vermes.
E pior... não consigo alcançar nenhum deles. Nem Rafael. Nem Miguel.
E Gabriel... bem, esse idiota vive me bloqueando, mas os outros dois? Nunca.
— Já estou a caminho, Griffin — digo, fria como gelo.
Deixo o quarto, meus passos ecoando no corredor estreito, e meu coração bate mais rápido a cada metro. A sala oval se aproxima e com ela o inevitável. Meu erro. Minha sentença.
Sei que desobedeci. Mas não posso — não vou — assassinar inocentes. Não posso manchar minhas mãos com o sangue de milhares por causa de dois.
Especialmente agora que sei o que Daniel e Lucas são pra mim...
Diante da porta, respiro fundo. Griffin a abre como um cavalheiro, mas a vontade que tenho é de socá-lo até aquele sorriso cínico se desmanchar. Passo por ele com o rosto impassível, guardando minha raiva sob uma máscara de pedra.
O salão parece mais frio.
Ituriel me encara com pesar, mas sei que nada fará. E então vejo ele.
Uriel.
O executor do reino. O sádico. O monstro.
Ele sorri como um demônio à beira de um banquete.
A porta se fecha atrás de mim. Sinto dois soldados entrarem, silenciosos como a morte. Minha pele arrepia. Meus músculos se retesam.
— Desobedecendo de novo, Anael? — diz Uriel, com uma risada debochada. — Seus queridinhos não estão aqui hoje para te salvar. Vai receber a punição completa desta vez.
Antes que eu possa responder, Griffin atira algo contra meu rosto. Um pó escuro. Ardente.
Meus olhos queimam.
Meus joelhos cedem.
A dor me invade como uma tempestade brutal.
Como se minha alma estivesse sendo rasgada.
— Pó de demônio — ouço Uriel dizer. — Reage de forma... espetacular em arcanjos puros. A dor, a paralisia, a perda de sentidos... e o meu detalhe favorito: sem poderes de cura.
Não entendo como... por quê? Nunca senti dor assim. Estou entorpecida, sem conseguir respirar direito.
Mas, mesmo assim, penso neles.
Daniel. Lucas.
É por eles que estou aqui. É por eles que suporto isso.
Com o que me resta de força, envio um único pensamento a Azazel:
"Proteja-os. Mate quem ousar tocá-los. Isso é uma ordem."
"Sim, senhora." — ouço sua resposta como um sussurro divino antes de a escuridão me engolir.
Uriel se agacha diante de mim, sussurrando:
— Veja como os grandes caem. E ainda nem começamos, Anael. Cada gota a mais desse pó... mais tempo sem cura. Maravilhoso, não é?
— Chega, Uriel! — Ituriel grita. — Leve-a para as masmorras. Agora.
Sou erguida do chão, arrastada como um trapo humano pelos corredores. Cada passo, cada solavanco, intensifica a dor lancinante que pulsa por todo meu corpo. Tento não gritar. Mereço ao menos esse último pedaço de dignidade.
Mas, quando as correntes me queimam a carne, não consigo mais segurar. O gosto de sangue preenche minha boca.
As algemas estão envenenadas também.
— Gosta de se fazer de forte... — ouço Uriel atrás de mim. — Mas está quebrando. Ah, Anael... devia ter matado aqueles vermes. Agora vai pagar. E eu vou saborear cada segundo.
Meus olhos...
Não vejo mais nada.
A escuridão é total.
— Nos deixem. — ordena.
Ficamos sozinhos.
— Vamos começar com quinhentas chicotadas, o que acha? Devagar... para durar.
O primeiro golpe cai.
Meu grito ecoa pelas pedras. Fere minha garganta. Arde na alma.
E então vem o deboche:
— Ah, esqueci de dizer... o chicote também está com pó de demônio.
E ele ri.
Riu.
Chicotada após chicotada, minha pele se abre. O sangue escorre em poças sob meus pés. A dor ultrapassa o físico. Rasga minha alma.
A voz se apaga. As lágrimas cessam. Só restam sussurros e gemidos fracos.
342.
Esse foi o número da última que consegui contar.
— Daniel... Lucas... — chamo mentalmente. Antes de tudo escurecer.
Ainda estou viva. Semi-consciente.
Apenas as correntes me mantêm de pé. Meu corpo está destroçado, minha alma — em frangalhos.
Mas meu propósito é claro como nunca.
Eles estão seguros. Azazel não deixará que nada aconteça.
Mesmo que outro carrasco venha, ela vai matar quem tocar neles.
E enquanto esse pensamento persistir...
Enquanto eles existirem...
Eu. Vou. Protegê-los.
Mesmo que isso me custe tudo.
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