Capítulo 1
Henrique
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Fale, se eu puder ajudar... - falei a encarando
- Tenho uma proposta para você, ofereço muito dinheiro em troca!
- Ok - falei um pouco mais interessado - tô ouvindo!
- Vamos nos casar!
- É o que garota? tá maluca? - perguntei quase gritando
- Xi... - falou ela e cobriu minha boca com sua mão - fala baixo
- Somos primos! - falei - não podemos nos casar! - Ela me olhou um pouco confusa e depois ergueu as sobrancelhas
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UM DIA ANTES DESSA CONVERSA
- Bom dia pai - falei entrando na sala do meu pai na delegacia
- Bom dia filho, entra! - meu pai Cass disse sentado em sua cadeira, afundando em papéis
- Alguma notícia do resultado da minha prova? - perguntei me referindo a minha prova de sargento
- Não filho! Sai só amanhã a tarde, não fique nervoso, tenho certeza que passou!
Os cabelos grisalhos dele, refletiam na luz do sol que batia da janela que estava atrás dele.
- Eu não teria tanta certeza! - falei ainda perto da porta
- Deixe de bobagem! Vi você estudando! Tenho certeza que passou! - falou ele
- Obrigado por acreditar em mim pai, mas agora tenho que ir. Surgiu algumas provas daquele caso do sequestro da menina! - falei a ele
- Claro, claro! vá! eu também estou cheio de trabalho, nos vemos a noite em casa! - ele disse e voltou a olhar seus papéis.
Saí dali e fui com os outros detetives ver o local com as novas pistas. Estava repleto de provas. Tinha sangue, tinham restos de comida espalhados, cordas, cadeiras... tinham saído às pressas com certeza. Coletamos tudo e mandamos para a verificação.
Fomos ainda em mais dois locais. Mas nada comparado com a quantidade de provas que tinham no primeiro local.
No fim do dia eu e Ronald, fomos a um bar beber, trocamos a farda por roupas simples na delegacia. Policiais no fim de dia de farda, eram alvos fáceis, a paisana era mais tranquilo.
- O que acha, passou na prova? - perguntei a ele
- Cara, espero que sim e você? Seu pai consegue te dar uma mãozinha se por acaso reprovar?
- Nem pensar! - falei e ri - o meu pai é o cara mais honesto que conheço, está no comando da delegacia a mais de trinta anos.
- Realmente, sempre ouvi falar que seu pai não é corrupto, nem por todo o dinheiro do mundo! Mas diz aí, por que seu pai nunca se tornou um comissário ou algo do tipo?
- Essa delegacia é a vida dele! - falei - meu pai deve amar mais a vida de policial, do que a família - eu disse e nós dois rimos
Seguimos por mais uma hora, jogando conversas fora, imaginando quais patrulhas iríamos comandar, caso tivéssemos passado na prova de tenente. Quando já era quase nove da noite, pegamos um uber e fomos para nossas casas.
Quando cheguei estranhei, tinha um carro diferente estacionado no gramado. As luzes de casa estavam quase todas acesas, no andar de baixo. Por via das dúvidas, peguei uma arma que eu deixava escondida na garagem e entrei. Assim que passei pela porta, me deparei com minha mãe Lize sentada no sofá, com uma mulher estranha ao seu lado e minha irmã Sandie do outro lado dessa mulher.
- Boa noite - falei entrando e coloquei a arma na minha cintura, a parta de trás da calça.
Elas me olharam e notei que a moça parecia ter chorado, ela não me era estranha. As três me deram boa noite.
- Cass, lembra da sua prima Wendy? - minha ficha então caiu, quando minha mãe falou o nome dela, fazia anos que eu não a via...
- Claro... - falei e me aproximei estendendo a mão, ela ficou de pé e me deu um abraço, esqueci de como os italianos gostam de um contato físico - como vai prima?
- Bem e você? - ela perguntou com a voz fraca
Sentei na poltrona, não podia negar, que queria saber o que ela fazia aqui e porque estava com essa cara, se o tio Nick tivesse morrido, minha mãe estaria chorando.
- Então, que que deu? - perguntei olhando para elas e entrelacei meus dedos
- Posso contar prima? - Sandie falou olhando para Wendy que acenou - acredita que o tio Nick quer casar ela com um estranho, para unir poder?
- Não me surpreende, não se pode confiar em quem vive à margem da lei - falei
- Não sabe nada sobre nós! - esbravejou Wendy
- Realmente, sei apenas o que meu pai me contou. Mas se fossem tão bons, você não estaria... fugindo? Certo?
Wendy me olhou com chamas nos olhos
- Filho, nos deixe a sós com sua prima, precisamos conversar mais com ela, quero ajudar no que eu poder! - falou minha mãe
Suspirei e levantei, já tinha descoberto o que eu queria mesmo, chororô era a última coisa que eu queria presenciar. Fui até a cozinha e encontrei meu pai bebendo whisky.
- E ai pai - falei indo até a garrafa de whisky que estava em cima da bancada
- Fala filhão, já soube a última do seu tio?
- Já! bem que você disse que ele não presta né!
- Olha realmente digo isso, mas sabe... a geração de vocês tá perdida! não querem mais casar nem ter filhos... sei que ele tá querendo casar a Wendy por questões de poder, mas casamento é sempre bom...
- iiiii nem começa pai - falei e tomei num gole só a bebida
- Sei que não quer falar sobre filho, mas sabe que tem uma herança bem gorda para herdar, se não casar, com certeza vai jogar todo o dinheiro do seu avô fora - falou meu pai sentado na bancada
- Dinheiro do tráfico de armas? Obrigado! - disse sentando em sua frente
- Pode até ser, mas para negar os milhões que seu avô deixou, só de você estiver louco
- Me surpreende você, que é tão honesto dizer isso pai
- Honesto sim, burro jamais! - ele falou e riu
**
Não consegui pegar no sono, pensando no resultado da minha prova, desci para tomar uma água e comer algo. Me deparei com Wendy dobrada, com sua bunda erguida para quem quisesse ver num micro short branco, olhando a geladeira.
- O que tá procurando? - falei desviando o olhar, nós éramos primos...
- Que susto - ela falou dando um pulo e eu acabei rindo
- Precisa de algo? - perguntei
- Sim... sumir do mapa - falou ela e suas feições se entristeceram
- Sabe, pode não ser tão ruim casar... - argumentei
- Ele tem mais de quarenta anos! - falou ela
- Eita... - falei e servi dois copos de whisky
- Sei que não somos íntimos e não nos vemos a anos... mas acha que poderia me ajudar? - perguntou ela pegando o copo que estendi a ela
- Olha - falei e respirei fundo - não sei bem como eu poderia ajudar, mas já pensou em dizer não para o seu pai?
- Não funciona assim na máfia, não somos cem por cento livres - falou ela e bebeu o whisky
- Ninguém é cem por cento livre priminha - eu disse e bati com meu copo no dela brindando
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Priscilla
Capítulo 2
Henrique
Wendy me contou mais ou menos por cima, sobre o seu noivo e de como seu pai queria que ela casasse com ele. Achei até estranho, porque apesar de tudo, sempre ouvi dizer que o tio Nick era super pra frente e cabeça aberta, casamento arranjado era no mínimo uma surpresa.
Depois de ouvir ela, fomos deitar. Eu mal podia esperar para saber o resultado da minha prova. Não consegui dormir a noite inteira, principalmente depois daquela imagem da minha prima com a bunda daquele jeito, tentei pensar em várias coisas diferentes, mas minha mente vagava entre o resultado da minha prova e aquela bunda...
Quando finalmente o meu celular despertou, levantei, tomei banho, vesti uma das minhas fardas e fui tomar café. Estavam todos na mesa.
- Soube que está para subir de cargo - falou Wendy comendo torradas
- Sim... - falei
- Que legal, meus parabéns - ela falou e achei um pouco forçado
- Vamos filho? - disse meu pai ficando de pé e passando suas mãos na farda dele, depois deu um beijo na bochecha da minha mãe
- Vamos! - falei e bebi de uma vez só meu café preto e quente.
Fomos juntos até a delegacia e quando meu pai estacionou o carro na garagem da delegacia eu perguntei:
- Acha um pouco suspeito essa história da Wendy e desse casamento?
- Acho! - ele disse simplesmente e desceu do carro
Então não era só eu.
**
A manhã pareceu levar uma eternidade para passar, quando finalmente chegou a tarde, eu fiquei atualizando o site da polícia o tempo todo.
- Vai arrancar essa tecla! - falou meu colega Jacob quando passou por mim, na minha mesa do corredor da sala
- Saiu! - gritou Ronald
Atualizei de novo o site e apareceu minha nota, tinha passado e ainda tinha tirado um nove.
- Isso!! - falei e olhei Ronald que estava com uma garrafa de champanhe na mão
Ele sacudiu a garrafa como se dependesse daquilo para viver, depois apertou a beira com o polegar e a rolha estourou fazendo um grande barulho na nossa sala. A rolha ricocheteou na parede e foi direto no vidro da sala do meu pai.
Um segundo depois ele surgiu à porta, com sua arma na mão, olhou tudo ao redor. Os policiais estavam disfarçando, como se estivessem lendo ou conversando. Apenas Ronald e eu estávamos com cara de culpados.
- Na minha sala, os dois, agora! - falou meu pai
Nós dois nos olhamos e caminhamos até sua sala, quando passamos por ele, meu pai fechou a porta e as persianas.
- Sinto muito senhor capitão! - falou Ronald em posição de sentido, sem olhar meu pai
- Sinto muito capitão! - falei, embora eu nem tivesse feito nada
- O que tá esperando para servir a gente? - disse meu pai ao Ronald e pegou três copos
Nós olhamos para ele e levamos alguns segundos para entender, depois Ronald sorriu e ergueu a garrafa para nos servir. Meu pai gostava muito dele, fomos criados juntos desde a escola, sempre ficamos um na casa do outro, depois decidimos entrar para a polícia juntos, o que não agradou muito o pai dele que queria que Ronaldo fosse médico ou advogado.
Depois de bebermos e comemorarmos quase em silêncio na sala do meu pai, vestimos nossas caras de tristeza e saímos dali. Todos olharam com pesar, achando que tínhamos levado o maior esporro, e que tínhamos sido suspensos, mas na verdade meu pai nos deu o dia de folga, para comemorarmos mais. E foi o que fizemos, ficamos até tarde na rua, bebendo e nos divertindo.
Nem sabia como tinha chegado em casa, ou como tinha ido parar no meu quarto, mas acordei certa hora da noite, como Wendy me cutucando.
- Preciso que me ajude! - falou ela baixinho
Esfreguei os olhos e notei que minha cabeça doía demais.
- O que você quer? - falei ainda sonolento
- Meu Deus, você ta fedendo a álcool! - disse ela
- Fala logo o que você quer uma hora dessa! - falei irritado olhando o relógio ao lado da minha cama, que marcava três da manhã.
- Meu pai está vindo! - falou ela e seus olhos se encheram de lágrimas
- E daí? - perguntei confuso
- Ele vai me levar para a Itália e vai me casar com aquele homem!
- Quer que eu entre numa briga com seu pai, meu tio mafioso, sendo que mal nos conhecemos? - perguntei sentando na cama
- Não precisa enfrentar, tem outra saída...
- Fale, se eu puder ajudar... - falei a encarando
- Tenho uma proposta para você, ofereço muito dinheiro em troca!
- Ok - falei um pouco mais interessado - tô ouvindo!
- Vamos nos casar!
- É o que garota? tá maluca? - perguntei quase gritando
- Xi... - falou ela e cobriu minha boca com sua mão - fala baixo
- Somos primos! - falei - não podemos nos casar! - Ela me olhou um pouco confusa e depois ergueu as sobrancelhas
- Você não sabe! - ela disse parecendo surpresa
- O que eu não sei? Do que você ta falando?
- Que Deus me perdoe por isso, mas já estou ferrada mesmo! - ela falou - ninguém nunca disse a você que é adotado?
Levei alguns segundos, ou talvez minutos, para assimilar o que ela tinha dito.
- Não fale besteiras! - eu disse irritado e fiquei de pé
- Desculpe ser eu a dizer isso, mas é verdade, toda a família sabe!
- Você só está desesperada! - falei, mas estava com medo
- Já viu fotos de sua mãe grávida de você? porque tenho certeza que ela tem fotos grávida da Sandie
Foi então que minha ficha caiu, realmente não haviam fotos da minha mãe grávida de mim, apenas da minha irmã. A Deus.... não era possível.
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Capítulo 3
Henrique
Eu fiquei com muita, muita raiva. Eu era adotado? Quem eram meus pais de verdade? Só podia ser brincadeira.
- Quanto? - perguntei a Wendy
- Te dou metade do dinheiro que tenho no banco, meio milhão! - falou ela
- Puta que pariu! Você tem um milhão no banco? - perguntei
- Sim... ser filha de mafioso tem suas vantagens! Vamos ou não? - perguntou ela e estendeu a mão
E eu fiz a coisa mais idiota e estúpida da minha vida, aceitei.
Combinamos de ir até Las Vegas e nos casar. Saímos apenas com a roupa do corpo. Eu sabia que iria me arrepender, sabia.
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20 horas depois.
Chegamos em casa e obviamente estava tudo um caos. O tio Nick estava lá, junto com meus pais e minha irmã, e eu tinha quase certeza que a baixinha que estava ao lado dele, era sua esposa.
- Onde vocês estavam? - perguntou meu pai sério, no meio da sala e todos nos olharam
Nem pude responder, o tio Nick veio caminhando a passos largos até nós, pegou Wendy do braço e falou:
- Onde você estava? Como pode sumir assim, no dia do seu casamento?
- Ela fugiu no dia do casamento? - perguntou minha mãe surpresa, pelo visto ela não tinha contado a ninguém
- Sim... infelizmente - falou a mulher baixinha
- Desculpe pai! Mas não ia me casar com aquele homem que mal conheço, para que seus negócios prosperassem! - Wendy disse e puxou seu braço
- Família tem que fazer sacrifícios menina! - disse Nick quase gritando com a filha
- Me solta pai! - ela disse e puxou o braço, Nick fez menção de ir para cima da Wendy e eu intervi, me colocando à frente dela.
- Nem pense nisso! - falei entre os dentes - ela é minha esposa agora!
Não era por isso que eu a estava defendendo, e sim porque ela era mulher e dez vezes menor que o Nick. Seria totalmente errado, nunca tinha ouvido falar desse lado dele, mas o que esperar de um mafioso?
Um silêncio completo se instalou na sala por alguns segundos até que Nick começou a rir e rir e depois gargalhou. Segundos depois ele ficou sério de novo e nos encarou.
- Para o bem de vocês, espero que esteja brincando! - Nick ameaçou
- Não faça ameaças ao meu filho, na minha casa Valente - falou meu pai e se aproximou de nós - mas eu também espero que estejam brincando! - ele disse nos olhando
- Para a infelicidade de vocês é verdade! - falei - como se sentem quando escondem algo de vocês? - perguntei olhando para o meu pai e depois para a minha mãe
Eles ficaram em silêncio e depois se olharam.
- Do... do que está falando Henrique? - perguntou minha mãe nervosa
Minha irmã que só observava na sala, se interessou no assunto e largou o celular.
- Nenhum de vocês vai nos lembrar que somos primos? Que não deveríamos ter nos casado? - perguntei ironicamente
Meu pai pegou Nick pelo braço e perguntou entre os dentes:
- Contou para sua filha?
Nick puxou o seu braço com força.
- Contei, a anos atrás! Nunca imaginei que ela iria abrir o bico e mais, vocês deveriam ter contado a ele desde sempre!
- Eu também acho! - disse Wendy
- Seu babaca - murmurou meu pai para o tio Nick
- Você não acha nada garota! Vamos agora desfazer esse casamento! - falou Nick a pegando pelo braço de novo, eu peguei o outro braço dela
- Solta ela, agora! - falei e a puxei para perto de mim
- O que? Vai me dizer que estão apaixonados agora é? - perguntou o pai dela
- Não! Éca! - falou Wendy
- O garota, eu to defendendo você! - falei a olhando e o seu pai a puxou de novo
- Solta ela, ou vamos ter um problema! - falou o Nick me olhando com raiva
- Que tipo de problema? - perguntei e saquei minha arma, que estava presa atrás, na minha cintura
- Henrique! - chamou minha mãe e correu para perto da gente - solte isso! Ele é seu tio! - falou ela aflita
Nick não abaixou a cabeça um minuto, não tirou os olhos de mim. Meu pai não disse nada e eu tinha quase certeza, que minha visão periférica tinha visto minha irmã filmando tudo no celular dela.
- Meu tio? - falei rindo com escárnio - ele não é meu tio, vocês não são meus pais... chega! To indo embora, Wendy, você vem comigo? - perguntei
- Vou - ela disse me olhando e puxou seu braço
- Você é corajoso moleque! - falou Nick estreitando os olhos
Entramos no meu carro e saímos daquela casa, eu precisava de um tempo de tudo aquilo.
- Se quiser conversar - falou Wendy
- Não, só quero ficar quieto! - falei e dirigi, tentando conter as lágrimas
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