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A Babá Temporária

1

Já era a terceira vez que Alice tentava convencer a avó de que não precisaria gastar dinheiro com táxi, desde que se mudou para capital e passou a morar sozinha, a sua mãe e a sua avó ligavam quase diariamente.

Isso sem falar das chamadas por Skype que tinha com a irmã de finais de semana, isso já acontecia há três meses.

Três meses que havia se tornado uma universitária, estudante de Literatura e senhora do próprio nariz.

Vó: Mas já está tarde, Liz ... Não quero você andando pela rua sozinha à noite...

Liz: Vó...

Alice suspirou, já estava pronta para dar outra desculpa quando começou a chover, ela, com mais alguns outros alunos que estavam espalhados pelo campus, correram para a parte coberta para se proteger e esconder os muitos livros que carregava.

Liz: Vovó... acredito que serei obrigada a chamar um táxi mesmo, aposto que a senhora jogou uma praga ferrada para que eu não voltasse a pé para casa.

Alice brincou.

Liz: Começou a cair o mundo aqui, assim, do nada.

A avó riu e despediu-se com um beijo e com promessas de que continuaria a jogar pragas na neta se ela não a obedecesse de primeira da próxima vez.

Alice abriu a carteira para contar quanto dinheiro tinha, não havia muito, mas ela tinha uma reserva no banco de um dinheiro que conseguira juntar durante as férias, antes de ir para a faculdade.

Enquanto a chuva não passava, Alice lembrou-se de como conseguira aquele dinheiro trazia-lhe boas memórias.

Pensamentos On

Numa tarde em que Alice passara na casa da avó logo que entrou de férias:

Alice: Essa torta de maçã é a melhor coisa que eu já comi...

Vó: Não fale de boca cheia, Liz, é falta de educação.

A avó repreendeu.

Alice: Desculpa, mas isso está mesmo ótimo.

A sua vó concordou com um aceno de cabeça enquanto também comia a torta.

Alice: O único problema é que eu vou ganhar muito peso se eu continuar a comer desse jeito.

Vó: Então eu sugiro que não coma mais torta.

Alice: Sério?

Alice fez cara de sofrida.

Alice: Tudo bem, a partir de amanhã vou começar a correr, todas as manhãs, eu prometo. Posso comer mais, agora?

A avó riu a concordar enquanto cortava outro pedaço para a neta e voltava para sua revista de bordados.

Vó: E então, já se decidiu para aonde vai ao próximo semestre?

A sua avó perguntou enquanto fazia os seus bordados.

Alice: Como não recebi nenhuma carta das faculdades que mostrei interesse, ainda não sei. Mas a senhora sabe, vovó... Quero ir para Princeton.

Estudar em Princeton sempre foi o sonho de Alice, estudar Literatura em Princeton tornara-se o seu objetivo no segundo ano do segundo grau ao fazer um trabalho sobre os grandes nomes da literatura norte-americana e descobrir que queria estudar cada um deles com profundidade, além de não querer sair do mundo dos livros nunca mais.

Vó: Por que você não arruma um trabalho? Assim você ocuparia a sua cabeça, e ainda poderia guardar um dinheiro para a faculdade, eu sei que ficar aqui todas as tardes não têm sido o melhor dos programas de entretenimento para você..

2

Alice normalmente ficava parte das suas tardes na casa da avó, e depois saia para fazer algo com a sua melhor amiga, Karen.

Na verdade, melhor e única amiga, Alice não era ótima com amizades, mas não se importava muito com isso, ela tinha alguns colegas, mas não passavam disso.

Mas na última semana ela passara todas as suas tardes com a avó, pois a sua melhor e única amiga estava viajando, Alice gostava de ficar com a avó, gostava mesmo.

Mas ela já ficava entediada sem ter nada para fazer a não ser furar os seus dedos e se frustrar a cada flor bordada que mais parecia... Bem, qualquer coisa, menos uma flor.

Pelo menos a sua irmã chegaria no próximo fim de semana, não que ela fosse receber muita atenção, já que Anne estaria a organizar o seu casamento e a única atenção que daria para Alice seria nos momentos de usá-la como ajudante com os preparativos.

Alice: Sério? Não pensei nisso.

Alice nunca trabalhou, afinal, algumas revisões de redações em trabalhos escolares não podiam ser consideradas um trabalho, mesmo que ela tenha recebido por isso.

Vó: Tem um garotinho que eu conheço do parque em que frequento, Oliver, ele é uma graça, um amor de menino, o pai do garoto viaja praticamente a semana toda, a mãe dele é médica e fica o dia todo no hospital e o irmão estuda longe. A criança costuma ficar na escola o dia todo, mas a mãe procura de alguém para ficar com ele durante as férias escolares.

A sua avó disse.

Vó: Poderia cuidar dele, não deve ser muito difícil.

Alice: É, não deve mesmo, quer saber? Vou pensar no assunto.

Vó: Pense mesmo, é uma ótima oportunidade, se decidir aceitar fale-me, eu sempre me encontro com ele nos dias da minha ginástica.

Ao prometer que pensaria com carinho na proposta, Alice se despediu da avó com um beijo no rosto e um potezinho com torta em uma das mãos.

A caminho de casa o seu celular tocou, normalmente ela não aceitaria uma ligação de um número desconhecido, mas já era a terceira vez que aquele número ligava-lhe aquele dia, então decidiu atender.

X: Liz? É seu pai.

Ela parou de andar abruptamente e, em resposta, recebeu alguns xingamentos de um cara que passava por ela de bicicleta e que teve que se desviar para não causar um acidente nada bonito.

Alice: Pai?

Pai: Oi! Minha filha, como vai?

Ela não respondeu.

Alice: O que aconteceu?

Liz perguntou, porque sabia que alguma coisa deve ter acontecido para ele entrar em contato com ela assim, do nada. O seu pai não era um exemplo de pessoa e estava longe de receber o prémio de melhor pai do ano, além de não fazer questão de dar notícias.

A não ser, é claro, quando alguma coisa acontecia e ele precisava de ajuda.

Pai: Liz, querida, eu só queria saber...

Alice: Corta essa, pai. Eu sei que você tá precisando de alguma coisa. O senhor sempre está.

3

Do outro lado da linha o pai suspirou antes de falar:

Pai: Bem, está certa, Liz. Eu estou em apuros e preciso da sua ajuda.

Da última vez que ele ligou para Alice dizendo que precisava de ajuda ela gastou todas as economias, dessa vez parecia que não seria muito diferente, tirando que ela não tinha economias para dar ao pai.

Novamente ele precisava de dinheiro e novamente era para um assunto “urgente”, ele tinha a desculpa de o mercado de trabalho ser muito concorrido e ele não ter um trabalho.

Porque ele já teve vários trabalhos, mas era sempre demitido ou se demitia poucos meses depois.

Alice: Olha, pai... Sinto muito, mas eu não tenho dinheiro algum. Sabe que eu não trabalho…

Pai: Pois é, eu sei, querida, mas eu apenas imaginei... Bem, que talvez tivesse algum guardado para ajudar o seu velho. Quer saber? Não tem problema, eu me viro.

E foi isso que a conversa terminou assim, sem um “até mais”, ou um “estou com saudades”, Alice não esperava nada mais do que teve, afinal, era o seu pai.

No dia seguinte ela colocou uma roupa leve, pegou os óculos escuros, a sua bolsa e foi para o parque encontrar a sua avó, hoje era dia de ginástica comunitária e as velhinhas do bairro se encontravam para fazer exercícios com o “professor bonitão”.

Algumas horas mais cedo dona Bella, a avó de Alice, ligou para convidá-la a se juntar a ela e às suas amigas da terceira idade naquela tarde.

Alice não participaria da aula com o professor bonitão, mas ficaria sentada no parque assistindo às senhoras de setenta e poucos anos se alongarem, crianças brincando e cachorros correndo atrás de bolinhas.

Vó: Liz! Aqui! Liz!

Alice: Vovó, eu ouvi à senhora da primeira vez.

A avó gritava por ela desde antes de Alice atravessar a rua.

Vó: Liz, venha cá, quero-lhe apresentar ao Oliver.

Disse se dirigindo ao garotinho do seu lado.

Vó: Essa é minha neta, Alice.

Oliver: E aí.

Alice: Oi!

Oliver: Beleza. Dona Bella, vou ali com a senhora Suzi ver se ela me compra um sorvete, tudo bem? Até mais.

Vó: Tchau! O meu querido, vai lá.

A avó abanou a mão para ele.

Vó: Ele é uma gracinha não é?

Alice concordou com a cabeça, Oliver parecia mesmo ser fofinho, e ele gostava de sorvete, o que significava que poderiam ser bons amigos num futuro caso ela aceitasse cuidar dele.

Mas isso ela não disse em voz alta, afinal, nem pensou direito sobre o assunto ainda, Liz ficou com a avó até o professor bonitão chegar e reunir todas as alunas num mesmo espaço para a aula de ginástica.

O professor da sua vó não era tão bonitão assim, mas Alice imaginou que para senhoras de mais de setenta anos, ver uma bunda daquelas três dias por semana não era qualquer coisa.

Quer dizer, deveria ser proibido o cara ter uma bunda daquelas, até mesmo Alice ficou reparando por uns bons dez ou quinze no máximo vinte minutos.

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