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ENTRE LOBOS

capítulo 1

Sou Luna Bildem, hoje completo 18anos. Sinto-me estranha, já tem alguns dias que sonhos estranhos não me deixam dormir tranquilamente. Reviro-me de um lado a outro na cama, mas nada parece fazer com que as imagens saiam da minha mente. Normalmente eu expresso os meus sonhos no papel. Tem uma mulher ela chama-me todas as noites para casa. Não entendo muito bem, mas eu desenho diariamente, perco horas do meu tempo trancada em casa fazendo isso. Depois que Blair se foi, sou apenas eu. Já faz uma semana que estou aqui sozinha, até agora não criei coragem para mexer nas coisas dela. Blair era muito reservada, ela criou-me desde os dois anos, os meus pais não me quiseram, então ela cuidou de mim. Sinto a sua falta, mesmo sendo uma mulher de poucas palavras. Moramos num bairro com poucas pessoas, quase não observo os vizinhos. Há dias que parece não morar ninguém aqui. As casas são todas numa única mão, a nossa frente existe uma floresta que atravessa a cidade toda, ela segue o percurso da rodovia. A nossa casa é simples, tem um quarto, um banheiro, sala, cozinha, lavanderia, um quintal cheio de bugiganga, e uma área com flores mais mortas do que vivas. Tínhamos um pássaro, Blair gostava muito dele, mas assim que ela morreu eu soltei ele. Não é justo mantê-lo preso, ele merece a liberdade. Não tenho amigos, as pessoas por aqui não falam comigo, acham-me estranha. Mesmo quando saio para comprar algo, eles ficam a olhar. Algumas crianças pensam que sou uma bruxa, mas não ligo. Eu digo-lhes que vou fazer um feitiço e elas vão ficar com um focinho e colinha de porco. Blair deixou-me algumas reservas, mesmo que queira as pessoas não me dão emprego. É como se fosse trazer uma maldição a elas. Não vejo nada de errado em mim.

Essa sou eu, e antes que pensem que platinei o meu cabelo, não, desde que me conheço por gente sempre tive ele assim. Como podem ver não há nada de errado comigo. Mas por algum motivo as pessoas não gostam de mim.

Vou até à cozinha e preparo um chá. Preciso começar a limpar tudo, não terei mais a Blair comigo. Preciso desocupar o quintal, talvez ganhe algum dinheiro com a venda de algumas coisas que tem lá. Assim que termino o chá, vou para o lado de fora. Observo tudo o que tem lá, não entendo por qual motivo ela juntava tanta coisa. Entro em casa e procuro por sacos de lixo, há tantos vasos quebrados, potes, garrafas de vidro, latas,plantas. Não duvido que saia algum bicho do meio disso tudo. Procuro um par de luvas, deve haver uma por aqui. Encontrei, pego os sacos de lixo, as luvas e um rastelo. Começo retirando vasos quebrados, a maioria ainda tem terra dentro. Retiro a terra e coloco eles no saco. As garrafas estavam cheias de água, tinha limo dentro. Esvaziei uma a uma, coloquei no saco. Gradualmente já tinha retirado as coisas pequenas. Agora precisava levar para por na lixeira do outro lado da rua. Conforme ia a levar, percebi que o vizinho observava-me. Aceno com a mão, mas ele entra em casa. Sigo a limpar, e lentamente vou a esvaziar o quintal. Paro para comer algo. Lavo as mãos e vou para a cozinha. Abro a geladeira, pego um bife, e dois ovos. Coloco para fritar, gosto dele mal passado. Tem arroz numa panela, acredito estar bom. Esse será o meu almoço. Após almoçar, eu volto a limpar. O meu dia foi todo, mas consegui limpar uma parte. Havia muita coisa, acredito que amanhã conseguirei terminar. Só preciso de um banho, e mais um chá. Depois do banho, preparo o meu chá, hortelã é o meu preferido. Observo as coisas ao meu redor, preciso dar um jeito nessas caixas que a Blair guardava coisas. Na verdade, nunca soube o que tinha dentro. Ela proibia-me de mexer, e mesmo quando tive a curiosidade fui pega por ela.

Após o chá,vou para o quarto, arrumo a cama e deito-me. Estou cansada, pego no sono rapidamente.

capítulo 2

Estou numa casa, nunca estive lá. Estou num jardim, tem um cachorro, mas é diferente os seus olhos, os seus olhos são da mesma cor que os meus. Ele parece puxar-me, ela aparece apressada e pega-me no colo. Coloca-me num lugar, nesse momento não vejo mais nada. Em seguida estou numa floresta, a noite caiu rapidamente. Ela está lá, toda de branco chamando por mim.

— Venha Luna, a sua casa à espera. Precisa voltar, venha.

Essas são as palavras que escuto todas as noites nos meus sonhos.

Quando acordo, observo o desenho. Ela parece-se comigo, mas nunca a vi, ou talvez sim?

Vou ao banheiro, faço a minha higiene e saio. Hoje preciso de um café. Enquanto preparo, olho para as caixas no canto da sala. Tomo o café, lavo a louça que deixei na pia, e vou até lá. Começo a tirar elas daquele canto, estão cheias de pó. Como convivi por tantos anos com aquilo, nunca percebi. Também desastrada como sou. Levo elas para a mesa. Abro a primeira, havia revistas, muitas revistas. Agora entendo por que pesava tanto.

Mas, porque guardar revistas? Retiro uma a uma. Algumas de tricô, croché, receitas. Encontrei jornais velhos com algumas reportagens. A maioria falava sobre uma cidade, nunca ouvi falar. Poderia colocar no lixo. Na próxima caixa havia alguns frascos com ervas.

Quem esconde ervas?

Blair era estranha mesmo. Não sei o que são, e nem para que servem. Lixo, mas poderia aproveitar os frascos para guardar alguma outra coisa. Não, melhor não. Não sei o que tem dentro. Pego outra caixa, essa estava lacrada. Penso: deve haver algo importante. Retiro o lacre e dentro há algumas coisas de bebê. A roupinha está rasgada, parece ter sido rasgada por um animal. Um porta retrato, passo a mão para limpar e ver melhor a foto. Não é possível, é a mulher dos meus sonhos. Mas, porque tem uma foto dela aqui? Ela é exatamente igual. Retiro a foto do porta-retrato, queria ver mais de perto. Algo caiu no chão, eu procuro e encontro uma chave pequena. Deixo sobre a mesa, ao pegar a foto nas mãos, vou para um lugar com mais claridade. Percebo que tem mais uma pessoa com ela, estranho se parece com a Blair. Como seria possível, ela sempre desenhou. Blair via os meus desenhos, mas nunca falou nada. Há algo escrito no verso da foto. Viro, e leio o que diz.

"Para a minha prima querida, nunca se esqueça de tudo que vivemos." De:Crystal Bildem. Para: Blair Bildem.

Não isso é impossível, a Blair não tinha família. Ninguém vinha até aqui. Por que nunca me falou dessa prima?

Reviro os objetos na caixa, encontro outra foto. Nessa havia uma mulher, um homem, um bebê e a prima da Blair. No verso tem os nomes. JAMIE BILDEM, LUNA BILDEM, HAYDEM, CRYSTAL BILDEM.

Como essa mulher tem uma foto minha quando bebê? Quem são essas pessoas?

Nada mais além do vestido, sapatinho, brinquedos. Espera, uma caixinha de música. Tem um nome gravado. Limpo com a manga da blusa, e leio o nome. LUNA. Porque Blair nunca falou nada? Seriam perguntas sem respostas. Preciso olhar o que tem nas outras caixas, talvez algo a mais que me ajude a entender isso.

Na outra caixa havia discos antigos. Na outra, uma caixa. Abro e tem uma capa preta, uma taça em bronze, e candelabros. Retiro e tudo com cuidado. Não entendo nada, guardo novamente no lugar. Uma ideia se passa pela minha cabeça. Talvez existisse uma resposta para isso. Blair teve uma filha, e ela foi atacada por algum animal, e morreu. Por isso guarda essas coisas, e como amava a filha, ela colocou o nome em mim. É isso, por esse motivo nunca contou nada. Poderia vender esses discos, mas aqui ninguém vai comprar. Essas coisas podem queimar, não preciso acumular na lixeira. Pego o isqueiro e levo a caixa para a sala. Pego uma das revistas e coloco fogo, quando chegou nos recortes de jornal ela resolveu ler a reportagem.

"ATAQUES DE LOBOS EM WOLF CITY. "

"FAMILIA É MORTA POR LOBOS. "

"BEBÊ É A UNICA SOBREVIVENTE."

"LOBOS SÃO RESPONSAVEIS PELA SAIDA DE PESSOAS DE WOLF CITY."

"POLICIA LOCAL PEDE AJUDA DO CONTROLE ANIMAL."

"VETERINÁRIO AFIRMA QUE MORDIDAS ENCONTRADAS NAS VÍTIMAS NÃO SÃO DE LOBOS."

"NÃO HÁ NENHUM REGISTRO DE LOBO NO LOCAL."

"MORADORES DIZEM NÃO VER NENHUMA ESPÉCIE DE LOBO NA ÁREA."

"CAÇADORES DE CIDADES VIZINHAS INVADEM A CIDADE ATRÁS DOS LOBOS."

"CAÇADOR AFIRMA TER VISTO ALGO MUITO MAIOR QUE UM LOBO. "

Tantas reportagens falando de lobos. Qual interesse da Blair nisso? Essa reportagem é de 16anos atrás. Volto e procuro a reportagem sobre a família morta por um lobo.

Leio a reportagem.

"Familia é encontrada morta após um possível ataque de lobo. Jamie Bildem, e seu marido saíram para caminhar na floresta. Mas como não voltavam, a senhora Crystal Bildem, mãe de Jamie ficou preocupada. Saindo em busca da filha, deixando a sua neta de dois anos em casa. A mesma relata que encontrou apenas o corpo da filha que estava irreconhecível. Ela avisou as autoridades. Os mesmos fizeram buscas nas redondezas e encontraram um casal de lobos brancos, não muito comuns nessa área. Eles atiraram nos dois animais . A senhora Crystal Bildem foi levada para casa. A policial que acompanhava a mesma escutou um choro de criança vindo de um canto da casa. Ela levou a menina ,que se encontrava ferida para a casa de um parente. A senhora Crystal foi presa,acusada de maus tratos. "

Após ler a reportagem fiquei em choque. Deveria haver mais coisas pela casa, precisava encontrar. Levanto e começo a procurar por tudo. Papéis em pastas, livros,gavetas, nas roupas do guarda-roupa. Reviro a casa toda, deixando tudo fora do lugar. Mas não iria adiantar procurar feito louca, certamente deixaria algo passar. Algum detalhe importante, não me apego a detalhes. Mas precisaria fazer as coisas com calma. Agora estava cansada, e com a casa toda desarrumada. Volto a cozinha, tomo um copo de água, pego aquelas caixas que estavam com os discos, e as revistas, levo até o quarto. Começo a dobrar as roupas da Blair, olhando todos os bolsos, para ter certeza de que não há nada. Ela não tinha muitas roupas, mas o suficiente para encher mais de duas caixas.

Levo as caixas para o lado de fora e coloco na calçada. Quando temos algo para doar, fazemos isso, assim é diferenciado do lixo, que vai à lixeira do outro lado da rua. Não encontrei nada nas roupas dela. Mas havia documentos e papéis, como não pensei nisso. Preciso apenas da minha identidade, ela guardava em algum lugar por aqui. Próxima missão encontrar a minha identidade. Sigo a olhar os documentos, papéis e mais papéis. Nada que preciso.

As horas passam, e eu já estou cansada de olhar papéis. Junto os que não preciso guardar e coloco na lareira para queimar. Vou lavar-me e fazer algo para comer, passei o dia praticamente fazendo isso. Pego leite, ovos e pão. O leite já estragou, o pão está mofado, resta-me apenas mais dois ovos. Abro a geladeira a procura de mais um bife, ainda restava um. Preciso sair de casa, e encarar as pessoas. Amanhã eu vou comprar algumas coisas. Mas por hoje está bom.

Após fazer aquele bife com um pouco de sal, e fritar os ovos, sento na cadeira e como. As horas já se passaram, e vou para o quarto. Tiro as coisas que deixei em cima da cama e deito-me.

capítulo 3

Acordo no meio da noite, esses sonhos se repetem. Preciso entender o que significam. Acendo a luz do quarto, e olho a bagunça em volta. É melhor limpar isso, vou fazer agora, já perdi o sono mesmo. Papéis e mais papéis, nessa hora gostaria de saber o motivo para se guardar tantos papéis. Após levar tudo para a lareira, peguei o isqueiro e coloquei fogo. Deixei apenas os papéis da casa, e alguns documentos da Blair. Aproveitei e queimei aquelas pastas velhas. Dos papéis livrei-me. Abro as gavetas do criado-mudo, ela guardava algumas coisas ali. Limpei as gavetas, e tudo que estava dentro coloquei num saco de lixo. O outro criado-mudo não queria abrir. Forcei a gaveta, mas parecia ter algo trancando. O que ela guardaria ali? Procurei um martelo, e quebrei a parte de cima. Não havia nada na parte de cima, apenas uns objetos decorativos. Quem guarda decoração na gaveta? Deixei separado, poderia lavar elas e usar para decorar a casa. Mas ainda havia algo trancando a gaveta. Já havia quebrado a parte de cima, quebrei a gaveta. Na gaveta de baixo tinha um baú de madeira. Isso estava a atrapalhar. Retirei o que sobrou da gaveta, e peguei o baú. Era lindo, alguns símbolos decoravam ele. Tentei abrir e não consegui, precisava de uma chave. Uma chave pequena. Uma chave pequena igual aquela que estava no porta-retrato. Levantei e fui procurar ela na mesa. Ainda estava ali, peguei e fui para o quarto. Abri o baú, cartas, muitas cartas. Peguei uma, ela estava fechada. Olhei quem havia mandado. Era dela, da Crystal. E estavam todas no meu nome. Abro a primeira, a que estava por último.

"Luna espero que receba essa carta, talvez não entenda nada, e nem saiba quem sou. Mas posso revelar algumas coisas aqui.

Me chamo Crystal Bildem, sou uma Bildem assim como você. Eu sou sua avó materna, precisa saber que não abandonei você. Não existe um dia que eu não lembre de você minha pequena. As minhas razões para deixá-la com a Blair foram para o seu bem, não estaria segura comigo. Coisas horríveis aconteceram aquele dia, e só pensei em proteger você. Não queria me afastar, mas foi preciso. Só queria ficar com você. A sua mãe morreu quando você tinha apenas dois anos, aquele foi o pior dia da minha vida, eu não pude salvar ela, mas salvei você meu amor. Um dia poderei contar toda a história a você, apenas saiba que eu amo você. Sua avó Crystal Bildem. "

Abro outra carta.

"Espero que esteja bem meu amor, queria tanto vê-la. Mas ainda não é o momento, quando chegar a hora certa eu chamarei você. Blair não vai falar de mim para você, e duvido que entregue alguma carta minha. Espero que um dia possa receber elas. Precisa conhecer a nossa história, e por carta não é a melhor forma de contar. Eu contarei tudo a você. Sua avó Crystal Bildem."

Abro outra carta.

" Hoje quero que conheça alguém, junto a carta tem uma foto da sua mãe. Ela era linda, pena que se envolveu com o seu pai. Ele não merecia ela. Eu tentei impedir, mas ela foi convencida de que nada aconteceria. O seu pai envolveu ela em mentiras. Confie apenas nos da sua espécie, ainda não posso revelar nada a você. Precisa ficar protegida. Você tem apenas 15 anos, ainda não é o momento. Não esqueça eu amo você. Sua avó Crystal Bildem."

Pego a foto.

De fato a mãe era linda. Mas o que quis dizer com confie apenas nos da sua espécie. Não devo confiar nos animais?

Abri mais uma carta.

"Não tenho notícias suas, mas preciso contar algo a você, amanhã pode ser tarde. É um pouco da nossa história, talvez não consiga contar tudo agora, mas tentarei.

Viemos para Wolf City quando não existia nada aqui,criamos as nossas raízes. Nós construímos essa cidade. Somos de sangue puro, a sua linhagem vem de longe, atravessamos o mar. Pensamos que não havia outra espécie além da nossa. Mas com o tempo eles apareceram, queriam as nossas terras. Brigamos por território, mas percebemos que ambas as partes estavam a perder. Propus uma aliança com o líder deles. Eles poderiam ficar, mas jamais haveria uma ligação entre as duas espécies. Dividiríamos território, a comida, se precisasse trabalharíamos juntos. Com o tempo, pessoas vieram morar aqui, andarilhos, viajantes, comerciantes. A cidade cresceu, mas era impossível ter o controle sobre todos. As vezes algumas pessoas eram encontradas mortas. Sabíamos o que estava a matar elas, mas convencemos os moradores de que eram apenas lobos. De certo modo era, mas não o lobo que eles pensavam. Alguns de nós temendo a descoberta, foram embora. Muitas pessoas da cidade também partiram. Com o tempo novas pessoas apareceram, e agora não existem muitos de nós. Na próxima carta escreverei mais sobre nós. É arriscado falar certas coisas. Eu amo você Luna. Sua avó Crystal Bildem."

O que ela quer dizer com muitos de nós? Outra espécie? Sangue puro? O que ela quer dizer com tudo isso.

Abro mais uma carta, talvez exista uma explicação.

"Minha neta querida, não sabe como as coisas tem sido difíceis. Alguns de nós precisam se esconder cada dia mais. Alguém está atrás de todos nós, buscam acabar com a nossa linhagem. Apesar dos meus anos de experiência, e de tudo o que aprendi, não sei por quanto tempo mais irei estar aqui. Eu tenho alguém em quem confio plenamente, é alguém que você precisa conhecer. Sei que ele vai protegê-la, quando eu não estiver mais aqui. Queria ensinar a você tudo o que ensinei a sua mãe. Contar a nossa história, falar sobre a nossa linhagem. Entenda o quanto é arriscado trazer você até aqui. Não quero que tenha o mesmo destino que a sua mãe. Você é a última da minha linhagem. Eu amo você. Sua avó Crystal Bildem."

Não entendo,agora se escondem de que? porquê?

Outra carta,essa parece ter algo dentro.

"Querida neta, espero que essa carta chegue até você. Se ela perder-se no caminho terei sérios problemas. Preciso que guarde com você o colar que está no envelope. As coisas ficaram calmas por aqui, mas quero garantir que ele está com você. Esse colar está há muitas gerações na nossa família, agora ele pertence a você, é a sua herança como uma Bildem. O seu aniversário está perto, e assim que for chegada a hora, chamarei você. Precisa assumir as suas responsabilidades. Depois de mim, a única Bildem viva será você. Lembre-se que existe alguém aqui que você pode confiar. Mas tenha cuidado com as pessoas que você convida para entrar. Uma vez convidado, poderá entrar sempre. E não esqueça de confiar apenas nos da sua espécie. Fique atenta, pois chamarei você. Ande sempre com o colar, mas não deixe ninguém pegá-lo. Eu amo você. Sua avó Crystal Bildem.

Mais uma vez sem respostas. Pego o colar é lindo. Não entendo o significado mas ficarei com ele.

Assim que toco nele parece brilhar. Quantos anos teria esse colar? Mesmo assim, fico sem entender muitas coisas. O que está mais calmo? A minha avó escreve coisas sem sentido. Talvez nessa última carta encontre alguma resposta.

Abro a última carta, uma foto cai, e junto um maço de dinheiro. Olho atentamente ela. É a foto de um homem, mas não diz nada atrás. Espero que na carta exista uma explicação.

"Minha neta é chegada a hora, não está mais segura onde está. Precisa voltar para a sua casa, aqui poderei proteger você. Preste atenção o homem na foto é seu pai. Se um dia cruzar com ele pelo caminho, apenas fuja e não olhe para trás. Ele nunca foi bom, não confie nele. Venha antes que seja tarde, estou a sua espera."

Li aquilo, mas não há uma explicação. Pergunto-me, como o meu pai poderia estar vivo?

Olho a data enviada, já tem mais de dois meses. Guardo as cartas, e as fotos. Penso por algum momento. Acredito que não devo ir para um lugar desconhecido. Mesmo que aqui ninguém se importe comigo, e que não tenho nada e nem ninguém. Sair para um lugar que eu nunca ouvi falar, não é a melhor opção.

Junto os pedaços daquele criado-mudo que destruí e levo para fora. Atravesso a rua e coloco no lixo. Volto a procurar qualquer coisa a mais, algo que me faça entender um pouco mais. Aproveito que estou a arrumar tudo, troco os móveis de lugar. O guarda-roupa é o móvel mais pesado, acredito que não devo trocar ele de lugar. Mas a cama sim, vou colocá-la perto da janela. Sempre quis ela ali, assim aproveito melhor o sol. Retiro as cortinas para lavar. Na verdade, não gostava delas. Após arrumar tudo como queria, e por fora tudo que não precisava. Fui tomar um banho, precisava ir comprar algumas coisas.

Após o banho, eu pego um pouco de dinheiro e vou até o mercado. São alguns minutos de caminhada. Se soubesse ao menos andar de bicicleta. Algumas pessoas observam-me enquanto passo na rua. Escuto uma criança me chamar de bruxa. Se estivéssemos em outro século seria queimada viva. Isso já teria acontecido há muito tempo. Entro no mercado, pego uma cesta. Caminho entre os corredores, na verdade, nunca lembro o que preciso comprar. Peguei pão, chá, ovos, carne, pasta de amendoim, leite e sabão. Entro na fila para pagar, as pessoas se afastam de mim como se tivesse uma doença contagiosa. É a primeira vez que o senhor Billy fala comigo.

— Sinto muito pela morte da Blair. — Eu também.

Pago o que peguei e volto para casa. Separo duas fatias de pão, um bife, e dois ovos. Coloco as outras coisas na geladeira. Preparo o bife e os ovos, faço café, e coloco o bife com os ovos no pão. Como tudo, e coloco a louça na pia. Coloco a roupa para lavar. Enquanto a máquina faz o seu trabalho. Vou limpar a sala, ainda tem pilhas de coisas esparramar lá, e a maioria vai fora. Volto para as coisas nas caixas, os discos resolvo vender. Coloquei um anúncio num grupo de vendas. Não acredito que alguém vá comprar, mas caso não compre posso escolher alguns e colocar os outros fora. Lentamente vou removendo tudo e limpando. O acúmulo de poeira era exagerado. Havia uma camada de teia, pó e móvel. Encontrei coisas que não lembro de ter visto na minha vida. Abrir as janelas seria bom, um pouco de ar em meio aquela bagunça.

Depois de limpar , e destruir algumas coisas tentando tirar do lugar, levo o lixo para o lado de fora. A estante da Blair saiu em pedaços. O sofá velho, com um buraco enorme, coloquei fora. Difícil foi tirar ele sozinha. Depois disso eu apenas queria descansar. Coloquei a roupa na área, e fui para o banho. O quarto tinha um cheiro agradável, depois de tirar todos aqueles papéis velhos, remover aquela cortina. Minha cama, finalmente somos eu e você. Deito exausta nunca limpei tanto na minha vida. Na verdade nunca limpei nada.

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