Acordar, se arrumar, comer, sair para trabalhar, trabalhar, trabalhar... Voltar pra casa, dormir e esperar pelo próximo dia que sempre é igual ao anterior.
Théo já tem seis anos nessa rotina enfadonha, apenas por falta de opção e por ser grato demais aos esforços dos pais.
A pior parte pra ele é ter que aturar aquele povo todo da alta classe sendo gentil. Na cabeça dele não existe ricos humildes; apenas soberbos, arrogantes, metidos, etc.
Ele considera difícil a simples função de receber seu chefe com um belo e falso sorriso todas as manhãs, sendo que ele nem o suporta. Mas a quarta-feira é seu dia preferido por causa de uma coisinha: folga do homem que ele mais detesta.
Toda quarta, Jones, seu patrão, sai com uma garota diferente. Apenas pra mídia gravar e lançar por todas as partes. Theo até hoje procura a graça de ter uma namorada a cada semana, mas se falar em voz alta soa estranho, tipo: ele tem uma a cada semana e eu não tenho ninguém.
Então é por isso que ele prefere guardar todas as críticas em sua mente, é melhor assim. Porque se uma pessoa de baixa renda criticar um rico, ele está sendo invejoso. Mas se um rico criticar um pobre, ele tem completa razão e faltam pouco levantar uma estátua em comemoração a sua sábia atitude em humilhar uma pessoa "inferior" a ele.
Entretanto, tudo o que é bom dura pouco, assim como o atestado que Théo colocou na sexta e só vai até a terça. E pra piorar mais um pouco, hoje é terça, seu último dia "doente". Amanhã é vida que segue e ele que lute.
Como de costume, sempre um dia antes de trabalhar ele iria ligar pro seu irmão mais novo só pra reclamar do quão chato é seu patrão e mimado o sobrinho dele que só trabalha lá por causa do tio.
— É sério Lucca.. esse cara é insuportável— diz tão alto que do outro lado da linha, seu irmão precisou afastar o telefone.
— Para de reclamar tanto Théo, aposto que ele nem fez nada pra receber esse ódio gratuito.— Lucca responde de forma sensata como sempre.
— A existência dele me incomoda, isso já é o suficiente. E não só dele, do Jeff também!
— Não é não. Tenha a mente mais aberta... Você não deve odiar nem aqueles que te fizeram mal, a mamãe disse isso pra gente a vida toda. — Lucca sempre carregou consigo os princípios da mãe, até mesmo quando descobriu o que deixou o irmão tão machucado, ele continuou intacto com seus pensamentos.
— Como está indo seus estudos? Não quero saber de você bagunçando.— Théo mudou de assunto mais rápido do que uma vizinha indo ver a fofoca do dia. Ele não gostava de ter ser irmão caçula lhe dando lição de moral.
— Tudo certo... Ano que vem já é meu último no colégio, o que significa que vou poder ir morar com você e não em um dormitório. É tão solitário~ — ele murmura a última parte.
Desde que sua mãe e única responsável faleceu, eles tem vivido sozinhos, cada um em um canto. Théo mora em um apartamento na capital e Lucca no dormitório do colégio. A justiça não permitiu Théo ficar com a guarda do menino e ele tem certeza que foi tudo culpa do pai do irmão. O mesmo ganhou a guarda do adolescente e depois o colocou em um internato famoso no estado. Durante as férias, Lucca sempre preferia ir ficar com o irmão já que o pai o pegava nos finais de semana.
— Se seu pai deixar...
— Ele não tem que deixar nada. Eu já posso decidir sozinho.
— A justiça e o dinheiro dele não veem as coisas assim. — suspira— Lucca, a maioria dos ricos acham que o dinheiro pode comprar absolutamente tudo.
— Você nunca vai tirar ideias ruins sobre meu pai da sua cabeça?— seu olhar quebrado era deprimente, pena que seu irmão não estava vendo. Mas Théo já está cansado de ver ele se iludindo achando que o pai é um rei que ajuda a todos.
— Acho melhor você ir estudar. Tchau, outra hora te ligo.— Théo desliga sem nem dá oportunidade do garoto responder ou fazer qualquer outra coisa.
— Desde quando meus sentimentos são da conta dele!? Pirralho!— sorri. Ele é meio estranho nessa parte também. Nunca consegue ficar chateado com seu caçula. Ele entende que seu irmão guardou todos os princípios da mãe já que ela tinha mais tempo pra ele, e também sabe que sua mãe nunca guardou rancor do velho e babaca pai de Lucca.
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— Bom dia Hernández!— a garota da recepção o cumprimenta com um sorriso louco de tão brilhante e animado em plena quarta-feira.
— Théo. — ele corrige e não se demora a entrar no elevador.
Uma de suas regras principais é: não deixe todos saberem seu sobrenome.
Talvez seja um trauma de infância, vai saber. Ele apenas detesta que o chamem pelo sobrenome.
Saindo do elevador, Théo praticamente correu até sua mesa que ficava do lado de fora da sala do presidente da empresa/pessoa que ele mais detesta.
Enquanto organizava a agenda do "velhote", Jane, a estagiária chegou correndo feito louca e se debruçou sobre a mesa de Théo já anunciando: Babado!
— Você está estagiando como jornalista?
— Não estraga o momento e me escuta!— ele revira os olhos e faz um sinal com a cabeça — O filho do velho vai assumir no lugar dele!
— Quando?— pergunta com 0 interesse.
— Hoje! Agora! Já está lá embaixo!— ela estava tão ansiosa que Théo acabou rindo.
— Espero que ele não me faça marcar encontros pra ele igual o pai dele fazia.
— Deve ser legal isso...
— Não é! Um homem de meia idade com garotas de dezessete a vinte anos. Legal?
— Ok. Concordemos, isso é ilegal pra cacete.— eles riem um pouco antes de lembrarem de algo, o sobrinho do velho! — E o que vai acontecer com o Jeff? Todos acharam que o velho nem filho tinha...
— O que vai acontecer já não é problema meu, e nem seu por sinal.— corta ela que deixa um leve tapinha em sua nuca.
— Chato!
Enquanto a conversa rolava, o novo CEO da maior agência do estado e uma das cinco maiores do país, entrou cheio de glamour. Qualquer um que visse diria que tinha pó de fada em cima dele de tão brilhante. Lindo, jovem, alto, moreno, o homem perfeito.
— Bom dia. Sou o novo presidente, Dylan. — seu sorriso era tão doce quanto o cheiro de seu perfume.
— Bom dia!— ambos os funcionários respondem juntos. Como ali era o andar da sala do CEO, não havia mais nada além de uma mesa espaçosa que tinha dono, Théo. Jane sobe as vezes pra jogar conversa fora ou almoçar em paz.
— Espero nos darmos bem no futuro— diz revezando o olhar entre Théo e Jane, porém ficando em seu secretário.
Théo até corou, nada muito evidente, porém perto de Jane nada passa abatido. E o assunto do dia foi: a secada do presidente e as bochechas coradas do secretário.
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O resto do dia até que foi tranquilo. Dylan saiu ainda no início da tarde e Théo ficou assinando alguns papéis que não era da sua função. Mas como ele não quer ser demitido, preferiu ficar calado. Por outro lado, Jeff apareceu.
"Theo!"— ele chama animado fazendo o outro franzir o cenho — "Não me olha assim, eu fico tímidooh"— brinca e pela primeira vez consegue arrancar um disfarçado riso vindo dele.
Jeff nem se deu conta de que ficou encarando o rapaz por longos cinco minutos sem dizer uma palavra, apenas admirando seu belo rosto. Cada detalhe de Théo parecia ter sido esculpido por deuses. Seu nariz, lábios, olhos, até a sombrancelha que na maioria das vezes está franzida... absolutamente tudo.
"Jeff??!"— lhe bate com o papel que estava em sua mão.— "Você veio pessoalmente pegar o documento..."— agora ele estava em pé e claro que Jeff reparou mais um pouco nele.
Théo não é lindo só de rosto, mas sim de corpo todo. Jeff é o único diretor que na maioria das vezes perde a fala perto do funcionário. Ele o observa desde sua chegada na empresa, porém sempre o tratou normalmente, até sua admiração aumentar e ele começar a ficar sem jeito na frente dele.
"Eu livre estou"— fala mas logo se dá conta do que disse— "Digo... Eu estava livre, então vim aqui.."— pigarreia e ri docemente pegando os papéis.
"Hum.. Entendi"— cruza os braços assentindo — "E pede pro seu priminho parar de pegar documentos na sua sala e me dar só pra eu ter trabalho, não fez nem 24 horas que ele está aqui!" — diz com tanta indignação que ficou fofo.
"Então foi isso"— sussurra
"An?"— Jeff faz sinal de negação com a cabeça e se retira.— "Louco"— Théo diz baixo e sorri sem nem perceber.
°♡°♡Classe no Amor♡°♡°
Tem chefe que pede pra ser odiado e Theo cumpre com o desejo desses com o maior prazer. Ele abomina a maioria dos ricos. Os humildes e honestos Theo chama de fingidos, já os arrogantes ele diz que é normal "dessa raça". Seu antigo chefe, sr. Jones, era insuportavelmente chato e sem graça. Ele despedia qualquer um que dissesse um "a" fora de hora. Extremamente controlador com tudo. Se um funcionário atrasasse 2 minutos, recebia um corte no salário relevante a esses dois minutos (centavos no caso).
Finalmente ele saiu e entrou no lugar o filho dele. De primeira o rapaz parece gente boa. Foi educado com todos, saiu perguntando como o pai administrava o lugar e pareceu chateado quando disseram a forma de presidência do seu antecessor.
Théo quase caiu na lábia encantadora do seu novo chefe, ele foi educado e muito elegante. Com seu terno azul escuro e caro, cabelo curto, um rosto perfeito acompanhado de um sorriso hipnotizante. Cheio de charme falando com todos.
A melhor parte pra Théo é que ele não fica muito no escritório, então seu trabalho automaticamente é reduzido, e o que ele faz? Fica jogando ou apagando fotos antigas. Se a galeria tivesse efeitos, o dele seria teias de aranhas e poeira. Fotos antigas de quando ele usava gel no cabelo e colocava a língua pra fora na hora da selfie.
"Essas merdas deveriam ter sumido automaticamente"— murmura olhando pro celular.
"Nada some automaticamente, a não ser que mágica existe e ninguém me contou."— uma voz completamente diferente do comum que faz qualquer um querer ver o rosto do dono dela.
Théo lentamente olhou pra cima. Devagar, primeiro percebendo as mãos largas com dedos finos e elegantes apoiadas em sua mesa, em seguida foi subindo e subindo... até ver que na verdade é seu chefe. O "gostosão" do Dylan, como chama Lana.
Lana é a funcionária do departamento de RH, gente boa, um pouco vaidosa, humilde e com os cachos sempre bem definidos. Seu andar é o quarto, mas ela de vez em quando faz visitinhas a Théo, e com a chegada de Dylan, ela correu pra lá assim que pôde e deixou uma carreta de elogios pro novo patrão.
"Posso ajudá-lo?"— Théo pergunta depois de se recompor.
"Ah sim!— ele sorri e entrega uma pasta azul escrita na frente "ideias".— "Preciso que revise esses papéis e mande pro departamento financeiro."
"Mas essa função não é do setor administrativo?"
"Mas você não é meu secretário?"
Ele morde os lábios e sorri completamente forçado. Pelo menos o velho Jones não me obrigava a ler nada, só mandava pro departamento administrativo e tava feito. Théo pensa enquanto encarava com sangue nos olhos pro rapaz a sua frente.
"E não esqueça da reunião que temos que ir amanhã."— Dylan fala agora mais autoritário.
"Não era eu quem deveria cuidar da sua agenda?!"— por mais baixo que tivesse tentado falar, sua raiva não o ajudou.
"O que disse?"— pergunta de costas. Sua voz não emitia nenhuma emoção, ele parecia normal. Talvez não quisesse se estressar em seu primeiro dia.
"Não esquecerei."— Théo debocha.
Rir na cara do perigo. Isso é o que ele faz de melhor. Nunca ligou pra classe de ninguém, trata todos igualmente, quase todos. Seu desprezo por rico sempre o fez caçar amigos que fossem no mínimo classe média.
Ele também acha insano seu nojo por pessoas que nasceram em berço de ouro, mas é algo que nem ele entende. Sua mãe pedia que ele fosse a um psicólogo, mas seu orgulho é tanto quanto sua vontade de estar em um relacionamento. Sim, ele sonha com um relacionamento.
Uma vez olhando pela janela do quarto que dividia com seu irmão mais novo, ele viu uma estrela cadente e fez um desejo. Desejou que um dia fosse feliz com alguém que o amasse de verdade. A questão é, todos que se aproximam ele afasta. Foi o trauma que ficou depois do relacionamento de sua mãe com o pai de Lucca.
"Acredita que ele veio se meter nos meus assuntos?!"— começa a sessão de reclamações no refeitório.
Théo chamou Lana, Jane e Otto pro refeitório, apenas pra esvaziar sua mente. Como eles tem direito a quinze minutos de pausa, sempre se encontram no refeitório pra fofocar ou algo do tipo.
"No que ele se meteu?"— Otto questiona parecendo curioso.
Otto é o colega tímido por esse motivo se candidatou pro Departamento Tecnológico, claro que na verdade ele estudou pra isso, porém segundo ele, não é necessário ter tanto contato com os outros, então seu trabalho se torna mais prático.
"Nem lembro mais"— mentira. Lembrar ele lembra, apenas não quer entrar em detalhes.
"Então você está aqui. O que fazem?"— Théo nem viu quem era, apenas seu instinto falou mais alto e ele respondeu antes de qualquer um.
"Rezando o pai nosso pra ver se meu trabalho fica menos chato."
"Meu senhor... cala a boca Théo!"— Lana repreende e ele finalmente olha pra trás. Não que sua expressão tenha mudado, ele só se arrependeu.
Jeff, o rapaz que o admira muito e por sinal é diretor do Departamento de RH e primo do atual CEO. Ele nem se importa mais com as atitudes de Théo, agora só acha engraçado.
"Pois bem, continue rezando pra eu não esquecer de te pagar esse mês, ok?"— diz rindo e faz um joinha com a mão, em seguida sai.
Um dos poucos diretores que Théo "tolera". Não é nem 'gosta', mas ele tolera pelo menos. Jeff é amigável, jovem e recentemente os fofoqueiros de plantão descobriram que ele só estudou com o primo a pedido da mãe. Sem contar que seu cabelo é lindo, rosto, corpo, tudo. Homem ideal. Não tem muitos nessa empresa (que prestam), outra coisa que Théo nem quer entender, é só desgosto atrás de desgosto.
Mas enfim, essa empresa D.J.E é um lugar até legal pra quem tem sanidade mental.
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No seu horário de saída, infelizmente ele não estava saindo. Dylan lhe entregou uma pilha de papéis pra assinar, ele quer entender qual o motivo da implicância pro seu lado. Nunca xingou seu chefe, nunca tentou matar, roubar ou agredir seu antigo chefe.. Isso é ridículo ao ver dele.
"Você ainda está aqui?"
"Não, é sua imaginação."— de novo ele responde sem ver quem é, mas até que ficou tranquilo quando viu que era Jeff. Imagina só ele dar uma patada no Dylan.— "Desculpe"
"Já me acostumei"— ri deixando uma carta bem chique na mesa e entra na sala de Dylan.
Théo ficou com um pé atrás se pegava ou não a carta. Ele poderia deixar lá e se o outro perguntasse o porquê dele não ter pegado, ele só responderia: você não disse o destinatário.
Porém, seu maior defeito é ser curioso e ele pegou a carta. Lá estava um convite de aniversário muito bem feito por sinal.
"Não sabia que pessoas com quase trinta comemoravam aniversário..."— fala mais pra si do que pra alguém ouvir.
No final dizia: •Direito a levar um acompanhante.
•Só é permitido a entrada de quem estiver com o convite.
Ele não vai negar, se sentiu importante sim sendo chamado pra uma festa privada. Claro que ele vai disfarçar até o osso, mas gostou de ser convidado por Jeff. Durante esse tempo trabalhando nessa Empresa, ele nunca foi convidado pelos "maiores" pra alguma festa. Essa é a primeira vez que Jeff convida e eles começaram a "se falar" nesse ano.
Era algo difícil de acreditar, mas quando se acredita se torna uma sensação maravilhosa.
7 anos atrás
"Mãe... esse cara não é coisa boa.. a senhora sabe."— o jovem diz pela milésima vez desde que a mãe reatou o namoro com o ex-marido.
"Theo, ele é o pai do Lucca!"— a mulher diz isso toda vez que o filho entra no assunto.
"Mas não significa que você precise ficar com ele pro resto da vida!"— responde já alterado. Ele odiava ver a mãe sendo feita de palhaça, mas parecia que a própria gostava disso.— "Você está sendo feita de trouxa mãe! Já te disse que ele não te quer, ele não te ama, ele não liga pro Lucca!"
"Théo Hernandez!"— a mulher grita e seu rosto retoma pra uma expressão autoritária.— "Já sou grande o suficiente pra tomar as minhas próprias decisões. Apenas se concentre nos seus estudos e deixe que da minha vida eu cuido."— sai pondo um fim nessa discussão.
Sua mãe está com esse cara há dez anos. Se separou e agora estão voltando novamente. A pior parte disso tudo é que ela sabe que ele não presta, sabe que foi traída, já apanhou e foi humilhada publicamente, mas sua justificativa é que ela quer que seu caçula cresça com uma família "unida" no sentido de ter pai e mãe juntos.
Théo incansável vezes já tirou sua mãe da mão do seu padrasto miserável. A mulher nem pode dizer nada que é motivo de ser xingada.
"VOCÊ SENDO HUMILHADA E TRATADA FEITO LIXO VAI AFETAR BEM MAIS O LUCCA DO QUE UMA SEPARAÇÃO!"— ele grita pra ela ouvir de onde quer que esteja na casa.
Outro ponto que Théo odiava, a casa. Sua mãe o obrigou a ir pra casa do canalha já que agora eles voltaram depois de dois meses separados. Um lugar onde ele não se sentia bem e estava preparado pra ir embora. Só precisa que sua mãe lhe escute e deixe ele voltar pra casa antiga da família que é localizada em um bairro comum, porém ele já é familiarizado com todos lá, além de ser onde a casa de seu pai fica.
Depois desse dia, sua mãe não puxou assunto com ele sabendo aonde sempre iriam parar. Também não demorou muito para acontecer uma briga escandalosa, mas a diferença dessa para as outras era que Lucca presenciou e Théo não.
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Tempos Atuais...
"¡Cómo has crecido!"— Théo diz abusando seu irmão. Ele foi visitar o caçula porque não estava se aguentando de tanta saudade.
"Está testando meu espanhol? Pois saiba que estou sendo forçado a estudar três idiomas. No tengo tiempo para español."— Lucca brinca. Sua mãe era uma das maiores admiradoras do idioma e ela não tinha nenhuma ascendência estrangeira, só Théo.
"Fico feliz que está bem e estudando bastante. Não esqueça de beber água e..."— ele para ao ver os olhos de Lucca lacrimejando— "não esqueça que te amo neném!"— o puxa pra um abraço. Um daqueles abraços que a vontade de largar é 0.
O tempo que eles ficaram afastados foi suficiente pra fazer Théo querer cometer um crime, do tipo: fugir com seu irmão menor de idade. Ele ama esse garoto com todas as forças e queria sim poder criar ele.
É triste ver que todo o esforço de sua mãe para manter uma família aparentemente agradável e unida, não deram nem um pouco certo. Pelo contrário, fez tanto mal a Lucca quanto a Théo, porém o mais velho não a culpa. Ela queria dar para os filhos o que não teve, uma família.
"Théo... eu prometo que não vou ser igual o meu pai"— sorri entre lágrimas.
"Não vai, você tem meu sangue."— brinca enxugando seu rosto.
"Certo, certo..."— se afasta sorrindo— "Veio me visitar, tá apaixonado? Ganhou na loteria? Já sei! Você descobriu que tem um filho"
"Errou todas. E até parece que eu vou me deitar com uma mulher e não vou lembrar"— ri travesso.
"Desculpe, esqueci que você não gosta de crianças"— diz se sentando no banco que tem ali.
"Eu vim porque eu quis. Porém não posso demorar, vou embora ainda hoje."— justifica se sentando também.— "Afinal, vamos a uma festa nesse final de semana. Você não tem direito de negar e eu vou pedir diretamente ao seu pai."
Ele já não suportava a humilhação que passou pra pedir liberação hoje, mas se humilharia pro pai dele, só pra passarem um tempo zoando os estilos dos outros.. faria tudo pelo garotinho ao seu lado, tudo mesmo.
"Obrigado Théozito!"— Abraça bem forte o irmão. Por outro lado, Théo deu um peteleco no garoto e disse para não o chamar assim novamente, mas no fundo ele amava os apelidos vergonhosos que seu irmão lhe dava.. "Théozito" era o mais razoável.
Depois de ter passado um dia todinho com Lucca, infelizmente chegou a hora de ir embora, ele só não contava que seu carro quebrasse quando estivesse chegando perto de sua cidade.
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Com seu celular descarregado e carro quebrado no meio da estrada, Théo ficou sem saber o que fazer. Nunca esteve numa situação dessa e não fazia a mínima ideia de como iria parar um carro pra pedir carona ou pedir emprestado o telefone pra fazer uma ligação. E foi quando menos esperava uma ajuda, que apareceu.
"Pediu folga pra ficar observando o trânsito fora da cidade?"— aquela voz fez todos os pelos de seu corpo arrepiarem.
Ele hesitou em virar pensando nas mil possibilidades de pessoas e depois se culpou por ficar de costas pro lado que vinha os malditos carros. (tipo: os carros só estão indo por um sentido, e ele tava justamente virado pra esse lado. Ou seja, se um carro parar atrás do dele, ele não perceberia a menos que o motorista fizesse barulho)
Ao virar ele se sentiu tão aliviado que estranhou. Um embrulho na barriga. "Espero que seja fome", ele pensa.
Ainda não tinha se passado duas horas que ele estava preso ali. Dois carros pararam oferecendo ajuda, mas ele recusou por motivos desconhecidos ou apenas medo. Agora Théo finalmente estava a caminho de casa graças a seu... seu o que afinal? Quase chefe? Colega? Colega é estranho na mente dele. Ele recusou três vezes em entrar no carro do mesmo, no entanto, Jeff não desiste fácil e mesmo que ele não seja tão próximo de Théo, esse já é um passo pra se darem bem.
Dylan, seu chefe e primo do homem que estava lhe dando uma carona, está sentado bem atrás dele. O mesmo não falou quando ele entrou, e ele também não disse nada. Apenas agradeceu a Jeff.
"Hum... Como o seu carro quebrou?"— perguntou Dylan que estava o tempo todo no banco de trás com a cara no tablet. Ele não aguentava mais o silêncio.
"Se eu soubesse teria consertado." — curto e grosso ou apenas resumido, fica a critério.
"Bom... Você tinha muito tempo ali?"— Jeff pergunta pra quebrar o clima tenso que ficou após a resposta muito bem dada a Dylan.
"Não."— responde após um longo suspiro. Ele olha pra perto do volante e vê um carregador portátil. Como sua mãe sempre dizia: se precisar e for urgente, peça. Assim ele o fez.— "Posso?"— Jeff e Dylan olham pra ele e seguem os olhares até onde seu dedo apontava.. Ao ver que era o carregador, o motorista apenas assentiu.— "Obrigado."
Agora um questionamento na cabeça de Théo é: sua mãe lhe ensinou isso pro caso de precisar de algo ou ir ao banheiro? Bom, o que importa é pôr em prática.
Pelo menos com meu carro quebrado significa que vou de ônibus, melhor ainda! Vou chegar tarde e dizer que a culpa foi do ônibus que deu uma longa volta no bairro. Se eu atrasar demais, ponho a culpa no trânsito. PERFEITO!— Rapidamente Théo sai dos seus devaneios ao perceber que estava quase sorrindo pensando em futuras mentiras com seu patrão perto de si.
"Onde você mora?"— Jeff pergunta diminuindo a velocidade do carro.
"Eu posso ir daqui. Muito obrigado!"— agradece sinceramente achando que iria descer, mas Dylan que parecia querer provocá-lo disse 'levaremos você'. Ele nem está dirigindo!!
Theo como um ótimo ser humano, porém, uma péssima pessoa paciente, passou a viagem toda suspirando e batucando os dedos na janela, uma mania que ele tem quando está desconfortável ou estressado.
"Você suspira tanto que chega a ser preocupante."— Dylan solta uma leve e dócil risada. Jeff estaciona o carro de frente ao prédio e observa Théo sair.
"Eu... eu... tchau, obrigado."— Théo sai sem nem pensar duas vezes, porém para ao ouvir seu nome ser chamado. Hesitante em virar ele acaba fazendo e vê o lindo e gentil Jeff segurando um cartão na mão.
"O número da mecânica que pegou seu carro."— sorri. Seu sorriso era tão lindo quanto seus olhos, e seus olhos tão lindo quanto seu sorriso... Théo pegou com sua atenção fixada ainda nele. Quando Jeff acenou e se ajeitou no carro, finalmente o outro despertou do seu transe e correu pra casa com a mão dando leves tapas em seu rosto.
Não é hora de achar ele legal, bonito, maravilhoso, cavalheiro, inteligente... não, não e não!!!
"Théo", ele começa sua conversa consigo mesmo. "Ele é praticamente quase seu chefe. Não goste dele. Um convite pra festa de aniversário não significa nada, certeza que ele convidou outros... E você nem sabe do que ele gosta! Não pode se apaixonar, nem gostar!", suspira pesado se jogando no sofá. "Sabia que essa história de suportar alguém não daria certo..."
De tanto reprimir seus sentimentos, acho que agora eles vão acabar se governando por conta própria...
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