Estou aqui parada apenas observando o mar. Mas por algum motivo não consigo esquecer você. É como se estivesse comigo aqui e agora, não,não fisicamente isso seria improvável, quase que impossível. Mas é como se ouvisse você a chamar-me. Os meus dias não são mais os mesmos, não depois de você, não depois de tudo que aconteceu.
Olho para o céu, e vejo nuvens se formando, umas mais escuras. Anunciavam chuva. Pelo cheiro que já podia sentir, a chuva caia em algum lugar próximo.
Volto para casa, tento pensar em algo diferente no caminho, mas não consigo. Faz uma semana que os meus pensamentos estão voltados para Wolf City. Os acontecimentos dos últimos meses ainda estão confusos na minha cabeça. Não tem muito tempo que voltei, mas é como se algo estivesse fazendo falta. Algo que se tornou presente na minha vida. Seria possível criarmos uma ligação tão forte assim? Na verdade, não acredito, não conheci você pessoa, apenas o animal que existe preso no seu corpo.
Depois de alguns minutos tentando mais uma vez descobrir a sua identidade, sinto algumas gotas caírem sobre a minha cabeça. É uma chuva pesada, em segundos o céu parece desmoronar. Os barulhos são ensurdecedores. Procuro correr um pouco, a minha casa está próxima. Chego em casa, procuro as chaves e quanto mais tempo perco tentando abrir a porta, mais encharcada fico.
Sinto como se alguém me observasse. Mas quem em sã consciência estaria debaixo daquela chuva.
Abro a porta, entro. Procuro ficar em cima do carpete. Antes de fechar a porta vejo algo do outro lado da rua. Impossível, a minha mente está brincando comigo. Um carro passa em alta velocidade, e aquilo some. Eu mesma tranquilizo-me. Foi apenas a sua imaginação. Ele não viria até aqui.
Tranco a porta, penduro as chaves, e livro-me daquelas roupas molhadas. Levo para a lavandeira, e pego uma toalha, preciso secar-me. Vou até o quarto, vejo uma roupa e vou para o banheiro. Preciso tomar banho, com o tempo assim faltará energia em breve.
Após o banho, visto algo confortável, mas, ao mesmo tempo quente o suficiente. Agora preciso voltar a aquecer-me por conta própria, antes ele me mantia-me aquecida. Vou até à gaveta e procuro por algumas velas, preciso deixar elas onde eu possa encontrar com facilidade.
Vou até à cozinha, coloco a água para aquecer, um chá me faria bem agora. Acendo o fogo da lareira, volto até a cozinha e pego uma xícara. Procuro por um chá de hortelã, apenas encontro uma caixa vazia. Terei que substituir o meu chá por um café. Mas antes de cometer essa loucura, procuro pelos armários, sempre tenho caixas de chá. Encontro uma perdida, mas está aberta. Será possível que eu seja tão desatenta, ou seria outra coisa? Todas as coisas são detalhes, e dependendo deles é quase impossível lembrar. Detalhes talvez isso foi o que faltou para descobrir quem é ele. São detalhes demais quando se está assustada ou confusa. Muitas informações, ou talvez não.
Isso não importa agora, eu só quero um chá. Sorte a minha, parece ser o último. Coloco o sache na xícara, a água, e vou para a sala. Não existe lugar melhor que ficar perto do fogo. Sento na poltrona, e observo a lenha queimar. Apenas o barulho da chuva lá fora,penso que o pior já passou. Só terminei de falar e a luz apagou. Olho para o teto e resmungo. Isso é brincadeira. Não, de fato não era. Havia mesmo faltado luz. Dessa vez estava prevenida, pego o celular e ligo a lanterna. Era péssima, mas podia enxergar algo. Vou até à mesinha, e procuro pelas velas. Olho e não encontro. Penso que podem ter caído,agacho-me e procuro. Não encontro. Um barulho veio do quintal. Algo caiu. Não há nada lá fora, nem mesmo um vaso de flor. Escuto novamente, dessa vez foi mais forte. Levanto,e vou até à porta dos fundos. Abro desconfiada, mas abro. Mentira estava morrendo de medo. Abri a porta, e olhei do lado de fora. Não vi nada, apenas uma escuridão sem fim. Escuto sons de patas, um gato preto salta sobre mim, e um cão enorme corria na minha direção. Antes que fechasse a porta, ele apenas parou. Olhou na minha direção e saiu correndo. No momento não entendi nada. O gato que havia pulado em cima de mim, como um pedido de socorro agora havia-me arranhado. Acredito que não gostou muito de mim. Ele pulou e saiu na escuridão. Fechei a porta, e voltei a procurar as velas. Antes mesmo de encontrar, a luz acendeu. Dessa vez foi rápido. Sento novamente e volto para o meu chá,agora não estava tão quente assim. Desisto e vou para o meu quarto. Arrumo as cobertas, e deito-me. Pego o celular novamente, penso antes de pesquisar. O que adianta ficar pesquisando se a resposta é sempre a mesma. Coloco o celular para carregar, e vou dormir.
A noite aqueles sonhos voltaram a atormentar-me. Ouvia o seu chamado, era tão real. Alguém aparecia naquele sonho, mas não conseguia identificar, e nem ver o seu rosto. Ao longe ouço os sons dos machados cortando as árvores da floresta. Uma sombra surge de repente, se levantou em meio a escuridão, era enorme. Os seus olhos amarelos pareciam estar a procura de alguém. Parece ter finalmente encontrado. Dentes enormes surgiram, parecia querer devorar alguém. Porque vem na minha direção? Ele está atrás de mim. Vem com tanta cede, parece querer devorar-me viva. Corro desesperadamente em direção ao único lugar que conheço onde posso encontrar proteção. Passo o portão correndo, na esperança de que ele não ultrapasse. Quando chego perto da porta, ele aparece, mas está ferido. Tento ajudá-lo, mas manda-me ir. Como deixá-lo para trás. A criatura atravessou o portão, não havia aquela possibilidade, a menos... não, eu fui cuidadosa, talvez não como deveria. Ele colocou-se na minha frente, mesmo ferido. Mandava-me fugir. Mas não queria deixá-lo, não dessa vez. Fiquei paralisada vendo ele se sacrificar para me salvar. Assisti a sua morte de perto. Aquele monstro voltou-se para mim. Os seus dentes, e garras enormes. Naquele momento ele falou: -Agora você é minha.
Não havia nenhuma tentativa de fuga quando ele colocou as garras em mim, senti que tudo estava perdido.
Desperto desse pesadelo agitada,estava a suar frio, minha respiração ofegante, e o coração descompassado. Sento na cama, procuro controlar a minha respiração. Tento ligar a luz do abajur, mas parece estar queimada. Pego o celular e percebo que não carregou. Estou sem luz novamente. Ligo a lanterna, preciso tomar água. Quando pego o jarro está vazio, nenhuma gota de água. Por Deus onde ando com a cabeça, na verdade, em cima do pescoço. Sou muito esquecida, na verdade. Isso ainda vai acabar-me matando. Espero que não seja de verdade. Vou até à cozinha, a lanterna do celular parece cada vez mais fraca,suponho que preciso de uma lanterna de verdade. Está muito escuro,e, na verdade descobri que morro de medo do escuro. Antes não me importava muito, mas devido aos últimos acontecimentos. Quando finalmente pego um copo d'água, eu escuto um barulho. Espero que não seja nada. Mas parecia ter algo correndo em volta da casa. Não, isso é só a minha imaginação. Um estrondo forte assustou-me, e deixei cair o copo, que se partiu em pedacinhos.
Ótimo era tudo o que precisava, estou no escuro, com medo, com água e cacos de vidro no chão da cozinha. Algo fez barulho lá fora, na frente da casa. Procuro sair da cozinha sem me machucar e vou até à janela. Estava tudo muito escuro. Mas algo do lado de fora chama a minha atenção. Vejo dois pontinhos azuis a brilharem no outro lado da rua. Como aquilo era possível. Então, escuto o seu chamado, reconheceria aquele uivo em qualquer lugar. Era ele, abri a porta sem pensar duas vezes. Sai, quando coloco o pé do lado de fora não vejo mais nada. Ele sumiu em meio a escuridão. Não é possível, eu vi, ele estava lá. Ele chamou-me. Não posso estar ficando louca.
De repente as luzes da rua se acendem, menos uma, a que fica em frente a minha casa. Volto para dentro, e tranco a porta. Olho pela janela novamente, e não há nada. Acendo a luz da sala, vou até a cozinha, limpo a bagunça que fiz, tomo água e volto para cama. Coloco o celular a carregar novamente. Puxo as cobertas e fico pensando nele. Eu escutei claramente, ele chamava-me. Será que estou ficando louca. reviro-me na cama de um lado para o outro, mas o sono parece ter fugido.
Antes pensava estar louca quando ouvia ele falar comigo. Hoje desejo que isso seja a mais pura realidade. Mesmo depois do que passei em Wolf City, eu desejo estar com ele. Sinto falta até mesmo de quando chegava fedido. De todas as vezes que me fez fazer coisas contra a minha vontade, não conseguia enganá-lo. Sinto falta de tomar chá perto da lareira, dele deitado no sofá, de estar com ele. Porque me faz tanta falta?
Na manhã seguinte eu sigo a minha rotina. Voltei para a minha antiga casa, mesmo contra a vontade dos moradores. Uma empresa estava prestes a comprar as casas, iriam desmanchar tudo, e fazer um condomínio. Mas precisavam da venda de todos os terrenos. Então até a assinatura, os vizinhos precisam conviver comigo. Mas não saio de casa, a menos que seja de extrema importância.
Ouço uma batida na porta. Era aquele policial mala.
— Bom dia! — Bom dia! o que você quer? — Sabe que amanhã é o dia de vender a sua casa. — Sim, e daí? — Você precisa arrumar as suas coisas hoje, pois terá até a noite para deixar a cidade. — Vai continuar-me coagindo? — É apenas um aviso, pegue tudo o que é seu e vá embora! — Vou pensar, depois da venda tenho alguns dias para continuar a morar aqui. — Segundo o meu regulamento não. — Veremos então.
Bato a porta na cara dele. Escuto outra batida.
— O que foi? — Você deveria agir de uma forma mais agradável. Eu posso ser bonzinho com você ou talvez não. — Vamos ficar com a possibilidade de vai se ferrar.
Fechei a porta novamente. Era a primeira vez que mandava alguém ir se ferrar. Talvez aquilo acabasse-me ferrando. Passo o dia em casa. A vontade de ir lá fora pegar um pouco de sol era grande. Mas seria bom evitar qualquer problema com os vizinhos. A noite chegou, e quando pensei em ir para o meu quarto, escuto batidas na porta. Aquela hora quem poderia ser. Abro e tem dois policiais na porta. Eles empurram-me para dentro.
— Mudanças de plano garota. Onde está a escritura da casa? — O que você quer? — A escritura da casa. — Está guardada na minha mochila. — Vai pegar. Não tenta nada, ou eu acabo com você.
Não acredito aquele crápula veio roubar-me. Abro a mochila, e o livro está comigo. Não posso deixar ele ver o que tem dentro. Pego os papéis e entrego-lhe.
— Boa garota, agora vem vamos dar um passeio. -Aonde vamos? — Já vai descobrir.
Saio na rua com uma arma apontada para mim. Ele coloca-me no carro, e algema as minhas mãos. Não acredito naquilo. Ele leva-me para uma parte distante da floresta. Para o carro, e faz-me descer.
— Vamos dar uma voltinha. Gosta de caminhar a noite, não é mesmo? — Porque me trouxe para cá? — Já vai descobrir. Agora anda.
Aquilo não era um bom sinal, quanto mais adentramos na floresta mais escuro ficava.
— Acredito que aqui já está bom. Aproveite a luz da lua. Precisa entender que não, queremos alguém como você por aqui. Eu fui generoso com você a primeira vez. Na segunda tentei, mas você mandou eu ir me ferrar. O que acha de se ferrar sozinha sua bruxa.
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