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O Espectro De Ana

Capítulo 1- "Os Caminhos"

Existe uma casa na floresta dos pinheiros, muito perto das montanhas, além de ser isolado, o lugar é habitado por uma pessoa, ou melhor, uma garota, chamada Ana. Sem os seus pais e sem o seu gato, ela vive naquele lugar desde que se lembra, existe muita neblina nas montanhas que desce pela floresta até o final do horizonte. "Não deixe ela ouvir o som dos pássaros!". Por algum motivo não há nenhuma explicação da existência dela dentro daquela casa, mesmo aquele lugar sendo o seu maior refúgio.

A sua casa é de madeira nobre, dois andares e muito bonita e detalhada para estar num lugar bastante isolado, mas, isso não é incomum para ela, a sua varanda mostra até onde os seus olhos podem ver, o desejável horizonte misterioso. Com simples cômodos que existem no seu interior, sem contar o porão, que por algum motivo, ela perdeu a chave para abri-lo, e desde então ela procura manter o controle dos demais cômodos, ao mesmo tempo, em que tenta manter todos limpos e bem arrumados, caso haja visitas inesperadas.

Ana acorda e logo se levanta a correr direto para a cozinha, o assado que ela deixou no forno tinha que estar inteiro, sem nenhuma mordida ou pedaço faltando, caso contrário, não teria como servir um belo almoço para sua visita que logo chegaria. Ana começa a verificar o assado com muita atenção, e percebe que falta um pedaço do prato principal das visitas — Quem fez isso? Disse ela sem entender. E então ela começa a ligar os pontos, chegando a conclusão que deveria ser o espectro o culpado pelo estrago do assado das visitas. — Onde ele está? Pergunta ela procurando ele pelos cômodos insistentemente.

O Espectro tinha a entrar numa discussão feia com Ana, no dia anterior, devido às visitas que começariam a vir, durante o ano. Ele não queria que ela aceitasse, pois era a primeira vez que alguém entraria naquela casa que não fosse ele, contudo, Ana estava decidida a querer conhecer coisas ou pessoas novas, cansada de viver somente com o seu espectro, Ana insiste e começa a preparar o assado ainda tardiamente da noite, dormindo após o preparo, momento em que poderia ter acontecido esse crime contra a culinária!

Sem o encontrar pelos cômodos, ela senta-se numa cadeira e começa a chorar. Segundos se passam e alguém se senta numa cadeira à frente dela, na mesa, alguém que era do mesmo tamanho, com a pequena diferença do seu corpo ser um pouco como uma escura fumaça constante e brilhante. Apenas a presença do espectro faz com que ana pare de chorar, e começar a limpar o seu rosto das lágrimas, nisso o espectro estende a sua mão até ela e ofereça-lhe uma rosa negra com aroma de desculpas, mas ana rejeita a dizer:

— Eu não quero a sua rosa! Tire as suas desculpas dela e depois eu penso em aceitar.

— Por que insisti em rejeitar-me, ana?

— Você estragou o almoço que eu ia dar para as visitas. Pensei que você se importava com os meus sentimentos!

— Importar-se com os seus sentimentos não significam fazer as suas vontades precipitadas.

— Onde me precipitei? Apenas quero que essa porta se abra para que outras existências diferentes do que as minhas, entrem.

— Se você julga essa casa estar vazia, é porque tudo o que a poderia completá-la, está além do seu campo de visão utópico.

— Se você também pudesse ver além, não teria oferecido rosas pretas com aroma diferente do que a própria pode oferecer.

— Não é como se eu pudesse evitar que isso aconteça, e sei também que você pensa o mesmo, mas você não precisa fazer disso uma vazão.

— Eu já me decidi, não há voltas quanto ao que disse antes.

— Não irei insistir. Tudo o que disse tanto ontem quanto hoje, precisam estar bem guardadas no seu coração.

— Mas porquê?

— Para que nas consequências da sua decisão, ela sirva como resposta para possíveis questionamentos.

— Quer me ajudar a preparar um novo assado?

— Não precisa fazer nada, eu preparei um melhor enquanto você dormia.

— Porquê?

— A quantidade que você preparou, não dá nem para você...

Ana logo vai até ao banheiro para tomar o seu banho, enquanto o espectro olha para a parede no canto da sala insistentemente, de repente uma marca de mão preta aparece na parede, o espectro começa a tocar na marca olhando fixamente até que ana aparece por atrás dele e o assusta, fazendo com que o símbolo desejado desapareça lentamente. Ana não entende o que aconteceu, mas pega o espectro pela mão e o convida para fazer um bolo juntos.

Entre sujeitas e risos, erros e acertos, os dois conseguem fazer um pequeno bolo de rosas-vermelhas, que aparenta ser deliciosa à vista. No lado de fora o sol se escondia por entre as nuvens, logo um vento frio percorria por toda a floresta, não demorando muito tempo para a neblina ficar mais densa, sem estações vivia ana, apenas neblina e ventos eram suas sensações inseparáveis. No lado de dentro ana estava com o seu vestido cinza, acompanhado das suas luvas e botas também cinzas, a maioria das suas roupas atingiam essa tonalidade entre o branco e o preto, raramente sendo um problema para ela, afinal, já existiam aquelas roupas ali.

O relógio não funcionava, apenas aparentava ser novo, apenas para abri-lo e (constatar) o quanto tempo aquele relógio passou preso na parede, indicando o que raramente é importante. Depois de um tempo alguém bate na porta, ana sai a correr sem direção a porta enquanto o espectro coloca vários balões com rostos felizes ao redor da sala, antes de sumir sem avisar, ao abrir a entrada da sua casa toda animada, ana toma um susto ao perceber que a visita era um menino com uma capa e roupa de super-herói roxa, antes que ana dissesse algo, o menino oferece-lhe um filhote de gato cinza, sem pensar, ana pega o filhote e o abraça com carinho e felicidade. Logo após isso, o menino se ajoelha e pede uma das mãos de ana, que estende para ele, num ato de respeito o menino beija a sua luva um pouco envergonhado e tímido, e então ele é convidado à mesa para seu melhor banquete já participado por ele.

Loiro e sorridente, ambos não se cansavam de rir e conversar enquanto experimentavam, sem parar, diferentes comidas que o espectro preparou, porém, em meio a toda aquela comida, ele não parava de olhar para os balões ao redor deles, como se ele conseguisse entender mensagem que eles transmitiam ao olharem de volta, todos eles queriam passar alguma mensagem, isso sem Ana perceber por estar distraída ao momento de diversão e comilança. Enquanto os dois conversavam, os balões tomaram para si outras tonalidades, sendo cada um diferente do outro. Ana sempre curiosa fazia várias perguntas ao super-herói:

— De qual lugar você veio?

— De um lugar frio, além das montanhas, depois do rio, é de lá que eu vim.

— Oh!... como você encontrou esse lugar, tão isolado e desconhecido?

— Os caminhos, eles disseram-me onde tinha que ir.

— Quem são os caminhos, eu não os conheço?

— Depois que o meu herói ausentou-se para sempre, ele deixou essa capa e roupa como legado para que eu continuasse a levar a sua honra até o fim, mas, eu ainda sou novo para essas coisas, não sei na maioria das vezes o que fazer, quando isso acontece quase que frequentemente, os caminhos aparecem para me guiar até a luz no final do caminho.

— Isso é muito interessante, e onde eles estão agora?

— Descansando, não é fácil guiar alguém até a luz no final do caminho, lidando com a sua própria escuridão variada. Quer ver como eles são?

— Sim! Deixa eu ver, deixa eu ver!

— Tudo bem, fica ao meu lado e feche os olhos, assim você poderá senti-los e depois imaginá-los!

— Estou muito ansiosa... nossa, que sensação diferente sinto agora, é como se não estivesse aqui... garoto?... Onde está você!?

Por um momento no fechar de olhos, o garoto desaparece da sala, e todos os balões estão com expressões diferentes do normal, estão sérias de olhares fixos para o tapete do piso que, sem ter percebido antes, está todo manchado de sangue. Ana grita desesperadamente pelo seu espectro, que aparece depois de um tempo, dizendo:

— O que acontece, para derramar tantas lágrimas?

— O garoto estava aqui, e agora não está! A porta não foi aberta, não houve sons de passos, e a presença deles ainda é muito forte por aqui, mas onde ele está?

— Sabe-me dizer se ele disse algo estranho?

— Não, só estávamos a conversar, e ele contava sobre os caminhos que o guiaram até aqui, e depois desapareceu.

— Os caminhos são maioria interesseiros, eles guiam em troca de algo, seja valiosa, ou que tem grande valor sentimental.

— Está a dizer que os caminhos o levaram?

— Para eles mesmos com um propósito, caso contrário, não guiariam se não fossem o próprio caminho. Se são feitos de algo negativo, sempre irão consumir a quem ajudaram, se forem positivos, constantemente garantirão proteção e cuidado a quem eles próprio guiam.

— Podemos o encontrar, não sabemos se ele está em perigo ou... sofrendo?

— Ainda se importa com ele.

— Da mesmo maneira que você se importa comigo! Afinal, quer tanto me proteger a deixar o tapete do piso cheio de sangue!?

— Isso não devia estar aqui, não devia.

— Você... fez alguma coisa contra ele, não foi?

— Quer mesmo saber a resposta? Sabe que eu não preciso despistar as minhas intenções e atos, esses mesmos que me colocam como uma contradição e um questionamento sem resposta.

Ana muito triste, começa a observar ao redor da sala os inúmeros balões que o espectro havia colocado, e com um olhar nada convidativo para ele, ana pergunta:

— Você fez alguma coisa contra ele?

— Por que me perguntas isso? Sabe que esse é o seu momento, e ainda que eu insistisse em não querer, não faria nada para querer-lhe entristecer.

— Eu fiz uma pergunta para você, espectro.

— Não... satisfeita?

— Responda-me uma pergunta, esses balões estão aqui por um motivo, ou estou errada?

— Não, eles estão aqui para causar uma boa impressão a visita que entraria por essa porta. Mais alguma pergunta?

— Por que eles tem expressões? Sabe que isso pode ser assustador, para quem vem visitar.

— Balões precisam ter expressões, às vezes, precisam estarem cheio de algo que não seja gás ou ar.

— Eu sabia que você iria fazer alguma coisa contra a visita! Demorava para isso acontecer, estava ótimo e tranquilo para ser um espectro.

— Não diga como se a minha existência se resumisse somente a isso. Eu não sou só isso!

— Mas também é isso! O que faz todo o sentindo, já que sumiu quando ele chegou, vai dizer-me que descansava por todo esse tempo!?

— Não importa o que você diga, o que eu faço sempre terá um motivo, e isso não importa ao seu gosto.

Ana começa a olhar insistentemente para cada um dos balões na sala, até que um deles começava a ficar frio, tanto que gotas saíam sem uma explicação do balão, a sua expressão era de tristeza constante, ela então pega o balão e ao fazer isso, os seus olhos ficam brancos por um momento, ao ver isso o espectro fala para ela:

— Tem coisas com as quais você não se deve envolver, escute-me ana!

— Eu pensei ser só eu que tinha algo diferente convivendo, mas... eu estava enganada, o garoto também tem!

— O que você quer dizer com isso, ana?

— Ele não tem um espectro como eu, e sim tem os caminhos como seres que convivem com ele!

— De onde você tirou isso?

— Tira ele de dentro desse balão, agora! Eu sei que você os colocou aqui nessa sala para que quando eu me distrair-se, um deles pegaria o garoto, e agora eu exijo que você o tire de dentro desse objeto de diversão maldita!

— Veja como fala, eles têm expressões...

— Mas não tem sentimentos! O garoto é que tem, você só cria coisas sem vida e tão... vazias.

— Faço isso por eu também ser, uma criação sem vida e vazia.

— Devolva-me ele, por favor... (começa a chorar)

— Por eu não ter nada além do vazio, como você bem me descreveu, eu poderia deixar ele aprisionado aí para sempre, não teria problema em perdê-lo, porém, não posso perder você. Se ele lhe faz feliz e é importante para você, mais do que eu lhe sou, então eu o deixarei para que fique ao seu lado por esse momento.

O Espectro então pede para ana fechar os olhos e num instante, todos os balões desaparecem e ana percebe que o garoto não apareceu, sem entender ela fala ao espectro:

— Você disse que o traria novamente!

— Mas eu assim o fiz, não sei o que aconteceu.

De repente, na janela da cozinha aparece um pássaro branco, ao pousar na janela e abrir as suas lindas asas, um canto repentino estremece as paredes da casa num instante. O espectro vai até o pássaro que o atravessa num voo rápido e silêncioso, indo até à mesa de jantar a comer o que ainda tinha na mesa, sem entender o que aconteceu, ana não parava de olhar para o pássaro, era como se ele a atraísse o seu olhar somente para si, o espectro com o sua expressão de desdém, pergunta a ave encantadora:

— Que fazes aqui? Sabe que não é bem-vindo na nossa casa, não sabe?

— Por favor, não ataque ele.

— Não irei atacá-lo, se ele disser o que faz aqui.

— Você não percebeu ainda? Ele é os caminhos! O que garoto-me disse que o guiou até aqui, percebe?

— Eu sei disso, ana. E é por esse motivo que eu estou a perguntar, não há nada aqui para ele fazer indicação alguma.

O pássaro então começa a observar o espectro, curioso e sem expressão, logo após isso o mesmo começa a olhar para ana, que age como se estivesse surpresa com o que acontece, acreditando que a ave poderia intimidar de alguma forma, o espectro diz a ana:

— Se afaste dele, ana! Não sabemos as intenções que ele traz sob as suas asas.

— Você não sabe...

— O quê?

— Ele transmite uma mensagem através do seu olhar, eu consigo compreender cada palavra, isso é muito incrível!

— Como?... Está bem, se isso é verdade, então o que ele transmitiu?

— Ele disse a você para demonstrar perdão, pelo que fez com o garoto.

— Isso é ele mesmo, ou você querendo se valer da situação?

— Se eu quisesse falar tudo a você, não precisaria de pretexto para realizar!

— Ah!... você venceu, peço humildes desculpas.

— Não! Ele disse demonstrar perdão, o que difere de pedir perdão.

— Isso realmente é necessário?

— Se você realmente quisesse que tudo se redimisse nesse momento, iria demonstrar o perdão sem que alguém servisse de ponte para isso, caso contrário, você só provaria ser o que eu já havia falado.

— Eu vou fazer, não pelo que você disse, vou fazer porque eu quero.

Então o espectro puxa do seu pulso uma rosa negra e vai até à mesa para oferecer ao pássaro, ao fazer isso ana pensa alto:

— Então foi daí que você tirou aquela flor...

— Está surpresa?

— Sim, e não julgo que seria bom você oferecer uma rosa negra a uma ave branca.

— Qual o problema? Se essa ave souber lidar com a diferença do que recebeu, será um presente o que eu dou, se não souber lidar com o presente, aí então ela pode considerar ser algo mau. Tudo depende da confiança de quem a entregou, de saber lidar e conviver com o diferencial, seja o que desejava ou não.

O espectro coloca a rosa na mesa e então com o seu bico, o pássaro pega aquela linda flor e no mesmo instante, outra ave aparece ao seu lado, ambas começam a bater as suas asas, uma na outras como ato de festejo. Ana percebe que os pratos e vidros na mesa começam a quebrar-se, a cada momento, o espectro faz aparecer os balões novamente, mas eles explodem a espalhar líquido de cor escura por todos os lados que iam, tudo enquanto os pássaros batiam as suas asas um no outro, até ambos começarem a voar e brilhar em constância. As aves num instante somem num grande clarão que faz pegar chamas em toda a superfície da mesa, chamas essas sendo brancas e brilhantes, ana acaba a escorregar e caindo no chão, se machucando em meio a sujeira deixada na sala de jantar. O espectro vai até ela e tenta ajudá-la, porém com muita raiva ana diz:

— Chega! Não precisa-me ajudar... você causou isso tudo, estragou o encontro com a visita, fez com os seus balões um trapo a minha roupa, impediu a minha despedida porque sim, espectro, ele só ficaria por um momento!... Depois eu ficaria sozinha... com você, e o que fez? Você arruinou tudo! Muito obrigada por fazer desse...

— O pior dia da minha vida?

— O dia em que eu mais desejei que você não tivesse existido!... (começa a chorar)

— Essas palavras aliviam o seu interior?...

— Calar a boca! Você não tem nada dentro de você, que faça com que das palavras deixem de ser mal ditas, vazias e de golpes mortais!

— Não há nada que eu possa fazer...

— Como eu queria que você sentisse, um pouco da dor que você causa, em que só quer ser feliz.

— Pode parar de dizer essas palavras, ana. As suas atitudes passam dos limites...

— Ah! Não era isso que queria!?

— Uma ana que não consegue lidar com situações que mexem com o seu lado emocional frágil!?

— Uma ana que ficasse ao seu lado para você maltratar sempre de desejar... para isso você esforça sensações e sentimentos.

Inesperadamente, da janela da cozinha que estava aberta, uma flecha preta entra a percorrer o cômodo até a sala de jantar, atingindo ana no coração atravessando o outro lado, com apenas um suspiro ela cai no chão inconsciente, o fogo na superfície da mesa apaga e a sujeira some repentinamente. O Espectro então olha para a janela que dá para dentro da floresta dos pinheiros, sem saber o que estava a observar, ele vai até à janela e observa a encontrar no lado de fora o garoto super-herói, que agora estava vestido com roupas um pouco sujas e o seu cabelo de cor preta.

E então o espectro vai até ana que permanecia jogada, a pega nos braços e leva para o andar de cima, no seu quarto, ele observa o ferimento a perceber que o objeto que a tinha ferido, não estava mais nela, e o seu corpo estava a tremer como se estivesse com frio, o espectro por um tempo fica ao seu lado, de alguma maneira ele sabia o que estava por vir, e ainda que demorasse a chegar, era inevitável para ela, e nada podia fazer...

Capítulo 2 - Quando os gatos choram/ Parte 1

Sendo muito comum no ambiente em que ana morava, chover o dia inteiro, a adaptação ao ambiente fazia com que ana não se preocupasse com o frio, muito menos com o inverno que estava próximo de chegar, mesmo não existindo estação alguma. Envolto em algumas cobertas, ana se recusava a levantar por conta do frio, enquanto ela continuava a dormir, o garoto que se vestia de super-herói procurava se abrigar em frente a casa de ana, o espectro apenas o observava pelo lado de dentro, o frio aumentava s cada momento que passava, as suas mãos tremiam e os seus dentes batiam um no outro sem parar, parecia que o menino iria congelar em meio a toda aquela chuva.

O espectro que olhava para ele, resolve sair para o lado de fora e levar consigo uma coberta, o seu objetivo era somente entregá-lo, mas o menino queria mais que um cobertor para o frio. "Uma companhia, talvez?". A neblina e a chuva estava em constante sintonia, e juntas traziam uma sensação que só podia ser aproveitado num lugar quente e confortável, por isso nem mesmo a sensação e a paisagem animava o garoto que insistia em resistir ao frio, tudo aos olhos do espectro que olhava constantemente para ele, como se quisesse o entender apenas pelas expressões, não conseguindo logo se senta ao lado do garoto e começa uma conversa:

— Por que se arriscar tanto, vindo de tão longe até aqui? Uma roupa, sorriso, felicidade e desejo de ter uma amizade não faz com que sobreviva ao tempo e as estações…

— Mas dá-me forças para suportá-la, se de qualquer forma eu vou ceder, em algum momento, que seja ao lado de alguém, um momento antes de passar por todo o porvir

sozinho...

— Vocês crianças só pensam no final em vez de lidar com o meio, visto que já começam nessa vida.

— Circunstâncias levam-nos a pensar no fim, afinal, há quem é sujeito todo o tempo se é proposto pensar no fim, em algum momento...

— Você está no começo, garoto. Não é hora de pensar no fim...

— Então por que você me entregou um cobertor, em vez de um abrigo contra esse frio mortal? Você não quer que eu pense no fim, mas não demonstrou ajuda, apenas um ato de pena pela minha situação.

— Onde está o ser que convive com você?

— Os caminhos? Bem... digamos que ele também tem os seus próprios caminhos a seguir, isso exige tempo e espaço, coisas que eu respeito e não pretendo desfazer das minhas palavras. Eu amo-o, e por amá-lo, irei respeitar o seu momento.

— Queria poder entender o momento da ana.

— Isso já se provou chegar, só não percebeu ainda, por isso que eu estou aqui.

— Mas é o tempo dela ficar sozinha, não é?

— Sozinha com alguém.

— Não faz sentido, o que estar a dizer-me.

— Você não pode compará-la a todos os outros, cada um reage de maneiras diferentes, cabe aos olhos de quem estão de fora interpretar de maneira correta.

— Você quer entrar, para tomarmos chocolate quente?

— Obrigado, mas você quase matou-me, seria estranho se eu aceitasse.

— Você pode aceitar como um pedido de desculpas, o que me diz?

— Eu aceito...

O cabelo do garoto voltar a ficar loiro, e os dois entram na casa novamente, nisso, ana já acordada procura por baixo da cama, no armário entre as roupas, na lixeira e na estante o seu livro, e acaba por se cansar e não o encontrar, insatisfeita por não consegui encontrar o que guarda desde sempre consigo, ela desce as escadas e vai até à sala de jantar onde o espectro e o garoto estão, tomando os seus chocolates quentes e olhando para a sala de estar, o fogo da lareira, para perguntar-lhe sobre o seu livro:

— Espectro! Onde está o meu livro?

— Não vai cumprimentar o seu amigo?

— Responda-me! Eu já me dirijo a palavra para ele.

— Olhou as instantes na sala de estar?

— Por que eles estariam lá, sendo eu a única que lê aqui dentro dessa casa!?

— Talvez eu tenha pegado, e não, você não é a única que lê aqui nessa casa.

— Desculpe o meu equívoco, eu sou a única que gosta de ler! O que você faz é somente desprezar e diminuir os autores.

— Eles são desconhecidos, e ainda sim, eu sou o culpado.

— Nunca mais pegue esse livro, falo sério, para evitar que eu fale de maneira desrespeitosa com você, novamente.

— Esse livro é muito importante para você, ana?— Diz o garoto.

— Ele está comigo desde que eu existo, é a única coisa que me faz entender o porquê tudo isso existe...

— Nossa!— Expressa o garoto, surpreso com a resposta— E qual é o nome do seu livro?

— Quando os gatos choram. Procuro entender o motivo que os fazem chorar, no contexto, mas eu não sei onde está o meu livro.

— Deve está onde eu lhe disse— Diz o espectro.

— Tudo bem, eu vou procurar enquanto ficam aqui, daqui a uns minutos eu volto— Diz ela, se retirando da sala de jantar.

— Eu guardo um pouco de chocolate quente para você!— Diz o garoto sorrindo.

— Nem pensar, garoto.— Interrompe o espectro.— Ana não toma chocolate quente, apenas alguns cereais com leite.

— Tem algum motivo especial, para ela preferir cereais a chocolate quente!?— Questiona o garoto, surpreso.

— Não que eu saiba, ela só é uma garota com preferências ao que gosta, mesmo sabendo que nem tudo o que ela gosta é bom.

— E pensar que eu serei assim no futuro.

— Se você for, eu expulso-te dessa casa. Só há vagas para uma ana, não aceitamos cópias falhas.

— Você chamou-me, cópia falha?

— Termine de tomar o seu chocolate quente, vou observar o que a ana está a fazer.

O espectro então sobe a escada e vai até à porta do quarto de ana, que está trancada, espera por um tempo para que ela abra por conta própria, não abrindo ele atravessa e entra para dentro e olha ao redor, percebendo que a porta do banheiro estava também trancada, e na cama estava o livro, ele logo se senta na beirada da cama e pega o livro que, começa a sair vários filhotes de gatos coloridos, para todos os lados atravessando as paredes, nisso a porta do banheiro se abre e ana sai com uma toalha presa em seu cabelo, vendo que o espectro estava com o livro em mãos, ela grita:

— Espectro! Está com o meu livro em mãos, novamente!?

— Calme, eu só estou a verificar se ele está em bom estado...

— Você abriu ele... (Toma o livro dele)

— Tem algum problema em eu tê-lo aberto?

— Eu não sei muito bem, parei no capítulo que dizia ser mágico, como um personagem que sai das páginas e adentra a realidade de uma verdadeira história...

— Talvez não ludibriaram você.

— Está querendo-me dizer algo, espectro?

— Vamos procurar os filhotes de gato coloridos, que fugiram em várias direções pelas paredes, ao sair do seu amado livro.

— O quê? Todos aqueles filhotes saíram do meu livro?

— Todos, são muitos filhotes de gatos, acredito ser somente uns sete gatos.

— Precisamos pegar todos esses gatos, não sabemos o que pode acontecer se eles não voltarem de onde vieram.

— Antes de tudo, vai comer os seus cereais, por favor.

— E eu vou, após resolver o problema que você causou.

E então os dois começam a procurar pelos cômodos da casa, com a ajuda do garoto que procurava pelo lado de fora da casa, ana estava com o livro em mãos enquanto procurava. O fogo da lareira tinha se apagado, a chuva diminuído, mas inacabado, o chocolate quente, esfriado, e todos eles procuravam apressadamente pelos filhotes coloridos, o espectro acaba por procurar na cozinha, e achar um deles dormindo na cesta de frutas após comer, metades delas, de cor laranja e muito peludo, o pequeno animal foi coberto por um pano e aquecido do frio, com o seu livro em mãos, ana folheia a procura da página certa, o espectro vendo fica sem entender, e pelo filhote estar num sono profundo, deixa-o na cesta e parte em busca dos outros filhotes.

Do lado de fora, o garoto procurava entre os arbustos molhados, pelos galhos das árvores, nos telhados da casa, onde poderia estar um pequeno gato de um livro, olhando por todos os lados, verificando a cada rastro diferente do ambiente, encontrando apenas o seu, ele para por um momento e aceita que as gotas de água percorram a sua pele, roupa e pensamentos, o frio torna a sua consciência novamente, o garoto se vê no seu próprio enfrentamento com o frio, de braços abertos, jogado no chão, os seus olhos veem entre as nuvens algo diferente, uma nuvem ficava cada vez mais acinzentada, então o que eram gotas transparentes, converteram em gotículas cinzas que mais pareciam ser cheias de um mistério a trazer, as primeiras gotas diferentes caem nele que já não pode se mexer, fazendo com que todo o ambiente em que as gotas caem, fiquem sem a sua cor original, acinzentado instantaneamente.

No centro da sala de estar, um lustre de vidro embeleza todo o ambiente, que o espectro procura pelo próximo filhote, ana lia algumas páginas, ele percebendo que só ele procurava, não sabendo o que ela estava de fato fazendo, pergunta-lhe:

— O que está a fazer, que não me ajuda na procura dos filhotes, ana?

— Estou a ler sobre os filhotes, lembro-me que eles têm essências que o compõe, como um todo.

— É um tanto interessante, se isso não fizesse com fosse mais complicado procurá-los.

— Não negative o que pode ser positivo para nós.

— Em que parte, ana?

— Exatamente nessa parte em que nós os procuramos, na mesma medida que podem ser mais difícil de achá-los, pode ser facilitado, visto que a essência funciona como um selo único de originalidade, que pode ser expresso de maneira geral, considerando o lugar onde estamos, será mais claro perceber!

— Você realmente tem o amor dos livros consigo. Então, pode descrever a essência de algum que pode ser facilmente percetível?

— Eu li sobre o filhote que pegamos, o laranja. Diz que ele tem essência de espalhar a sua cor, por onde se começou o carinho e aconchego.

— Quais são as chances da nossa cozinha estar toda laranja?

— Só podia ser você mesmo, vou constatar como que ficou a nossa cozinha.

— Eu tentei ser cuidadoso com o filhote, afinal, ele é somente uma figura inanimada, como eu!

Ana entra na sua cozinha e percebe que está completamente coberto pela cor laranja, e o gato fora da cesta de frutas, percebendo ele no chão, ela pula o agarrando para não fugir pela casa Com os olhos fechados acreditando estar toda laranja também, para a surpresa nem ela, nem a sua roupa estava alaranjada, o espectro aparece logo em seguida e fica assustado com a aparência do local, ela entrega-o para ele segurar, fazendo com que ele comece a ter uma cor diferenciada, ana sem entender comenta:

— Está a mudar de cor, ou é impressão minha?

— O que está a dizer, eu pareço... (Percebendo) Uma nebulosa com forma antropomorfo... Como isso pôde acontecer!?

— Uma Dica, está se aconchegando nos seus braços.

— Espero que esse efeito não dure muito. Tem mais alguma informação sobre os demais filhotes, e características das suas essências?

— Sim, um desses gatos tem a essência da ausência das cores, como se fosse o "roubador da vida das cores".

— Tem certeza do que dizes?

— Absoluta, temos que procurar por onde esse está, ele tem que transmitir de alguma forma...

— Por enquanto esse é o menor dos nossos problemas... alguma ave ou coisa está pousada no telhado dessa casa, posso sentir.

— Vamos logo até lá em cima, eu li que tem uma ave que come filhotes!

— Não saiu nada além de gatos do livro, quando eu abri.

— Mas essa ave é real!

Um som de canto é ouvido ao entrar pela janela, o espectro fica paralisado por um tempo, e então some junto do gato, barulhos altos são ouvidos por ana, vindos do andar de cima, correndo até o andar, ela depara-se com várias penas no cômodo em que estava o porão, a janela aberta e o vento soprando o seu ar frio para dentro, o espectro estava jogado no chão, a proteger o filhote da ave que o atacava, ana rapidamente pega uma vassoura e acerta um golpe na ave, que voa para fora cantarolando de desespero, ao tentar socorrer, na parede ela enxerga respingos de sangue espalhados, e um filhote de cor branca jogado no chão, todo cheio de sangue sem mostrar sinal de vida.

Tremor e sensação dominavam o corpo do garoto, que já não insistia em sair de onde ficou, os seus olhos viam as nuvens que cobriam todo o céu, num instante uma ave passa voando diretamente para o telhado da casa, sem conseguir movimentar o seu corpo, o garoto então pensa no que pode fazer para espantar aquela ameaça, de repente um filhote de antílope sai de entre às árvores em direção ao garoto, olha ele fixamente por alguns minutos, enquanto a grama é tudo o que tinha cor, volta a ter vida através das suas cores originais, nesse momento o garoto toma forças e começa a se desprender do chão e começa a levantar, o seu desejo é para o seu companheiro, "os caminhos", para que ele o ajude contra o pássaro ameaçador, mas antes que pudesse ter uma resposta do que desejava, a ave é puxada para dentro da casa, por um poder ainda não visto antes.

Um forte vento frio, começa a soprar da floresta para a casa, vindo pelo caminho do vento, "os caminhos" aparece e pousa no braço do garoto, a sua aparência era como um cristal reluzente, nos seus olhos, apareciam símbolos para o garoto, era como se comunicavam, a felicidade enchia o peitoral do garoto, mas contrapartida, as suas atitudes acabaram por entristecerem, vendo que o garoto começava a depositar as suas lágrimas no seu rosto, "Os caminhos" usa a sua comunicação para dizer:

(— Está a misturar as suas lágrimas, com as gotas da chuva.)

— Desculpe... não cumpri com a minha palavra a você, não respeitei o seu espaço, ainda sim, não consigo lidar com situações que não entendo.

(— Não chore, somos um só em diferentes formas, desejamos conseguir chegar onde nos foi proposto, eu cheguei perto de consegui, em simultâneo, em que corria perigo, a minha decisão não foi senão salvar quem eu amo, ter tempo e espaço sempre haverá, ter quem o ame não será o mesmo, nem com mesma intensidade que tenho por você.)

— Você nunca foi somente uma ave, para mim.

(— Olhe para os céus, thome. Eu vejo o que vê, e sinto o que sente. Nós céus está o que procuras, salvar não pode ser o suficiente, enquanto não realizar o seu maior desejo...)

— Qual seria esse desejo, são tantos...

(— Fazer voa sob as minhas asas, e levá-lo até as nuvens... apenas estenda as mãos para o céu e feche os olhos, sinta!)

"Os caminhos" voa e segura por trás do garoto, estende as suas asas cristalinas e começa a voar, crescendo de tamanho, thome é levado as nuvens pelo ser que mais o amou, as suas mãos começam a tocar as nuvens, em uma delas, um dos filhotes, de cor cinza, é alcançado pelas mãos de thome, descansado nos seus braços em seguida, "Os caminhos" pousa com thome, cobrindo por baixo dos braços como um abraço de amigo, sumindo num brilho radiante, uma pequena nuvem estava em cima do filhote, thome com o gato no seu aconchego vai até à porta da casa, ouvindo um som de asas batendo, e penas caindo pelo gramado.

Em desespero ana socorre o gato caído, sendo maior que os outros filhotes, ele estava muito ferido e sangrando, com algumas ataduras, as suas tentativas de salvar o gato branco eram poucas, o espectro coloca o filhote laranja ao lado do branco, ficando parado diante dele, o espectro percebe no corredor até a escada, um filhote de cor verde, que se multiplica por três deles, saindo da parede, teto e no chão, todos em direção ao gato branco. Ana olha para a janela e vê o garoto em perigo, então ela diz ao espectro:

— Preciso ajudar o garoto, espectro...

— Não! Sabe que não pode sair para o lado de fora, não sabe o que pode encontrar do lado de lá.

— Você sabe? Não deixar que entrem na nossa casa, é compreensível...

— Mas não deu ouvidos, o que será repetido a qualquer momento, conheço tanto quanto possa imaginar.

— Eu preciso que você me ajude a ajudar ele, não espero sentimentos que não existem, apenas palavras claras e vazias... veja o motivo pelo qual te peço.

— Eu já olhei o outro lado da moeda, por muito tempo, várias vezes, não retrocedo a minha decisão...

(As luzes começam a piscar por um tempo)

— Ana, o que acontece? Isso faz parte do seu livro, isso é absoluto.

— Eu li sobre outro dos filhotes, a sua essência é a corrente da luz.

— Significa que está nos fios, percorrendo a cada canto dessa casa?

— Sim, li também sobre o filhote verde, possuí a sua essência de multiplicar uniformemente.

— Precisamos de um plano, pense em alguma ideia, não posso fazer isso sozinho.

— O filhote que procuramos, é um "Ragdoll" com diferença de cores nos olhos.

— Entendi, um filhote da raça "Boneco de pano", que possui heterocromia. Vou atrás...

— Espera! Como pretende procurar o filhote nos fios?

— Simplesmente procurando dentro. Embora não possa evitar certas dificuldades, vamos até o fim pelos filhotes, não se esqueça de continuar a procurar.

— Mas eu estou fazendo isso, com você!

— Refiro-me a mensagem que o livro quer, a você transmitir. Procure nos detalhes, nas cores, nas essências e até mesmo em como nós os tratamos. Afinal esse é o seu objetivo, desde que ele existe.

O espectro começa a procurar nos fios, o filhote misterioso e veloz, percorrendo o quanto pode, deixando um rastro por dentro das paredes e teto que passava, num determinado momento, o espectro recebe uma pequena descarga de essência sendo arremessado do fio, caindo na lareira, enquanto ana descia a escada indo até à entrada, se deparando com o garoto com um dos filhotes em mãos, e com uma novidade:

— Ana! "Os caminhos" ajudou-me a resgatar esse filhote, ele fez-me voar, tocar as nuvens, viver o momento em que precisava dele! Estou feliz que posso contar isso para você, estou feliz em ser seu amigo!...

Enquanto o garoto falava, ana sorria e lagrimava com emoção, os seus olhos ficaram por um tempo, verdes brilhantes, sumindo em seguida sem explicação, o filhote que percorria os fios, fica escondido na lâmpada da sala de estar, que estava ligada, deixando o cômodo todo em iluminação vermelha, ana então suspira a saber que ainda faltava quatro filhotes, ao constatar que algumas páginas do seu livro estavam com palavras apagadas...

Capítulo 3 - Quando os gatos choram/ Parte 2

A chuva aumentava vindo de trovoadas em sequência, o brilho que atravessa a floresta lentamente acabava, num ganho de um pinheiro estava a ave que atacou o filhote branco, que observava atentamente para dentro da casa, sem perceber ao redor dela, uma flecha vindo de dentro da floresta a atravessa, sem tempo de reação apenas caindo ao solo, consumido pelas pequenas plantas que havia no ambiente, dessa vez a flecha não desaparece, permanecendo no chão.

Todos estão sentados na mesa de jantar, ana continua a ler o seu livro, thome procura aquecer a casa, acendendo a lareira, e o espectro fica num transe contínuo, após acender a lareira com um galão de gasolina, thome volta para mesa e não entende o estado em que o espectro está, o que faz perguntar para ana, que também está parada com olhar fixamente a página que lia, um brilho saía do livro, então ele sobe para o andar de cima para constatar que os demais filhotes estão bem, confirmando logo em seguida ao ver que o gato branco estava com os seus grandes ferimentos curados, ainda debilitado e com os outros gatos ao seu redor.

Thome entende que a presença dos demais gatos fazem com que o gato branco, o mais velho dentre todos eles, melhorasse com rapidez, ao olhar pela janela a floresta e o tempo, ele vê atenta para um caminho feito com penas de uma ave que levam até uma flecha que não era normal, pensando em ir até lá, começa a chover granizo, uma dessas pedras de gelo acerta o livro da janela onde thome estava, quebrando e quase machucando, de repente os granizos que caíam para dentro do cômodo, começavam a congelar parte do chão, criando um caminho que levava até o portal que estava ali, thome atravesse a tocar na maçaneta, tomando um susto com o espectro que aparece atrás dele, caindo no chão em seguida, com a sua aura ele preenche no lugar do livro, do granizo e chuva.

No lado de fora da casa, aparece da floresta dois lobos-do-ártico, indo até à porta da entrada, vindo de encontro, um lobo cinzento para atacar o macho alfa, a loba que estava ao seu lado, se coloca na frente para proteger a sua garganta, enquanto os dois lobos encaram-se, em meio a uma chuva de granizo, o lobo cinzento começa a ter o seu corpo coberto por cristais transparentes, fazendo com que os dois predadores voltem para a floresta, então o lobo começa a ficar pequeno e voltar a forma de um filhote de gato, de cor avermelhada, correndo para atrás da casa, com um pássaro misterioso perseguindo. O espectro assisti toda aquela situação e diz para o garoto:

— A sua estimação está perseguido um dos filhotes.

— Veja como fala! "Os caminhos" Não precisa usar de racionalidade, para cometer os seus erros.

— Está a dizer que sendo uma estimação, ainda pode ser melhor que eu?

— Por que não pega o filhote nos fios da energia que percorre por toda casa, e prove que estou errado.

— Eu irei, mas não preciso provar nada, se por algum motivo provasse, quebraria todos os seus ossos, tipo se você tentar entrar no porão!

Enquanto discutiam, o filhote que estava nos fios sai deles por um momento e começa a correr pela casa, descendo a escada, o espectro some indo até onde o filhote corria, com sucesso conseguindo pegá-lo, ana permanece parada a olhar para a página do livro, thome desce a escada e vai até o espectro, dizendo:

— Precisamos de um lugar para deixar os filhotes em segurança, o cômodo onde estão está a congelar lentamente!

— Segura esse filhote, não tome cuidado para não receber uma descarga de essência.

— E isso existe?

— Se eu existo, tudo o que há também existe. Temos que nos apressar, eles não vão suportar o frio... provavelmente, essa casa também não.

— O que está a acontecer com a ana? Ela não se mexer faz um tempo.

— Vamos tentar resolver essa situação, sinto que ela não está em perigo, depois vemos o que se pode fazer por ela.

Ana não estava entre eles, ela não saiba onde estava os demais, mesmo sabendo a essência de cada um, em contínua leitura percebe que numa das páginas, uma imagem retratada da vila onde, no contexto, os filhotes moravam durante toda a história, tinha um pontinho de três cores que se movimentava por toda a imagem, o seu olhar ficava fixo nos movimentos que o pontinho fazia, percebendo do que se tratava, a sua visão de repente escurece, ana é transportada para dentro da vila, jogada no chão com roupa como de morador da imagem, ana começa a procurar pelo filhote, esse que era o único que não tinha descrição, era misterioso e quase não conhecia, tão bem quanto os outros.

Ana encontra uma vendedora e pergunta sobre o gato, ela responde a apontar para um celeiro ao lado de uma grande fazenda, sem perder tempo chega até o local, de tricolor e adulta, o gato estava sentado para a porta do celeiro, como se estivesse a esperar por ela, ao entrar pela porta e avistar o filhote que procurava, ana observa por um momento, para a surpresa dela o gato começa a falar:

(— Você não veio até aqui para encontrar-me.)

— Por que diz isso?

(— Veio para encontrar a resposta da própria história, não é mesmo?)

— Você é um dos filhotes que procuro, não saiu do livro como os outros, porquê?

(— Não posso sair do meu mundo, não é como você sair do seu e adentrar o meu, eles tiveram uma janela aberta e saíram.)

— Procurei sobre você e não achei muita coisa, cuida dos filhotes como um pai, não é mesmo?

(— O meu maior medo é perder cada um deles. Por favor, vamos sair desse celeiro e tomarmos um café em frente ao lugar chique dessa vila.)

[Sentados tomando um café da tarde]

(— Pelos menos uma vez se perguntou porque os gatos choram, ler esse livro é como receber um convite para outro mundo, decidindo se aceita ou não, interferindo na sua interpretação, por consequência.)

— Eu aceitei desde a primeira vez que li...

(— Por isso está aqui, por aceitar entrar nesse mundo fantasioso. Antes que possa dizer-lhe o que quer tanto saber, faça uma pergunta para si mesma, porque os filhotes saíram do livro e entrou.)

— Como posso perguntar, se não sei a resposta?

(— Não sabe, pois, foi-me confiado essa resposta. Eles saíram porque são filhotes, muito tempo num mundo que vive sempre a mesmas coisas, acaba por fazer alguns enlouquecerem.)

— Eles queriam liberdade...

(— Não, eles queriam conhecer o seu mundo.)

— O quê? Por quê?

(— Por que do seu mundo foi criado o mundo de cada um de nós, e eles também.)

— Está dizendo que alguém do meu mundo criou essa história?

(— Exatamente, eu sei quem foi, afinal, se não soubesse não teria as respostas para suas perguntas, nem esperar aqui por você.)

— Por favor, diga-me. Quem escreveu esse livro? Só existe eu e o espectro, durante toda a nossa história.

(—Oh! Pequena ana, sabe que não posso dizer, precisa descobrir quem.)

— Eu não perdi nenhuma memória, não é como se não soubesse quem eu sou, é sobre não ter respostas de perguntas que alguém criou.

(— Sabe ana, tenho muitas respostas para você... E, ao mesmo tempo, não tenho respostas para mim. O que será dos meus filhotes, quando morrer? Eles entendem o que irá acontecer comigo ao decorrer da história?)

— Por que dizes essas coisas?

(— Toda vida fui criado já sabendo do meu fim, cada vez que alguém inicia a sua leitura, tudo começa novamente, se repetindo e repetindo, o mesmo sentimento, a mesma aflição de saber que eles vão ficar sem mim, daqui a alguns capítulos...)

— O que está a acontecer!?

(— A história está se desfazendo pela falta dos filhotes, espero que eles voltem em segurança. Ana, diga-me por favor, o que irá acontecer no final da história? Preciso saber se os meus filhotes vão sobreviver...)

— Eu ainda não terminei de ler... de entender.

(— Não precisa entristecer se, por ainda não saber...)

O gato começa a derramar as suas primeiras lágrimas na xícara de café, enquanto o pôr do sol embeleza a paisagem onde estão. Ana então começa a olhar para cima onde além das nuvens, estão a palavras escritas do livro. Enquanto isso, todos os filhotes foram abrigados na sala de estar, perto da lareira num lugar aquecido, o garoto sai da casa a procura do filhote restante, a chuva de granizo terminara, apenas para que os ventos frios fizessem caminhos para o horizonte misterioso, depois de um tempo procurando, ele encontra a sua ave e o filhote avermelhado nas suas garras, ao entregue nos seus braços, eles entram na casa, o espectro vendo que trouxera o filhote, os reúnem juntos, thome pergunta para ele:

— O que faremos agora, todos estão aqui...

— Todos não, ainda falta um deles.

— Antes de acharmos esse último, vamos ver o que aconteceu com a ana.

— Deve ser a falta de café da manhã, nada de mais.

— Independente, precisamos saber por que ela está nesse estado, não sei como você confia no que sente sobre ela, agindo dessa forma.

— Está bem, convenceu-me a irmos.

(Chegando perto de ana)

— Olha isso, espectro! As palavras da página estão a trocar de lugar, formando novas frases.

— Sei o que está a acontecer...

— Aqui ela diz que está no livro." Precisam trazer os filhotes de volta para o livro, onde está o último deles"... Foi isso que ela escreveu.

— Vamos ter que entrar no livro novamente.

— Como se eu já entrasse alguma vez, sabemos muito pouco sobre essa história, mas se ela nos pediu para entrarmos, vamos seguir o que ela disse...

— Thome! Pare de pensar alto e ajude-me a pegar os filhotes restantes, precisamos entrar nesse livro o quanto antes, e acabar logo com isso.

Após enviar o recado para os dois, ana e surpreendia por um ladrão, que a agarra pela camisa exigindo dinheiro, se debatendo ana chama pelo gato que não se move, assim como toda a história, o tempo havia parado e o ladrão cada vez mais irritado, ela consegue pegar a xícara e quebrar na cabeça do personagem, pegando o gato nos braços a correr em direção ao campo, afastando-se da vila, chegando até uma grande árvore, de repente do céu desce thome e o espectro com todos os filhotes, e o tempo volta como era antes, em desespero o gato que ana segurava soltar-se a correr até os filhotes, houve alegria entre todos os felinos, thome vai até ana e a abraça, o espectro observa toda aquela cena, repentinamente o ladro aparece, e o filhote verde usa a sua essência para criar cinco versões dele, que atacam e perseguem o ladrão pelo campo.

Atento aos mínimos detalhes, sentindo o ambiente, evitando dizer algo, o espectro chega até ana e a chama para irem embora, ana pega por um momento, atentando para o gato tricolor que continuava a chorar junto aos seus filhotes, com um sorriso e emoção, ana diz:

— Agora eu sei a mensagem da história...

— E qual é a mensagem, ana?— Pergunta thome, curioso em saber.

— Quando os gatos choram, é por que sabem que vão morrer antes de todos os outros…

— Nossa ana, pensei que essa história era feliz.

— Mas um que engana-se com primeiras impressões positivas— Diz o espectro, intervindo a conversa— Precisamos ir logo, terminem de conversar fora desse livro.

Os filhotes correm para a vila, ficando somente o gato tricolor, que já envelhecido procura chamar atenção deles miando, ana então vai até o gato, com thome e o espectro a segui-la, ao chegar até ele, o espectro logo o diz:

— Não precisa agradecer pelo que fizemos por você, agora vamos...

— Chega de ficar nos apressando, espectro!— Grita ana.

— Escuta aqui, você passou tempo suficiente com esse velho felino, não acredite que pode por vontade própria, decidir se fica ou não, uma disso...

O espectro usa o seu poder para enviara ana e thome novamente para fora do livro, o gato vê com desdém a atitude do espectro que, ao fazer isso olha de volta para o gato e dá as costas para ele, apenas com uma palavra, o espectro para de caminhar, o gato disse:

— Por quê?

— ... Nunca coube a você entender, afinal, o que há entre nós é somente uma ponte antiga que... foi criada.

— Existes?

Ana e thome aparecem em casa, eles começam a limpar se da sujeira, logo após o espectro volta, também limpando se de pequenas manchas de sangue. Ela acaba caindo no chão, thome ajuda a levantar, enquanto o espectro pega uma tigela de cereais e coloca na mesa, ana se senta e começa a comer lentamente com um sorriso no rosto, o livro não brilhava mais, apenas mantinha a sua capa tão linda como antes, os filhotes unidos, thome pega o livro e leva até o quarto de ana, para guardá-lo no lugar onde sempre ficou, e sem perceber do livro saía lágrimas, enquanto tremia a cair no chão, com o barulho vindo do andar de cima, já estando thome a descer a escada, o espectro então some e aparece onde o barulho aconteceu, vendo que o livro tinha a arrastar-se até a porta do porão, enquanto o mesmo estava em frente ao baú, com as coisas fora do lugar e algo de estranho acontecendo, ele destrói o livro em frente ao porão, ao fazer isso o cadeado do baú rompe, ele apenas recolhe o livro em frente dele e o coloca onde estava, parando no caminho sem fazer um sequer movimento.

Algo vindo da floresta o observava, ainda insistindo era a ave que havia atacado o filhote branco, com o seu canto chamava a atenção do espectro que, sem hesitar estende a sua mão em direção precisa, libera o seu poder que destrói a estrutura da janela e acerta a ave, ferida voa na tentativa de chegar na casa, e acaba por sair do seu corpo vários espinhos de cristais, desfazendo a ave sob o vento que trazia os primeiros cristais de gelo de um longo inverno repentino. Ana e thome permaneciam sentados à mesa de jantar, conversando:

— Ana, já melhorou após alimentar-se?

— O meu problema era a falta de comida, então sim! Estou melhor.

— É verdade, que não gosta de chocolate quente?

— Hum! Quem disse isso!?

(Thome começa a rir, enquanto ana insiste na sua pergunta, nesse momento o espectro desce a escada)

— O que está a acontecer, porque toda essa barulhada?

— Primeiro, eu não estou a fazer nenhum barulho alto, segundo, barulho alto foi o que você faz lá em cima!

— De fato, espectro. Parecia que você estava a atacar algo.

— Estava sim, era a mesma ave que matou quase o filhote branco, "Alma-de-gato" é o nome dessa ave.

— Estranho essa ave ter esse nome.

— Nada é sem um motivo, thome. Essa ave pode ser pequena ou média, mesmo sendo inanimada, o seu objetivo é com o seu canto predestine a morte do mais fraco, o seu nome se dá pelo fato dela após morta, voltar a existir após a morte de um gato ou algo parecido...

— Isso faz sentido, se essa ave não aparece aqui tão repentino— Diz ana.

— Ana tem razão, espectro. Precisamos guardar esse lugar, não sabemos o que há floresta...

— Muito menos da porta para fora— Diz o espectro.

— Isso não é verdade! O thome tinha saído e nem por isso foi morto ou algo do tipo, você só diz isso por não me deixar sair para fora— Exclama ana.

— Se depender de mim, por essa porta você não sai, thome só não se feriu por ter seu pássaro de estimação ao seu serviço.

— É "Os caminhos" o nome dele!

— Independente, preciso subir e reparar o estrago que fiz, tentando proteger vocês!

— A palavra dele é a única que reverbera aqui dentro.— Diz ana inconformada.

Em meio às labaredas que saía da lareira, um gato adulto de cor cinza sai a andar, se senta a observar os dois sentados à mesa de jantar, rapidamente saindo do teto para o chão da sala de estar, em frente do gato, o espectro diz-lhes:

— Mais um dos filhotes!?

— Ah! Não, esse aí é o cosmos, o gato que eu dei de presente para a ana, antes de entrar nessa residência.

— Se eu esqueci quem ele era, não o alimentei ainda.

— Não precisa, eu cuido da alimentação dele, sendo um gato existem exigências quanto ao que come.

— Quê!? Ainda tem escolha do que comer?

— Você deve não ter convivido com um gato para entender...

— Lembro-me de ter tido um gato— Diz ana.

— Não, não lembra. Porque você não teve sequer gato, deve ter tido um "Déjà vu".

— Ou uma vida passada.— Acrescenta thome.

— Não está a ajudar, thome.— Diz o espectro.

O gato então começa a andar pelo cômodo e pula em uma das fotografias na parede, sumindo de vista em segundos, o espectro não gostando disso vai atrás do gato, e ao entrar do retrato em preto, é levado até um lugar onde só existem paredes, apertado e com uma iluminação provida de uma lâmpada antiga presa ao teto, constatando que não havia gato e nada além de quatro paredes de concreto, ele volta para o cômodo, onde thome está ajeitado a antena de televisão, enquanto ana coloca o seu cachecol completando a sua roupa de inverno, thome então pergunta:

— Conseguiu pegar o gato, espectro?

— Não... Onde arruma esses gatos estranhos?

— Você é estranho, então deve ser do mesmo lugar.

— Muito engraçado, thome... Por que está vestida com essa roupa, ana?

— Enquanto você passou minutos dentro desse retrato, fomos terminar de tampar o buraco que você fez na parede, mas provavelmente não vai durar por conta do inverno, então quero estar prevenida caso aconteça.

— Eu passei tanto tempo dentro daquele lugar...

— Que lugar, espectro?— Pergunta thome.

— Nada de mais, preciso dar satisfações a crianças como vocês!?

De repente os retratos na parede começam a sumir lentamente, sem haver explicação, apenas o retrato que o espectro entrou está como antes, todos não percebem quando isso acontece, somente ele que prefere deixar isso de lado, subindo a escada até o cômodo onde precisava reparar o buraco na janela, chegando perto onde estava, o baú arrasta se sozinho até a porta onde fica o porão, o espectro por um momento não explode o baú junto do chão, com raiva do que acontecia, com todo o cuidado ele coloca no lugar, não atrevendo a ver o que tinha dentro, olhando o pequeno espaço no canto do cômodo, agachado com uma das suas mãos no baú, os seus olhos começam a brilhar e então ele desaparece...

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