Aline sempre foi uma garota simples, comum, embora fosse muito estudiosa, não era nenhuma beleza. Sua maior característica era a simpatia. Tinha olhos azuis e cabelos castanhos claros. Com apenas 19 anos estava cursando a faculdade de Direito. Queria ser a primeira da família a concluir um curso universitário. Sua mãe estava acidentada em casa. Tinha escorregado durante a faxina na empresa. Como foi considerado um acidente de trabalho, a empresa estava arcando com a despesa de fisioterapia. Seu pai faleceu em uma pescaria com amigos do trabalho. Teve um infarto fulminante.
Nesse tempo Aline estava trabalhando como temporária, substituindo a secretária que estava em licença maternidade.
Em pouco tempo ela conquistou o patrão e a esposa dele. Ela era dedicada, eficiente e honesta.
Uma noite, após uma festa de confraternização na empresa, começou uma chuva muito forte. Ao saírem da festa, o casal sofreu um acidente. Um motorista embriagado atravessou a pista escorregadia e bateu no carro de seu patrão. A esposa morreu no local e o patrão ficou internado por um tempo.
O filho do patrão veio do exterior, onde fazia seu doutorado, para o enterro da mãe. Ao saber que seu pai ficou paralisado e não havia nenhuma esperança de recuperação, Patrick resolveu deixar o curso e assumir a empresa do pai.
Aline quando soube do ocorrido, ficou com medo de pararem de pagar pelo tratamento de fisioterapia da sua mãe, afinal a mãe era apenas uma faxineira e ela era funcionária temporária. Ela morava com a mãe em um kitnet, pois era o que conseguiu pagar. Passava o dia na empresa e de noite ia para a faculdade. Duas vezes por semana, ficava sem horário de almoço para levar a mãe para o tratamento.
Então, com o coração apertado, sem saber como seria sua vida, Aline continuou trabalhando, enquanto a secretária ainda não retornou ao trabalho.
Mesmo sabendo que a qualquer momento ela seria destituída da função de secretária, ela não faltava e nem fazia corpo mole no trabalho. Sua mãe recuperou bem do acidente e voltou para o trabalho.
Num domingo, próximo ao retorno da secretária, o patrão acamado chamou Aline para visitar em seu quarto de hospital.
- Boa tarde! Que bom que você aceitou visitar esse seu patrão paralisado. Eu sei que tivemos pouco tempo de convivência, mas eu e minha falecida Lisa gostamos muito de você. Sei que sua mãe recuperou bem e voltou para o trabalho. O meu filho decidiu que não quer que eu fique mais no hospital. Como a secretária deve estar de volta na próxima semana, gostaria de saber se você poderia me ajudar em casa com as coisas da empresa. Meu filho acha melhor eu continuar no comando da empresa, mesmo longe.
- Não sei. Vou conversar com minha mãe sobre isso.
- Você não seria mais uma secretária temporária. Seria minha secretária pessoal. Seria a minha ligação com a empresa. Seu salário seria maior do que o que recebe agora.
- Meu horário de trabalho seria o mesmo?
- Sim, claro. Com raras exceções, quando temos reuniões fora do horário, em restaurantes, seria o normal.
- O senhor sabe que estou fazendo faculdade de Direito à noite. Seria complicado comparecer a esses jantares de negócios.
- Claro. Acredito que essa parte ficará com meu filho, Patrick. Não se incomode com isso.
- Posso dar uma resposta amanhã mesmo. Vou só conversar com minha mãe.
- Estarei aguardando por uma resposta positiva. Quero muito voltar a me sentir útil.
Aline se despediu de Wagner e foi para casa conversar com sua mãe. Estava pensando seriamente em aceitar a proposta de patrão. Um aumento de salário não faria mal algum.
- Mãe, não acredito que o Senhor Wagner me chamou para me propor de trabalhar diretamente com ele como secretária, para que ele continue comandando a empresa. E vou ser fixa e não mais temporária. E meu salário vai aumentar.
- Mas ele não está paralisado? Como vai ser isso?
- Pelo computador. Ele vai participar por vídeo conferência. Eu serei o elo dele com a empresa através do computador.
- Mas o filho dele não assumiu a empresa?
- Parece que ele não quer mais estar no comando. Ele parece que está querendo terminar o doutorado.
- Entendi. Então quando isso vai acontecer?
- Na outra semana, quando a secretária voltar da licença maternidade. Essa semana vou fazer uma espécie de transição do trabalho.
- Se estiver tudo bem com você, por mim, tudo bem.
- Obrigada, mãe. Vai ser melhor para nós. Vou avisar para o senhor Wagner que aceito a proposta de trabalho.
- Não vai ficar puxado para você continuar com a faculdade?
- Espero que não. Ele garantiu que o horário será o mesmo. A diferença é que só irei na empresa uma vez por semana. O restante do tempo estarei ajudando ele com o computador.
- Se ele garantiu, então não vamos nos preocupar com isso.
Aline entrou em contato com o senhor Wagner e avisou que concordaria com o trabalho.
Depois de aceitar a proposta do patrão, Aline começou a organizar sua agenda, para que não perdesse tempo entre o trabalho e a faculdade. Levantaria uma hora mais cedo para estudar antes do trabalho. Iria para o trabalho e usaria o horário de almoço para estudar um pouco. Sairia do trabalho direto para a faculdade.
Esse era seu plano de otimização do tempo. Ainda teria pelo menos dois anos antes de começar com o estágio da faculdade. Um salário melhor ajudaria bastante na logística de transporte entre a casa, o trabalho e a faculdade.
Na segunda ela já começou com a nova rotina, mesmo ainda estando trabalhando na empresa. Despertou cedo, tomou banho e café e estudou até o horário de ir para o trabalho. Chegou no horário de sempre e cumpriu com tudo que estava previsto para o dia.
Quando deu a hora do final de expediente, Aline bateu o ponto e foi para a faculdade. Como chegou um pouco mais cedo, aproveitou para lanchar e estudar na biblioteca. Depois da última aula, conseguiu carona com duas meninas que iam na mesma direção. Dividiram o valor do carro.
Com isso ela ganhou um tempo a mais para estudar antes de dormir. Pensou que seria ótimo se pudesse fazer isso todos os dias.
Durante aquela semana, tudo correu conforme o esperado. Fez amizade com as meninas e passou a dividir com elas a condução.
Chegou o final de semana. Aline estava em expectativa de seu novo trabalho. Esperava que acontecesse igual a semana anterior. Ajudou a mãe a cuidar das coisas e aproveitou o tempo livre para estudar.
- Filha, depois que você receber seu primeiro salário com aumento, não seria melhor procurar um lugar mais próximo do trabalho? Aqui você precisa acordar muito cedo.
- Mãe, eu sei que a senhora gostaria de morar em um lugar melhor e mais perto do trabalho, mas não sei se vou conseguir manter esse trabalho. Vai ser uma experiência nova para mim. Não posso garantir nada antes de completar pelo menos seis meses.
- Tudo bem, filha. Sei que depois da morte do seu pai nossa vida despencou ladeira abaixo. Meu salário é pouco para pagar as contas e despesas. Você precisou trabalhar para completar a renda. Não vou esquecer da ajuda que você já me deu.
- Mãe, estou apenas querendo ter certeza de que não vou perder o emprego de uma hora para outra. Quero sentir estabilidade no trabalho. Nada precipitado dá certo.
- Entendo seu ponto de vista. Melhor manter os pés no chão por enquanto.
- Seis meses passam rápido. Logo poderemos tentar algo melhor.
- Tudo bem. Vamos descansar um pouco. Amanhã temos um monte de coisas para fazer.
Aline foi dormir na sala/cozinha, como sempre fazia. O quarto era reservado para sua mãe. Mesmo que pudesse, o quarto só cabia uma cama de solteiro e uma cômoda. Aline nunca gostou de dormir em beliche. Preferia o sofá da sala.
No domingo, Aline acordou bem cedo e estudou bastante, até sua mãe acordar. Preparou o café da manhã e antes que sua mãe falasse algo, Aline foi para a cozinha preparar o almoço. Fez uma macarronada com molho branco. As duas almoçaram em silêncio. As coisas estavam bem difíceis para elas.
Quando anoiteceu, a mãe disse que iria sair um pouco para andar na praça perto de casa. Aline não se incomodou, pois sua mãe passou um tempo sem sair de casa, apenas ia para a fisioterapia. Sentou-se no sofá e pegou um livro para estudar. Ela queria aproveitar o tempo para aprender novas coisas da faculdade.
Sua mãe voltou para casa e trouxe um suco para Aline.
- Você deve estar cansada de tanto estudar. Descanse um pouco. Amanhã começa sua nova rotina.
- Obrigada, mãe. Vou descansar mesmo. Amanhã vou para a empresa antes de ir para a casa do senhor Wagner. Preciso pegar a agenda do dia com a secretária.
- Então durma bem. Também vou dormir. Andei muito na praça.
- Até amanhã, mãe. Sua benção.
- Deus abençoe você.
Aline chegou bem cedo no trabalho, para adiantar a agenda da semana. Não teria todos os compromissos, mas uma noção de quais reuniões já estavam definidas. O restante ela pegaria na quarta ou quinta, quando viesse na empresa novamente.
A secretária chegou no momento em que Aline repassava a agenda para o Tablet da empresa.
- Bom dia! Como vai seu nenê, Silvia?
- Bom dia! Está crescendo rápido demais. Olha só a foto dele.
- Que fofo! Dá umas agarradas e uns beijos nele por mim.
- Você não vai mais trabalhar aqui?
- Mais ou menos isso. Vou trabalhar com o senhor Wagner. O filho dele quer que ele continue comandando a empresa, mesmo longe do escritório.
- Entendi. Então eu vou trabalhar com o filho e você com o pai. Fiquei muito triste quando soube do ocorrido. Dona Lisa era uma pessoa muito especial e gentil com todos.
- Sim. Ela era um amor de pessoa. Foi uma pena não ter convivido o suficiente com ela. A fatalidade foi muito grande. E o senhor Wagner passou esses meses internado. Seu filho achou melhor tirar ele do hospital e fazer o tratamento em casa, com ajuda de fisioterapeuta.
- Espero que voltar para a ativa melhore ainda mais a saúde dele.
- Também espero. Agora tenho que ir para passar para ele as principais reuniões da semana. Até mais.
Aline saiu rapidamente da empresa e pediu um carro de aplicativo para levá-la até a casa do patrão. Ainda não tinha começado, então não tinha nada combinado para o transporte dela.
Chegou diante do casarão onde o senhor Wagner morava. Tocou o interfone e foi liberada a sua entrada. Uma governanta recebeu Aline na porta.
- Senhorita, por favor me siga. O senhor Wagner a espera no escritório.
Aline seguiu a governanta até uma sala no térreo. A governanta entrou e anunciou a presença de Aline. O senhor Wagner estava em uma cama de hospital toda automatizada.
- Bom dia! Você já tomou seu café?
- Sim, senhor. Desculpe ter demorado para chegar, mas passei antes na empresa para atualizar a agenda da semana. - Aline entrega o Tablet da empresa com a agenda.
- Muito bem! Sendo pró-ativa. Gostei. Vou pedir para a governanta trazer um suco para você.
- Obrigada, mas não precisa. Pelo que vejo na agenda, hoje vai ter uma reunião com um grupo de investidores. O senhor pretende participar?
- Gostaria muito de participar. Preciso da sua ajuda para entrar online na reunião.
- A reunião está prevista para daqui a meia hora. Quer que eu inicie o contato via Skype? O senhor pode ir se informando sobre o assunto enquanto não começa a reunião.
- Pode dar início. Eu só preciso que coloque a cama na posição sentada e coloque o computador sobre as minhas pernas. O restante eu consigo fazer por comando de voz.
Aline olhou para o controle remoto da cama e fez o ajuste, em seguida ligou o computador e colocou numa mesinha de suporte sobre as pernas dele.
- Ótimo! Obrigado! Pode sentar-se na poltrona e ir anotando os itens da pauta.
- Sim, senhor. - E pegando o Tablet, ela ficou anotando a pauta. Seria uma reunião bem longa, pela quantidade de informações que estavam na pauta.
O senhor Wagner pigarreou para limpar a garganta e deu início a uma conversa com seu filho. Minutos depois a reunião de fato começou. Aline tentava anotar o máximo de informações que os investidores passavam. Eles queriam obter vantagem sobre a empresa, como se achassem que estavam fazendo um favor para o senhor Wagner.
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