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MORRER DE AMOR

Criada nas ruas

_ Brenda.. Brendaa.. Bora acorda..

CORREEEEEEEEEEEEEEE - grito estridente -

Largada. Mais uma vez. Ou desde sempre?! A vida nas ruas é o que eu tenho de familiar. Desde que ganhei capacidade de discernir a minha realidade, eu entendo que meu lugar será sempre aqui.

Os olhos julgadores te rotulam, te coloca em certos lugares que não são seus, mas que passam a ser quando sua voz nunca é ouvida. Ninguém quer escutar sua versão dos fatos, e quase ninguém quer olhar você com um olhar real de compaixão. Por isso, cansei. Prefiro não esperar nada de ninguém

Hoje é mais um dia comum, em que eu me acordo fugindo dos guardas que foram chamados para nos enxotar do único lugar que temos pra dormir. Ouço uma das mulheres que estão sempre comigo, me chamar e logo os gritos, e o barulho das pessoas fugindo, me desperta ainda mais. Eu precisava correr também

Toda vez que acontece esses tipos de coisas nós sempre paramos na delegacia, ou numa clínica de reabilitação. E isso acontece mesmo que você não seja usuário de drogas. O que conta é que você está nas ruas, largado.

Acostumada a desde pequena está nessa correria, eu sempre fui considerada a mais rápida entre todos. Me chamavam de foguetinho. Até que eu cresci, e me tornei só a Brenda... Não poderia deixar de mencionar que quando você é criança, as pessoas olham pra você com pena, mas quando você chega a adolescência, e se é mulher, você vira a puta, vagabunda, e se é homem, o marginal..

A realidade da pessoa que passa é totalmente diferente de quem está julgando de fora. Todos em suas zonas de conforto. Inertes a uma realidade onde não nos cabe e nunca nos caberá.

Corro em direção ao beco 05. Esse beco era movimentado por conta dos comércios e da escola que havia ali. E por ser próximo do horário da saída do turno da manhã, eu tinha a intenção de me enturmar. Eu só tinha esquecido do meu estado deplorável...

Suja. Imunda. Feia. Fedorenta. Neguinha.

Esse era um dos xingamentos que eu escutava ao passar entre os estudantes do  Polo 05. Ouvir essas coisas não me machucavam mais, ou talvez machucavam, e eu só preferia ignorar para sobreviver. Eu só queria fugir dos canas, e ali era o melhor lugar

Corro até o final do beco, e consigo chegar na lateral da escola, onde ficava sempre os adolescentes filhinhos de papai usando drogas, e além disso, fazendo muita putaria ao ar livre. Ficava impressionada como a realidade é totalmente diferente, e que se tratando de mim, eu já teria parado na delegacia ou na reabilitação por muito menos

_ O que está fazendo aqui, imunda?

Fico calada. Não quero dar atenção, porque eu sabia que qualquer coisa que eu dissesse poderia me encrencar demais. Não poderia me dar ao luxo de pensar que dariam a mim o poder da dúvida

_ Quer chapar? Quer um trago?

Um dos garotos pergunta e eu me permito olhar na direção dele. Ele estava com o pau pra fora e uma das meninas estava encaixada em seu colo, como se nada demais tivesse acontecendo. Como se fossem dois animais sem nenhum pudor

Continuo calada. O silêncio é a minha maior virtude entre eles.

_ Não vai falar não? Então vaza!! Vaza!!!

O garoto tira a menina do seu colo, e ainda com o membro pra fora vem andando na minha direção, sempre com xingamentos. Quando eu fico encurralada e ele já está mais próximo que deveria, tiro uma faca da minha cintura e aponto em direção a ele. Todos que ali estavam presentes saem correndo, menos ele

_ O que pensa que vai fazer com isso? Com uma ligação eu acabo com você sua fedorenta estúpida

Não abaixo a faca, mas também, não digo uma palavra. Eu não queria usar aquela faca, mas desde sempre fui ensinada pelos meus amigos da rua a me defender quando você preciso, e aquela situação se mostrava necessária...

Nervosa. Aflita. Com medo.. Eu tive que ignorar todos os sentimentos que passavam dentro de mim para está pronta pra atacar e fugir. E quando aquele garoto tão jovem quanto eu, mas já tão verme, se aproxima ainda mais, eu levanto a faca em seu pescoço, mas antes que eu pudesse agir, escuto

_ Ei. Ei. Ei... O que está acontecendo aqui?

_ Merda. O Professor Julian.. - o garoto esbraveja baixinho enquanto sobe as calças -

Continua...

Professor amigo

"Professor Julian"? - Penso comigo mesma - . Escondo a faca e tento passar por esse professor que me impede

Prof. Julian_ O que aconteceu aqui?

Não tive tempo de me explicar, e acho que naquela situação, eu nem precisava. O garoto estava com o p@u pra fora.

_ Não vê que essa imunda estava querendo e agora que viu o tamanho, deu um jeito de desistir?!

Eu quase vomitei ao escutar o que aquele nojento estava falando

Prof. Julian_ Isso é verdade, menina?

Brenda_ E isso faz diferença?

Naquele meio tempo Julian já tinha dado um jeito de passar pelo professor, que estava com os olhos vidrados em mim. Eu não sabia como reagir, e não conseguia ler os pensamentos daquele homem para saber o que de fato ele queria. Comecei a pensar que ele estava ganhando tempo para me levar dali presa

Aquele pensamento me faz respirar mais forte e ofegante, de medo. Passo correndo por ele que continua ali, parado, sem tomar nenhuma atitude. Corro de volta pra rua principal e vejo que o movimento já estava mais tranquilo, e volto para o lugar que sempre fica junto com os outros, mas quando chego lá não há ninguém

Com certeza eles foram para o outro ponto. Sempre que acontecia esses tipos de coisa aqui, nós íamos para outro ponto de encontro. Então, sigo tranquilamente pela rua até o ponto seguinte, e de longe já avisto todos conversando elétricos

Quando me aproximo, escuto um deles falar que achava que eu tinha sido levada.

Brenda_ Oi.. - falo cabisbaixa -

Bola_ Caraca, Brendinha. Pensei que você não ia voltar mais

Brenda_ Trombei feio com um dos garotos do Polo05. Mas, consegui meter o pé

Neguinho_ Ah Qual foi.. Quer que a gente resolva essa parada?

Brenda_ Não. Tá de boa, po. Tudo tranquilo. Vou naquela meta lá que vocês já sabem

Bola_ Cuidado Brendinha.. Vai acabar se prejudicando

Não dou ouvidos e saio andando. Acontece que fazia um pouco mais de 1 mês que eu estava indo sempre na biblioteca ali do centro. Eu não tinha nenhuma noção de como eu sabia ler, mas eu sabia e adorava. Eu sempre ia nas quintas feiras, porque a bibliotecária daquele dia deixava eu ficar num local mais reservado sozinha, lendo quantos livros desse naquele pouco tempo antes de fechar pro almoço

Quando chego lá, bato na porta como sempre para indicar que era eu, já que os outros clientes apertavam a campainha. Mas, Suzy, a bibliotecária, não libera a entrada, pelo contrário, ela aparece na porta

Suzy_ Brenda, tem uma pessoa que ainda não foi embora

Brenda_ Poxa.. Mas se essa pessoa demorar, vou acabar não conseguindo ler nenhum

Antes que eu pudesse desistir de entrar, Suzy abre a porta para que eu entre, mas tentando ao máximo não ser vista. Então, eu entro sem nem olhar pro lado, e entre as prateleiras, me perco na quantidade de livros expostos, como se fosse a primeira vez que eu estava entrando ali

Fico passando pelos livros até que encontro uma prateleira categorizada em BDSM. Pego um dos livros com capa chamativas e abro aleatoriamente em uma das páginas. Para minha surpresa, vejo uma foto de uma mulher que estava amarrada e com uma mordaça na boca, aquilo me assusta e eu deixo o livro cair

Do outro lado da prateleira escuto um homem perguntar quem estava ali, e em seguida, escuto silêncio, até que vejo o homem vindo na minha direção no corredor da prateleira que eu estava

Prof. Julian_ Você!

Penso em correr no mesmo instante. Se antes ele não tinha conseguido me levar pra delegacia, agora ele teria a oportunidade perfeita pra isso. Mas, antes que meu corpo pudesse ter qualquer reação àquele encontro, ele continua a falar

Julian (vocês sabem que é o professor)_ Não precisa correr. Não vou fazer mal a você

Eu continuo andando pra trás. De boas intenções o inferno estava cheio, e eu não acreditava naquele homem.

Julian_ Qual é o seu nome? E como entrou aqui?

Brenda_ Pela porta

Ele da risada da minha resposta, mas continua se aproximando de mim, até que ele chega perto do livro que estava caído no chão. Ele olha pra mim e em seguida pro livro, agacha e pega. Na mesma hora penso que agora estava ferrada, ele iria ver e fazer a mesma coisa que aquele nojento estava tentando fazer no beco?

Julian_ Você gosta desse tipo de coisas?

Balanço a cabeça negativamente, eu estava desesperada e sem saber o que falar

Julian_ Então, por que estava vendo esse livro?

Brenda_ Fiquei curiosa, mas não são esses tipos de livro que costumo ler.

Julian_ Estou surpreso que saiba ler...

Brenda_ Com licença...

Eu realmente era uma menina diferenciada das que moravam nas ruas. Apesar da minha aparência suja e nada agradável, eu sou uma menina inteligente, por mais que eu não entenda da onde venha todo esse saber. Me aproximo na recepção onde fica a Suzy e peço desculpas por ter deixado ser vista, pois não queria de nenhuma forma prejudicá-la, e alcanço a porta sabendo que muito provavelmente, não poderia voltar ali

Julian_ Eii, menina!!

Olho pra trás e é mais uma vez aquele professor. Ele parecia realmente está obcecado por mim e eu não entendia o porquê, e a curiosidade me faz parar e esperar por ele. Fala sério... Se ele quisesse me prejudicar, ele já teria feito alguma coisa

Julian_ Você deve está com fome. E se fôssemos almoçar?!

Continua...

Almoço inocente

Acabo aceitando o convite desse tal Professor para almoçar. Eu estava faminta, e ele não parecia querer me prejudicar de alguma forma. Julian me leva numa pizzaria ali perto da biblioteca, e eu fico animada. Sempre que passava ali na frente, ficava namorando as pizzas de outras pessoas, imaginando quando eu teria a oportunidade de comer ali.. E cá estou eu

Fico na minha sem dizer nenhuma palavra. Por mais que eu imaginasse que a intenção dele não era me entregar, eu não sabia o que ele queria, e isso me fazia ficar alerta a qualquer coisa que ele fizesse... Mas, Julian só pede a pizza de calabresa e um refrigerante, e logo volta sua atenção para mim novamente

Julian_ Estou impressionado... Como uma menina como você sabe ler? Quem aguçou essa sua vontade nos livros?

Brenda_ Ninguém.. Eu só sei..

Eu tentava ser o mais breve e o menos detalhista possível nas minhas respostas. Até porque, nem eu mesma sabia como eu sabia ler e escrever. Desde que me entendo por gente, moro nas ruas, e não lembro de ninguém me ensinando ou algo do tipo..

A pizza chega e Julian me deixa saborear sozinha, dizendo que já tinha comido anteriormente. Era o que eu precisava ouvir. Eu estava faminta, e comeria sem nenhuma delicadeza toda aquela pizza que estava quentinha na minha frente..

Quando termino de comer, a satisfação traz um sentimento que a muito tempo eu não tinha o prazer de sentir, alegria. E era de se esperar, já que há um bom tempo eu não enchia a barriga igual tinha acabado de fazer. Essa felicidade repentina me faz começar a falar mais do que inicialmente, eu já estava vendo Julian como um amigo

Brenda_ Por que me trouxe pra comer ?

Julian_ Imaginei que tivesse com fome..

Brenda_ Mas por que eu? O que você ta querendo comigo?

Julian_ O que te faz pensar que quero alguma coisa com você?

Fico calada. Não era possível que ele estivesse fazendo tudo aquilo só por boa vontade, alguma coisa tinha por trás de tudo isso. Mas, eu acabo ficando retraída com a resposta dele. Tentando não parecer mal agradecida, eu continuo conversando, mas minha vontade era levantar e ir embora

Brenda_ Desculpa.. Posso ter me equivocado

Julian_ Sua linguagem é incrivelmente perfeita. Apesar de está mal vestida e suja, você se porta bem..

Brenda_ Você está me insultando?

Julian_ De maneira alguma, mas você sabe que essa é a sua realidade.

Abaixo a cabeça. Eu realmente sabia que aquela era a minha realidade. Mas, o que ele tinha a ver com isso? Eu era obrigada a ser adaptável, já que de tempos em tempos, era obrigada a está em novos grupos de moradores de rua. Acontece que, as pessoas que cuidavam de mim (também moradores de rua) já tinham sumido, não sei se morreram ou se estão presos, e eu fui obrigada a me enturmar com os meninos

Brenda_ Preciso ir embora. Meus amigos devem está preocupados comigo

Julian_ Você tem amigos? Os que moram na rua com você?

Brenda_ Sim. Somos em grupo...

Julian então me pede para esperar mais um pouco. Diz que pediria mais uma pizza e essa eu levaria para os meus amigos. Eu aceito.  Com certeza eles estariam com fome.

Brenda_ Por que está me ajudando?

Julian_ Acho que você pode ter razão... Eu realmente estou querendo algo com você. Mas, deixaremos essa conversa pra outro dia.. Claro.. Se você tiver interesse em saber o que é

Fico curiosa, mas antes que eu pudesse questioná-lo sobre isso, a pizza que ele havia pedido chega, ele paga e levanta, indo embora. Antes que alguém do restaurante viesse me enxotar, eu levanto e vou até os meninos que essa hora, à tarde, estavam no rio que ficava há 1 hora andando da onde eu estava

Vou andando até o rio, eu já estava acostumada a andar pelas ruas e 1 hora andando não era nada pra mim. Quando chego e os meninos me vêem, a felicidade no olhar de quem está com fome e a dias sem comer direito, é gratificante. Realmente foi válido esperar cada minuto a mais para levar a pizza pra eles

Eles comem animadamente, sempre dividindo um com os outros. Até que eu resolvo falar sobre o tal Professor. Conto tudo que aconteceu e eles estranham, chegaram a falar que ele queria que eu fizesse programa, mas por fim, eles disseram que eu deveria encontrar com ele de novo para saber qual proposta ele tinha pra me ajudar

Bola_ Tu é uma menina diferente, ta ligado? Não serve pra ficar nessa vida com nós não

Neguinho_ Papo reto, Bola. Qualquer dia desse aí numa fuga nós vai rodar e tu vai ficar sozinha, melhor tu se adiantar

Neném_ To com eles, Brenda.. Sabe que pra comer nós tem que fazer nosso corre e ta ficando cada dia mais dificil. Adianta e faz teu pé de meia

Fico quieta. Mas, eles tinham razão. Os meninos tinham sempre que se enfiar dentro da comunidade para fugir da polícia. Pra comer, eles tinham que roubar, e roubando, eles já ficavam muito visados. Uma hora, estando junto com eles, eu ia rodar também

Ficamos brincando no rio, e logo depois deitamos pra tirar um sono. A noite seria hora dos meninos fazerem o corre deles, e eu ficava ali sozinha. Seria meu tempo para pensar no que fazer com a minha vida. Porque se aceitando a ajuda desse tal Professor, isso significava ter comida boa sempre, era uma coisa a se pensar, porque nas ruas, o perigo que eu estava correndo era maior do que virar qualquer outra coisa

A noite cai e os meninos vão pro corre. Eu fico ainda aqui, pensando.. Até que depois de algumas horas olhando pro nada, eu acabo adormecendo...

Continua...

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