Você é aquele tipo de garota que sonha com o dia do seu casamento? O vestido branco, a igreja, a festa animada, o noivo com cara de bobo apaixonado no altar, depois a lua de mel, uma casa bonita, filhos e etc... Dizem que toda garota sonha com isso.
Eu nunca sonhei, na minha vida eu sempre tive tudo muito bem planejado, eu seria uma grande fisioterapeuta, dessas de sucesso, fisioterapeuta de esportes, eu queria trabalhar com grandes atletas, talvez até chegar a trabalhar na seleção da Urba do Leste. Esse era o meu sonho.
Nunca sonhei em me apaixonar, na verdade eu tinha até medo disso, pois a história dos meus pais foi bem trágica e foi justamente o amor que destruiu a vida deles, mas depois eu conto essa parte da história.
O fato é que pra mim, amar é perigoso, fora que é uma perda de tempo, eu me apaixonei na adolescência e foi frustrante. Então nunca quis me casar.
Porém, aqui estou eu, diante do altar, com o meu vestido branco, e meu noivo com cara de quem está super feliz, mas nada aqui envolve amor, ou coisa parecida, é só um contrato bilionário. Mas se pensar bem todo casamento é apenas um contrato.
Pense comigo... Nos tempos antigos os casamentos eram acertados entre os pais dos noivos, que na maioria das vezes nem se conheciam até o dia do casamento.
No oriente o pai do noivo pagava um dote ao pai da noiva, era como comprar uma esposa, no Ocidente era o contrário, o pai da noiva era quem pagava o dote. Entre a realeza, o casamento era um acordo de paz, uma união entre as coroas pra evitar uma guerra iminente. Entre os pobres era uma forma de juntar as misérias e evitar morrer de fome. Não tinha essa coisa de amor.
Uma colega me disse uma vez que o casamento era como abrir uma empresa onde os noivos eram sócios, tipo cada um tinha 50% de posse da empresa, e precisavam trabalhar em parceria pra a mesma não viesse a falir, ou seja, apenas um contrato.
Então aqui estou eu, no altar com Liam Olsen, meu antigo amor do colégio, mas não se enganem, esse casamento não é por amor, é pela nossa vida, nossa salvação.
Estamos assinando um acordo que vai durar exatos 3 anos, onde ele vai receber a bilionária herança do avô e eu vou receber a valiosa quantia de 3 milhões, esse dinheiro irá salvar a minha vida, e a do Liam também, ele vai poder fazer o tratamento para a doença que ele tem no joelho, vai largar as muletas e voltar a jogar futebol que é a sua grande paixão.
Mas você deve estar curiosa pra saber como chegamos aqui. Então vou fazer um resumo pra você.
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...6 anos antes
Samantha com 17 anos!...
— Acorda Samantha, vai se atrasar pro colégio!
Esses eram os gritos da tia Matha, eu nunca me atraso pro colégio, na verdade eu nunca me atraso pra nada, sempre fui responsável com os meus compromissos, mas a tia tem a necessidade de achar que precisa cuidar de mim, mesmo que ela saiba que eu me viro bem sozinha.
— Já acordei faz meia hora tia, e já estou arrumada, só preciso comer. — Respondo descendo as escadas da pequena casa que possuímos em Codrinal.
Codrinal é uma cidade praiana e bem rica, a sensação que eu tenho é que todo mundo aqui tem dinheiro, menos a gente. Minha tia é funcionária do banco e não ganha tão bem pra sustentar uma adolescente e uma criança.
O marido dela faleceu faz 6 anos e a deixou sozinha com a Tessa, minha priminha de 8 anos. E de quebra eu cheguei aqui.
Eu vivia em Brésalen com meus pais, uma cidade bem diferente daqui. Bresalen é suja e fedida comparada a Codrinal.
Meus pais tinham um casamento bem tóxico, eles se amavam de um jeito esquisito e maléfico, brigavam por tudo, morriam de ciúmes um do outro, e na maioria do tempo esqueciam que eu existia.
Eles não conversavam comigo, não procuravam saber da minha vida, ou me contar a vida deles. Eu sabia que meu pai trabalhava em uma fábrica, mas não sabia que fabrica era essa, não sei como eles se conheceram, quanto tempo tinham de casados. Não sabia se eu fui desejada, ou se fui um acidente. Eu só sabia que eles se amavam de um jeito bem doentio.
Um dia depois de uma semana de brigas intensas o meu pai decidiu ir embora, ele simplesmente fez as malas e disse que voltaria pra Codrinal, ele me abraçou chorando, e disse que havia quebrado o seu coração e que não havia mais concerto e por isso precisava se afastar, me soltou do abraço e me pediu pra cuidar da minha mãe (e quem cuidaria de mim?).
Minha mãe chorou por quase um mês trancada no quarto, mal comia. Certa vez ela me chamou e me disse que o amor era ruim, e que eu não deveria esquecer isso, ela me olhou nos olhos e disse que eu nunca teria um amor feliz. Me fez jurar que eu seria uma mulher independente, que estudaria, que seria a melhor da turma e uma excelente profissional.
Dias depois ela tirou a própria vida. Eu me lembro de acordar e ir até o quarto dela e a encontrar deitada parte do corpo pra fora da cama, e muitos remédios ao redor. Ela tomou todos os remédios que tinha no quarto e se foi pra sempre.
O juiz me mandou pra Codrinal pra viver com a minha tia, foi então que eu descobri que o meu pai nunca havia voltado pra lá, ninguém sabia onde ele estava, enfim eu nunca mais o vi.
Desde então a minha tia cuida de mim e da Tessa, sozinha.
— Ta legal, come rápido, lembra que ainda tem que deixar a Tessa na escolinha. – Disse a minha tia apressada, quase aos gritos.
Essa era a rotina do meu dia, saía cedo de casa, levava a Tessa pra escola, depois ia pro Colégio, eu estudava na Codrinal High School, a melhor e mais cara escola da cidade, eu ganhei uma bolsa de estudos e estava no meu último ano do ensino médio, prestes a ir para a faculdade.
Eu era capitã do grupo de cheeleaders, eu amava dançar, mas entrei pro grupo na expectativa de ganhar uma bolsa pra faculdade, todo ano a Universidade de Coldsburg escolhia uma garota da equipe de cheeleader, e um garoto do time de futebol para presentear com uma bolsa de estudos integral na universidade, além de uma vaga na equipe e no time de lá, esse é um dos meus objetivos de vida.
Se a gente ganhar o campeonato interescolar deste ano, a bolsa pode ser minha.
Mas se isso não desse certo, eu tinha outra chance de conseguir uma bolsa de estudos na Universidade de Camp State. Eles davam uma bolsa integral a quem ficasse em primeiro lugar no vestibular e pra isso eu estudava incessantemente.
Essa era minha meta, e me dedicava 100% a isso, estudar muito, ser a melhor cheeleader de Codrinal e levar minha equipe a vitoria, tudo ia muito bem até o Liam Olsen cruzar a minha vida!
Liam Olsen entrou na minha vida no meu último ano na escola.
Bom, na verdade eu conhecia o Liam desde o 1°ano no colégio em Codrinal, nós éramos da mesma turma nas disciplinas obrigatórias, matemática, língua inglesa e redação. Mas nós não éramos amigos, na verdade ele nem me olhava na cara.
Liam com 18 anos....
Eu achava ele lindo, tipo muito lindo mesmo, ele tinha um rosto músculo, olhos penetrantes, o olhar dele parecia ler a sua alma, e o sorriso, nossa, aquele sorriso era a coisa mais linda que eu já vi na vida. Porém, ele era muito esnobe, dava pra ver o ego dele de tão grande que era. Liam era o garoto mais rico e mais popular daquela escola, e ainda assim vivia buscando afirmação dos outros, e ignorando quem estava abaixo da popularidade dele, eu por exemplo.
Durante todo 1° ano, não trocamos uma palavra sequer, mas foi no 2° ano que a gente se falou de fato. Foi rápido, mas foi bem intenso. Deixa eu contar a história direito:
Quando estava no 2° ano eu decidi entrar pra equipe de cheeleaders, e consegui com louvor ainda por cima, as meninas da equipe me odiavam pelo simples fato de eu ser pobre, mas elas não podiam negar que eu tinha mais talento que elas. Eu impressionei a treinadora e a Clair Dalson, capitã da equipe na época.
A Clair namorava com o Curtis Cliver, capitão do time de futebol. Ela se dizia apaixonada e queria casar com ele, pra mim era loucura falar de casamento ainda no ensino médio, mas ela ja tinha tudo arquitetado. Os pais dela queriam que ela fizesse faculdade no exterior, mas ela queria ir pra Coldsburg com o Curtis, e a única forma de convencer os pais dela era ganhando a bolsa de estudos.
E pra isso ela precisava de mim, então me nomeou sua co-capitã e passou a me usar como podia pra levar a equipe a vitoria.
Não satisfeita, ela se achou no direito de dar pitaco na minha vida pessoal. Um dia estávamos ensaiando na casa dela quando ela me veio com uma conversa nada delicada.
— Sam, você conhece o Liam Olsen? — falou assim, do nada e super despretensiosa.
— Sei quem é, a gente faz as matérias obrigatórias juntos, mas não nos falamos. Por quê?
Ela veio andando até mim com um sorrisinho estranho, como se tivesse tido a melhor ideia do planeta.
— E se eu disser que ele te acha muito gata, e quer transar com você?
— Como é? — Mas que merda era essa? Do nada essa garota virou uma cafetina. E continuava com aquela droga de sorriso na cara. — Você ficou maluca? Porque eu iria transar com esse garoto?
— Pra ganhar prestígio. — Ela falava como se fosse a coisa mais óbvia e natural do mundo. —Você vai ser a próxima capitã da equipe e o Liam vai ser o capitão do time de futebol, pela regra da vida vocês precisam transar.
Ela com certeza enlouqueceu.
— Valeu a oferta, mas eu tô de boa. Você sabe que não dou a mínima pra o que pensam de mim nessa escola, eu só quero me formar e viver em paz. Transar não vai me fazer virar capitã e ganhar a bolsa de estudos na Universidade.
— Você é gay? — Agora ela não tava mais sorrindo. Era só o que me faltava.
— Não, eu só não tô a fim de transar com qualquer um. E chega dessa conversa. — Liguei o som novamente e voltei a ensaiar, mas ela insistia.
— Você é virgem? — Ela perguntou isso quase gritando, e com a maior cara de espanto.
— É, eu sou, e quero continuar assim. — Resolvi encerrar a conversa e sair de lá. Mas a situação ficou pior do que eu esperava.
No dia seguinte, cheguei na escola e encontrei o Liam com a galera do futebol, ele se afastou dos amigos e veio falar comigo, assim do nada mesmo.
— Oi Samantha! — Ele exibia o sorriso mais lindo que eu já tinha visto, enquanto eu estava com a maior cara de confusa.
— Oi? — O que eu queria perguntar era: porque ta falando comigo?
— Então, a Clair me disse que você ia ao baile comigo. Só queria confirmar, a gente vai transar lá, adeus virgindade — disse ele sorrindo e acenando pra minha virgindade.
Sim, ele disse exatamente isso, com um belo sorriso na cara, e o meu queixo foi parar no chão.
— A Clair disse isso? — Perguntei e ele balançou a cabeça afirmando, caramba eu queria sumir dali. Eu ia matar a Clair. — Olha, não me leva a mal, mas eu não vou ao baile e também não vou transar com você, então pode seguir com a sua vida normalmente, me ignorando como fez durante o último ano. Passe bem garoto. — Passei por ele, deixando-o com cara de tonto enquanto fazia uma nota mental de matar a Clair assim que encontrasse novamente.
Naquele momento eu determinei que o Liam era um completo idiota, e a Clair era uma imbecil. Se ela tava me usando pra ganhar, eu ia usar ela pra ser capitã e ponto final, por que definitivamente ela não era minha amiga. E quanto ao Liam, não ia falar com ele nunca mais.
No ano seguinte, estávamos no 3° e último ano escolar, eu era capitã das cheeleders como tinha me preparado durante o ano inteiro, era a minha vez de brilhar e conseguir a bolsa, mas o Liam era o capitão do time de futebol e ele ainda nutria a esperança de transar comigo. Mas eu o evitava com toda a minha vontade, até que aparentemente ele desistiu.
Tudo então estava caminhando do jeitinho que eu tinha planejado para o meu último ano na Codrinal High School, até que os adolescentes decidiram dar uma festa na casa de um dos caras do futebol, eu obviamente nunca era convidada pra esses eventos, eu podia ser a capitã da equipe, mas continuava sendo a garota pobre.
E na boa, eu não ligava pra essas festas, de verdade, minha meta era clara, eu tinha que estudar muito, então virar a noite bebendo e ficar de ressaca no dia seguinte, ia estragar os meus planos.
Mas aquela festa me chamou a atenção por que no dia seguinte todo mundo recebeu uma mensagem no celular, inclusive eu, que nem tava na festa, a mensagem tinha uma foto do Liam beijando o Derrick Climber, um garoto do nosso ano, embaixo da foto tinha a mensagem, Capitão gay. Era uma porcaria de bullying homofóbico, típico dos adolescentes idiotas dessa escola. O Liam deve estar mal, a reputação é algo importante pra ele, ele se achava o rei do colégio, e agora isso, que merda!
Cheguei no colégio e não se falava de outra coisa, Liam gay, fala sério. Como se ser gay fosse um tipo de doença contagiosa, bando de idiotas. Eu estava indo em direção ao pátio, sempre ficava ali antes das aulas começarem, sentava na grama embaixo na árvore, colocava os fones e ficava estudando, mas pra minha surpresa assim que sentei, olhei pro lado e vi o Liam, todo encolhido, triste, envergonhado, me partiu o coração, eu não gostava dele, mas ninguém merecia esse tipo de tratamento, então resolvi me aproximar.
— E aí cara! Posso sentar aí? — Indiquei com o queixo o espaço na grama ao lado dele. Ele ficou me olhando por um tempo e por fim balançou a cabeça confirmando. Então me sentei.
— Como tá se sentindo? — lancei a ele um olhar terno, como se dissesse pode confiar.
— Péssimo. Tudo isso é uma merda! — Ele parecia querer chorar.
— É, é uma merda, eles são um bando de imbecis, se divertem humilhando os outros. — Era assim o tempo todo, sempre tinha alguém que sofria nas mãos dos colegas da escola. Tentaram fazer isso comigo, mas eu não permiti, eles podem não gostar de mim, mas me respeitam por que sabem que eu não sou de brincadeira.
— Eu sempre fui um cara esnobe — ele estava sendo sincero. — mas nunca maltratei ninguém assim.
— Eu sei disso. E ser gay não devia ser motivo de vergonha.
— Eu não sou gay! — Ele quase gritou isso, e eu fiquei espantada, porque a foto não parecia ser uma montagem e ele tava beijando o Derrick. — Eu não beijei o Derrick, na verdade ele me beijou, eu tava conversando com ele, e ele me falou que era gay e que gostava de mim, eu disse que não, que eu não gostava dele assim, mas aí ele me beijou e eu meio que deixei, foi só um selinho e achei que não seria nada de mais, todo mundo aqui maltrata o Derrick, então eu quis ser legal com ele, pelo menos uma vez, e agora virou essa merda toda!
Caramba!!! Então ele não é um idiota como eu pensava, ele é legal. Nossa eu fiquei chocada!
— Mas agora não importa se eu sou gay ou não. Todo mundo tá me rejeitando de qualquer forma. Não tenho um amigo sequer, até o Derrick ta se sentindo culpado e com medo de falar comigo. — Ele continuava falando triste como se fosse chorar.
— Eu posso ser sua amiga, não me importo com nada do que dizem. Se quiser pode contar comigo. — Fui sincera, eu odiava o modo como as pessoas aqui tratavam os outros, eu tava farta de tudo isso e queria de verdade ajudar o Liam.
Ele sorriu e foi assim que ele entrou na minha vida, era a minha primeira amizade de verdade naquela escola. Não havia interesses por trás, só a vontade de ficar junto e ter alguém do seu lado que te entendesse de alguma forma. Ficamos amigos inseparáveis. Melhores amigos.
Eu estava no meu quarto estudando como sempre quando a minha tia bateu na minha porta em total desespero.
— Samantha Higgins, me explica o que Liam Olsen, o neto do homem mais rico e consequentemente mais temido de Codrinal está fazendo na minha porta? — eu mal abri a porta do quarto e ela ja foi gritando em cima de mim.
A família Olsen é uma das famílias mais ricas de Codrinal, os pais do Liam faleceram faz uns 4 anos, foi um terrível acidente de avião, sem sobreviventes.
O avô do Liam, senhor Theodore Olsen é um magnata de automóveis, ele tem fabricas espalhadas por toda Urba do Leste, nunca ouvi falar de alguém mais rico que ele, pelo menos, não nesse país. E por ser tão rico ele também é bastante temido.
Era óbvio que a minha tia estranhou que a sobrinha dela, que aparentemente não tinha amigos, de repente recebia a visita do neto do homem que ela temia simplesmente por ser rico demais.
— O Liam ta aqui? — Me levantei surpresa!
— Samantha, o Liam Olsen, eu disse Olsen — Ela continuava nervosa e gritando o sobrenome do Liam. — ele ta aqui na minha porta, te procurando.
— Tia, o Liam é meu amigo. — Falei como se fosse a coisa mais natural do mundo. Mas ela ficou boquiaberta, acho que ela não esperava por isso.
— Você? Amiga de Liam Olsen? — sim, ela continuava gritando.
— É tia. E cadê ele? — saí do quarto e fiquei olhando pela escada pra ver se ele estava na sala. — Não deixou ele entrar?
Foi aí que ela se tocou do que havia feito, ela ficou tão assustada que bateu a porta na cara dele e foi correndo me chamar no quarto.
— Ai minha nossa, tia, porque a senhora faz essas coisas? — Corri até a porta e abri, o pobre do Liam tava plantado do lado de fora sem entender nada.
— Oi Liam! Pode entrar! — Abri caminho pra que ele pudesse finalmente sair da porta da casa.
— Oi Sam, desculpa vir sem avisar, eu achei que seria legal te fazer uma visita. A gente podia estudar junto, o que acha? — disse ele já entrando em casa.
— Acho uma ótima ideia, vem, vamos pro meu quarto. — Fui puxando o Liam escada acima.
Ele entrou e ficou olhando o meu quarto, na hora eu pensei que ele tava meio que me menosprezando, afinal o meu quarto era pequeno, tinha só a cama, um guarda roupa pequeno e vem bagunçado, minhas prateleiras de livros e um banheiro minúsculo. Certamente o quarto dele devia ser super elegante.
— O que foi? — Perguntei já incomodada com tanta observação da parte dele.
— Seu quarto é bem legal, eu imaginava que era mais de menininha, tipo cor de rosa — rimos disso, eu não era do tipo menininha cor de rosa — Eu curti bastante, principalmente essas luzes e o vinil na parede.
— Eu amo música — Peguei meu violão e mostrei a ele — eu amo cantar, eu tô participando de uns concursos de canto, o dinheiro que eu ganho eu guardo pra faculdade, pra pagar o alojamento.
— Fala sério, você canta? Canta algo pra mim!
— Calma aí, eu não consigo cantar assim do nada, eu canto o que eu tiver sentindo, é esquisito, eu sei, por isso só participo dos concursos livres, tipo dos que eu posso escolher a música na hora. É idiota né?
— Não — ele responde com tanta sinceridade, que chega a me comover. — Isso é especial, a música é a sua verdade.
— É, é a minha verdade.
— Canta o que você ta sentindo agora.
Eu então peguei o violão e cantei pra ele, a música que tava martelando na minha cabeça havia alguns dias "Wake me up do DJ Avicii" ela fala sobre encontrar o seu caminho, sobre estar perdido e tentar sair e descobrir o seu lugar. Era assim que eu me sentia.
..."So wake me up when it's all over...
...When I'm wiser and I'm older...
...All this time I was finding myself...
...And I didn't know I was lost"...
..."Então me acorde quando tudo isso acabar...
...Quando eu for mais sábio e mais velho...
...Todo este tempo eu estava procurando por mim mesmo...
...E não sabia que eu estava perdido"...
Quando terminei de cantar ele me olhava de um jeito tão bonito, parecia que ele tinha entendido exatamente o que eu sentia com aquela música.
— Você canta muito bem, de verdade.
Estávamos bem próximos, sentados na minha cama, havia um clima no ar, em algum momento eu achei que ele ia me beijar, mas aí a minha tia bateu na porta.
— Sam, eu trouxe um lanche pra vocês — E sim, ela estava gritando, como sempre.
Abri a porta do quarto e ela estava segurando uma bandeja com bolo e suco. Minha tia nunca me deixava comer no quarto e hoje ela traz uma bandeja de comida. Ela tava realmente preocupada com o Liam aqui em casa.
— Muito obrigada senhora Higgins, a senhora é muito gentil.
— Pode me chamar de Martha, meu bem. Com licença, vou deixar vocês em paz, mas Sam, mantenha a porta aberta, está bem?
— Certo tia.
Ela saiu e não deu pra evitar rir disso.
— Bom, vamos estudar.
Minha amizade com o Liam só crescia, a gente passava bastante tempo juntos na escola e na minha casa, aos poucos a tia Martha estava se acostumando com a presença dele lá, até a Tessa tava gostando da companhia do Liam.
Certo dia estávamos estudando no meu quarto, quando senti ele movimentar o joelho esquerdo de um jeito estranho.
— Qual o problema com o seu joelho? Percebi que você fica meio desconfortável com ele as vezes — Faz tempo que havia percebido isso, o Liam parecia sentir dor no joelho, principalmente depois do treino de futebol.
— É, eu tenho uma doença no joelho, ela atrofia os nervos, e tá piorando, acho que por causa do futebol, tá acelerando o processo. — Ele falou isso com tanta tristeza que me doeu ouvir, caramba o futebol era a paixão dele, imagina saber que em breve não iria mais poder jogar.
— Nossa Liam, você já pesquisou sobre isso, se tem tratamento?
— Já, mas exige muito dinheiro e o meu avô acha que é só largar o futebol e tudo se resolve. Ele nem quis ouvir sobre o tratamento.
— Mas você tem que falar com ele! — Foi estranho ouvir o Liam dizer que o problema era o valor do tratamento se ele é tão rico.
— Meu avô é um velho, rabugento, e chato, a gente não se dá nada bem, ele não me escuta, ainda mais agora com essa história de eu ser gay. — O Liam respirou fundo e deitou na cama. — Ele acha que eu devia largar o futebol e me dedicar a empresa dele, por ele eu viro um aleijado.
— Não, eu não vou deixar você ficar aleijado, nem parar de jogar, eu vou falar com o seu avô. — Me levantei da cama e peguei o notebook. — Vamos fazer uma pesquisa bem fundamentada, vamos estudar os detalhes dessa doença, todas as formas de tratamento e os valores, vamos apresentar tudo ao senhor Olsen, ele vai ter que ouvir.
— Tem mesmo coragem pra enfrentar o Todo Poderoso? — Ele disse isso cheio de ironia.
— Ele deveria ter medo de enfrentar a voz da persuasão.
Eu e o Liam nos dedicamos a nossa pesquisa e reunimos todos os documentos necessários para convencer o avô dele. Eu não ia deixar essa doença avançar e prejudicar ele. Mas não ia mesmo.
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