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Á Primeira Vista

Prólogo

"É incrível como a vida pode mudar em uma fração de segundo."

Joseph R. Russo.

Houve alguns momentos que definiram minha vida.

Este foi o primeiro.

Fortaleza, Ceará

Brasil

Há onze anos atrás

Aos seis anos de idade.

— Voglio andarci! Adesso! Voglio tornare a casa!

Eu gritei o mais alto que pude, dizendo para a minha mãe que eu queria ir embora. Eu queria voltar para casa!

— Não vamos voltar para casa, Joseph. E não vamos embora. Nossa casa é aqui agora.

Ela respondeu em português. Ela se agachou e me olhou bem nos olhos. 

— Joseph!

Disse, suavemente 

— Eu sei que a mudança tem sido difícil, mas seu pai conseguiu um emprego novo aqui no Brasil.

Ela me abraçou, mas eu não me senti melhor. Eu não queria ficar naquele lugar.

Eu queria ir para casa.

— Smettila di parlare portoghese!

Reagi.

Eu odiava falar português. Desde que tínhamos saído da Itália e chegado ao Brasil, mamãe e papai só falavam comigo em português. Eles diziam que eu tinha que praticar.

Mas, eu não queria!

Minha mãe ficou em pé e levantou uma caixa do chão.

— Nós estamos no Brasil, Joseph. Eles falam português aqui. Você estuda português há tanto tempo, está na hora de usá-lo.

Fiquei parado, olhando minha mãe enquanto ela entrava na casa. Olhei ao redor, a pequena rua onde a gente ia morar. Havia muitas casas. Eram todas parecidas, mas cada uma tinha uma cor diferente. A nossa era amarela, minha cor preferida, com janelas brancas e uma pequena varanda. Meu quarto era grande e ficava no térreo mesmo. Na Itália, meu quarto ficava no segundo andar.

Prestei atenção nas outras casas. Todas tinham cores vibrantes:

Verde, azul, laranja… Então olhei para a que ficava ao lado. Bem ao lado, pois, dividíamos um pedaço da cerca. As duas casas eram grandes, e os jardins eram lindos.

A casa era azul celeste, com uma varanda ao redor. Ela tinha cadeiras de balanço e um balanço suspenso na frente. As beiradas das janelas estavam pintadas de branco, e tinha uma em frente à do meu quarto. Bem na frente! Eu não gostei daquilo. Não gostei que pudessem me ver dentro do meu quarto.

Eu estava triste com tudo aquilo, mas, não poderia fazer nada, me virei para seguir minha mãe, quando ouvi um barulho.

Vinha da casa vizinha. Olhei para a porta da frente deles, mas ninguém saiu. Caminhei em direção à minha varanda quando notei um movimento ao lado da casa, na janela do quarto da casa ao lado, aquela em frente à

minha.

As minhas mãos congelaram e fiquei olhando enquanto uma garota, usando uma fantasia de pirata, se pendurava na janela. Ela pulou para fora e limpou as mãos na roupa. Eu franzi a testa, com as sobrancelhas para baixo. Ela tinha cabelos ruívos, cacheados. Usava um chapéu de pirata na cabeça.

Quando ela olhou para cima, deu de cara comigo. E então sorriu. Acenou e aí correu e parou na minha frente.

Ela estendeu a mão e disse:

— Oi, meu nome é Lara Marinho, eu tenho seis anos e moro aqui do lado.

Encarei a garota. Ela tinha um jeito engraçado. Fazia as palavras em português soarem diferente do modo como aprendi na Itália. A garota, Lara, estava toda suja de lama.

Ela era esquisita.

A olhei da cabeça aos pés e reparei na sua mão. Que ainda estava estendida. Eu não sabia o que fazer. Eu não sabia o que ela queria.

Lara suspirou. Balançando a cabeça, ela pegou minha mão e a apertou. Sacudiu-a para cima e para baixo e disse:

— Um aperto de mãos. Minha avó sempre diz que temos que apertar a mão das pessoas que você conhece. 

Ela apontou para nossas mãos. 

— Isso é um aperto de mãos. E isso foi educado, porque eu não conheço você.

Eu não consegui dizer nada; minha voz não saía. Quando olhei para baixo, percebi que era porque nossas mãos ainda estavam grudadas.

— Qual o seu nome?  perguntou Lara.

Sua cabeça estava inclinada para o lado de uma forma engraçada. 

— Ei!

Ela disse, soltando nossas mãos 

— Perguntei seu nome.

Limpei a garganta.

— Meu nome é Joseph. Joseph Ricci Russo.

Lara torceu o rosto, os lábios rosados sobressaindo de um jeito todo estranho.

— Você fala esquisito garoto!

Ela afirmou.

— No, in no! 

Reagi.

Seu rosto se contorceu ainda mais.

— O que você disse garoto? 

Perguntou Lara, enquanto eu me virava para entrar em casa. Não queria mais falar com ela.

Com raiva, eu me virei:

— Eu disse: “Não, eu não falo esquisito!”. Eu estava falando Italiano! 

Respondi, dessa vez em português. Os olhos claros de Lara ficaram enormes.

Ela chegou mais perto, e ainda mais perto, e então perguntou:

— Italiano? Como Giuseppe Garibaldi? Minha avó leu para mim, um dia, um livro sobre ele.

Seus olhos estavam ainda maiores. 

— Joseph, você é um herói italiano, como Giuseppe? A voz tinha ficado ainda mais engraçada.

Aquilo fez com que eu me sentisse bem. Estufei o peito. Meu pai sempre dizia que eu era um herói, como todos os homens da família.

— Sì!

Eu disse.

— Somos heróis de verdade, na Itália.

Um grande sorriso se abriu no rosto de Lara, e um risinho alto de garota saiu de sua boca. Ela levantou a mão e pegou no meu cabelo.

— É por isso que você tem cabelo comprido e olhos claros e grandes. Porque você é um herói. 

Passei a mão no meu cabelo. Ele chegava ao ombro. Todos os meninos em Sardenha tinham o cabelo assim.

Lara colocou a mão no meu ombro. Seu rosto havia ficado sério, e sussurrou.

— Joseph, não conte para ninguém, mas eu sou uma caçadora de aventuras.

Eu torci a cara. Não entendi. Lara chegou mais perto e me olhou nos olhos. Apertou meus braços. Inclinou a cabeça. Olhou para os lados e então se curvou para falar.

— Normalmente não levo ninguém comigo nas jornadas, mas você é um herói, e todo mundo sabe que os heróis ficam altos e fortes e que eles são muito bons em aventuras e explorações, em longas caminhadas e… em todo tipo de coisa!

Eu ainda estava confuso, mas Lara se afastou e estendeu a mão de novo.

— Joseph! 

Ela disse, com a voz séria e forte.

— Você mora na casa ao lado, é um herói e eu amo heróis. Acho que devemos ser melhores

amigos.

— Melhores amigos? 

Perguntei Lara assentiu com a cabeça e levantou a mão ainda mais para o meu lado. Levantei a minha, lentamente, apertei a mão dela e a chacoalhei para cima e para baixo, como ela havia me mostrado.

Um aperto de mão.

— Então agora somos melhores amigos? perguntei, quando Lara puxou a mão de volta.

— Somos!  disse ela, empolgada. 

— Joseph e Lara.

Ela encostou o dedo no queixo e olhou para cima. Seus lábios se projetaram de novo, como se estivesse pensando em algo difícil.

— Fica legal, não fica? Joseph e Lara, melhores amigos além do infinito!

Fiz que sim com a cabeça porque realmente soava legal. Lara colocou a mão na minha.

— Me mostra seu quarto! Eu quero te falar sobre a nossa próxima aventura.

Ela começou a me puxar, e entramos correndo na casa.

Quando chegamos ao meu quarto, Lara correu direto para a janela.

— Este é o quarto bem em frente ao meu!

Eu concordei com a cabeça, e ela deu um gritinho, correndo para pegar minha mão de novo.

— Joseph! 

Ela disse, empolgada.

— Nós podemos conversar de noite e fazer um telefone sem fio com latas e barbante, para podemos falar sobre nossos segredos um para o outro quando todo mundo estiver dormindo, e podemos planejar, e brincar, e…

Lara continuou falando, mas eu não liguei. Eu gostava do som de sua voz. Eu gostava do seu riso e do seu cabelo.

Talvez o Brasil não seja tão ruim, pensei, não se eu tiver Lara Marinho como minha melhor amiga.

E então éramos Lara e eu desde aquele dia.

Joseph e Lara.

Melhores amigos além do infinito.

Era o que eu pensava.

Engraçado como as coisas mudam com o tempo.

Para sempre nós.

"Existe momentos que marcam para sempre nossas vidas, e este é um deles"

Lara Marinho.

Há nove anos atrás.

Aos oito anos de idade.

Fortaleza,Ceará.

Brasil.

Dei um beijo em minha avó enquanto ela ainda estava dormindo e corri para o carro, papai e Joseph já estavam a minha espera, seguimos para a escola como sempre, um dia com meu pai e no outro com o Sr. Pasquale.

passamos o primeiro momento juntos estudando nas duas primeiras aulas, quando a sirene soou para o intervalo, quando sai da sala dei de cara com o papai, ele estava meio estranho, me pegou pela mão e disse que eu tinha que ir com ele.

— Onde vamos, papai?

Perguntei, enquanto ele segurava suavemente minha mão, guiando-me até o carro.

Fiquei imaginando por que estava saindo cedo. Era só o intervalo para o lanche. Eu não deveria ir embora ainda.

Meu pai não disse nada enquanto caminhávamos, apenas apertou minha mão. Olhei ao longo da saída da escola, e uma sensação ruim revirou meu estômago. Eu amava a escola, amava aprender, e a aula

seguinte era de arte. Era minha matéria favorita. Eu não queria perder.

— Lara!

Gritou Joseph, meu melhor amigo, de perto das grades, quando me viu. Suas mãos apertavam com força as barras de metal.

— Aonde você vai?

Eu sentava ao lado de Joseph nas aulas. Estávamos sempre juntos. A escola não tinha graça quando um dos dois não estava lá.

Virei a cabeça para o rosto de meu pai, procurando respostas, mas ele não me olhou de volta. Ficou em silêncio. Olhando para Joseph, eu gritei:

— Eu não sei, Joseph!

Joseph ficou me olhando por todo o caminho até o carro. Eu me sentei no banco traseiro, e meu pai afivelou o cinto de segurança.

Ouvi o sinal no pátio da escola indicando o fim do intervalo. Olhei pela janela e vi todas as crianças correndo de volta para dentro, mas não Joseph, que continuou me olhando.

Seu longo cabelo esvoaçava com o vento enquanto ele perguntava:

— Você está bem?

Mas meu pai entrou no carro e deu partida antes que eu pudesse responder.

Joseph correu os olhos, seguindo nosso carro, até que a Sr. Monteiro o obrigar a entrar na sala.

Quando a escola já não estava mais visível, meu pai disse:

— Lara!

— Sim, papai?

Respondi.

— Você sabe que a vovó está morando com a gente já faz muito tempo, né?

Eu concordei com a cabeça. Minha avó tinha se mudado para o quarto em frente ao meu um tempo atrás. Mamãe disse que era porque ela precisava de ajuda. Meu avô morreu quando eu ainda era um bebê. Minha avó morou sozinha por anos, até vir morar com a gente.

— Você se lembra do que sua mãe e eu te dissemos? Sobre por que a vovó não podia mais morar sozinha?

Eu suspirei e disse, baixinho:

— Sim, papai. Porque ela precisava da nossa ajuda. Porque ela está doente.

Meu estômago revirou enquanto eu falava. Minha avó era minha melhor amiga. Bem, ela e o Joseph estavam empatados no primeiríssimo lugar. Minha avó dizia que eu era igualzinha a ela.

Antes que ela ficasse doente, nós duas saíamos em muitas aventuras.

Ela lia para mim toda noite sobre os grandes exploradores do mundo. Ela me falava sobre história: Hércules, Garibaldi, Lampião, os Winchester, sítio do pica pau amarelo e Peter pan. Eram os favoritos da minha avó e os meus também.

Eu sabia que a minha avó estava doente, mas ela nunca agia como se estivesse. Ela sempre sorria, dava abraços apertados e me fazia rir sem parar. Sempre dizia que ela tinha mundos inteiros cheio de fantasias e aventuras no lugar do coração. Vovó me disse que aquilo significava que ela estava feliz.

Ela me deixava feliz também.

Mas nas últimas semanas vovó vinha dormindo muito. Estava sempre cansada para fazer qualquer coisa. Na verdade, na maioria das noites agora eu lia para ela, enquanto ela acariciava meu cabelo e sorria para mim. E era bom, porque o sorriso da vovó era o mais lindo do mundo.

— Certo, querida, ela está doente. Na verdade, ela está muito, muito doente. Você entende?

Meu pai disse. Franzi a testa, mas fiz que sim com a cabeça e respondi:

— Sim, papai.

— É por isso que vamos para casa mais cedo!

Ele explicou.

— Ela está esperando por você. Ela quer ver você. Quer ver a companheirinha das aventuras dela.

Não entendi por que meu pai tinha de me levar para casa mais cedo para visitar minha avó, quando a primeira coisa que eu fazia tofo dia depois da escola era ir ao quarto dela para conversar enquanto ela ficava na cama. Ela gostava de saber sobre meu dia, sobre minhas aventuras.

Viramos na nossa rua e estacionamos na frente de casa. Meu pai não se moveu por alguns segundos, mas então se virou para mim e disse:

— Sei que tem só oito anos, Lara, mas hoje você precisa ser uma menina corajosa, ok? pela vovó.

Eu respondi com a cabeça. Meu pai me deu um sorriso triste.

— Esta é a minha garota.

Ele saiu do carro e andou até meu assento. Pegou minha mão e me guiou para fora do carro em direção à casa. Eu notei que havia muitos carros perto de minha casa. Eu ia perguntar de quem eram quando dona Francesca, mãe de Joseph, veio caminhando pelo jardim entre nossas casas com uma grande travessa de comida nas mãos.

— Lucas!

Ela chamou, e meu pai se virou para cumprimentá-la.

— Oi, dona Francesca.

Ele disse.

A mãe de Joseph parou na nossa frente. Seu longo cabelo estava solto. Era da mesma cor do cabelo de Joseph. Dona Francesca era muito bonita, e eu a adorava. Ela era bondosa e dizia que eu era a filha que ela não teve.

— Eu fiz isso para vocês. Por favor, diga a Marcela que estamos a disposição.

Meu pai soltou minha mão para segurar a travessa.

Dona Francesca se abaixou e deu um beijo em meu rosto.

— Seja uma boa menina,Lara!

— Sim, senhora!

Respondi e observei enquanto ela seguia de volta para a casa dela.

Meu pai suspirou, então fez um gesto com a cabeça para que eu o seguisse para dentro. Assim que passamos pela porta da frente, vi minhas tias no sofá, meus primos sentados no chão da sala, entretidos com seus brinquedos. Minha tia Carla estava sentada com meu irmão, Luís. Ele é mais novo que eu, tem apenas três anos.

Ninguém falava nada, a maioria estava chorando.

Eu estava tão confusa.

Eu agarrei meu pai, segurando com força procurando força. Minha tia Célia, aparece na porta da cozinha, corro para seus braços. Ela é minha tia favorita. Ela é jovem e engraçada e sempre me faz rir.

— Ei, Lara!

Ela disse, mas eu podia ver que tinha os olhos vermelhos, e a voz estava diferente. Tia Célia olhou para o meu pai. Ela tirou a travessa de comida da mão dele e disse:

— Vá até lá com a Lara, Lucas. Está quase na hora.

Eu comecei a andar seguindo meu pai, mas, quando percebi que tia Célia não vinha junto, olhei para trás. Fiz menção de chamá-la, porém ela se virou de repente, colocou a travessa de comida no balcão e segurou a cabeça com as mãos. Ela estava chorando, chorando tanto que saíam sons altos de sua

boca.

— Papai?

Eu falei, com uma sensação estranha no estômago.

Meu pai envolveu meus ombros com o braço e me guiou.

— Está tudo bem, querida. Tia Célia só precisa de um minuto sozinha.

Andamos para o quarto da vovó. Um pouco antes de abrir a porta,

papai disse:

— A mamãe está lá dentro, querida, junto com a enfermeira da vovó.

Franzi a testa.

Papai abriu a porta do quarto da vovó, e minha mãe se levantou da

cadeira ao lado da cama. Os olhos dela estavam vermelhos, e o cabelo, todo desarrumado. O cabelo da mamãe nunca ficava desarrumado.

Vi a enfermeira no fundo do quarto. Ela estava escrevendo algo em uma prancheta. Ela sorriu e acenou para mim quando entrei. Então olhei para a cama. Vovó estava deitada. Meu estômago revirou quando vi vovó naquele estado. Fiquei imóvel. Então minha mãe veio ao meu encontro, e minha vovó olhou para mim.

Ela parecia diferente da noite anterior. A pele dela estava mais pálida, e seus olhos não estavam tão brilhantes.

— Cadê minha companheirinha?

A voz de vovó estava baixa e diferente, mas o sorriso que ela me deu fez com que eu me sentisse acolhida.

Então, corri para o lado da cama.

— Estou aqui vovó! Eu saí mais cedo da escola para ver você!

Vovó levantou a mão e passou do meu rosto.

— Esta é a minha garota!

Ela disse, eu respondi com um sorriso bem grande.

— Eu só queria ver você um pouquinho. Eu sempre me sinto melhor quando a luz da minha vida senta ao meu lado e conversa um

pouco comigo.

Sorri de novo. Porque eu era a “luz da vida dela”, “a menina dos olhos dela”. Ela sempre me chamou assim. Vovó me disse em segredo que isso significava que eu era a favorita dela.

Mas eu não poderia contar isso para ninguém, para não chatear meus primos e meu irmãozinho. Era nosso segredo.

Então senti mãos na minha cintura, era meu pai me levantando para me sentar na cama ao lado da minha avó. Ela pegou minha mão e apertou meus dedos, mas tudo o que eu podia notar era como as mãos dela estavam

geladas.

Vovó inspirou profundamente, emitindo um som esquisito, como se algo chiasse no peito dela.

— Vovó, você está bem?

Perguntei e me debrucei sobre ela para lhe dar um beijo no rosto. Ela normalmente cheirava a talco, cheirinho de vovó.

Vovó sorriu e respondeu:

— Estou cansada, meu amor. E eu…

Vovó inspirou novamente, e seus olhos se fecharam por um momento.

Quando abriram de novo, ela se mexeu na cama e disse:

— … estou indo embora por um tempo, viver outra aventura.

Eu franzi o rosto.

— Para onde você vai, vovó? Posso ir com você? Nós sempre vamos juntas para as aventuras.

Vovó sorriu, mas balançou a cabeça.

— Não, garotinha. Você não pode ir para onde eu vou. Ainda não. Mas um dia, daqui a muitos anos, vamos nos ver de novo e seguiremos juntas nas nossas aventuras.

Minha mãe soltou um soluço atrás de mim, mas eu apenas fiquei olhando, confusa, para minha avó.

— Mas para onde você vai, vovó? Eu não entendo.

— Para casa, princesa.

Disse ela.

— Estou indo para casa.

— Mas, vovó você já está em casa.

Respondi.

— Não querida.

Vovó balançou a cabeça.

— Este não é nosso verdadeiro lar, querida. Esta vida … é só uma grande aventura enquanto a temos. Uma aventura para apreciar e amar com todo o nosso coração antes de ir para a maior aventura de todas.

Meus olhos se arregalaram de entusiasmo, então me senti triste.

— Mas nós somos as melhores companheiras, vovó. Sempre vamos juntas a nossas aventuras. Você não pode ir sem mim.

Lágrimas começaram a rolar de meus olhos e escorrer pelo rosto.

Minha avó levantou a mão livre para enxugá-las. Aquela mão estava tão fria quanto a que eu estava segurando.

— Nós vamos ter outras oportunidades, minha querida, mas não desta vez.

— Você não tem medo de ir sozinha, vovó?

Perguntei. Minha avó suspirou.

— Não, querida, não é preciso ter medo. Não estou nem um pouco assustada.

— Mas eu não quero que você vá, vovó!

Supliquei.

A mão de vovó permaneceu no meu rosto.

— Você ainda vai me ter em seus sonhos. Isto não é um adeus.

Vovó piscou para mim.

— Do mesmo jeito que você vê o vovô? Você sempre diz que ele te visita em seus sonhos. Fala com você e beija sua mão.

— Exatamente assim meu amor.

Ela disse.

Enxuguei minhas lágrimas. Vovó apertou minha mão e olhou para minha mãe atrás de mim. Quando me olhou de novo, disse:

— Enquanto eu estiver fora, eu tenho uma nova aventura para você.

Fiquei imóvel. E então perguntei:

— O quê?

O barulho da porta abrindo me distraiu. Isso fez com que eu quisesse olhar em volta, mas, antes que eu pudesse, vovó perguntou:

— Lara, o que eu sempre digo que é a lembrança favorita da minha vida? A coisa que sempre me fez sorrir?

— Os beijos do vovô. Os doces beijos de garoto dele. Todas as memórias de todos os beijos que ele te deu. Você me disse que são suas memórias favoritas. Não coisas, nem dinheiro, mas os beijos que recebeu do vovô, porque foram todos especiais e fizeram você sorrir, sentir que era amada, porque ele era sua alma gêmea. Seu para sempre e sempre.

— Está certo, querida.

Ela respondeu.

— Então, para sua aventura…

Vovó olhou para minha mãe novamente. Dessa vez, quando olhei em volta, vi que mãe segurava um grande pote de vidro, cheio até o topo com muitas estrelinhas de papel brilhantes.

— Uau! O que é isso, vovó?

Perguntei, empolgada.

Mamãe colocou o pote em minhas mãos, e minha vovó deu umas batidinhas na tampa.

— São todas as aventuras que você ainda vai viver. Você vai ter que preencher todas as estrelas com suas aventuras.

Meus olhos se arregalaram enquanto eu tentava contar todos as estrelas. Mas eu não conseguia. pois, eram muitas!

— Lara.

Minha avó disse, quando olhei para seus olhos.

— Esta é a sua aventura. É como eu quero que você se lembre de mim enquanto eu estiver fora.

Eu olhei para o pote de novo.

— Mas eu não entendo.

Vovó se virou para sua mesinha de cabeceira e pegou uma caneta dourada. Ela a passou para mim e disse:

— Já faz um tempo que estou doente, Lara, mas as lembranças que fazem com que eu me sinta melhor são aquelas em que seu vovô me deixou. Não só os beijos de todo dia, mas os dias especiais, as nossas aventuras. os banhos de chuva, cada pôr do sol, nossa formatura, nossa casinha, nossos filhos, tudo que ele me deu de presente… Quando ele disse que eu era a menina mais bonita do mundo.

Meu coração está tão cheio de bons momentos e aventuras, quanto este vidro.

Vovó apontou para as estrelas no pote.

— Este pote é para você registrar suas aventuras, seus momentos especiais, Lara.

Tudo que fizer seu coração quase explodir, aquilo que for mais especial na sua vida, os momentos que você vai querer relembrar quando estiver velhinha e grisalha como eu, você vai sorrir quando se lembrar deles.

Dando batidinhas na caneta, ela continuou:

— Quando você encontrar o garoto que será seu par para todo o sempre, a cada vez que ganhar um beijo muito especial dele pegue uma estrela. Escreva onde vocês estavam quando se beijaram. Então, quando você for uma vovó também, seu netinho ou sua netinha, melhor companheiro ou companheira de aventuras, que você tiver, poderá ouvir tudo sobre eles, como eu te contei sobre os meus. Você vai ter um pote do tesouro de todos os momentos preciosos que fizeram seu coração voar.

Eu observei o pote e soltei o ar.

— Aqui tem muitas estrelas. Vou ter que viver um monte de momentos bons, vovó!

Vovó riu.

— Não é tanto quanto você pensa, meu amor. Especialmente quando você encontrar sua alma gêmea. Você tem muitos anos pela frente.

Vovó respirou fundo e seu rosto se contraiu, como se ela estivesse sentindo dor.

— Vovó!

Chamei, sentindo-me muito assustada. A mão dela apertou a minha.

Vovó abriu os olhos, e dessa vez uma lágrima rolou por sua face pálida.

— Vovó?

Eu disse, dessa vez mais baixo.

— Estou cansada, meu amor. Estou cansada, e está quase na minha hora de partir. Eu só queria te ver uma última vez, para te dar este pote. Para beijá-la, assim posso me lembrar de você todo dia no céu até vê-la novamente para nossa grande aventura.

Meu lábio inferior começou a tremer. Minha avó balançou a cabeça.

— Sem lágrimas, querida. É só uma pequena pausa em nossas vidas. E estarei zelando por você, todos os dias. Estarei em seu coração para sempre. Estarei em um bosque florido junto do seu vovô, com o sol e o vento, cuidando de você lá de cima.

Os olhos da vovó se apertaram, senti as mãos de minha mãe em meus ombros.

— Lara, dê um grande beijo na vovó. Ela está cansada. Agora ela precisa descansar um pouco.

Respirando fundo, eu me inclinei e dei um beijo no rosto de minha avó.

— Eu te amo muito vovó, fala para o vovô que eu o amo também.

Sussurrei no seu ouvido.

Ela acariciou meus cabelos.

— Eu também te amo, meu amor e tenha certeza que o vovô também te ama muito. Você é a luz das nossas vidas. Nunca se esqueça de que eu te amei tanto quanto uma avó pode amar sua netinha.

Segurei a mão dela e não queria soltar, mas meu pai me tirou da cama, e minha mão por fim deixou a dela. Eu abracei bem forte meu pote de estrelas, enquanto minhas lágrimas caíam no chão. Meu pai me pôs no chão e, enquanto eu me virava para sair, vovó chamou meu nome:

— Lara?

Olhei para trás e minha vovó estava sorrindo.

— Lembre-se querida: estarei em todas as aventuras que você estiver…

— Eu sempre vou me lembrar, vovó.

Eu disse, mas não me senti feliz.

Tudo o que senti foi tristeza, e uma dor atravessando o meu peito e um nó na garganta. Escutei minha mãe chorando atrás de mim.

Tia Célia passou por nós no corredor. Ela passou a mão em minha cabeça. O rosto dela também estava triste. Eu não queria mais ficar ali. Não queria mais ficar naquela casa, eu só queria sumir.

Olhei para o meu pai e perguntei:

— Papai, posso ir para o quintal?

Papai suspirou:

— Sim, querida. Eu vou dar uma olhada em você depois. Apenas tenha cuidado, não vá para longe.

Nosso quintal dava acesso a uma floresta onde vivi muitas aventuras com minha avó.

Vi meu pai pegar o telefone e ligar para alguém. Ele pediu para a pessoa ficar de olho em mim enquanto eu estivesse no quintal, mas corri antes de descobrir quem era. Segui para a porta do quintal, apertando contra

o peito meu pote de aventuras estreladas em branco.

Corri para fora da casa, sai da varanda. Corri, corri e não parei mais.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto. Ouvi chamarem meu nome.

— Lara! Larinha, espere por mim!

Olhei para trás e vi Joseph me observando. Ele estava em sua varanda, mas começou a correr até onde eu estava. Eu não parei, nem mesmo para Joseph. Eu tinha que chegar até as ameixeiras. Onde era o lugar favorito de minha avó. Eu queria estar no lugar favorito dela. Porque eu estava triste por ela estar indo embora. Indo para o céu.

O lar de verdade dela.

— Lara, espere! Vá mais devagar.

Gritou Joseph, enquanto eu entrava na floresta. Entrei correndo; as ameixeiras, que estavam floridas, faziam um túnel sobre minha cabeça. Os matos eram verde sob meus pés, e o céu estava azul acima de mim.

Flores amarelas cobriam as árvores e o cheiro delas invadiam meu nariz. Então, bem no final do túnel, estava a maior árvore de

todas, uma mangueira de quase cinco década. Seus galhos pendiam quase até o chão. O tronco era o mais grosso de todo o bosque.

Era a favorita minha e de Joseph.

E da vovó também.

Eu estava sem fôlego. Quando cheguei debaixo da mangueira, afundei-me no chão, apertando meu pote, enquanto lágrimas rolavam pelo meu rosto. Eu senti Joseph parar ao meu lado, mas não olhei para cima.

— Larinha?

Disse Joseph. Era como ele me chamava, quando eu estava triste. Eu adorava quando ele falava meu nome assim.

— Larinha, não chore, eu estou aqui com voce.

Ele sussurrou.

Mas eu não conseguia evitar. Eu não queria que minha vovó me deixasse, mesmo sabendo que ela precisava ir. Eu sabia que, quando voltasse para casa, vovó não estaria mais lá: nem agora, nem nunca mais.

Joseph sentou ao meu lado e me puxou para um abraço. Eu me aconcheguei no peito dele e chorei. Eu amava os abraços de Joseph, ele

sempre me apertava tão forte e era tão quentinho e gostoso aquele abraço.

— Minha vovó, Joseph, ela está muito doente e indo embora.

— Eu sei, Larinha, minha mãe me contou quando voltei da escola.

Continuei com a cabeça encostada no peito dele. Quando eu já não conseguia mais chorar, me sentei, enxugando o rosto. Olhei para Joseph, que estava me observando. Tentei sorrir. Assim que consegui, ele pegou

minha mão e a levou ao peito dele.

— Sinto muito que esteja triste, Larinha.

Disse Joseph, apertando minha mão contra seu peito.

A camiseta dele estava morna do sol.

— Não quero que você fique triste, nunca, Larinha. Você sempre sorri. Você está sempre feliz.

Funguei e apoiei a cabeça no ombro dele.

— Eu sei. Mas vovó é minha melhor amiga, Joseph, e eu não a terei mais.

Joseph não falou nada no começo, mas, depois disse:

— Eu também sou seu melhor amigo. E não vou a lugar algum. Eu prometo. Sempre estarei com você.

Meu peito, que estava doendo muito, de repente não doía mais tanto.

Concordei com a cabeça.

— Joseph e Lara até o infinito.

Eu disse.

— Até o infinito.

Ele repetiu.

Ficamos quietos por um tempo, até que Joseph perguntou:

— Para que serve esse pote, Lara? O que tem dentro?

Puxando minha mão de volta, peguei o pote e o levantei no ar.

— Minha vovó me deu uma nova aventura. Uma que vai durar minha vida inteira.

As sobrancelhas de Joseph se moveram para baixo e seu longo cabelo caiu sobre os olhos. Baixei o pote, e Joseph deu aquele seu meio sorriso.

Todas as meninas da escola queriam que ele sorrisse daquele jeito para elas, elas me disseram. Mas ele sorria assim apenas para mim. Eu disse que nenhuma delas poderia ficar com o sorriso dele, de nenhum jeito, pois ele era meu, joseph era meu melhor amigo e eu não queria dividi-lo com ninguém.

Joseph apontou para o pote.

— Eu não estou entendendo.

— Você lembra quais são as memórias favoritas da minha vovó? Eu já te contei.

Eu podia ver Joseph pensando intensamente, então ele disse:

— Beijos do vovô Raul?

Fiz que sim com a cabeça e puxei uma flor dente de leão que estava ao meu lado. Observei a florzinha. Ela era a favoritas da minha avó. Ela gostava delas porque não duravam muito. Ela me falou que as melhores coisas, as mais bonitas, nunca permanecem por muito tempo.

Ela disse que as flores dente de leão eram bonitas demais para durar o ano todo.

Era mais especial porque sua vida era curta. Como as borboletas: beleza extrema, morte rápida. Eu ainda não tinha muita certeza do

que isso significava, mas ela disse que eu entenderia melhor à medida que ficasse mais velha.

E acho que ela estava certa. Porque minha avó não era tão velha e estava indo embora jovem, pelo menos foi o que papai disse.

Talvez fosse por isso que ela gostava tanto das flores. Porque era igual a elas.

— Larinha?

A voz de Joseph me fez olhar para cima.

— Estou certo? Beijar seu avô eram as lembranças favoritas de sua vovó?

— Sim.

Respondi, deixando a flor cair.

— Todos os beijos que ganhou que fizeram o coração dela quase explodir. Vovó disse que os beijos dele eram as melhores coisas do mundo. Porque significava que ele a amava, que se importava com ela. E ele gostava dela exatamente por quem ela era.

Joseph olhou o pote e bufou.

— Ainda não estou entendendo, Lara.

Eu ri, e ele fez uma careta. Ele tinha belos lábios; eram bem grossos, com um arco perfeito. Abri o pote e puxei uma estrela de

papel dourado sem nada escrito. Eu o segurei no ar, entre mim e Joseph.

— Isto é uma aventura vazia.

Então apontei para o pote e continuei:

— Vovó me deu muitos deles para colecionar na minha vida.

Coloquei a estrela de volta no pote, peguei a mão dele e disse:

— Uma nova aventura, Joseph. Colecionar milhares de aventuras e momentos felizes antes de morrer… junto com minha alma gêmea.

— O quê, Lara? Estou confuso.

Disse ele, mas eu podia ouvir a raiva em suas palavras. Joseph podia ser bem genioso quando queria.

Eu puxei a caneta do bolso.

— Quando eu ganhar meu primeiro beijo, quando for algo tão especial que meu coração poderia quase explodir … apenas os momentos mais especiais … eu tenho que escrever os detalhes em uma dessas estrelas. É para quando eu ficar velha e grisalha e quiser contar para meus netinhos

tudo sobre o que realmente for especial na minha vida.

— Eu me levantei, sentindo a empolgação dentro de mim.

É o que vovó queria para mim, Joseph. Então tenho que começar logo! Quero fazer isso por ela.

Joseph também ficou de pé. Justamente nesse momento uma rajada de vento soprou pétalas de flores bem onde estávamos, e eu sorri.

Mas Joseph não estava sorrindo. Na verdade, ele parecia furioso.

— Você vai beijar um garoto, para o seu pote? Um garoto especial? Que você ama?

Ele perguntou.

Disse que sim.

Joseph balançou a cabeça e fez uma careta de novo.

— NÃO!

Ele gritou. E o sorriso sumiu do meu rosto.

— O quê?

Perguntei sem entender porque ele estava tão bravo.

Joseph se aproximou, balançando a cabeça mais forte.

— Não! Eu não quero você beijando um garoto para o seu pote! Eu não vou deixar!

— Mas…

Tentei falar, mas Joseph tomou minha mão.

— Você é minha melhor amiga.

Ele disse e estufou o peito, puxando minha mão.

— Eu não quero você beijando garotos!

— Mas eu tenho que beijar.

Expliquei, mostrando o pote.

— Eu tenho que começar a minha aventura. E mesmo assim, você ainda seria meu melhor amigo. Ninguém jamais será tão importante para mim, seu bobo.

Ele olhou intensamente para mim, depois para o pote. Meu peito doeu de novo. Pelo olhar em seu rosto, eu via que ele não estava feliz. Ele tinha ficado mal-humorado de novo.

Cheguei mais perto do meu melhor amigo, e os olhos de Joseph se fixaram nos meus.

— Larinha.

Ele disse, com a voz mais profunda, dura e forte.

— Joseph e Lara. Até o infinito, para sempre e sempre!

Abri a boca para gritar com ele, dizer que era uma aventura que eu tinha que começar. Mas, assim que fiz isso, Joseph se inclinou para a frente e pressionou os lábios dele nos meus.

Eu congelei. Não conseguia mover um músculo sequer enquanto sentia seus lábios. Eram mornos. Joseph tinha gosto de cravo e canela.

O vento soprou seu cabelo sobre meu rosto. Começou a fazer cócegas no meu nariz.

Joseph se afastou um pouco, mas seu rosto ficou perto do meu. Tentei respirar, mas meu peito estava esquisito, meio leve. E meu coração estava batendo rápido. Tão rápido que coloquei a mão no peito para senti-lo tão

acelerado dentro de mim.

— Joseph.

Sussurrei. Levantei a mão para colocar os dedos sobre os lábios. Ele piscou várias vezes enquanto me observava. Estendi minha mão e levei meus dedos até os seus lábios.

— Você me beijou.

Eu disse, sem acreditar.

Joseph levantou a mão para segurar a minha. Ele baixou nossas mãos unidas para seu lado.

— Eu vou está em todas as aventuras com você, e darei todos os beijos que você quiser. Todos eles. Ninguém nunca vai beijar você, só eu.

Meus olhos se arregalaram, mas meu coração não desacelerou.

— Isso seria para sempre, Joseph. Nunca ser beijada por mais ninguém significa que ficaremos juntos para sempre e para todo sempre?

Joseph fez que sim com a cabeça e então sorriu. Ele não sorria muito.

Normalmente, dava um meio sorriso ou um sorrisinho. Mas ele deveria sorrir sempre. Ele ficava lindo quando sorria.

— Somos para sempre. Até o infinito, lembra?

Assenti com a cabeça lentamente e então a inclinei para o lado.

— Você vai me dar todos os meus beijos? O suficiente para encher este pote inteiro?

Perguntei.

Joseph deu outro sorrisinho.

— Todos eles. Vamos encher o pote inteiro e mais. Vamos juntar bem mais que um pote.

Dei um suspiro e então me lembrei do pote. Puxei de volta minha mão, assim conseguiria alcançar a caneta e abrir a tampa do pote. Peguei uma estrela e me sentei para escrever. Joseph se ajoelhou diante de mim e

colocou a mão sobre a minha, impedindo-me de escrever.

Olhei confusa para ele. Ele engoliu em seco, enfiou o cabelo atrás da orelha e perguntou:

— Quando… eu… beijei você… seu coração quase explodiu? Foi muito especial? Você disse que só os momentos muito especiais

iam para o pote.

Ao dizer isso, ele ficou vermelho e baixou os olhos.

Sem pensar, coloquei os braços em torno do pescoço do meu melhor amigo. Encostei o rosto em seu peito e escutei seu coração.

Estava batendo tão rápido quanto o meu.

— Foi, Joseph. Foi tão especial quanto é possível ser especial.

Senti Joseph sorrindo e me afastei um pouco. Cruzei as pernas e coloquei a estrela de papel sobre a tampa do pote. Joseph também se sentou e cruzou as perna.

— O que você vai escrever?

Ele perguntou.

botei a tampa da caneta na boca enquanto pensava. Sentei-me reta e me inclinei um pouco para a frente, pressionando a caneta no papel.

"Aventura estrelada número um

Com Joseph, meu melhor amigo.

Na floresta, debaixo da nossa mangueira especial.

Meu coração quase explodiu."

Quando terminei de escrever, guardei a estrela no pote e fechei bem a tampa. Olhei para Joseph, que tinha me observado o tempo todo, e anunciei, orgulhosa:

— Aqui está. Minha primeira aventura estrelada!

Ele assentiu com a cabeça, mas seus olhos se voltaram para os meus lábios.

— Lara?

— Sim?

Sussurrei.

Joseph pegou minha mão e começou a fazer traços nela com a ponta do dedo.

— Posso… Posso te beijar de novo, Larinha?

Engoli em seco, sentindo um frio na barriga.

— Você quer me beijar de novo… agora?

Joseph fez que sim com a cabeça.

— Fazia tempo que eu queria beijar você. E, bem, você é minha melhor amiga e gostei disso. Gostei de te beijar. Você tem gosto de algodão-doce.

— Eu comi um pouco de algodão-doce no caminho para casa. O favorito da vovó.

Expliquei.

Joseph respirou fundo e se inclinou para mim. Seu cabelo foi para a frente.

— Eu quero fazer isso de novo.

Disse ele.

— Tudo bem.

E Joseph me beijou. E até o fim do dia eu tinha mais quatro estrelas de momentos especial no meu pote.

Quando cheguei em casa, mamãe me disse que minha vovó tinha ido para o céu. Corri para o meu quarto o mais rápido que pude. E me apressei para pegar no sono. Como ela havia prometido, vovó estava lá nos meus

sonhos. Contei para ela sobre meu beijo com Joseph.

Minha vovó deu um grande sorriso e me beijou no rosto.

Eu sabia que essa seria a melhor aventura da minha vida e vivi com a pessoa que mais amo nessa vida.

Para todo sempre Joseph e Lara.

Para sempre

"Você me trás paz e os melhores sorrisos"

Joseph R. Russo.

Há um ano

Aos dezesseis anos de idade.

Desde que a vi pela primeira vez, nunca mais consegui tirar Lara de minha cabeça, ela sempre foi e sempre será minha melhor amiga. estamos sempre juntos e dividimos a mesma história.

O silêncio invadiu o anfiteatro enquanto Lara se posicionava no palco. Bom, nem tudo

estava em silêncio, eu estava tão ancioso que eu podia ouvir meus batimentos cardíacos, e nem era a primeira vez que eu assistia uma de suas apresentações.

Lara estava linda com aquele jeans rasgado e all star, seu cabelo estava solto. Levantei o celular e liguei a câmera assim que ela se posicionou no meio do palco. Sempre amei fotografa-la, era assim que eu guardava nossos momentos.

Eu amava a aparência que Lara incorporava antes de cada apresentação, ela era pura paixão, letras e poesias.

Baixei o celular e passei a me concentrar apenas nela, enquanto ela recitava. Eu não podia perder nenhum detalhe de como ela

brilhava naquele palco.

Lara amava poesia, e escrevia desde que sua avó lhe deu aquele pote de aventuras estreladas. a poesia era a essência de Lara.

Eu não conseguia tirar os olhos de Lara. Meu coração corria feito um corcel negro meio a natureza. As covinhas do seu rosto apareciam enquanto ela declamava uma poesia e outra. Seus olhos permaneciam

fechados, mas era possível ver o quanto ela estava amando está ali.

Seu corpo pendia para um lado e para o outro, como se fizesse parte dos versos, e um grande sorriso tomava seu rosto.

Tínhamos apenas dezesseis anos, mas desde o dia em que a beijei debaixo da nossa mangueira, aos nove anos, ela era a única. Eu não tinha olhos para nenhuma outra garota, eu a amava. No meu mundo, só existia ela e eu.

Lara era diferente de todas as garotas da nossa sala. Ela era a garota mais legal, não se preocupava com o que as pessoas pensavam dela e não tinha preconceito com nada. Ela lia livros, estudava para se divertir, acordava ao amanhecer só para ver o sol se levantar.

Era por isso que ela era tudo para mim. Minha para sempre, até o fim.

Porque ela era única. Única em uma cidade repleta de cópias, de meninas cheias dos não me toque. Ela não queria ser animadora de torcidas, nem falar mal dos outros, nem correr atrás de garotos. Ela sabia que me tinha, tanto quanto eu a tinha.

Éramos tudo um para o outro e isto bastava.

Eu me mexi no assento enquanto o som da sua voz nos levava ao seu final da apresentação. Levantei novamente o celular com a câmera ligada para tirar uma última foto de Lara com sua uma expressão de contentamento adornando seu belo rosto.

O som dos aplausos me fez baixar o celular. Lara fez uma pequena reverência e então

olhou para todo o auditório. Seus olhos procuravam os meus. Ela sorriu.

Achei que meu coração fosse sair pela boca. Dei um sorrisinho de volta. Um rubor cobriu as bochechas de Lara, e então ela saiu do palco pela esquerda, enquanto as luzes inundavam de claridade o auditório.

Lara foi a última a se apresentar. Ela sempre fechava uma apresentação.

Uma vez perguntei a ela como conseguia recitar tão bem. Ela simplesmente me disse que as poesias brotavam com a mesma

facilidade com que respirava. Eu não podia imaginar o que era ter um talento daqueles.

Mas aquela era Lara, a garota mais incrível do mundo.

Quando os aplausos terminaram, as pessoas começaram a deixar o auditório. Senti alguém apertar meu braço. Era a dona Marcela, que

enxugava as lágrimas. Ela sempre chorava quando Lara se apresentava.

— Joseph, meu filho, precisamos levar o Luís para casa. Você vai encontrar com a Lara?

— Sim, senhora.

Respondi, rindo discretamente.

Dona Marcela dar um beijo na minha testa e foi embora com Luís seu filho caçula. Enquanto descia para o corredor, ouvi sussurros e risinhos vindos do

meu lado direito. Olhando sobre os assentos, vi um grupo de meninas olhando para minha direção. Baixei a cabeça, ignorando os olhares.

Acontecia muito. Eu não tinha ideia do motivo pelo qual tantas delas me davam tanta atenção. Eu estava com Lara desde que elas me conheciam. Eu não queria nenhuma outra garota. E gostaria que elas parassem de tentar-me tirar da garota que amo.

Fui para a saída dos bastidores. O ar estava denso e húmido, fazendo a minha camisa grudar no peito. Meu jeans e o meu sapato

preto eram quentes demais para o calor de Fortaleza, mas eu usava roupa preta todo o dia, não importava o clima.

Eu encostei-me na parede do auditório, descansando o pé na parede.

Cruzei os braços sobre o peito, soltando-os apenas para tirar o cabelo dos olhos.

Vi os artistas sendo abraçados por seus familiares e então, as mesmas garotas de antes estavam-me encarando, baixei os olhos para o chão. Eu não queria que elas fossem até ali. Eu não tinha nada para dizer-lhes.

Os meus olhos ainda estavam baixos quando ouvi passos na minha direção. Olhei para cima no momento em que Lara se jogou no meu peito, os braços envolvendo as minhas costas, apertando-me forte. Soltei um riso curto e a abracei de volta. Eu já tinha um metro e setenta e cinco, então ficava muito acima do, um metro e sessenta de Lara. Mas eu gostava de como ela se encaixava perfeitamente em mim.

Respirei profundamente para sentir o cheiro do perfume de Lara e pousei o rosto na sua cabeça. Depois de um último apertão, Lara afastou-se e sorriu para mim. Os seus olhos claros pareciam enormes com o rímel e a maquiagem leve, e os seus lábios estavam rosados e exuberantes devido ao batom de cereja.

Sem conseguir resistir ao desejo de sentir os seus lábios junto aos meus, eu curvei-me lentamente para a frente, quase sorrindo ao ouvir o suspiro que Lara sempre soltava naqueles instantes anteriores ao encontro dos nossos lábios.

Quando os nossos lábios se tocaram, soltei o ar pelo nariz. Lara sempre tinha aquele gosto de cereja, e o sabor do seu batom inundava a minha boca. Ela retribuiu o meu beijo, as suas pequenas mãos agarrando com força os lados da minha camisa preta.

Movi a minha boca contra a dela, devagar e com suavidade, até que finalmente me afastei, depositando três beijos curtos e leves na sua boca avolumada. Tomei fôlego e observei os olhos de Lara piscando até se abrirem. As suas pupilas estavam dilatadas. Ela lambeu o lábio inferior antes de dar-me um sorriso reluzente e dizer:

— Aventura estrelada número quatrocentos e vinte e dois. Com o meu Joseph, encostada na parede do auditório do anfiteatro.

Segurei a respiração, esperando que ela continuasse a falar. O brilho nos olhos de Lara dizia-me que as palavras que eu esperava iam sair dos seus lábios. Chegando mais perto, balançando na ponta dos pés, ela sussurrou:

— E o meu coração quase explodiu de tanta emoção.

Ela só registrava os nossos momentos mais especiais. Apenas os que faziam com que ela sentisse o seu coração cheio. A cada vez que nos beijávamos, eu esperava por aquelas palavras.

E, quando elas vieram, Lara quase me fez explodir com seu sorriso.

Ela riu. Eu só podia sorrir com o som de felicidade em sua voz. Dei outro beijo rápido em seus lábios e desgrudei um pouco dela, para passar meu braço por seus ombros. Eu a puxei para perto e encostei o rosto em sua cabeça.

Os braços de Lara envolveram as minhas costas e meu abdómen, e eu levei-a para longe da parede. Quando fiz isso, senti Lara congelar.

Levantei a cabeça e vi as meninas apontando para Lara e cochichando entre si. Os olhos delas estavam focados em Lara nos meus

braços. Minha mandíbula apertou-se. Eu odiava que elas a tratassem daquela maneira, por puro ciúme. A maioria das garotas nunca dava uma chance a Lara porque queriam o que ela tinha. Lara dizia que não ligava, mas eu percebia que sim. O fato de ela ter endurecido nos meus braços dizia-me o quanto ela se importava com tudo aquilo.

Eu posicionei-me de frente para Lara e esperei que ela levantasse a cabeça. Assim que o fez, eu falei:

— Ignore essas meninas, elas são fúteis e sem noção.

Senti um peso no estômago quando a vi forçar um sorriso.

— Eu ignoro, Joseph. Elas não me incomodam.

Pendi a cabeça para o lado e levantei as sobrancelhas. Lara balançou a cabeça.

— Não me incomodam, juro.

Ela tentou mentir.

Lara olhou por cima do meu ombro e encolheu os dela. Quando os seus olhos encontraram os meus, ela disse:

— Mas eu entendo. Quer dizer, olha para você, Joseph. Você é maravilhoso. Alto, misterioso, exótico… italiano !

Ela riu e colocou a palma da mão no meu peito.

— Você tem todo esse lance de bad boy. As meninas não conseguem deixar de desejar-te. Você é você. Você é perfeitamente lindo.

Cheguei mais perto e vi os olhos claros de Lara se arregalarem.

— E todo seu.

Completei. A tensão se esvaiu dos ombros dela. Escorreguei a minha mão até a mão dela, ainda no meu peito.

— E eu não sou misterioso, Larinha. Você sabe tudo sobre mim: sem segredos, sem mistérios.

— Para mim.

Ela argumentou, olhando-me nos olhos mais uma vez.

— Você não é um mistério para mim, mas é para todas as garotas da escola. E todas querem você.

Eu suspirei, começando a ficar irritado.

— E tudo o que eu quero é você.

Lara observou-me como se tentasse descobrir algo na minha expressão. Isso só me irritou mais. Juntei os nossos dedos e sussurrei:

— Até o infinito, lembra?

Com isso, um sorriso genuíno surgiu nos lábios de Lara.

— Para sempre e sempre.

Ela, por fim, sussurrou de volta.

Encostei a minha testa na dela. As minhas mãos contornaram o seu rosto, e afirmei:

— Eu quero você e só você. Desde que eu tinha seis anos e você apertou a minha mão. Nenhuma garota vai mudar isso.

— Sério?

Perguntou Lara, mas eu podia ouvir o humor de volta na sua voz doce.

— Claro.

Respondi, ouvindo o doce som do riso dela nos meus ouvidos. Eu beijei a sua testa, então dei um passo para trás para pegar nas suas mãos.

— Sua mãe e o seu pai levaram Luís para casa; eles pediram-me para te avisar.

Ela balançou a cabeça e então me olhou nervosa.

— O que você achou da apresentação de hoje?

Virei os olhos para cima e torci o nariz.

— Horrível, como sempre.

Eu disse de modo frio. Lara riu e bateu no meu braço.

— Joseph Ricci Russo! Não seja tão malvado!

Ela repreendeu-me.

— Ok!

Eu disse, fingindo estar irritado. E a puxei para os meus braços e prendendo-a contra mim. Ela soltou uns gritinhos quando comecei a beijar o seu rosto de cima a baixo,

mantendo os seus braços presos do lado. Desci os lábios por seu pescoço e senti na sua respiração, todos os risos esquecidos.

— Você estava incrível minha linda.

Sussurrei.

— Como sempre. Você é sempre perfeita lá em cima. Você dominou aquele palco. E ganhou cada um naquele auditório.

— Joseph.

Ela murmurou. Ouvi o tom feliz na sua voz.

Fui para trás, ainda sem soltar seus braços.

— Tenho o maior orgulho quando te vejo naquele palco.

Confessei.

— Joseph.

Ela disse timidamente, mas baixei a cabeça para manter o contato visual quando ela tentou se afastar.

— Você está me bajulando.

Abanei a cabeça.

— Nunca. Eu sempre falo somente a verdade.

Lara pousou os lábios nos meus e senti seu beijo. Quando ela se afastou, eu a soltei e lhe dei a mão.

— Para onde estamos indo?

Lara perguntou quando comecei a conduzi-la pelo estacionamento, segurando-a um pouco mais perto ao passarmos pelo grupo de meninas.

— Eu preferiria ficar sozinho com você, mas parece que fizeram uma fogueira na beira da praia, todos vão está lá.

Lara olhou-me. Pela contração dos lábios dela eu sabia que ela queria ir encontrar os nossos amigos.

— Hoje é sábado à noite, Joseph. Nós temos dezesseis anos, e você acabou de passar a maior parte da noite assistindo à minha apresentação. Temos duas horas até a hora de voltar para casa; deveríamos ver nossos amigos, como adolescentes normais.

— Certo.

Eu rendi-me e envolvi os ombros dela com o braço.

Então me abaixei, encostei a boca em seu ouvido e disse:

— Mas amanhã eu vou ter você só pra mim.

Lara colocou o braço em torno da minha cintura e apertou-me forte.

— Está bem. Eu prometo.

Ouvimos as garotas atrás de nós mencionarem o meu nome. Bufei de frustração.

— É porque você é diferente, Joseph.

Disse Lara , sem olhar para cima.

— Você é um artísta, gosta de fotografia, usa roupas escuras.

Ela riu e balançou a cabeça. Afastei o cabelo do rosto. Lara apontou.

— Mas principalmente por causa disso.

Franzi a testa.

— Por causa do quê?

Ela puxou uma mecha do meu cabelo.

— Quando você faz isso. Quando joga o cabelo para trás.

Levantei uma sobrancelha, confuso.

— Sério ?

Perguntei, antes de parar na frente de Lara, jogando os cabelos para trás com exagero até que ela risse.

— Irresistível, hein? Para você também?

Lara riu e tirou a minha mão do meu cabelo para envolver a sua. Enquanto seguíamos pelo caminho para a praia, local onde os garotos da escola ficavam à noite, Lara disse:

— Realmente não me incomodo que as outras garotas olhem para você, Joseph. Eu sei o que sente por mim, porque é exatamente a mesma coisa que sinto por você.

Lara mordeu o lábio inferior. Eu sabia que isso significava que ela estava nervosa, mas não sabia porquê, até que ela disse:

— A única garota que me incomoda é a Tayla. Porque ela gosta de você há muito tempo e porque tenho certeza de que ela faria qualquer coisa para conseguir ficar com você.

Balancei a cabeça. Eu nem gostava de Tayla, mas ela fazia parte de nosso grupo de amigos e estava sempre por perto. Todos os meus amigos gostavam dela; todos a achavam a menina mais bonita de todas. Mas eu nunca tinha achado isso e odiava a maneira como ela se comportava comigo. Eu odiava que ela fizesse Lara se sentir daquela maneira.

— Ela não é nada, Larinha, você é a única que gosto.

Eu tranquilizei-a.

Lara aninhou-se contra o meu peito e viramos para a direita, na direção dos nossos amigos. Quanto mais nos aproximávamos, mais eu apertava Lara . Tayla se endireitou quando nos aproximamos.

Eu voltei-me para Lara e repeti:

— Ela não é nada.

Lara apertou a minha camisa, querendo-me dizer que ela escutou. Sua melhor amiga Any, ficou de pé.

— Lara!

Any gritou, empolgada, vindo abraçá-la.

Eu gostava de Any. Ela era muito legal e não pensava muito antes de falar, mas ela amava Lara e Lara a amava. Era uma das poucas pessoas nesta cidade que achava Lara cativante, e não apenas esquisita.

— Como vocês estão, meus queridos?

Any perguntou e deu um passo para trás. Ela olhou para a roupa de Lara .

— Você está linda! Tão fofa!

Lara curvou a cabeça em agradecimento. Segurei-lhe a mão de novo e a guiei em torno da pequena fogueira. Eu sentei-me, com as costas apoiadas num banco de madeira, e puxei Lara , para que ela se acomodasse entre as minhas pernas. Lara deu-me um sorriso e sentou-se comigo, colocando as costas contra o meu peito e encaixando a cabeça em meu pescoço.

— Então, Lara , como foi a apresentação de hoje?

Marcos , meu amigo mais próximo, perguntou do outro lado da fogueira. Nick, que também era meu amigo, estava sentado ao lado dele. Ele levantou o queixo em um cumprimento, e sua namorada, Rosa, deu um pequeno aceno para nós.

Lara encolheu os ombros.

— Bom, acho que todos gostaram, então, foi bom.

Enquanto envolvia o peito dela com os braços, apertando-a forte, olhei para meu amigo Marcos e completei:

— Foi a estrela da apresentação. Como sempre, perfeita.

— Foi só uma apresentação, Joseph . Nada especial.

Lara argumentou delicadamente.

Balancei a cabeça em protesto e disse:

— A plateia veio abaixo, e todos aplaudiram de pé.

Flagrei Any sorrindo para mim. Também flagrei Tayla revirando os olhos com desdém. Lara ignorou Tayla e começou a falar com Any sobre as aulas.

— Lara, juro que o Sr. Messias é um alienígena, ele é de algum lugar fora da nossa realidade, de um universo paralelo. Foi trazido

pelo diretor Raul para nos torturar, jovens terráqueos fracos, com aulas de matemática difíceis demais. É assim que ele consegue a sua força vital. Tenho certeza. E penso que ele está de olho em mim… Porque sei que ele é um extraterrestre! Aquele cara fica me olhando feio a aula toda!

— Any!

Lara riu, e riu tanto que chacoalhou o corpo todo. Sorri pela alegria dela e então parei de prestar atenção. Eu traçava preguiçosamente desenhos no braço de Lara, querendo apenas ir embora.

Eu não tinha nada contra ficar com nossos amigos, mas preferia ficar sozinho com ela. Era a companhia dela que eu desejava; onde quer que estivéssemos juntos, era sempre o melhor lugar.

Lara riu de outra coisa que Any havia dito. Seu riso foi tão intenso que ela derrubou o celular para o lado, Lara me deu um sorriso de desculpas. Eu me curvei para a frente, puxei seu queixo com o dedo e a beijei nos lábios. Era para ser algo rápido e suave, mas, quando a mão de Lara se enroscou nos meus cabelos, me puxando para bem perto, perdendo o fôlego.

Os dedos de Lara envolveram meus cabelos. Coloquei as mãos em seu rosto para prolongar o beijo o máximo possível. Se eu não precisasse respirar, imaginei, jamais precisaria parar de beijá-la.

Perdidos no beijo, só nos largamos quando alguém limpou a garganta do outro lado da fogueira. Levantei a cabeça e vi Nick dando um risinho. Quando olhei para Lara , seu rosto estava em chamas. Nossos amigos esconderam o riso, e apertei Lara mais forte. Eu não ficava envergonhado por beijar minha garota.

A conversa recomeçou, e examinei o celular para ver se estava tudo bem. Minha mãe e meu pai o tinham comprado no meu aniversário de dezesseis anos, quando perceberam que a fotografia estava se tornando uma paixão. Ele tinha uma câmera noturna e para onde eu ia eu o levava e tirava milhares de fotos. Não sei bem por quê, mas capturar momentos me fascinava. Talvez porque às vezes tudo que temos são momentos. Porque não há repetições; o que acontece em um momento define a vida, talvez seja a vida. Capturar um momento e manter vivo para sempre. Para mim, fotografia era algo mágico.

Rolei as fotos da galeria para cima. Fotos da natureza e closes de flores das ameixeiras do bosque ocupavam a maior parte da galeria. Aí viriam as fotos de Lara naquela noite. Seu rosto lindo no momento em que a poesia

tomava o controle. Eu tinha visto aquele olhar no rosto dela apenas uma outra vez, quando ela olhava para mim. Para Lara , eu era tão especial quanto seus versos.

Nos dois casos havia uma ligação que ninguém poderia quebrar.

Levantei o celular com as lentes da câmera viradas em nossa direção.

Lara não estava mais participando da conversa. Ela silenciosamente corria

a ponta dos dedos ao longo do meu braço. Pegando-a desprevenida, tirei a foto, assim que ela olhou para mim. Soltei apenas uma risada quando ela apertou os olhos, irritada. Eu sabia que não estava brava, apesar dos seus esforços para passar essa impressão. lara amava qualquer foto que eu tirasse da gente, mesmo quando eu a pegava desprevenida.

Quando me concentrei no celular, meu coração começou a bater forte.

Na foto, ao olhar para mim, Lara estava linda. Mas era a expressão no rosto dela que tinha me surpreendido. O olhar em seus olhos claros. Momentos que me fascinavam. Momentos simples capturados por mim, momentos com aquela expressão. A que ela me dava tão prontamente quanto dava à seus versos. A que me dizia que eu era dela da mesma maneira que ela era minha. A que tinha garantido que passássemos todos aqueles anos juntos.

A que dizia que, mesmo sendo jovens, tínhamos encontrado um no outro nossa alma gêmea.

— Posso ver?

A voz baixa de Lara tirou minha atenção da tela. Ela sorriu para mim e baixei o celular para mostrar a ela.

Observei Lara, enquanto seu olhar se voltou para a tela.

Observei seus olhos se abrandarem e o sopro de um sorriso se esboçar em seus lábios.

— Joseph.

Ela sussurrou, enquanto buscava a minha mão livre. Eu apertei a sua mão, e ela disse:

— Eu quero uma cópia desta. É perfeita.

Assenti e beijei a sua cabeça.

É por isso que eu amo fotografia, pensei. Pode despertar emoções, emoções brutas, de uma fração de segundo no tempo.

Ao desligar a galeria do celular, vi o horário na tela.

— Larinha?

Eu disse baixinho.

— Temos de ir para casa. Está ficando tarde, seus pais podem está preocupados.

Lara assentiu com a cabeça. Fiquei de pé e a puxei para cima.

— Vocês estão indo?

Perguntou Marcos.

Disse que sim.

— Estamos. Vejo vocês na escola na segunda.

Acenei para todos e peguei a mão de Lara . Não falamos muito no caminho para casa. Quando paramos na porta da casa dela, eu a peguei nos braços e a puxei para o meu peito. Coloquei minha mão no lado de seu pescoço. Lara olhou para cima.

— Tenho tanto orgulho de você, Larinha. Tenho certeza de que vai conseguir realizar todos seus sonhos.

Lara deu um sorriso vivo e falou.

— E você vai ser um artista famoso, e vai viajar pelo mundo com sua exposição de fotos, nossos melhores momentos . Estaremos juntos em Nova York, Paris, Angola e Itália, como sempre foi para ser. Como sempre planejamos.

Concordei com a cabeça e rocei meus lábios em sua bochecha.

— E então não haverá mais hora de voltar para casa.

Sussurrei de modo provocante. Lara riu. Movi os lábios em direção à sua boca, beijei-a suavemente e me afastei.

No momento em que eu soltava as mãos dela, o Sr. Lucas abriu a porta. Ele viu eu me afastar de sua filha e balançou a cabeça, rindo. Ele sabia exatamente o que estávamos fazendo.

— Boa noite, Joseph.

Ele disse, sorrindo.

— Boa noite, Sr. Lucas.

Respondi, vendo Lara corar enquanto seu pai fazia um gesto para que ela entrasse.

Cruzei o gramado até minha casa. Abri a porta, entrei na sala e vi meus pais sentados no sofá. Ambos estavam com o corpo inclinado para a frente e pareciam tensos.

— Boa noite, desculpe-me o horário.

Eu disse, e minha mãe levantou a cabeça.

— Boa noite, querido, está tudo bem.

Ela falou.

Franzi a testa.

— Está acontecendo algo que devo me preocupar?

Minha mãe lançou um olhar para meu pai e balançou a cabeça.

— Não , querido. Como foi a apresentação de Lara? Sinto muito por termos perdido.

Encarei meus pais. Eles estavam escondendo algo, eu sabia. Quando eles não continuaram a conversa, assenti devagar com a cabeça,

respondendo à pergunta deles:

— Ela foi perfeita, como sempre.

Pensei ter visto lágrimas nos olhos de minha mãe, mas ela piscou rapidamente, livrando-se delas. Precisando escapar do embaraço, mostrei meu celular.

— Vou revelar essas fotos e depois vou para a cama.

Enquanto eu me virava para sair, meu pai disse:

— Vamos sair em um passeio em família amanhã, Joseph.

Parei de repente.

— Combinei de passar o dia com a Lara.

Meu pai balançou a cabeça.

— Amanhã não, Joseph.

— Mas…

Tentei argumentar, porém, meu pai cortou-me, com a voz dura.

— Eu disse não. Você vem com a gente, ponto-final. Lara pode ver você quando voltarmos. Não vamos ficar fora o dia todo.

— O que está acontecendo?

Meu pai caminhou até parar na minha frente. Ele botou a mão no meu ombro.

— Nada, Joseph. Apenas que eu nunca vejo você por causa do trabalho. Quero mudar isso, então vamos passar o dia na praia.

— A Lara pode ir com a gente? Ela adora a praia. É o segundo lugar favorito dela.

— Amanhã não, filho.

Fiquei em silêncio. Eu estava ficando nervoso, mas sabia que ele não ia ceder. Papai suspirou.

— Vá revelar suas fotos, Joseph, e pare de se preocupar.

Fazendo o que ele sugeriu, desci para o porão e entrei no quartinho que papai tinha transformado em uma câmara escura para mim. Eu ainda revelava as fotos da maneira antiga. O resultado era melhor do que com uma câmera digital.

Depois de vinte minutos, dei um passo para trás, afastando-me do meu varal de novas fotos. Também tinha feito uma cópia da foto, minha e de Lara na fogueira. Eu a peguei e a levei para o meu quarto. Enfiei a cabeça no quarto de Antonino ao passar, para ver se meu irmão de cinco anos estava dormindo. Ele estava, abraçando forte seu ursinho de

pelúcia, o cabelo bagunçado espalhado sobre o travesseiro.

Empurrei minha porta e acendi a luminária. Olhei para o relógio; era quase meia-noite. Correndo a mão pelo cabelo, fui para a janela e sorri quando vi a casa de Lara no escuro, a não ser pelo brilho esmaecido da luz noturna de Lara. O sinal de que o terreno estava livre para que eu entrasse sorrateiramente pela janela.

Tranquei a porta do meu quarto e desliguei a luminária. O quarto foi engolido pela escuridão. Vesti minha calça e minha camiseta de dormir.

Procurando não fazer barulho, levantei a janela e pulei. corri pelo gramado e entrei pela janela de Lara. Olhei para ela deitada em sua cama, seus olhos estavam fechados, e sua respiração era suave e constante. Sorrindo ao ver como ela ficava bonitinha com o rosto repousando na mão, andei

cuidadosamente até ela, coloquei seu presente na mesinha de cabeceira subi na cama.

Eu me deitei ao lado dela, baixando a cabeça para dividir seu travesseiro.

Fazíamos isso havia anos. Na primeira vez em que eu tinha passado a noite, tinha sido um engano; tínhamos quatorze anos e entrei no seu quarto para conversar, mas peguei no sono. Por sorte, na manhã seguinte acordei cedo o suficiente para me esgueirar de volta ao meu quarto sem ser notado.

Mas então, na noite seguinte, eu fiquei de propósito, e na noite depois daquela, e

quase todas as noites desde então. Felizmente nunca fomos pegos. Eu não

tinha certeza de que o Sr. Lucas ia gostar de mim do mesmo jeito se soubesse que eu dormia na cama da filha dele. Apesar de nunca acontecer nada, ele não entenderia.

Mas ficar ao lado de Lara na cama se tornava cada vez mais difícil.

Agora eu tinha dezesseis anos e me sentia diferente ao lado dela. Eu a via de um outro jeito. E sabia que ela também me via assim. Nós nos beijávamos cada vez mais.

Mas éramos jovens. Eu sabia disso.

Isso, no entanto, não deixava as coisas menos difíceis.

Lara se agitou ao meu lado.

— Estava me perguntando se você viria esta noite. Eu te esperei, mas você não estava em seu quarto.

Ela disse, sonolenta, enquanto tirava o meu

cabelo do meu rosto.

Peguei sua mão e a beijei na palma.

— Eu tive que revelar nossas fotos, e meus pais estavam esquisitos.

— Esquisitos? Como assim?

Perguntou ela, chegando mais perto e beijando meu rosto. Balancei a cabeça.

— Só… esquisitos. Acho que está acontecendo alguma coisa, mas eles me disseram para eu não me preocupar.

Mesmo na luz fraca eu podia ver que as sobrancelhas de Lara estavam franzidas de preocupação. Eu apertei sua mão, para reconfortá-la.

Quando me lembrei do presente que eu havia trazido para ela, me estiquei para pegar a foto da mesa de cabeceira. Eu a tinha colocado em uma moldura prateada simples. Apertei o ícone da lanterna no meu celular e o segurei para que Lara pudesse ver melhor.

Ela deu um pequeno suspiro, e observei um sorriso iluminar o seu rosto todo. Ela pegou a moldura e passou o dedo pelo vidro.

— Eu amo esta foto, Joseph.

Ela sussurrou, colocando-a na mesa de

cabeceira. Ela olhou para a foto por uns momentos, então se virou para mim.

Lara levantou as cobertas e as segurou para cima, para que eu pudesse me enfiar debaixo delas. Coloquei o braço sobre a cintura de Lara e cheguei mais perto de seu rosto, sapecando beijos suaves em seu pescoço

e em suas bochechas.

— E o que vamos fazer amanhã?

Ela perguntou, levantando a outra mão para brincar com uma mecha comprida do meu

cabelo.

Virando os olhos, respondi:

— Não vamos… Meu pai quer fazer um passeio em família durante o dia. Para a praia.

Lara sentou-se na cama, empolgada.

— Sério? Eu adoro praia!

Senti um peso no estômago.

— Ele falou que temos de ir sozinhos, Larinha. Só a família.

— Ah.

Disse Lara, parecendo desapontada. Ela se deitou de novo.

— Fiz algo de errado? Seu pai sempre me convida para sair com vocês.

— Não!

Garanti.

— É disso que eu estava falando antes. Eles estão esquisitos. Ele disse que quer passar o dia em família, mas acho que tem algo mais.

— Certo.

Disse Lara, mas eu podia ouvir tristeza em sua voz.

Segurei sua cabeça em minhas mãos e prometi:

— Vou estar de volta na hora do jantar. Passamos a noite juntos.

Ela pegou meu pulso.

— Ótimo.

Lara me encarou, e seus olhos verdes estavam bem abertos na luz fraca. Passei a mão em seu cabelo.

— Você é tão linda, Larinha.

Eu não precisava de luz para ver seu rosto ficando vermelho. Reduzi o pequeno espaço entre nós e apertei meus lábios nos dela. Lara suspirou enquanto esticava a mão para agarrar meu cabelo. Era bom demais: a boca de Lara ficava mais quente à medida que nos beijavamos.

— Joseph…

Soltei a cabeça na curva entre o pescoço e o rosto de Lara, respirando profundamente. Eu a desejava tanto que quase não conseguia aguentar.

Eu estava feliz deitado ao lado de Lara, respirando seu perfume delicado.

— Joseph?

Lara sussurrou. Eu levantei a cabeça, e a mão de Lara tocou meu rosto.

— Querido?

Ela murmurou, e percebi a preocupação em sua voz.

— Estou bem.

Sussurrei de volta, com a voz mais baixa possível, para não acordar os pais dela. Olhei profundamente em seus olhos e disse:

— Eu apenas te desejo tanto.

Então colei a testa na dela e concluí:

— Quando ficamos assim, quando chegamos assim tão longe, eu meio que perco a cabeça.

Os dedos de Lara se trançaram em meu cabelo e fechei os olhos, amando o toque dela.

— Desculpe, eu…

— Não.

Eu disse enfaticamente, talvez um pouco mais alto do que desejava. Os olhos de Lara estavam imensos.

— Nunca. Nunca se desculpe por isso, por me parar. Não é algo para você se desculpar.

lara abriu os lábios e soltou um longo suspiro.

— Obrigada.

Ela sussurrou.

Entrelacei os dedos nos dela. Indo para o lado, abri o braço e mexi a cabeça indicando para ela vir para perto mim. Ela deitou a cabeça em meu peito, fechei os olhos e me preocupei só em respirar. Por fim, o sono começou a tomar conta de mim. Os dedos de Lara mexendo em meu cabelo, era perfeito. Eu tinha quase adormecido quando Lara sussurrou:

— Você é tudo para mim, Joseph, espero que saiba disso.

Meus olhos se abriram com suas palavras, senti o peito cheio.

Colocando um dedo sob o queixo de lara, levantei sua cabeça. Sua boca esperava pelo meu beijo.

Eu a beijei delicadamente, suavemente, e me afastei devagar. Os olhos de Lara permaneceram fechados enquanto ela sorria. Sentindo que meu peito ia explodir com a expressão de contentamento em seu rosto,

sussurrei:

— Até o infinito.

Lara aconchegou-se de volta no meu peito e sussurrou de volta:

— Para sempre Joseph e Lara.

E ambos caímos no sono. como sempre e para sempre. até o fim.

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