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Vivo Por Trás De Um Segredo

Capítulo 01

— Você sabe que vou comemorar contigo hoje…  - dizia Junior no ouvido de uma loira.  – Ligo mais tarde, pra te encontrar. Agora não vou poder…

— Tudo por causa daquela garota. Não sei o que vê nela…  - indagou a loira, o encarando.  – Aliás, não entendo o que ela significa pra você?

— Vamos ter que falar sobre isso, novamente?!  - Junior pôs o seu dedo, nos lábios dela.  – Te disse uma vez e não quero voltar a repetir... jamais vou me separar. Sheila é a mulher da minha vida, com quem vou me casar... no futuro.

— E como ela aceita viver dessa maneira, com você saindo com uma e outra?

— Eu sou homem e tenho minhas necessidades... Minhas prioridades agora, são outras e ela sabe disso.

— Mas ela sabe que você a traí?

— Isso não é traição. Não me comprometo com ninguém além dela... E quem quiser sair comigo, tem que ser assim.

— Você não presta, sabia!? - a loira o encarou, manhosa.

— Mas valho a pena!...  - ele sorriu, enquanto a beijava.

Sheila ouvia tudo, parada ao lado da porta, no vestiário... Nunca havia visto, apesar de ser alertada por seus amigos, de que o seu namorado não era fiel.

Aos quinze anos, Sheila começou a namorar Junior, sendo seu primeiro namorado. Hoje com seus vinte anos, estava vendo seu namoro se acabar...

A partida de futebol tinha terminado, onde Júnior, com seus vinte e cinco anos, era o principal atacante do seu time.

Sheila estava vindo de viagem e não conseguiu chegar a tempo, para assistir. Ao entrar no estádio, encontrou seu primo Lucas, avisando que Junior estava no vestiário, mas para ela esperá-lo que logo estaria com eles. Não dando ouvidos ao seu primo e querendo surpreender o seu amado, foi ao seu encontro para parabenizá-lo pela vitória. Mas ao se aproximar da porta, viu seu namorado colocando aquela loira contra a parede. Ao ouvir cada palavra, Sheila ficou atordoada e não conseguiu ir confronta-lo, saindo correndo com os olhos cheios de lágrimas.

Lucas a viu sair correndo e imediatamente imaginou o que poderia ter acontecido. Ligou para seu primo Flávio e disse que Sheila estaria indo na sua direção e que a segurasse, para saber o que estava se passando.

Flávio viu a sua prima ir na direção oposta e começou a chamar e correr atrás dela.

Sheila saiu sem rumo do estádio e não enxergava e nem ouvia nada a sua volta, apenas corria.

Parou apenas quando percebeu que estava num terreno atrás do estádio, onde havia uma ribanceira, escutando o chamado do  seu primo.

— Me diz o que aconteceu, Sheila?  - perguntou Flávio, se aproximando.

— Cansei de ser compreensiva…  - dizia ela, ofegante.

— Olha pra mim, prima... vamos conversar.  

— Quantas vezes vocês avisaram para eu viver minha vida e não pensar apenas nos sonhos dele. - disse ela, se odiando.

Lucas foi até o vestiário, atrás do Júnior, o chamando desesperado, pra tentar entender o que aconteceu com sua prima.

— Eih... O que está acontecendo?  - perguntou Júnior, pegando uma toalha.

— Sheila esteve aqui? Falou com ela?  - interrogou Lucas, apreensivo.

— Não. Ela não veio aqui…. - respondeu ele, sem entender.

— Ju, estou te esperando!... - disse a loira se aproximando, parando desconsertada.

— Aconteceu o que eu mais temia.  - afirmou Lucas, com raiva.

— Como assim... do que você está falando?  - perguntou Júnior, segurando-o pelo braço.

— Minha prima te viu com essa daí. - Lucas o encarou, se soltando. – Por isso, ela saiu desesperada.

— Não pode ser. - disse ele, pegando uma camisa. – E por que não foi atrás dela?!

— Flavio já deve tê-la alcançado. Só vim tentar entender o que se passou...  - disse Lucas, saindo correndo.

Abalado e sem olhar para trás, Junior foi encontrar sua namorada, para tentar se explicar e ignorando o chamado da loira.

— Vamos sair daqui, Sheila. Te levo pra onde quiser…  - disse Flavio, tentando chegar mais perto.

— Pode parar... se der mais um passo, não respondo por mim.  - ela olhou para o seu primo, determinada.

— Você não vai fazer isso!?  - ele a encarou, incrédulo. – Acha que vale a pena…

— Não é por ele…  - seus olhos lacrimejavam. – Estou farta, de tentar ser o que eu não sou. Por causa das minhas fobias, todos me tratam como se eu fosse quebrar.

— Isso se chama cuidado… Te amamos, por isso nos preocupamos com você.

— Tenho sempre que pensar a cada passo que dou, para não cometer erros...

— É normal... todos nós erramos!

— Comigo é diferente... me sinto vigiada o tempo todo. Tento me policiar, pra não sofrer um apagão.  - dizia ela, com dor nas palavras.

— Sabemos o que aquele acidente te causou, por isso, somos zelosos. Acha que seríamos felizes ou que a nossa vida seria menos complicada se você não tivesse sobrevivido?!

— Eu sei que não. Mas penso que todos me tratam dessa forma, por me acharem frágil demais. Até mesmo Junior… Talvez ele não termina comigo, por medo de achar que eu não possa suportar.

— Então, nos prove o contrário e mostre o quão forte você é…

Lucas chegou do lado oposto e viu os seus primos conversando, enquanto Sheila estava bem próxima da ribanceira.

Lucas foi tentando se aproximar de uma maneira que a sua prima não percebesse a sua presença. 

— Não quero provar mais nada, Flavio. Estou exausta. Tento achar que tudo é perfeito, mas vivo uma mentira.

— Do jeito dele, sei que Junior te ama. Ele diz pra todo o mundo que você é a mulher com quem vai se casar…

Flávio avistou Lucas e entendeu de imediato, o que o seu primo pretendia fazer.

— Sendo traída o tempo todo?!...  - ela viu que o seu primo não teve argumento.  – Junior diz para me guardar até o nosso casamento... E até quando vou ter que esperar, enquanto ele se diverte com outras que correm atrás dele?! - ela sorri, trêmula. – Também sou humana e tenho desejos...

— Mas se você sabia, por que não deu um fim nisso?  - perguntou Flávio, tentando compreender.

Junior chegou em seguida e se apavorou ao vê-la naquele lugar.

— Porque custei a acreditar. - ela lamentou, olhando para o alto. – Todos temos um coração tolo, que enquanto não vê...

— Sheila!  - gritou Junior, indo até ela.

Sheila olhou na direção dele e viu logo atrás, a mesma loira que estava com ele no vestiário.

Nesta hora, ela deu um passo pra trás e se desequilibrou.

— Não... - gritou Flavio, desesperado.

Quando estava prestes a cair, Lucas pulou na direção da sua prima, rolando com ela para o lado.

Todos correram até eles e viram Sheila desacordada, com Lucas gemendo de dor.

Acionaram a ambulância e em pouco tempo, foram levados para o hospital.

Lucas havia deslocado o ombro esquerdo e estava sendo atendido e recebendo os procedimentos médicos, enquanto Sheila foi levada para fazer uma ressonância, pois continuava inconsciente.

O resultado dos exames havia saído, em que Sheila teria sofrido uma batida na cabeça e aparentemente não comprometia a sua saúde cerebral, tendo apenas algumas escoriações.

Mas ela não despertava, o que deixava os seus familiares apreensivos, mesmo alertando os médicos do stress que ela teria passado.

Foram dias difíceis… Iguais os que se passaram anos atrás, após um acidente que Sheila sofreu quando pequena. A batalha das horas que se avançavam, não conseguindo encontrá-la...

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Brincando de se esconder, Sheila percebeu que Lucas foi para o lado onde estavam fazendo a retirada dos blocos de mármores, então correu para avisá-lo de que ali era perigoso.

Quando o encontrou dentro de um galpão, houve uma explosão e Sheila empurrou o seu primo para longe, mas ela não conseguiu sair do lugar, pois o seu pé ficou preso numas ripas de madeira.

Sentia que tudo ali estava estremecendo, enquanto tentava ao máximo se soltar. Lucas ia se aproximar, mas ela gritava para ele ir pedir ajuda.    

Estavam numa jazida, em que naquele dia faziam algumas extrações de blocos de mármores. Sheila cresceu naquele ambiente, onde toda a sua família era marmorista e estava acostumada com todo aquele processo. 

Na época, ela e seu primo Lucas, estavam com dez anos e brincavam, enquanto esperavam pelo pai e o irmão dela que haviam ido até o local para saber que tipo de material iriam encontrar.

Lucas saiu chamando por socorro e quando chegou perto do seu tio Valter, ouviram mais um estrondo e viram uma cortina de fumaça branca.

Desesperado, Lucas disse a todos que Sheila estava com o pé preso dentro do galpão e todos correram pra lá, vendo tudo desabado.

Os bombeiros encontraram Sheila desacordada e quase sem respirar, fazendo todo o procedimento necessário a caminho do hospital, onde ficou internada por meses. 

Fraturou o tornozelo e braço direito, além de ter comprometido o pulmão por causa da fumaça do pó de mármore. Mas teve um agravante maior, onde o seu subconsciente não a deixava acordar, ficando como se estivesse num sono profundo.

A recuperação foi aos poucos, e quando finalmente acordou, vieram os seus traumas e fobias, não conseguindo ficar em ambientes fechados ou escuros, também passou a ter que usar o nebulímetro, bombinha para asma e o pior de tudo, com o stress que tudo isso causava, ela perdia a consciência do nada, como se fosse um desmaio, mas na realidade era como se estivesse adormecida.

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Capítulo 02

Durante todo o tempo em que Sheila estava no hospital, seu primo Lucas não saiu do lado dela. Teve o mesmo sentimento e reação de exatamente dez anos atrás, quando também ficou com ela no hospital, até que se recuperasse.

Lucas conversava o tempo todo, na esperança de fazê-la acordar. Começou a mexer na pulseira que estava no braço direito dela, vendo um pingente de duas crianças de mãos dadas e se lembrou, do dia em que deu a ela de presente...

— … Por anos carreguei a culpa daquele acidente, que era pra ter sido comigo... e você me salvou.  - disse ele, com lágrimas nos olhos.  – Giovanni me fez sair daquele hospital, só para te fazer uma surpresa quando acordasse. Fomos ao shopping e encontrei essa pulseira... quando coloquei no seu braço, disse que seria seu amuleto e te daria forças para você voltar.  - dizia ele acariciando seus cabelos.  – Naquele dia consegui sorrir, acreditando na sua recuperação e que eu estaria alí, te esperando.

— E agora não foi diferente...  - disse Sheila, com a voz rouca e fraca.

— Não faz isso comigo, baixinha!  - ele a encarou.

Lucas começou a chorar, pois todo aquele tempo tentou ser forte ao lado dela. Sheila estava com seus olhos fechados, acariciando o rosto do seu primo.

— Achou que eu deixaria meu parceiro sozinho?!  - ela o abraçou. 

— Se voltar a fazer essas coisas de novo, juro que eu mesmo interno você. - ele a encarou.

— Não consegue ficar longe de mim. - ela sorriu, vendo-o fazer o mesmo. – Além do mais, Gigio deve estar querendo nos matar... A empresa deve estar abandonada, sem seus melhores funcionários.  - dizia em tom de brincadeira.

— Ainda bem que a bela adormecida acordou, ciente da situação.  - disse Giovanni, entrando no quarto.

— "Grazie molte", por perguntar se estou bem…  - "muito obrigada", disse ela em italiano, fazendo careta.

— Sabia que era só sentir minha presença, que tu acordaria.  - disse ele, a abraçando.

— Então, só apareceu agora?!  - perguntou ela, fingindo estar chateada.

— Ele esteve aqui, todos os dias.  - Lucas o entregou.

— Está demitido, "ragazzo"...  - "rapaz", dizia ele, zombando. 

— Dessa vez, não pode me demitir... tenho um atestado médico a meu favor. - alegou vitorioso.

— Brincadeiras a parte... como está se sentindo, "mia bambina'' ?  - "minha criança", disse Giovanni, sentando ao lado dela.

— Ainda não sei dizer...  - respondeu ela, enchendo os olhos de lágrimas.

— Pois então, vamos ter que remanejar esta situação.  - disse Giovanni, beijando seus lábios e secando suas lágrimas.

Giovanni sempre foi amigo da família e era dono do galpão que desabou e Sheila ficou soterrada. Após o acidente, ficaram ainda mais unidos.

Sendo criada naquele ambiente desde a sua infância, começou a trabalhar aos quatorze anos na marmoraria com seu irmão Fabio.

Quando completou o ensino médio, Giovanni fez questão de pagar a faculdade de administração, para ela e Lucas trabalharem na sua empresa, que era sócio do irmão dela.

Giovanni havia percebido há um tempo, que Sheila estava descontente e com tudo que aconteceu, temia que ela pudesse entrar em depressão.

Conversando com os médicos, decidiram afastá-la por um tempo do seu ambiente e levaram ela e Lucas, que ainda estava se recuperando da contusão no ombro, para a casa de praia que Giovanni tinha, no litoral de São Paulo.

— Tem certeza de que isso é realmente necessário, Gigio? - perguntou ela, enquanto se acomodava na casa de praia.

— Ainda tem dúvidas?! - Giovanni a encarou, querendo enforca-la. – Vou te manter vigiada o tempo todo...

— Poderia ter ficado em casa, com "mia madre" cuidando de mim. - "minha mãe", disse ela, já com saudades.

— Podemos trazer a tia Evangelina a hora que quiser. - disse Lucas, solucionado o problema.

— "Voi" terá pessoas que estarão aqui pra te ajudar no que precisar. - " você", disse Giovanni, a tranquilizando. – Vamos marcar uma consulta com psicoterapeuta, uns dois dias na semana…

— Pronto. Agora estão achando que estou ficando doida. - disse chateada.

— Quero ver tentar fazer alguma besteira. - afirmou Lucas, rindo da cara dela. – Porque doida você sempre foi.

— É só pra te ajudar com seus traumas… - continuou Giovanni, explicando. – Non esqueci que da última vez, tu largou o tratamento no meio do caminho.

— Parei, porque me sentia melhor. E sabe que não gosto de tomar remédios, me deixam pior...

— "Oh donna dalla testa dura". - "oh mulher cabeça dura", disse Giovanni, fazendo-a sentar ao seu lado. – "Sono per il tuo bene"... - "são para o seu bem", disse ele. – E desta vez, vou estar por perto te vigiando.

— Duvido que consiga ficar aqui, sem fazer nada… - ela começou a rir. – Não dou até o fim da noite, para estar saindo por aquela porta.

— Com certeza, vai querer sair pra arrumar companhia "di una donna". - "de uma mulher", disse Lucas, fazendo toca aqui com sua prima.

— Quem non te conhece que "ti compri, signore Giovanni"... - disse ela, fazendo sotaque italiano.

Solteiro convicto, Giovanni nunca teve pretensão de se casar e formar uma família. Dizia que a vida para ser vivida, não precisava se prender a ninguém, pois se considerava uma alma livre.

— Sabe que sou "una persona adorabile"... - "uma pessoa adorável", disse ele.

— Modesto... - Lucas começou a rir, da cara de pau do seu chefe.

– … "Non faccio niente per far innamorare le donne di me". - "não faço nada para as mulheres se apaixonarem por mim", disse malicioso.

— Nem precisa... Basta um beijo, para ganhar qualquer uma! - afirmou ela.

— E "come mai si innamorò di me"? - "como nunca se apaixonou por mim", perguntou ele, a encarando.

Na escola, Sheila teve alguns garotos que se se interessavam por ela, mas como era muito tímida, tinha vergonha de ficar com eles, por não saber beijar. Foi então, que pediu para que Giovanni a ensinasse, pois, queria ter o seu primeiro beijo com uma pessoa especial.

— Não posso me apaixonar pelo professor, que me fez aprender "molto bene". - "muito bem", disse ela, lhe dando um beijo.

Amigo de longa data dos seus pais, foi Giovanni quem levou dona Evangelina a maternidade e pôde conhecer Sheila desde o seu nascimento. Daí o carinho e cuidado, que sempre teve por sua "bambina".

— Sabe que "tu per me é como una figlia". - "você pra mim é como uma filha", disse ele, fazendo-a deitar em seu colo.

— Um pai que ensina a filha a beijar... - disse Lucas, pensando alto. – Deu pra ouvir?

— Em alto e bom som. - retrucou Giovanni, franzindo a testa. – Está demitido!

— Perdi as contas de quantas vezes já me mandou embora. - disse Lucas, indo para a cozinha.

No final da noite, Giovanni voltou para capital, pois não conseguia ficar num lugar parado, ainda mais fora de temporada, pois sempre gostou da movimentação e agito da cidade.

Lucas e Sheila seguiram o tratamento no litoral, além de continuarem os trabalhos mesmo longe da empresa.

Meses antes do incidente com sua irmã, Fabio estava montando uma marmoraria em sociedade com um amigo que morava na capital de Minas Gerais. Além de sua sociedade com Giovanni, que também estavam abrindo uma filial da GBM, empresa de corte e polimento, que transformavam os blocos de mármores e granitos em placas para distribuição dos materiais para todo o Brasil.

Com os últimos acontecimentos, resolveram que Sheila iria morar com Fábio em Belo Horizonte e administrar a empresa de corte e a marmoraria, representando Giovanni. Enquanto Lucas, ficaria na empresa de São Paulo, mas em contato direto com sua prima.

— Preciso mesmo sair de São Paulo? - indagou Sheila, numa conversa com a família reunida.

— Vai ser melhor pra você. Não terá que ficar se escondendo. - disse seu pai Valter, vendo-a apreensiva e a abraçando.

— Há meses que não tenho contato com Junior. Não vou ter nenhuma recaída. - disse ela, sabendo da preocupação deles.

— Mas sabe que ele não teve culpa do seu desatino, minha filha. - disse Evangelina, a encarando.

— Sei disso mãe. Mas tenho uma mágoa muito grande... isso ainda não consegui tirar de dentro de mim. - disse com a voz embargada.

— Mas vai ser bom respirar novos ares, conhecer pessoas diferentes. - disse Fabio, interrompendo o clima tenso.

— Foram cinco anos da minha vida, pra nada… jogados fora. - disse ela lamentando, pensando alto.

— Não desanima... Dá até pra terminar a faculdade de designer de interiores, que você havia trancado. - completou Lia, esposa do seu irmão.

Fabio foi de mudança com a sua família, pois ainda estavam finalizando a obra da marmoraria e adaptando os maquinários da outra empresa, tendo que estar presente em Minas Gerais.

Sheila continuou com sua rotina em São Paulo, enquanto aguardava tudo ficar pronto em Belo Horizonte, passando todas as funções da empresa para Lucas e seu primo Flávio, que ficariam encarregados.

O que mudou antes de viajar e desde o acidente, foi ter que ficar morando com Giovanni e não com os seus pais. Era somente por precaução, de não ter que se encontrar com Junior.

Capítulo 03

Sheila estava no seu quarto, perdida nas suas lembranças, não conseguindo dormir…

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— Por que tem sempre que estar com ele? - perguntou irritado.

— É meu trabalho, Junior. Vou viajar e estarei de volta, em três dias.

— Toda vez, diz a mesma coisa... quando vê, se passa mais de uma semana. - lembrou ele.

— Você também viaja e não digo nada, porque sei que é o seu trabalho. - argumentou ela.

— Só que não durmo com o meu chefe. - disse com antipatia e em duplo sentido.

— Nem eu. E meça as suas palavras. - disse ela, entendendo o que ele quis dizer. – Durmo na casa, em hotéis com "mio papà". - "meu pai", disse ela. – Sabe muito bem, que Gigio está além de ser meu chefe.

— Esse italiano fica sempre entre nós… e sei que ele não aprova nossa relação.

— Ele só acha, que não dá muita atenção para o nosso namoro. - disse ela, chateada.

— Como vou dar atenção?! Quando acontece de passarmos mais tempo juntos, ele arruma uma viagem pra te manter longe de mim. - disse a abraçando.

— Não fala assim, foi só uma coincidência. Vou ficar me sentindo culpada. - ela o encarou.

— Vou sentir a sua falta, Bebê. - disse Junior, a beijando.

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Sheila soltou um suspiro, também sentindo falta dos momentos em que viveram juntos…

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— Onde esteve até agora, Junior?! - perguntou zangada, estando na casa dele.

— Depois do jogo, o pessoal quis comemorar nossa vitória. Como sou o capitão do time, não poderia ficar de fora. - explicou tentando acalma-la.

— Já ouviu falar em ligação, mensagem? - perguntou vendo-o acariciar os seus cabelos.

— Não fique brava comigo, Bebê… - disse ele, a agarrando e encostando-a na pia.

— Nem vem… pode me soltar. Fiquei até agora, que nem uma tonta te esperando. Meus amigos me chamaram para sair e não fui, achando que você chegaria cedo.

— Se arrepende de não ter ido com eles? - perguntou ele, colocando-a contra parede.

— Me arrependo. Poderia estar me divertindo…. - ela tentava se soltar.

— Podemos nos divertir agora. - disse a beijando.

— Não começa, Junior… - disse ela, vendo-o beijar seu pescoço. – Sei que não vai seguir até o fim…

— Combinamos que faríamos, só depois do casamento.

— Esse combinado foi somente seu. - disse ela, chateada.

— Mas podemos brincar e sei que você adora. - ele falou no ouvido dela, fazendo-a se arrepiar.

— Não quero. - disse ela, o empurrando.

— Vamos ver se não… - disse ele, a prendendo em seus braços, beijando-a com intensidade.

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Giovanni entrou no quarto, vendo-a sentada na cama, com o olhar longe, enquanto a chamava e ela não ouvia.

— Acorda, "piccola''. - "pequena ", disse ele, indo até ela.

— "Che paura", Gigio. - "que susto", disse ela, saindo de seus pensamentos.

— Sonhando acordada… "sonno perduto"? - "perdeu o sono", perguntou a aninhando em seus braços.

— Como será daqui pra frente, Gigio?! - perguntou ela, temerosa.

— "Come questo"? - "como assim", perguntou ele.

— Vou estar num lugar totalmente diferente, distante de todos que conheço.

—Mas terá "tuo fratello" e eu estarei sempre contigo. - "seu irmão", disse ele, acariciando seus cabelos.

— Vou ter que refazer minha vida…

— Tudo por causa daquele "maledetto''.

— Também tive culpa, Gigio. Deixei essa relação se arrastar por anos.

— Se não quer uma relação, nunca assuma um compromisso.

— Assim como você!? - comparou ela, o encarando.

— "Mai promesso amore a una donna". - "nunca prometi amor para uma mulher", disse ele.

— Uma não… várias. - completou ela, rindo.

— "Mio cuore è solo tuo". - "meu coração é só seu", disse ele, a beijando.

Sheila terminaria o ano entregando o seu trabalho que realizou por anos em São Paulo e seguiria iniciando uma nova etapa da sua vida, em Minas Gerais. Não queria despedidas, pois se sentiria pior. Resolveu agir como se fosse fazer uma viagem de negócios e que logo, estaria de volta.

Era final de semana… Sheila acordou em meio a caixas espalhadas pelo quarto. Abriu a janela e avistou um lindo jardim na frente da casa. A rua estava vazia, ainda era cedo e o dia estava ensolarado.

Desceu até a cozinha, encontrando a sua cunhada Lia, preparando o café da manhã.

— Dormiu bem, à noite? - perguntou a sua cunhada, terminando de passar o café.

— Dormi vencida pelo cansaço. Vou me adaptando aos poucos. - disse Sheila, pegando uma xícara.

— Os médicos não disseram pra esquecer o café puro? - lembrou sua cunhada.

— Disseram. - ela sorriu. - Mas com este cheirinho… é impossível.

— E o que vai fazer hoje? Seu irmão disse que vem mais tarde, para te levar pra conhecer a marmoraria.

— Estava pensando em ir até o shopping… Preciso habilitar uma nova linha no meu celular e comprar um livro. - disse ela, pegando uma torrada. – Vou ver se o Fabio consegue me encontrar lá.

— Nada de tomar seus remédios agora... Sabe que não pode misturar com cafeína. - disse Lia, antes dela atravessar a porta.

Sheila subiu até o banheiro, para fazer a sua higiene pessoal, tomando um banho para despertar e se arrumou, colocando uma bermuda e um top branco, vestiu um casaco branco por cima e uma sandália de salto. Deixou os seus cabelos soltos e passou apenas um protetor labial.

Pediu um carro de aplicativo, pois ainda não sabia andar na cidade e foi para o shopping.

As lojas estavam abertas quando chegou e a movimentação era grande, na qual Sheila não tinha previsto.

Apreensiva, passou a mão na sua pulseira que ficava no pulso direito, como era de costume e aos poucos tentava se acalmar. Esperou o fluxo de pessoas passarem e depois entrou, andando sempre onde tinha menos movimento.

Conseguiu resolver tudo, em um pouco mais de uma hora. Mandou mensagem para seu irmão, dizendo que estava livre e que a avisasse quando estivesse indo encontrá-la.

O movimento começou a se intensificar ainda mais, pois estava no horário do almoço. Como tinha pavor de multidão, resolveu ir para fora do shopping esperar seu irmão.

Ao atravessar a porta de saída, seu celular começou a tocar dentro de sua bolsa. Sheila não percebeu que parou próximo a alguns degraus, enquanto abria a bolsa para pegar seu celular. Quando conseguiu, sentiu sendo empurrada para frente e se desequilibrou no salto que usava, vendo que iria direto com a cara no chão.

Neste momento, um rapaz a puxou pelos braços, amortecendo sua queda no colo dele.

Eles se olharam por uma fração de segundos e Sheila atordoada com a situação, começou a lhe faltar o ar, enquanto ele a colocava de volta ao chão.

— Deveria prestar mais atenção por onde anda, ao invés de ficar pendurada no celular. - reclamou o rapaz, sem perceber que ela estava ofegante, perdendo a respiração.

Sem conseguir responder, Sheila procurou rapidamente por sua bombinha inspirando por várias vezes, até seu ar voltar. Ainda incrédula com o que tinha ouvido e vendo ele apenas a encarando como se fosse o dono da razão, explodiu…

— Antes de julgar, deveria ter visto o que aconteceu.  - disse ela, ainda com a voz fraca.  – Eu não estava no celular…

— E o que ele fazia na sua mão?  - perguntou cruzando os braços. 

— Não que seja da sua conta... Meu celular estava tocando e iria atender…

— Estava ao telefone. - afirmou ele.

— "Non ero". - "não estava", disse ela, irritada.  – Nem consegui atender, quando fui empurrada…

— Porque parou no meio da porta e não olhou pra onde estava indo.

— Agora a "colpa mia"!?  - "culpa é minha", disse desacreditada.

— Minha é que não foi.  - ele percebeu que ela falava em italiano.  – Aliás, estou esperando…

— O quê?  - indagou sem entender.

— Um pedido de desculpas ou um obrigado, por ter te ajudado…

— "Aspetta seduto"...  - "espera sentado", disse ela, segurando seu nervosismo.

— Cadê a sua educação? Deixou em casa…  - ele a encarava, sério.

— Docinho!…  - acenou uma morena para o rapaz, na porta do shopping.

— Já estou indo.  - respondeu ele, sem desviar o olhar.

— Tá mais pra azedo… "scontroso"!  - "rabugento", disse Sheila, percebendo que ele havia escutado.  

— "Che brutta cosa"...  - "que coisa feia", disse vendo-a espantada, por ele falar em italiano. – Não vai se desculpar?!...

— "Asla".  - "nunca", disse ela em turco.  – E não vou ficar aqui, com esta discussão que não vai levar a nada.  - ela o encarou mais uma vez, antes de sair.

Parando próximo a um ponto de táxi e ao olhar para trás, Sheila viu que o rapaz não estava mais. Pegou seu celular e viu que a ligação era do seu irmão, retornando em seguida.

Combinaram de se encontrar ali mesmo, então ela ficou esperando e voltou o pensamento para o que tinha acabado de acontecer.

Nervosa com a lembrança, passou a mão no seu pulso e percebeu que estava sem a sua pulseira, ficando ainda mais desesperada.

Olhou no chão onde estava parada, revirou sua bolsa e não achou. Voltou refazendo o caminho por onde passou, entrou nas lojas e nada de ter encontrado.

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