Me levantei cedo como já estava acostumada para ajudar a minha mãe a selecionar os tomates frescos.A minha vida não tinha novidades como a de qualquer outra jovem daquela cidade, eu vivia pelos meus pais e procurava sempre ajudá-los com tudo o que pudesse.
Apesar de todos os meus esforços, eles nunca haviam me tratado bem.Meu pai, principalmente, me rejeitada sempre dizendo que eu não era sua filha de sangue e que tudo o que eu fazia, não era mais do que minha obrigação.
_Já levantou, Maria Antônia?Vá arrumar algo para fazer, garota!_ele gritou naquela manhã, quando me viu sentada a mesa tomando café.
_Certo, papai.Bom dia._respondi, respirando fundo.
Me levantei rapidamente e fui até a plantação ajudar minha mãe.
Eu vivia uma vida infeliz e eu sabia disso, mas o que eu poderia fazer?Não tinha opções a não ser aceitar minha realidade.
Eu estava ansiosa para a festa da cidade que seria dali a dois dias, todo ano eu me sentia assim, era um dos únicos momentos em que conseguia me divertir verdadeiramente observando os fogos, as comidas típicas e a união entre os moradores da cidade.
Eu havia acabado de completar dezenove anos e isso deveria significar alguma coisa, mas meu pai já havia me dito que nada iria mudar, era só mais um ano.
Um dia eu queria poder ir embora dali e construir algo, estudar ou até mesmo trabalhar.Será que algum dia eu conseguiria fazer isso?Não sabia, mas esperava que sim.
_O que foi, Maria Antônia?Que cara é essa?_minha mãe perguntou, enquanto eu estava plantando.
_Nada, mamãe, não se preocupe._Respondi, rápido.
_Por que está triste?Diga o que aconteceu.
_Nada de importante, mamãe.Só não consigo entender por que na maioria das vezes o papai me trata como se eu fosse uma estranha.
_Você sempre soube que ele é assim mesmo...Pare com essas tolices._ela disse, ignorando completamente o que eu havia acabado de dizer.
_Tudo bem, mamãe.
Fui me deitar aquela noite mais uma vez me fazendo o questionamento que fazia todas as vezes.Me perguntando o que havia de errado comigo a ponto de meus pais simplesmente me rejeitarem todo o tempo.Eu não conseguia entender a razão.
Adormeci em meio aos pensamentos e acabei tendo um sonho estranho.
No sonho eu estava correndo pela mata desesperadamente, enquanto uma voz me seguia e me chamava logo atrás.Mas não me importei, continuei a correr sem parar até que acabei caindo com o rosto no chão e a pessoa misteriosa acabou me alcançando.
_Maria Antônia, olhe para mim_sua voz masculina soou, embaralhando ainda mais a minha mente.
_Não, você irá me machucar, saia de perto se mim._Eu disse, escondendo meu rosto.
_Olhe para mim, agora está tudo bem._Ele disse sorrindo e tocando meu rosto.
Ergui a cabeça e o encarei, ele tinha os olhos azuis como o céu e parecia um verdadeiro anjo.Nos beijamos apaixonadamente como se aquilo já estivesse escrito e predestinado.
Acordei assustada, olhando para os lados para me certificar de que estava realmente sozinha.Eu não tinha o costume de ter sonhos tão realistas e aquilo me deixou chocada.
Havia chegado o dia da festa na cidade, finalmente e eu estava ansiosa para sair da nossa fazenda.Como eu estudava em casa e ajudava meus pais, eu praticamente não tinha acesso a cidade e isso me deixava triste, às vezes eu me perguntava quando eu poderia ter minha liberdade.
_Ainda está deitada?Se levante e se arrume.Seu pai já está com pressa para sair, sabe como ele é fanático pelo prefeito._Disse minha mãe, fechando a porta novamente.
Meu pai realmente tinha um respeito enorme pelo prefeito da cidade, acho que no fundo, ele tinha a vaga esperança de que um dia conseguiria um cargo importante ou algum tipo de presente grandioso dele.Mas o prefeito era um homem de negócios e como todo homem de negócios, ele só pensava no dinheiro e no que era conveniente para ele.Eu sabia disso.
Coloquei o meu melhor vestido que estava guardando especialmente para aquela ocasião e prendi meus cabelos, deixando que meu rosto ficasse destacado na maquiagem leve.
Quando saí do quarto, meus pais me olharam como se eu fosse uma aberração, mas tentei ignorar e me dirigi até o seu velho carro que iria nos levar até o centro da cidade.
_Maria Antônia, se comporte e fique perto de mim, hoje irei apresentá-la ao prefeito._Meu pai disse, sem me dar a chance de algum tipo de resposta.
_Certo, papai._Assenti e observei pela janela, notando que tínhamos acabado de chegar até o início de onde começava a festa.
A multidão já havia se formado, então era impossível continuar dirigindo, então meu pai logo estacionou e continuamos o trajeto andando pelo meio do povo.
A festa anual da cidade era muito animada, as pessoas festejavam e bebiam entre si como se nunca houvessem feito nada disso antes.Eu achava engraçado o modo que meus pais agiam, pois pareciam dois turistas no meio de todos.Meu pai permanecia sério todo o tempo, procurando o prefeito com os olhos como se esse fosse seu único foco.
E minha mãe andava de cabeça baixa como se não fosse permitida interagir com ninguém.
Eu era uma pessoa diferente deles e talvez por esse motivo eles me ignorassem tanto.
O Prefeito estava cercado de seguranças e com sua família, provavelmente.Havia uma mulher ao seu lado que parecia ser sua esposa e ela nos olhava enquanto nós chegávamos mais perto.
_Senhor Prefeito, será que posso ter um minuto?_Meu pai perguntou com uma simpatia que era quase impossível vê-lo usar com alguém.
O homem o olhou, tentando reconhecê-lo e quando me viu, por algum motivo que eu não soube qual, ele logo sorriu de volta e chamou meu pai para que se aproximasse.
_Como vai, Manoel?Como anda a fazenda?_ele perguntou.
_Estamos indo muito bem, Sr. prefeito, a colheita está cada vez melhor._Meu pai deu uma pausa, me arrastando para o seu lado_Essa aqui é a minha filha, Maria Antônia.
_Nossa, aquela menina já está desse tamanho todo?_ele riu e sua mulher compartilhou um sorriso, me observando._Quantos anos tem, Maria Antônia?
_Dezenove._respondi, séria, ainda sem entender o motivo de toda aquela cerimônia.
_Será que posso conversar com você em particular, Manoel?_perguntou o prefeito, depois de dar uma olhada para sua esposa que assentiu com a cabeça.Meu pai logo concordou, eufórico, enquanto os dois iam para outro lugar conversar.
Olhei para minha mãe que continuava séria e me ignorava completamente e comecei a desconfiar de toda aquela situação.
Quando eles voltaram, o rosto do meu pai já havia mudado.Ele estava feliz, mas me olhava com severidade.Ele se aproximou junto com o prefeito que também exalava alegria.
_Estamos decididos então, Manoel?_ele perguntou, me olhando mais uma vez.
_Pode ficar tranquilo, será tudo da forma que combinamos.
A conversa entre os dois acabou logo após um aperto de mão e meu pai começou a falar algo com minha mãe, sem que eu pudesse ouvir o que me deixou ainda mais tensa.
A festa da cidade por um momento se tornou irritante demais e tudo o que eu queria era voltar para casa.Todos aqueles olhares para cima de mim estavam me deixando ciente de que algo estava acontecendo.
_Quando chegarmos em casa teremos uma conversa, Maria Antônia._disse meu pai, no caminho de volta.
_Tudo bem._respirei fundo e me preparei para o que estava por vir.Não imaginava o que pudesse ser, mas teria que estar preparada de qualquer maneira.
Eu sabia que meu pai era um homem ambicioso, desde que eu havia nascido eu enxergava isso.Eu imaginava que talvez o prefeito poderia ter me oferecido um emprego por conta da minha idade, ou talvez uma vaga na prefeitura.Tentei ser positiva e pensar que seria algo bom para mim.
Quando chegamos em casa, pensei em logo tomar um banho, mas minha mãe me mandou sentar no sofá para ouvir o que ele tinha a dizer.
_Bom, Maria Antônia, eu tive uma conversa com o Prefeito e ele nos ofereceu algo muito bom._ele começou a falar, me olhando.
Continuei em silêncio deixando que ele falasse, já que estavam agindo daquela forma talvez fosse melhor não questionar muito.
_Ele vai investir na fazenda e me pagar uma renda mensal todo mês._minha mãe vibrou ao lado dele nesse momento, ela estava realmente muito feliz.
_Isso é muito bom, vai ser ótimo para todos._eu disse, mas ele me olhou com um olhar diferente.
_Mas ele impôs uma condição.
_Que tipo de condição, papai?
_Você terá que se casar com o filho dele._ele disse, sério.Aquilo não parecia um pedido e sim, uma ordem.
_Me casar? Você está brincando, não é?_questionei sem entender._Como posso me casar com alguém que nem conheço!
_Você vai se casar pelo bem da nossa família, Maria, isso vai ser uma grande ajuda para nós._minha mãe disse, me olhando.Ela não parecia nem um pouco preocupada comigo.
_Vocês me venderam para o filho do prefeito, isso não pode ser verdade._gritei, desesperada.
_Eu não vendi você, pare de ser dramática! Não vamos precisar trabalhar tanto por muito tempo.Esse casamento vai estabilizar a nossa vida!_meu pai gritou, estressado.
Me levantei e corri para o lado de fora, chorando.Eu não estava acreditando que ele havia sido capaz de algo tão podre, pensou apenas em si mesmo.Eu seria obrigada a perder toda a minha vida me casando com um completo estranho.Me sentei na porta, pensando no que faria, eu não podia me calar e simplesmente aceitar aquele absurdo.
Eu precisava fazer alguma coisa.
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