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Uma Luz Em Nós

Capítulo um

O barulho dos pneus no asfalto não estavam coerentes com os demais, devido ao trânsito e ao engarrafamento daquele fim de dia, deixando as nuvens cobrir a cidade, as motos ganhavam vidas e comodidade absurda pelas ruas da avenida Paulista. Mulheres gritando, crianças à flor da pele, homens de bermudas rasgadas e um coral intenso de buzinas ressoar pelos cantos daquele espaço fechado.

Em meio aquela multidão exasperadamente farta pela lentidão, Elisa Sande estava no telefone aos gritos, agarrava o volante com uma mão e a outra segurava o aparelho, rezando para estragar. Pensava: "nada diferente nos meus dias?", sem contar a surpresa que estava cinco quilômetros de distância à sua frente.

Do outro lado da avenida Paulista, o estresse diminuía e a multidão se distanciava. As árvores eram alinhadas, o escuro dominando a pista de corrida da área doze dos corredores dos domingos, os pássaros ainda cantarolavam diante das poucas pessoas que estavam distraídos com os seus “smartphones” de última moderação, mal conseguiam ouvir as vozes de outros e muito menos a gritaria de uma jovem desesperada por ajuda.

Vestida num vestido lilás, cobria apenas os sëios pequenos e parte das pernas, corria exasperada na direção da estrada. O cabelo desalinhado estavam soltos para trás, escondia boa parte do rosto choroso e as costas, era uma cor incomum de fios de cabelo, um loiro quase alaranjado. Estava descalça, enquanto as duas mãos seguravam a barriga com a intenção de diminuir aquela quantidade de dor que a dominava. A sensação de que algo estava errado, era o que mais a preocupava naquele segundo.

Se segurou para não gritar, com medo de que eles estivessem a seguir de alguma maneira. Sentiu as pernas esquentarem, o líquido morno derramando até os joelhos e parte do corpo amolecido. Chorou, com uma intensidade mais desesperada, nenhum carro naquela direção.

Os pés tocaram o cimento e ergueu um dos braços na direção de uma mulher, que caminhava com os auscultadores.

— Por favor, senhora...

A mulher ergueu os olhos.

— Por favor, preciso de ajuda... — Choramingou.

A mulher abaixou os olhos e observou a barriga da moça, erguendo as sobrancelhas e encarando-a com desprezo.

— Se não estivesse chapada, eu provavelmente ajudaria. — A mulher deu as costas e caminhou para longe da menina.

— Por favor. — Tentou gritar, segurando a barriga com as duas mãos, chorando.

Outras duas mulheres corria com os auscultadores, mas ignoraram a menina grávida, passando por ela e correndo na direção da pista. Nenhum carro passava, e quando passava, eram numa velocidade absurda, onde não a dava oportunidade para clamar misericórdia, ou pelo menos nem mesmo a viam chamar.

Entre aqueles que ultrapassam como raios, um Volkswagen branco movia-se numa mínima velocidade. Era a sua oportunidade de conseguir ajuda, então juntou todas as suas forças que sobraram nas veias e impulsionou o seu corpo na direção daquele veículo, que mantinha o percurso na mesma intensidade bruscamente lenta.

Gritou algumas vezes, mas o carro não parou. Agarrou barriga e correu na direção da rua, descendo o meio-fio e indo na direção do carro, que freou severamente na frente da jovem.

— Por favor. — Berrou chorando, colocando as mãos sobre o carro e sem conseguir se manter de pé.

A porta foi aberta rapidamente por uma mulher, uma jovem de cabelo preto e com as pontas pintadas de vermelho. Logo correu até a menina, encostada no carro e a agarrando pelos braços.

— Moça, pelo amor de Deus! O que houve? — Perguntou, preocupada.

— Estou perdendo o meu bebê, por favor... leve-me para o hospital.

Chorou.

— Venha comigo. — Agarrou a cintura dela e a puxou para o carro, colocando-a no banco da frente e correndo para o outro lado.

Abriu a porta e entrou, dando partida. Daquela vez, nos últimos cinco quilômetros num vagarosa lentidão, Elisa Sande apertou o tênis da Vans no acelerador e voou pelo asfalto.

— Qual o seu nome? — Perguntou, preocupada.

A menina permaneceu em silêncio, gemendo pela dor.

— O meu nome é Elisa, pode confiar em mim. Sou corretora de imóveis, o único mal que causo é comigo mesmo devido ao cigarro. — Ela disse, sem tirar a sua atenção da estrada.

A menina virou o rosto para ela, como se pensasse na sua resposta.

— Solare. O meu nome é Solare Campos. — Ela respondeu, gemendo de dor. — Pode me chamar de Sol.

— Então, Sol, qual o sexo do seu bebê?

Virou a esquina, numa rapidez absurda.

Sol transmitia confusão pelos olhos, desconfiada da misericórdia daquela moça. Mas também sabia, através dos muitos livros que lera naquele quarto trancada, que ela estava conversando sobre assuntos aleatórios para a manter distante da dor.

Sentiu uma pequena agulhada no pé da barriga, uma dor fina e insuportável. Grunhiu a garganta, suportando a dor, rastejando a sua voz para fora e agarrando a porta, passando a sua agonia para aquele plástico seco.

— Não sei o sexö dele. — Ela gemeu de dor e Elisa encarou-a desconfiada.

— Chegamos.

O hospital estava logo diante dos seus olhos, Hospital Salinas. Elisa foi a primeira a descer, correndo na direção de Sol e agarrando-a nos braços, caminhando para a portaria do hospital particular.

Entrou pelas portas de vidro e a levou para a recepção, a mulher escrevia algo na caderneta quanto Elisa berrou por ajuda.

— Senhoras, precisam preencher a ficha. — A mulher repetiu três vezes a mesma frase.

— Olha, aqui, ela está perdendo o filho dela. Se ele morrer por causa dessa ficha inútil, eu quebro a sua cara com ela mesmo. — Elisa gritou.

A mulher, assustada com a ameaça, chamou um enfermeiro de imediato. Chegou rapidamente, de encontro com as duas.

— Há quanto tempo está em trabalho de parto, mamãe? — O homem perguntou, educado, segurando os braços de Solare.

A menina gemeu de dor.

— D-desde ontem. — Ela gemeu.

— Meu Deus! — Elisa berrou, assustada.

— Venha, o seu bebê deve estar em perigo. — Ele levou-a para a sala de parto e Elisa correu, junto.

Na sala, um homem de cabelo curto, virou na direção das duas e preparou o lugar para que Solare se sentasse. Foi o que ela fez logo a seguir, com dificuldade. As suas pernas estavam cobertas pelo sangue, parte dele endurecido pelo calor de São Paulo.

Elisa virou as costas e Solare agarrou a sua mão, impedindo da garota e retirar da sala.

— Por favor, fique...

— É claro. — Ela ficou, atenta com o médico.

O homem colocou as luvas, a máscara azul e o enfermeiro ficou ao seu lado, com alguns utensílios necessários para o parto. O médico pediu para que Solare botasse força, ela gritou. A dor, estava numa intensidade maior, uma absurda agonia subindo por suas pernas e possuindo o seu quadril.

Os seus bravos tremiam, agarrado na cama hospitalar e na mão de Elisa. O seu sufoco assustava o seu peito, devastando a sua alma por cada centímetro das suas partículas. O medo, apreensão e euforia a deixar ainda mais imobilizada.

— Está quase. Vamos.

— AAAAAAAAA...

O choro da criança percorreu pelos corredores do hospital, atravessando a cabeça de Sol e a sua lágrima de alegria.

— É um belo menino. Parabéns, mamãe. — O médico falou, pegando o pano e cobrindo a criança.

Sol agarrou o filho e permitiu que a sua dor, se transformasse em alegria.

— Ele é perfeito! — Elisa gritou, contente.

— É, ele é sim. — Sol chorou. — Meu filho é lindo.

Capítulo dois

Elisa estava demorando demais, Sol faltava explodir com a agonia em ter que ficar dois dias naquele hospital, sozinha. Tinha que agradecer aquela mulher que tanto a ajudou nas últimas horas, trazendo roupas e acessórios pessoais para um bom banho depois de tanto que passou naquela maldita mansão.

Olhava o pequeno espelho embutido na parede do banheiro, bem organizado e limpo. Os seus olhos estavam inchados, escuros e doloridos. Não se lembrava da última noite de sono em que tivesse dormido em paz, ou que já tenha dormido em paz durante toda a sua vida.

Vestiu aquele vestido vermelho e embolou o cabelo ondulado, amarrando-o com ele mesmo, num coque desalinhado. Passou a mão no rosto e saiu da sala, preparada para enfrentar mais um dia e lamentar por tudo que tenha acontecido com ela.

O seu sorriso abriu num instante para o outro, observando o seu filho nos braços do médico, colocando-o sobre a incubadora, observando-o em silêncio enquanto dormia. Os seus passos logo aumentaram na direção dos dois e agarrou o pequeno objeto, para observar o pequeno Caio, dormindo como um anjo.

— Creio que ele terá a cor dos seus cabelos. — O médico falou, virando o rosto na direção de Sol, que não tirava os olhos do filho.

— Como sabe? Se ele não tem um fio de cabelo na cabeça?

Ela sorriu, o médico fez o mesmo sem tirar os olhos da moça.

— Posso fazer uma pergunta, sem parecer invasivo? — Ele perguntou e ela ergueu os olhos na direção dele, já imaginando a pergunta e ela assentiu. — Porque o pai do nenem não está aqui?

— O meu filho não tem pai, doutor. — Ela respondeu convicta. — Sou a única que ele tem.

— Pode me chamar de Eduardo, se preferir.

— Obrigada, Eduardo...

— ADIVINHA QUEM CHEGOU? — A voz de Elisa ecoou na sala e Sol rapidamente abriu um sorriso, contente. — A tia preferida do Caio! E trouxe um presente para ele!

Elisa correu até ela e a abraçou, feliz em vê-la novamente.

— Pare de esforçar, garota, acabou de parir uma pessoa. — Elisa empurrou Sol e a encarou com o rosto fechado.

— Solare é mais forte do que pensa, senhorita. — Eduardo falou caminhando na direção das duas. — Venho ver se está bem daqui uma hora, tudo bem?

Sol assentiu.

— Obrigada, Eduardo.

Ele saiu da sala.

— "Senhorita", que educado esse Eduardo. — Elisa disse colocando as duas sacolas sobre a poltrona confortável ao lado da cama e virou na direção de Solare. — Ele é um gato.

— E tem uma aliança no dedo, você não notou? — Sol sorriu caminhando na direção das sacolas. — Ele só é bem gentil, para quem me viu abrir as pernas na cara dele.

— Não foi uma cena bonita, mas parece que o seu rosto encantou o doutor. — Ela brincou indo até Caio e o observando.

— Por que você trouxe tantas coisas, Elisa? Não precisava disso tudo.

Observou as roupas de bebê, com alguns objetivos infantis, fraldas e roupas para Solare. Ela enfiou as mãos na sacola e ergueu um pacote de preservativo fechado, virando o corpo na direção de Elisa.

— Você ia conseguir onde? Pelo estado que lhe encontrei, não iria conseguir nem a fralda do meu filho. — Elisa disse encarando o bebê a dormir. — E que horas ele vai acordar? Quero constatar os olhos dele.

— E esses preservativos?

Elisa ergueu os olhos para ela.

— São para você. Certamente não sabe usá-los, já que teve essa gracinha aqui. — Abriu um sorriso e Solare revirou os olhos, voltando a guardar o preservativo na sacola. — Confia em mim, não confia?

— Pelo incrível que pareça, sim.

As duas sentaram-se no banco de espera, na sala particular.

— Os meus pais são pessoas más, Elisa. — Começou Sol. — Eles não me deixavam sair de casa na esperança de que eu nunca fosse dormir com algum menino. Quando completei dezoito anos, eles disseram que eu iria morar na casa de um homem muito bonito, um pouco mais velho que eu, que iriam resolver as nossas vidas para sempre ao ganhar uma grande porcentagem de dinheiro com isso. Tive que ficar ao lado de três garotas naquela enorme casa, mas quando descobri o motivo de estar lá, não tinha mais como fugir.

— Sol... do que está falando? Foi vendida?

— Sim. Tecnicamente sim...

— Que merdä de pais são esses? Isso não são pais, Sol, são piores que animais. Até animais são mais amorosos que esses... esses trastes. — Ela começou a berrar, indignada.

Solare começou a lacrimejar os olhos.

— O que houve depois disso? — Elisa perguntou, ainda assustada com tudo.

— As duas meninas foram dispensadas porque não eram virgens, eu fui a única que fiquei naquele lugar.

— O que fizeram com você?

— Eu tinha que engravidar, de um menino. Eu só tinha que dar o filho para o homem e eles me deixariam ir embora com uma abundante quantidade de dinheiro, para que eu nunca mais voltasse.

— Meu Deus! Sol! Que absurdo! Como isso existe nesse mundo?

Elisa segurou a mão de Solare.

— Tentei pedir aos meus pais para me tirarem de lá, mas eu estava com tanto medo que acreditei ser a única opção. — Choramingou, baixo. — Eu não impedi do homem me tocar, ele não me machucou, mas tive que permitir todos os toques nojentos dele...

— E quem é esse homem arrombado?

— Eu não sei. Ele estava com uma máscara quando teve relação comigo. Depois desse dia eu fiquei presa naquela casa todo o tempo depois que fiquei grávida, só vi ele quando decidiu tirar o meu bebê da minha barriga alguns dias atrás, e só de longe. — Começou a chorar. — Eu não consegui evitar e fugi na primeira oportunidade que tive naquela casa, todos estavam ocupados e eu simplesmente fui embora.

— Onde ficou depois disso?

— Na casa de uma mulher, abrigaram-me com todo carinho. — Contou. — Mas me encontraram e corri para a floresta. Eu me machuquei e a bolsa estourou, passei toda a noite sentindo dor. O dia inteiro no outro dia, até encontrar você. Deus me enviou você.

— Oh, Sol... meu Deus! Eu não sei o que dizer. — Elisa abraçou Solare com força. — Se eu encontrar essas pessoas que te deram a vida, vão rezar para nunca terem nascido.

— Nunca mais vi eles. Nunca foram me ver naquela casa. — Choramingou. — Fiquei sozinha, oito meses.

— Você tem alguém? Conhece alguém? Que não seja um imbecil!

— Não.

— Pois irá ficar comigo. Não vai para lugar nenhum com esse bebê, sozinhos nessa cidade gigantesca.

— Não quero atrapalhar você, nem o seu marido, ou a sua família. — Sol afastou-se, limpando as lágrimas. — Eu me viro sozinha. Dou um jeito.

— E eu lá tenho cara de casada, menina? Eu sou de todos. — Ela sorriu semanticamente. — Tenho um quarto vazio na minha casa, não é de rico, mas é espaçoso. Preciso de companhia mesmo.

Sol sorriu da forma engraçada que Elisa transmitia a sua opinião.

— Não vai ser nenhum incômodo? — Sol perguntou.

— De forma alguma! — Abriu um sorriso. — Venha, por favor. Te ajudo arrumar um serviço, sou boa na lábia.

— Eu vou sim, mas irei trabalhar e conseguir um dinheiro para ter o meu próprio cantinho. — Sol falou e Elisa fechou o rosto. — Não quero ficar parada também, vou realizar o meu sonho e cursar psicologia.

— Você já tem um futuro escrito nas mãos, eu gostei da sua determinação.

— Por tudo o que já vivi, pensar no meu futuro e agora o futuro do meu filho, é o meu o objetivo. — Ela disse, séria.

— Boa tarde, estou procurando uma moça de cabelo um pouco alaranjado. Ela é magra...

Uma voz masculina começou a dizer detrás da porta e Solare se ergueu, assustada e com o coração totalmente imobilizado pelo medo. Elisa logo fez o mesmo que ela, correndo até a porta e virando a chave, trancando-a de imediato.

Sol começou a chorar e correu na direção do filho, pegou-o no colo, com cuidado, e ergueu os olhos no rumo de Elisa, sem saber o que fazer naquele segundo. Ela sabia que estavam procurando por ela. Sabia que eles iriam em todos os hospitais possíveis até encontrá-la, para tirar o seu bebê dela, não deveria ter se acomodado naquele lugar por quase dois dias.

Olhou para os lados e não havia nenhuma janela que pudesse passar com o filho.

Ouviu o bater na porta do outro lado e tentaram abrir, mas estava trancada.

— Senhorita Solare, está tudo bem? Sou eu. — Eduardo falou, voltando a bater. — Não é permitido trancar a porta, senhorita.

— Se não é permitido, por que tem a chave então? — Elisa gritou.

— Abra, por favor. Preciso examinar o seu bebê. — Pediu.

— Ele foi gentil comigo, ele não é uma má pessoa. — Sol cochichou e Elisa negou.

— Ser gentil em São Paulo não é um bom sinal. — Ela disse. — E ele é gentil demais.

— Abra para ele. — Sol pediu, agarrada no seu filho.

Elisa virou na direção da porta, segurou firme a chave e abriu, com toda a rapidez que pôde.

Capítulo três

— O que houve aqui? — Eduardo perguntou ao entrar.

As duas entreolharam-se. Sol transmitia confusão e medo através dos olhos na direção de Elisa, então ela assentiu e voltou a olhar para o médico, que esperava atentamente pela resposta das duas.

Sol sentia tanto medo, com os olhos lacrimejados, segurando o filho nos braços com tanta força e determinação.

— Sol foi vendida pelos pais biológicos para mafiosos imbecis, para ela engravidar, depois ela fugiu com o bebê. Precisamos da sua ajuda para sair desse hospital por que eles estão aqui para tirar o nenem dela. Por favor. — Elisa despejou.

O médico arregalou os olhos.

Solare quase enfartou de medo.

— ELISA!

— Desculpa, Sol. Eu retiro o que eu disse sobre ele ser falso. — Elisa alfinetou.

— O quê? — Eduardo entrou, confuso.

— Precisamos sair do hospital, não posso deixar que levem o meu filho de mim. — Sol implorou na direção de Eduardo.

Ele sentiu medo no peito, pensando sobre as suas diretrizes que deveria seguir e regras de seguranças, mas também sabia a dor de perder um filho e nenhuma das suas diretrizes e regras poderiam salvar o seu filho.

Olhou para os olhos desesperados de Sol e assentiu, sem poder muito conversar.

— Venham comigo. — Ele chamou.

Elisa pegou as sacolas e segurou nas costas da amiga, caminhando na direção dos corredores dos hospitais. O meu de Sol estava inteiramente voltado para Caio, dormindo no mesmo colo como se nada tivesse a acontecer.

As duas estavam quase correndo, com os seus pertences pessoais e uma criança recém-nascida nos braços.

No final do corredor, observou um homem de costas, pedindo informações para a recepcionista. Mas assim que ela apontou na direção do corredor, as duas logo viraram as costas, no vislumbre de um pequeno segundo perturbador. O coração de Sol começou a diminuir os batimentos e por uma fração de segundos, imaginou o seu filho sendo levado para longe dela.

Os meios de tê-lo não foi perfeito, mas o tinha e o amava mais que qualquer coisa. Não imaginava ter que viver longe dele.

— Por aqui. — Eduardo abriu uma porta estreita e as duas entraram, rapidamente, aliviadas.

Logo ele ligou a luz e havia um pequeno corredor, com escadas para o térreo. Começaram a seguir o médico, convicta de que iriam conseguir passar por aquele dia.

Assim que avistou a porta de saída, Eduardo parou de correr e virou para as duas, especificamente para Sol, e pausou por um momento.

— Aqui é saída dos fundos, ninguém estará do outro lado. — Ele disse.

— Muito obrigada, Eduardo. Eu nem como agradecer. — Sol começou a falar, ainda agoniada. — Você salvou a vida do meu filho.

— A nossa, no caso. — Elisa passou as mãos sobre o peitoral, eufórica.

— Obrigada mesmo. — Sol abraçou o homem, de lado.

— Aqui. — Ele enfiou a mão no jaleco branco e retirou um pequeno cartão da mesma cor, erguendo na direção dela. — É o meu número particular, pode me ligar quando quiser.

— Eu...

— Ela vai ligar. — Elisa interrompeu abrindo a porta. — Vamos.

As duas correram para fora, observando o sol bater sobre os três. Poucos carros estacionados, então as deu a oportunidade de ir até o carro de Elisa e entrar.

O coração das duas estava a flor da pele, acelerados. Assim que deu partida no veículo, o corpo de Sol voltou a se aliviar. Abaixou os olhos para o filho e acariciou a pele sensível do mesmo, observando os dele abrir e mostrar os lindos olhos amarelados na sua direção.

O primeiro ato de Caio foi um pequeno sorriso de lado, inocente e transbordando uma fração de felicidade. No outro segundo, abriu a boca e começou a chorar, um pequeno e fino choro de um RN esfomeado. Sol abriu um sorriso e ergueu a mão esquerda, enfiando no vestido vermelho e deixando o seu sëio direito para fora. Cio sugou-o com vontade, enquanto ela sentia a ardência das suas sugadas.

— Eu havia visto isso apenas em televisão. — Elisa disse, depois prestou atenção no caminho.

— Nunca viu uma mãe amamentar?

— Já até fizeram, mas nunca prestei atenção. — Explicou. — Machuca?

— As primeiras sugadas, um pouco. — Sol sorriu. — Agora apenas um pequeno desconforto.

— Lucas suga o meu com carinho.

— Tem um filho? Você não me falou. — Sol abriu um sorriso.

— É o menino que estou ficando, sua maluca. — Gargalhou, olhando para o caminho.

— Você é imprevisível nas histórias. — Sol gargalhou também.

— Vai conhecer os meus amigos, não que eu tenha tantos. Vai se encaixar muito rápido. Ter uma vida melhor, seguir.

— Isso tudo graças a você, não se esqueça disso.

— Não esqueço, o meu cartão de crédito vai lembrar-me daqui trinta dias. — Brincou.

— Que eu vou pagar.

— Nada disso! É o meu presente para o Caio, pare de ser teimosa e egoísta e deixe que eu lhe ajude. — Berrou entediada.

— Você é uma ótima amiga, Lisa.

— Diz isso para os que me abandonaram, ninguém me suporta.

— Eu te suporto. — Sol observou os carros.

— Só me conhece há dois dias.

A avenida Paulista não estava atolada pelos manifestantes carros coloridos, vislumbrando as cores em branco, preto, cinza, vermelho, azul-escuro e até mesmo o amarelo toscamente. Paravam na faixa de pedestres educadamente, permitindo garotos com balas, picolé, doces e objetos artesanais nos braços, oferecendo para os motoristas sobrecarregados de serviços e problemas pessoas. Não chegam a ser cinco reais, vendiam metade em três sinais vermelhos e ganhavam o dia com aquilo.

Do outro lado da Avenida Paulista, a rua Santo António de Oliveira, onde situava o Hospital Salinas, tinha os seus visitantes encapados naquela manhã, trazendo consigo armas por trás dos paletós escuros e óculos pretos tampando os olhos.

Um passo, mais importante dentre os demais, batia o solado sobre o piso com tanta comodidade que parte dos que passavam por lá, mantinha os olhares sobre ele. O terno era bem-passado, de marca desconhecida para qualquer um que tentasse identificar, os óculos escuros impediam que observassem os seus olhos, enquanto caminhava na direção da recepção, austero, rígido e neutro.

Pousou um dos braços sobre o balcão e já tinha a atenção da recepcionista, vidrado nele e na sua pose rígida.

— Olá, senhor, como posso ajudá-lo? — Ela engoliu em seco, quase rasgando a sua garganta.

— Quero que me dê uma informação, sobre uma garota. — Ele começou a dizer. — Grávida, oitavo mês gestacional. Um dos meus homens identificou alguém parecida entrar neste hospital há dois dias.

— Desculpe, senhor, mas seguimos protocolos. Preciso de nomes, nada menos que isso, não terei como ajudar.

— Solare Campos. — Ele informou. — Tem dezoito anos, cabelo alaranjado.

A mulher levantou as sobrancelhas, surpresa. O homem percebeu a sua inquietação e ergueu os ombros, esperando por resposta.

— Ela está aqui, sim, senhor. Me lembrei agora. — Ela contou.

O homem prestou atenção, curioso.

— Irei chamar o médico que a atendeu...

— Não será preciso. — Eduardo apareceu na recepção, passando a mão pelo jaleco e enfiando as duas mãos nos bolsos da frente, erguendo os olhos na direção do homem de terno. — Como posso ajudá-lo?

— Estou procurando Solare Campos, grávida de oito meses.

O homem de terno ergueu a mão direita na direção do médico, que permaneceu sem mover um músculo, encarando-o.

— Dei alta nesta manhã, infelizmente o bebê não resistiu por falta de oxigênio no cérebro. O cordão umbilical estava enrolado no pescoço da criança. — Ele respondeu, mantendo os olhos retos no homem. — Sinto muito.

O homem fechou os olhos, indignado com a resposta.

Antes de virar as costas, olhou para o médico e esperou alguma ação dele, mas nada conseguiu.

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