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Mistérios Nos Meus Sonhos

Sempre o mesmo sonho

"Está chovendo muito.

Sinto gotas geladas molhar os meus cabelos e água escorrer pelo meu rosto.

Sinto sua mão quente segurando a minha enquanto andamos em direção aos navios.

Não me atrevo a olhar para frente, nem olhar em seu rosto pois não quero soltar minhas lágrimas, então sigo com a cabeça baixa, olhando o chão de pedra e meus pés seguindo com um passo após o outro.

Sinto minha garganta apertar... Eu quero falar... pedir que não me deixe... Mas meu orgulho não deixa minha voz sair.

Sinto sua mão apertar a minha cada vez mais forte à medida que nos aproximamos dos navios.

Meu vestido verde, encharcado, deixa minha pele fria como pedra, mas a sua mão me aquece.

Minhas lágrimas começam a cair só de pensar que em alguns segundos vai soltar minha mão e vou perder minha fonte de calor.

Não consigo controlar meus passos então paro... continuo ouvindo os passos corridos das pessoas em direção aos navios... ele solta minha mão e segura meus ombros. Gentilmente ele acaricia meus ombros e leva suas mãos em direção ao meu rosto, fazendo com que eu olhe bem fundo em seus olhos azuis.

Meu amor. Meu grande amor vai me deixar... Sinto que não vou vê-lo nunca mais... Tenho medo de deixar seguir seu caminho. Seguro o seu terno e tento aproximar seu corpo do meu, mas ele recua. Calmamente ele segura minhas mãos, leva em direção aos seus lábios e as beija lentamente, primeiro uma e depois a outra. Sinto seus lábios quentes na minha pele fria e as lágrimas caem com mais intensidade, não controlo minha respiração e o vejo se afastar lentamente em direção aos navios.

Um pouco mais longe ele vira e grita "Espere por mim". Eu caio de joelhos nas pedras frias das ruas e fecho os meus olhos enquanto meu amor acena sorrindo."

Acordo ainda com lágrimas nos olhos...

"Sempre o mesmo sonho?"

Eu sempre tentei entender porque tenho sempre o mesmo sonho.

A primeira vez que sonhei eu tinha 15 anos, agora com 33 esse sonho continua me perseguindo.

Enxugo as lágrimas do meu rosto e me levanto em direção ao banheiro. Lavo meu rosto e me preparo para ir trabalhar.

Não sou muito vaidosa, entendo que sou bonita mas não gosto de chamar a atenção dos homens. Tem sido assim desde que me divorciei há 5 anos.

Antes eu me arrumava, gostava de estar bonita para meu marido, mas por causa de uma traição nos divorciamos, e percebi que não valia a pena me esforçar para ficar bonita para outra pessoa, então decidi cuidar da saúde e deixar a vaidade de lado.

Escolho minhas roupas bem rápido, uma camisa lilás e terno feminino, ótimo para mais um dia no escritório de contabilidade.

Sou dona de um pequeno escritório de contabilidade, tenho poucos funcionários mas me ajudam imensamente, cuido da contabilidade da maioria dos comerciantes próximos, então tenho muito trabalho.

Não tenho muito tempo para mim, mas eu faço o que posso para me exercitar sempre que sobra um tempo e ler para exercitar minha mente.

Parece que hoje vou conhecer um potencial cliente que veio do Canadá. Estou ansiosa para está reunião.

Os sapatos roubados

Escolho meus sapatos e coloco dentro de uma segunda bolsa que carrego, tenho o hábito de colocar os sapatos assim que chego no escritório , aprendi que não devo andar de sapatos dentro de casa pois o barulho dos sapatos incomodam os vizinhos que moram no apartamento abaixo do meu, então vivo com meu bom e velho tênis de corrida.

Eu vivo num apartamento no quarto andar de um prédio no centro da cidade de São Paulo. É um apartamento grande mas a localização me incomoda muito. Antes de me formar na faculdade eu morava em uma casa na periferia da cidade, a casa tinha um quintal grande e brincávamos nas ruas com os vizinhos, agora nem vejo a cara dos vizinhos, nem os que vivem no mesmo prédio, e a vista que eu tenho assim que saio do prédio é da rua cinza e vários prédios em volta, pessoas sempre apressadas falando no celular e correndo para as escolas ou trabalho. Moro aqui desde que abri o escritório de contabilidade, minha intenção era estar mais perto do trabalho, já que andar de carro aqui é muito pior do que ir de metrô.

Desço as escadas de tênis para não incomodar os vizinhos, são 5 andares até chegar no térreo, não uso elevador pois gosto de sentir que estou exercitando meu corpo, os sapatos de salto preto na bolsa, não posso esquecer de estar bem apresentável pra reunião com meu "talvez futuro cliente".

Ao passar pela portaria, desejo bom dia ao porteiro, ele tem estado trabalhando com a gente há muitos anos, o senhor Roberto é bem simpático e trabalha com muita dedicação, sempre sorrindo espalhando uma energia muito boa em volta dele.

_Bom dia senhora Cristina!

_Por favor. Já pedi pra não me chamar de senhora!

_Atrasada de novo?

_Hoje não.

Sorrio para ele e saio com passos apressados, pois quero chegar cedo para me arrumar para receber o canadense.

Ando aproximadamente por 15 minutos até chegar na estação do metrô, como meus tênis são confortáveis, eu consigo descer as escadas correndo. Sei que não combina com o terno feminino que estou usando, mas não ligo pra isso, tenho mais preocupação em estar confortável e conseguir chegar a tempo no escritório.

Trem lotado de gente, passo por duas estações e chego ao meu destino.

Subo as escadas correndo em direção a lanchonete que costumo frequentar. É uma lanchonete antiga, o dono é um idoso português chamado Ferreira, um pouco rude mas não sei o motivo, eu gosto dele, todos os dias eu compro um café pra viagem e ele sempre reclama de eu não sentar no balcão para me alimentar direito.

_Bom dia Seu Ferreira, um café pra viagem por favor.

_Mas que raios não te sentas e come igual a todos?

_Pressa, trabalho, correria, rápido!

Sempre que brinco assim ele chacoalha as mãos e prepara o que eu pedi.

_Qual o almoço hoje?

_Nao sei. Porque queres saber se só comes salada!

_Ah seu Ferreira, hoje vou comer o que me sugerir .

_Ta aqui seu café, quero ver se vais comer mesmo!

Pago o café e saio apressada.

Quando desço o degrau pra sair da lanchonete olho para meus braços. "Onde está a bolsa com meus sapatos e maquiagem ? Só me faltava essa! fui roubada no metrô " O café ainda na minha mão e olhado em volta na esperança da minha bolsa aparecer milagrosamente na minha mão "Não posso me apresentar igual um fantasma". Minha pele é muito branca e reconheço as olheiras abaixo dos olhos, não poderia me apresentar assim para um futuro cliente, sem esquecer dos meus tênis velhos que não combinam em nada com meu terno feminino, pelo menos tenho uma escova de cabelo na outra bolsa.

Enquanto fico rodando igual uma doida na frente da lanchonete, escuto uma voz masculina falando comigo

_Isso é um jeito novo para esfriar o café ?

_Oi?

_Poderia me dar licença, por favor?

Olho pra ver quem está falando comigo e percebo que não o conheço, um rapaz alto, aparentemente um pouco mais jovem do que eu, cabelos lisos e um pouco longo, até a altura do pescoço, seus olhos puxados da pra perceber que tem parentes asiáticos e consigo ver uma tatuagem saindo do seu ombro em direção ao pescoço, a camiseta branca fica um pouco justa em seu corpo, apesar de ser magro da pra perceber os músculos dos braços bem definidos, sem perceber eu o estava olhando de cima abaixo, reparando cada pedaço do corpo e do seu rosto. Eu foco em seu rosto fico meio atordoada, por um segundo esqueci quem eu era e parecia que ele me olhava como se estivesse me reconhecendo de algum lugar. Quando voltei aos meus sentidos, dei um passo pro lado abrindo caminho para a entrada da lanchonete

_Ah. me desculpe

Falei um pouco sem jeito, mas continuei meu caminho sem acreditar que haviam roubado meus sapatos.

Daniel

Ao chegar no escritório , me deparo com Luciana, minha melhor amiga, ela esteve comigo em todos os momentos difíceis da minha vida, inclusive me deu total apoio quando precisei me divorciar. Luciana é uma mulher muito atraente, loira, alta e corpo escultural, ao contrário de mim ela é bastante vaidosa e está sempre vestida da melhor forma possível. Ela vem ao meu encontro encarando meus pés.

_Onde estão os seus sapatos? Você vai ter uma reunião daqui a pouco!

_Meus sapatos estavam em outra bolsa, eu acho que perdi no metrô.

_O que vamos fazer agora? Esses tênis velhos. Eu falo com o cliente!

_Não precisa. Eu fico atrás da minha mesa o tempo todo de qualquer forma. Só preciso pentear meus cabelos.

Passo pelos outros funcionários e entro na minha sala. é uma sala bem pequena mas posso receber um cliente e ter uma conversa com privacidade.

Passo os dedos pelos fios negros dos meus cabelos e prendo atrás em um rabo de cavalo. É o melhor que posso fazer no momento.

A reunião está marcada para as dez da manhã e agora são nove e meia. Uso o tempo que resta para relembrar sobre as necessidades desse cliente. A princípio ele vem do Canadá e está querendo abrir uma loja de roupas de esporte próximo ao escritório. Pesquisei sobre documentação necessária e capital inicial necessário para o empreendimento.

Luciana entra na minha sala aparentemente empolgada.

_Por favor. Me deixe cuidar desse cliente!

_Por quê?

_Ele está aí. Ele é um gato

Ela praticamente me puxa da minha mesa pelo braço

_Eu estou bem vestida, estou bonita, posso convencer ele.

Raramente fico nervosa, mas essas palavras de Luciana me fizeram ficar muito brava. Ao longo dos anos de amizade com ela, eu sempre me sentia inferior e ela sempre fazia questão de dizer que era mais bela, mais legal, mais simpática. Nunca me incomodei com esse comportamento, mas comecei a ter muitos problemas com minha autoestima, então resolvi dar um basta toda vez que ela tentava me diminuir.

Soltei meu braço das suas mãos com força. Ela se assustou com a forma que eu me soltei.

_Luciana! A questão aqui não é beleza ou simpatia. Você pelo menos sabe quais documentos necessários para abrir uma loja de artigos esportivos?

Meu tom de voz não é rude, mas também não é gentil.

_Eu não posso perder esse cliente. Depois que estiver tudo certo você pode cuidar das contas dele e dar em cima dele a vontade.

Falo enquanto abro a porta para que ela saia.

_E por favor peça pra ele entrar. Eu já posso recebê-lo

Ela sai visivelmente nervosa. Não costumo contrariar minha amiga, mas quando se trata de trabalho eu não deixo que nossa amizade interfira nas minhas decisões.

Volto para minha cadeira e continuo analisando os documentos.

_Senhora Cristina. O senhor Daniel.

Sinto o deboche na voz de Luciana mas finjo não notar.

Retiro meus óculos e olho em direção a Daniel

Fiquei surpresa por um instante, Daniel é o mesmo homem que estava em frente a lanchonete.

_Com licença. Sei que estou uns minutos adiantado, mas poderia me atender agora?

_Sim. Sente-se por favor

Eu me levanto e estendo minha mão na direção da cadeira à frente da minha mesa.

Assim que ele entrou, o cheiro do seu perfume invadiu minha sala, um cheiro sedutor meio amadeirado, fiquei imaginando como seria o cheiro ao chegar mais perto a ponto de tocar meu rosto em seu peito. Esses pensamentos por um momento tomaram conta da minha mente, foi um segundo que pareceu horas.

Ele pareceu não me reconhecer, então fingi não o reconhecer também.

Era difícil não olhar fixo em seu rosto pois ele é um homem muito bonito. Os lábios rosados mostravam dentes bem alinhados toda vez que sorria. Era difícil não ficar olhando sua boca, mas tentei focar minha mente no trabalho.

Depois de um pouco mais de uma hora de conversa, nós chegamos a um acordo. Ele agora iria assinar o contrato para que nosso escritório cuidasse de sua contabilidade e de toda a parte burocrática para abertura de sua loja. Por um instante me arrependi de ter prometido a Luciana que ela cuidaria das contas de Daniel, mas já havia feito e não poderia voltar atrás.

_Então Senhor Daniel. A moça bonita que te recebeu vai cuidar de tudo pra você. Ela é bastante competente. Mas qualquer problema pode vir até mim também.

Ele olha bem nos meus olhos com um sorriso nos lábios e diz

_Eu espero ter muitos problemas no futuro.

Ele se levanta e estende a mão para mim. Quando pego em sua mão ele segura levemente e impede de eu soltar minha mão da dele

_Aquela lanchonete onde nós vimos pela manhã. Sei que você almoça lá às vezes. Você vai almoçar lá?

_Como você sabe que almoço lá?

_Eu perguntei pra um funcionário de lá. Eu ia ficar lá no horário do almoço pra tentar falar com você, mas como estou aqui, e está próximo da hora de almoçar. Quer almoçar comigo?

Fico meio perdida sem saber o que responder. Foi tão repentino. Então ele me reconheceu. Sua mão ainda segura a minha e por um momento eu esqueço de soltar. Não respondo nada mas fico olhando meio confusa. Qual será a intenção de Daniel comigo?

De repente a porta abre abruptamente. Era Luciana

_Cristina? Está tudo bem? Vim me apresentar apropriadamente já que vou ser sua contadora.

Nessa hora nossas mãos se soltam com o susto. Ela entra e segue em direção a Daniel. Segura em seu ombro e diz

_O que você acha de almoçarmos juntos para conversar?

Ele sorri pra ela e em seguida me olha. Eu tento disfarçar o ciúmes, afinal acabei de conhecer e não deveria sentir ciúmes dele com minha amiga.

_Ótima ideia! Vocês devem se conhecer melhor para que possam trabalhar juntos. Vai ser bom pra vocês. Eu entro em contato quando o contrato estiver pronto.

Nesse momento eu caminho em direção a porta para que entendam que podem se retirar. Não consigo olhar para eles enquanto saem, então finjo estar fazendo uma ligação no celular.

Consigo perceber que Daniel me olha enquanto passa por mim.

_Até mais tarde Cristina.

Ele diz sorrindo enquanto passa por mim. Nessa hora consigo sentir seu perfume e sinto raiva por Luciana o estar levando embora. É um sentimento que se mistura com um pensamento de que isso é absurdo, afinal eu acabei de conhecer Daniel.

Quando eles saem, consigo ouvir a risada alta de Luciana. Não sei sobre o que estão conversando, mas sei que perdi o apetite.

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