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Você: Meu Passado E Futuro

Capítulo 1 — Destino

Há quem diga que tudo na vida tem um propósito e que  já foi escrito para acontecer antes mesmo de você sequer nascer. Não tem como negar que na vida realmente há muitas coincidências, algumas que são até consideradas irreais por conta do acaso. Oliver Florence, nunca acreditou muito em destino ou predestinação, simplesmente achava o mundo mesmo sendo uma grande bola flutuante no meio do espaço sendo o terceiro planeta do sistema solar que não fica muito perto do sol e nem muito distante, exatamente no local perfeito para ter água, luz e vida. Isto para o Florence, era apenas uma grande coincidência.

A chuva também era uma coincidência para ele, principalmente naquele dia que tinha se irritado com seus pais e decidiu estudar um pouco fora de casa, sem precisar ouvir críticas sobre a forma que estudava. Bem, ele esperava muita coisa, até cogitou um sequestro, mas estava longe de pensar sobre um fenômeno natural. 

Com a chuva molhando suas roupas, seu corpo e seu material de estudo, decidiu parar em uma cafeteira pequena para poder esperar a chuva passar.

— Seja bem-vindo! — A voz junto com um sorriso de uma das baristas foi a primeira coisa que Oliver viu que sorriu de volta. 

— Eu gostaria de um macchiato, por favor. — Pediu com a gentileza que todo Florence tinha na frente dos outros, afinal, aulas de etiqueta era uma das trezentas coisas que todos daquela família precisavam fazer. 

A mulher assentiu. O ambiente era um pouco menor do que as cafeterias que ele costumava a ir, mas era bem mais agradável, o espaço tinha algumas mesas e cadeiras tão limpas que dava para ver até o próprio reflexo. Ali havia pelo menos três pessoas: um casal de namorados que estavam a conversar apaixonadamente e uma senhora velhinha que olhava para a janela, admirando a chuva. Fora isso, atrás da bancada onde preparavam o café tinha a barista que atendeu o pedido de Oliver e um rapaz que parecia estar quase dormindo.

Oliver se sentou em uma das cadeiras, colocando seu material de estudo sobre a mesa. Estava realmente exausto de estudar, não importava quanto tentasse, parecia que nada entrava em sua cabeça, e com seus pais falam o tempo todo sobre o melhor método de aprendizado, deixou-o estressado a ponto de sair de casa.

— Aqui seu macchiato! — A mulher entregou o copo de provavelmente 500 ml. 

— Muito obrigado. — Ele agradeceu já tomando um gole do macchiato. Oh! Isso está muito bom. sorriu com o pensamento, fazia um tempo que não tomava um macchiato tão bom quanto aquele, já que nas cafeterias que frequentava era mais comum usar leite de amêndoas o que deixava com um gosto não tão bom.

Como o lugar era pequeno, dava para escutar sonoramente a conversa das pessoas daquele lugar, não que Oliver fosse um fofoqueiro.

— Estou atrasada para buscar a Maeve na escola, você pode me cobrir? — A tal mulher que tinha lhe entregado o café falava para o rapaz atrás do balcão que suspirou alto.

— O que você não me pede sorrindo que eu não faço chorando? — O rapaz respondeu, enquanto a mulher tirava o avental do trabalho.

— Então eu vou te pedir chorando para que você faça sorrindo. — Ela brincou colocando o avental pendurado em um cabideiro de parede. — Já disse que você é o melhor? 

— Não, você nunca disse. 

— Que bom, pois seria mentira da minha parte. — A mulher riu antes de sair pela porta atrás da bancada, evitando-a de olhar o dedo bem feio que o rapaz tinha mostrado a ela.

Oliver riu baixo com o que ouviu. Queria ter amigos assim, as únicas pessoas com quem convivia era os filhos dos amigos de seus pais que só sabiam falar de coisas fúteis como: quantos seguidores eles tinham no Instagram, Twitter, Tik Tok, ou então falava sobre as roupas que queriam comprar de lojas famosas e caras e para quais as faculdades os pais deles tinham conseguido vagas para eles. 

Não sabia o que era uma amizade verdadeira e até invejava isso nas pessoas, pois parecia ser um sentimento muito bom.

— Gostaria de mais um macchiato? — O rapaz que a momentos atrás estava atrás do balcão, agora estava ao lado de sua mesa.

Oliver tinha gostado tanto do macchiato que nem percebeu que já tinha tomado tudo. Pensar sobre as coisas lhe estressava e um macchiato bem preparado tirava isso.

— Oh! Não, muito obrigado. — Sorriu para rapaz, voltando ao olhar seu caderno de estudo, suspirando fortemente.

— Muitas aulas na escola? — O rapaz perguntou, tomando a atenção do Florence novamente. 

— Já me formei, estou estudando para prova de admissão na universidade. — Oliver falava como se fosse algo simples. Talvez fosse para ele, mas o rapaz ficou chocado com as palavras dele, não sabia o que elas significavam, mas julgava ser algo bem difícil.

— Vejo que você não é daqui da cidade. — O rapaz pôs um sorriso ladino no rosto. 

— O que denunciou isso?

— Começando que ninguém vem à cafeteira para estudar. — O rapaz explicou rindo fraco. — E bem, eu conheço todo mundo daqui e eu nunca vi você. 

— Eu poderia ser um morador novo. — Oliver retrucou. — E como você conhece qualquer pessoa dessa cidade? Você por acaso é o prefeito?

— Eu moro aqui desde pequeno, conheço cada pessoa que já morou e que veio morar aqui. — O rapaz se sentou à sua frente. Oliver nem ligava mais para seu trabalho, conversar com o rapaz um pouco prepotente era mais divertido. — O casal ali, Nicholas e Hannah, se conheceram na escola e estão juntos desde então. Vêem aqui constantemente sempre pedindo as mesmas coisas, um latte macchiato e um ice americano. Se eles estão brigados, ambos pedem um café puro. — Ele segredou. — A senhora ali, seu marido morreu há dois anos, eles sempre viam para tomar um capuccino durante dias de chuva e o marido dela adorava enfatizar que ela era tão doce quanto aquele capuccino.

Oliver olhou para as pessoas que o rapaz falava. Nos copos mostrava uma etiqueta falando qual era a bebida que estava no recipiente. Na da senhora estava escrito capuccino e no do casal latte macchiato e ice americano.

— Bem… como posso ter certeza que você está falando a verdade e não inventando isso? — O Florence cruzou os braços. 

— É, de fato, não tenho como provar isso. — Ele deu de ombros.

— Ou você é um péssimo mentiroso ou não sabe defender os próprios argumentos. 

— Confiança não é algo intrínseco entre seres humanos. Confiança é algo que se conquista, então devo conquistar sua confiança para que você acredite em mim? — Indagou arrumando o cabelo. Oliver começou a reparar bem no rapaz, embora ele fosse bem mais alto ele aparentava ter a sua idade, dezoito anos, cabelos negros como a noite, assim como a cor de seus olhos que pareciam estar cansados, levando em conta o horário de nove da noite, provavelmente trabalhou o dia inteiro. Sua pele era alva como a neve, com apenas os lábios com uma cor diferente, sendo bem rosado. 

— Se eu souber o seu nome, quem sabe eu possa confiar em você.

— Meus amigos me chamam de Kai. — O rapaz de cabelos negros sorriu, esticando a mão. — E você?

— Oliver. — Ocultou falar seu sobrenome, não queria parecer esnobe aos olhos de Kai. Segurou a mão dele que estava bem quente, talvez por estar sempre mexendo com altas temperaturas do café. — É um prazer lhe conhecer, Kai.

— Igualmente, Oliver. — O Florence estava para soltar a mão de Kai, mas ele segurou mais forte, aproximando-a de seus lábios e dando um beijo nas costas de sua mão. — Mas o prazer eu planejo ter só mais tarde.

...***...

Oliver sabia que era loucura o que estava fazendo, mas afinal, quem aguentava ser o menino de ouro todo santo dia? Uma loucura uma vez na vida não o mataria. Bem, ele nem sequer conhecia Kai direito, então era um tiro no escuro, no entanto, não conseguiu não se deixar levar pelo sorriso estonteante do rapaz, sua boa lábia e seu beijo que se tornou um novo vício para o Florence. 

Depois de Oliver ter esperado Kai até ele fechar a cafeteira, ele o convidou para seu apartamento, aparentemente sem nenhuma segundas intenções, pois alegou que só queria conhecer o “novo morador da cidade”. Claro que não chegaram nem a trocar três palavras sequer.

Assim que o Kai abriu a porta, puxou o Florence para dentro do apartamento. Assim que fechou a porta trouxe o pequeno corpo para perto de si e a beijou desesperado. Oliver retribuiu seu desespero, pois se encontrava igual a ele. Empurrou ele até a parede, a pressionando com seu corpo. O acastanhado gemeu entre o beijo quando sentiu o volume de Kai em sua barriga. Passou suas mãos até barra da camisa preta do de cabelos negros e a puxou para cima, ele levantou os braços para ajudá-lo.

Sentiu suas mãos formigarem ao tocar o peito nu e musculoso do maior. Enquanto Kai teve que interromper o beijo para suspirar e recuperar o ar. Atacou o pescoço macio do Florence querendo senti-lo ainda mais. Era insuportável o calor que sentiam, mesmo tendo saído de uma forte chuva que ainda caia do lado de fora. Quando perceberam já estavam na cama de Kai e Oliver já estava sem sua blusa. Kai parou para admirar a visão do peito desnudo e molhado por causa da chuva, ele não chegava a um terço da musculatura do rapaz, mas para Kai aquilo era a visão do paraíso.

Subiu as mãos até os mamilos rosados de Oliver e os apertou delicadamente, mal ele sabia que era um ponto muito sensível para o Florence que fechou os olhos e levou a cabeça para trás, contendo um gemido.

— Kai... — Murmurou mordendo os lábios. Não sabia o que o rapaz que mal conhecia estava fazendo com ele, mas sentia seu corpo pesado, como se não tivesse forças para levantar, a cada toque em seu corpo o fazia sua mente ficar em branco, simplesmente aproveitando o prazer que estava sentindo naquele momento.

O de cabelos negros puxou sua calça bege da Balenciaga para baixo, odeixando somente de cueca. Se deitou sobre ele para beijá-lo e foi muito bem recebido. O acastanhado passou os braços ao redor do pescoço do maior, o puxando para mais perto.

Soltou um suspiro quando ele roçou seu pau sobre sua intimidade, um frio passou pelo seu corpo, o deixando inteiramente arrepiado. Desceu uma mão pelo abdômen de Kai, raspando suavemente as unhas em sua pele, até a calça do mesmo, na intenção de tirá-la. Ao sentir a mão delicada de Oliver em seu membro latejante, o fez parar o beijo para arfar. Beijou a clavícula nua, marcando-a, enquanto ele abria o zíper de sua calça.

Ajudou o Florence se levantando e tirando totalmente o tecido, ficando somente com uma cueca que deixava bem marcado o volume de Kai. Se sentou na cama o puxando para seu colo, o contato fez ambos suspirarem. O rapaz o beijou com um desejo selvagem, enquanto ele rebolava em cima do seu membro ereto.

Ao menos tempo em que era prazeroso, era uma tortura. Oliver sentia sua intimidade latejar, fora seu membro enrijecido que também pulsava por mais um contato. Nunca tinha se sentido assim. 

— Oliver. — O chamou colocando suas mãos em seu quadril, o forçando mais em cima de si.

— S-sim? — Perguntou contendo um gemido forte, tendo que morder sua própria bochecha para isso. 

— Tem camisinha na gaveta. —  Disse com uma voz grave, parecia com dor. Era muito bom tê-lo em cima de si, mas aquela tortura estava o matando.

Rapidamente o Florence se esticou para abrir a gaveta ao lado, pegou a embalagem e voltou para cima do batista, que soltou um suspiro pesado. Abriu a embalagem com os dentes, sendo observada por Kai que pensava em como ele conseguia ser tão sexy.

Puxou a cueca para baixo, fazendo o membro saltar completamente duro. Oliver engoliu seco pensando que realmente tinha chegado a hora. Kai viu que ele ficou pensativo e levou a mão até o rosto do menor, erguendo-o para olhar para ele.

— Você pode desistir se quiser. — Disse, mas desejou profundamente que ele continuasse, pois era doloroso demais só de pensar nele se afastado dele.

— Eu não quero. — Afirmou confiante.

Kai, já controlado pelo desejo, o deitou na cama ficando em cima do pequeno corpo novamente. Tirou o resto da cueca e colocou a camisinha, sendo observado dessa vez pelo acastanhado, que mordia o lábio em expectativa.

Se posicionou entre ele e tirou a última peça que faltava, fazendo o membro pular para fora do tecido, a glande já molhada com o pré-gozo. Viu que Oliver procurava algo para apertar, já que sabia que doeria, e lhe entregou sua mão para apertar. 

Com os dedos entrelaçados, eles transaram. Seus corpos pediam mais e mais contato, pareciam que encaixavam tão bem que fossem feitos um para o outro, era como uma peça que faltava da vida deles que tinha acabado de se encaixar perfeitamente.

Após ambos chegarem ao ápice, eles se encontravam exaustos, suados, mas felizes. 

— Só pra caso você interprete errado, eu não sou o tipo de pessoa que dorme com qualquer um. — Oliver falava enquanto sua respiração voltava ao normal. 

— Eu também não, até porque te convidei para cá para a gente se conhecer. — Kai brincou, tirando alguns fios de cabelo grudados na testa de Oliver, por causa do suor. — Mas você logo foi me atacando.

— Mas que mentiroso. Você que me beijou primeiro. — Oliver sorria descrente. 

— E você continuou, então você tem culpa também, senhor Oliver. — Kai se aproximou dos lábios dele, dando um selinho nos mesmo. O Florence sorriu ainda mais.

— Ah! Meus pais devem estar quase ligando para a polícia nessas horas. — Oliver deitava de barriga pra cima, olhando o teto branco do quarto de Kai.

— Você não é menor de idade, não né? Não quero ser preso.

— Eu já falei que eu me formei, como eu poderia ser menor de idade?

— Sei lá, vai que é aqueles gênios que terminam a escola com dez anos. — Kai falava atraindo altas gargalhadas de Oliver. 

— Você é inacreditável! — O menor falou ao conseguir parar de rir um pouco. 

— Eu sei! — Brincou. — Mas vai, me conta de você, pois até agora tudo que sei é que você tem uma boca deliciosa.

Assim que terminou de falar, recebeu um leve tapa no ombro. 

— E você eu sei que é um pervertido. 

— Não com todo mundo. Só com os mais bonitos. — Piscou para Oliver que deu mais um tapa, um pouco mais forte dessa vez.

— Você não sabe parar de flertar, né? — Oliver riu baixo. — O que você quer saber de mim?

— Tudo que você quiser me contar.

— Bem, eu estava brincando sobre ser um novo morador da cidade, na verdade, eu nem sei como vim parar aqui. Briguei com meus pais e saí de casa para espairecer a cabeça, mas não podia ir para nenhum lugar conhecido ou eles iriam atrás de mim só para continuar brigando. — Oliver suspirou, olhando de relance para Kai que tinha a atenção toda nele, praticamente vidrado em seu rosto e em suas palavras. 

— Você não tem uma boa relação com seus pais? — Perguntou estendendo a mão para fazer uma carícia nos braços desnudos do Florence. 

— Não diria que é ruim. É só que… — Respirou fundo, falar de seus pais era algo um pouco complicado. — Eles são pessoas difíceis de lidar. Sabe, não são os pais mais afetuosos, para eles um bom dia e uma mesada é o suficiente para seu único filho os amar incondicionalmente. — Virou sua cabeça para encarar Kai, ainda estando deitado de costas na cama. — Eles nunca deixaram faltar nada, mas também nunca perguntaram se eu estava bem, eles nunca me abraçaram e sequer lembram do meu aniversário. Para eles, eu sou só um instrumento para ser um futuro empresário e que todos os meus sentimentos são fúteis, pois isso não serve para o meu futuro. Ah, meu Deus! Desculpa, eu falo demais.

Kai sorriu.

— Não se desculpe, eu gosto da sua voz. 

Foi a vez do Florence sorrir. Não tinha muitas pessoas para desabafar e quando alguém lhe dava uma pequena abertura para falar, falava descontroladamente, então ficou bastante contente por não ser repreendido por falar demais.

— Imagino que deva ser difícil. — Kai levou às mãos que, momentos atrás estava nos braços do acastanhado, até a cabeça dele, afagando-a. — Mas o que te faz feliz?

Oliver arqueou as sobrancelhas com a pergunta vindo do nada, pois nunca haviam perguntado isso a ele, nem mesmo seus próprios pais.

— Bem, eu gosto de cuidar de animais, meus avós tem uma fazenda e toda vez que vou lá cuido dos animais com eles. Já pensei em ser veterinário, mas meus pais querem que eu siga os passos da família e blá blá blá. — Oliver riu quando terminou de falar. 

— Como eles podem decidir algo por você? É a sua vida.

— Se fosse tão fácil assim… 

Oliver virou a cabeça para o outro lado. O Florence estava longe de ser a pessoa mais corajosa do mundo, não imaginava enfrentar seus pais, mesmo que fosse seu futuro. Menos confusão melhor. 

— Já foram dezoito anos deles controlando a minha vida, agora já é tarde demais para querer tomar algum controle.

— Isso é ridículo. Como pode deixar as pessoas ditarem o que você deve ou não fazer?

— Se tornou um costume já.

— Ninguém deveria se acostumar com algo assim. Você já é um adulto agora, faça que nem eu e viva sua vida para si mesmo, sem depender dos outros. — Kai falava sério. 

— Deixa isso pra lá… eu nem deveria ter falado isso. 

O silêncio se fez presente no quarto por alguns minutos, mas diferente do que pensavam, não era constrangedor, levando em conta que eles ainda estavam nus sobre a cama.

— Me conta de você. — Oliver quebrou o silêncio virando novamente sua cabeça para Kai.

— Quem sabe na próxima vez eu conto sobre mim. — Kai sorriu travesso. 

— Presunçoso da sua parte achar que terá uma próxima vez. — Oliver riu. 

Kai se aproximou de Oliver, puxando fortemente sua nuca parando por um segundo antes de roçar suas bocas de leve, mais como uma provocação eficaz. A palma da outra mão rapaz deslizou pelas bochechas totalmente coradas do Florence e parou também na nuca junto com sua outra mão e já não aguentando mais o acastanhado iniciou um beijo sedento, mas ainda assim contendo uma serenidade instigante. 

— Eu tenho certeza que terá uma outra vez. — Falou assim que seus lábios se separaram, sorriso ladino. — Devo dizer que foi realmente um imenso prazer lhe conhecer, Oliver.

— Digo o mesmo, Kai.

Oliver certamente não acreditava em destino, mas naquele momento pode sentir no fundo de seu coração que se destino existisse, certamente eles foram destinados a  se encontrarem.

Capítulo 2 — Conexões

Ser alguém que mesmo estando na adversidade, ainda encontra um motivo para sorrir, era difícil. No entanto, Kaihin era essa pessoa. Não diria que não era sentimental, mas tudo que já tinha passado o fez ficar distante de ser alguém que confiava fácil ou demonstrava afeto. Até mesmo nas piores dores, conseguia sorrir e fingir que nada aconteceu.

Por isso, se apaixonar estava fora de cogitação. Não era algo que se orgulhasse, até sentia um pouco de inveja de casais como Nicholas e Hannah que pareciam ser muito apaixonados um pelo outro a ponto de fazer de tudo para o outro ficar feliz. 

É, realmente, Kaihin nunca conseguiria se ver nessa situação. Ele era conhecido na cidade como “príncipe de gelo”. Quem deu esse apelido foram as pessoas da sua cidade para dizer que o mesmo não “vale nada” ou então só iria se importar na noite que passarem juntos, sendo que isso não é bem verdade. A questão era que nasceu em uma cidade pacata e monótona, queria se divertir um pouco.

Porém, que raios deu na sua cabeça para ter se aproximado de Oliver, pois não passava um minuto sequer sem abrir seu celular para olhar alguma mensagem que ele mandava ou então para admirar a beleza dele na foto de perfil do aplicativo de mensagens.

A campainha de seu apartamento soou, assustando-o levemente, mas já sabendo de quem se tratava. Não precisava nem sequer abrir a porta, a pessoa do outro lado já tinha a chave.

— Tio Kai. — Uma menina morena de lindos cabelos ondulados do mesmo tom de cor que de Kaihin, ela gritava enquanto entrava no apartamento correndo para os braços do rapaz que a segurou no colo. — Olha só, eu perdi um dente.

Ela falava enquanto apontava para o buraco onde estava faltando um dente. 

— E colocou o dente debaixo do travesseiro como eu ensinei? — Kaihin perguntou enquanto a menina balançava a cabeça para cima e para baixo rapidamente. 

— Sim! Hoje de manhã eu ganhei uma moeda da fada do dente. — Ela falava exibido a moeda, que não valia tanta coisa, mas que para a criança de cinco anos, era a coisa mais incrível do mundo.

— Essa é minha garota! — Kai fez um “toca-aqui” com a criança, que sorriu e fez o gesto bem comum por ambos, já que era algo que eles faziam frequentemente.

Atrás da pequena criança vinha Mabel, a mãe dela. Ela fechava a porta do apartamento atrás de si e suspirava, exausta.

— Eve, vai lá ver televisão enquanto eu converso com o tio Kai. — A mulher falou tomando a criança do colo de Kaihin e a pondo no chão, correndo em direção a sala onde tinha uma pequena televisão, mas se passasse alguns de seus desenhos favoritos, o tamanho da tela era o mínimo de seus problemas. 

— Você está bem? — Kai deu uma rápida olhada para trás vendo Maeve colocando em um canal que passava Bob esponja. 

— Poderia estar melhor. — Ela sorriu. Kaihin talvez não sabia, mas ele tinha aprendido a sorrir mesmo estando desmoronando por Mabel que era expert nisso, só não na frente do rapaz que a conhecia como a palma de sua mão.

— O que houve? Me conta. — Ele cruzou os braços, aquilo não tinha sido uma pergunta e sim, uma ordem.

— Problemas com o banco. Eu pedi um empréstimo e não sei se vou conseguir pagar tudo a tempo. — Ela se lamentava. 

— Por que o empréstimo? 

— Os remédios da Maeve, lembra? São extremamente caros, com meu salário eu não conseguiria pagar tudo. 

O salário da cafeteira era muito baixo. Mabel até entregava currículos para outras lojas, empresas e qualquer lugar que estivesse contratando, mas por causa de seu currículo escasso, não teria nenhum emprego que pagasse mais. 

— Eu já te falei, eu tenho algumas economias, eu posso pagar. — Kaihin disse.

— Claro que não, esse dinheiro é seu. Maeve é minha filha, eu preciso arcar com isso.

— Mas ela é minha afilhada! Eu ficaria mais tranquilo se eu pagasse ao menos isso para ela. — Kaihin acabou levantando um pouco o tom de voz, mas Maeve estava muito concentrada cantando a música de abertura do desenho que nem ligaria para o quê seu padrinho e sua mãe discutiam. 

— Kai, por favor…

— Mabel, você é minha melhor amiga, praticamente minha irmã mais velha. Me deixa fazer pelo menos isso. — Ele quase implorava de joelhos. Mabel revirou os olhos sorrindo, negando com a cabeça logo em seguida. De onde esse menino puxou essa teimosia toda? pensou.

— Tudo bem, mas assim que eu conseguir o dinheiro eu te devolvo. 

— Mas-

— Ok, resolvido então. — Mabel cortou a fala de Kai, pois sabia que ele iria se opor. 

— Bem, eu já disse várias vezes que seria melhor para você vender aquela casa que está caindo aos pedaços e morar aqui comigo. Tem dois quartos, o preço é bom e você não precisaria gastar tanto dinheiro com água, luz e tudo mais. — Kaihin dizia indo para a cozinha que era acoplada com a sala. 

— Deus me livre, quero a Maeve longe das suas p-u-t-a-s. — Soletrou para sua filha não entender, já que ela ainda não sabia juntar as letras para formar uma palavra. Mabel sabia como ele era chamado e como ele levava a vida e nunca o julgou, já que se aquilo o deixava feliz, ela também estava feliz, embora sempre fizesse questão de lembrá-lo de comprar preservativos. — E eu sei que você não vai parar de trazer suas meninas e seus meninos para cá.

— Ah, já que você entrou nesse assunto. Lembra o garoto de ontem da cafeteira? — Kaihin perguntou, não como se fosse difícil de saber, afinal, poucas pessoas iam à cafeteria, ainda mais em um dia de chuva à noite.

— O do macchiato? — A mulher perguntou abrindo a porta da geladeira, pegando uma jarra de água. Kai assentiu. — O que tem ele? 

Kaihin riu. Sério que sua amiga não percebeu o que ele quis dizer com isso? Ela colocava a água da jarra em um copo de vidro, esperando-o responder sua pergunta, até se der conta.

— Você dormiu com ele? — Gritou surpresa, olhando para a sala vendo sua filha ainda entretida com o desenho. — Logo ele? Tinha muita cara de riquinho esnobe.

— Riquinho até vai, mas ele está longe de ser esnobe. — Kai comentou rindo, cruzando os braços. 

— Ok… essa é nova! — A mulher riu enquanto tomava um gole da água. — Você está mesmo defendendo um de seus ficantes de uma noite?

— Não estou defendendo, só fiz um comentário. 

— Lembra da menina que eu falei que parecia a Velma do Scooby Doo? Você riu e concordou e até o contato dela você salvou assim. 

— Isso não tem nada a ver. — Ele riu baixo.

— E daquele menino que falava anasalado e eu o chamei de Perna Longa? — Mabel tomava mais um gole d'água.

— Tá, já entendi. — Kaihin revirou os olhos. — Você fala mal dos meus ficantes e eu concordo sem retrucar. 

— E por que com esse menino é diferente? 

Mabel perguntou já esperando uma resposta rápida, pois sempre que perguntava algo assim Kaihin ria alto e dizia que ela era boba em achar que ele se apaixonaria por uma pessoa depois de só uma noite juntos. No entanto, quase se engasgou quando o seu amigo não respondeu de imediato.

— Nem fodendo… você se apaixonou por ele?

— Tá doida? Claro que não! 

Mabel abria a boca incrédula.

— Kaihin Dean, eu te conheço desde os seus sete anos, você realmente acha que consegue me enganar?

Ela questionava enquanto deixava o copo já vazio sobre a pia, cruzando os braços em seguida. Kaihin riu desacreditado, definitivamente não era paixão, somente uma certa curiosidade sobre aquele menino. 

— Exatamente por me conhecer que você deveria saber que eu não me apaixono. 

— Sempre há uma primeira vez para tudo. — A mulher riu. — Não acredito, meu melhor amigo está apaixonado por um caso de uma noite.

Kaihin negou com a cabeça, não importasse o que tentaria dizer, agora que Mabel estava com isso na cabeça, nem por um decreto que ela conseguiria tirar.

— Já vou encomendar o meu vestido de madrinha e a roupa de daminha da Maeve. — Brincava a mulher indo para sala, sentando-se no sofá de dois assentos, visto que Maeve preferiria ver o desenho sentada no chão. — Mas me conta, o que ele fez para quebrar esse coração de gelo aí? 

— Seguindo nessa sua base hipotética de eu ter me apaixonado… bem, ele tem uma voz legal, é melódica, sabe? Parece que quando fala ele canta uma linda música. Seu jeito é implicante e um pouco tímido, gosto disso e ele é tem um sorriso tão lindo que dá vontade de enquadrar e por na minha cabeceira só para poder ser a primeira coisa a ver antes de dormir e assim que acordar. — Ele falava se sentando ao lado da amiga que abria a boca novamente incrédula. — O que foi?

— Eu não falo nada. — A mulher disse rindo. — Deixa eu pensar como você o seduziu… Olá, meus amigos me chamam de Kai, gostaria de conhecê-lo, amo fazer novas amizades. 

— Já te falei que eu te odeio? 

— Algumas vezes, mas isso eu sei que é mentira.

A mulher se recostou no sofá, fazendo uma cara de vitória, sabendo que tinha vencido Kaihin nos argumentos, afinal, ela era sua melhor e única amiga, não tinha como esconder que ele a amava. Mabel olhou para filha assistindo ao desenho.

— Eve, se prepare para ter que dividir seu amor por seu tio Kai com outra pessoa.

— Hm? — A menina virou a cabeça para trás confusa.

— O tio Kai daqui a pouco vai ter um namoradinho.

— O quê? Não! — Ela se jogou no colo de Kaihin que pegou ela rindo baixo. — O tio Kai é meu!

— Viu, só? Não posso namorar ninguém, eu já tenho minha afilhada. — Kaihin brincou dando língua para Mabel, como se fosse uma criança de cinco anos igual a Maeve.

— Isso que nós vamos ver, Kaihin.

...***...

Oliver jogou o seus livros de estudo no lixo de seu quarto. Afinal, para que tanto se preparava se seus pais iam fazer aquilo com eles? 

“Ficamos com medo de você reprovar no exame de admissão e conseguimos uma vaga para você na faculdade”. Ah, como Oliver sabia o que esse “conseguimos” significava, afinal, sua vida inteira foi feita disso. Se ficou com uma média na escola menor que nove, misteriosamente essa nota aumentava. “Pense no seu futuro” eles diziam, mas tudo que ele conseguia não era por mérito próprio e sim dinheiro. Afinal, dinheiro move o mundo.

Em menos de dois meses partiria para o Reino Unido. Bom, era uma oportunidade de construir sua vida lá, embora gostasse dos Estados Unidos, lá ele poderia ser quem ele é sem medo, já que seus pais não iriam e só os veriam duas vezes no ano — que inclusive foi um dos principais motivos de ter estudado para a prova.

No entanto, não podia negar que não queria ir. Nem era por estar indo para uma universidade que não queria, mas por não querer deixar seu país. Em pensar nisso, parecia um pouco hipócrita da sua parte, pois, não tinha amigos, não tinha um bom relacionamento com os pais, não tinha um namorado ou namorada e no máximo tinha seus avós que via uma vez no mês. Por que raios ele não iria querer ir para a melhor faculdade do mundo e ainda ter a oportunidade de ter uma nova vida? 

O seu celular soou e vibrou em cima de sua escrivaninha, tirando o Florence de seus devaneios. Ele tomou o aparelho, imaginando que fosse algum de seus pais falando que ele poderia comprar qualquer coisa já que ambos não sabiam falar a palavra: desculpa. Surpreendeu-se ao ver que era uma mensagem de Kai, abrindo um sorriso involuntário.

Ele tinha noção que o dia anterior foi só uma noite qualquer e que não devia dar muito caso para isso, porém era inegável o fato que eles tiveram uma conexão tão forte. Seu corpo sentia falta das grandes, quentes e nem um pouco delicadas mãos passando por ele.

Seria um bobo por achar que eles estavam conectados de alguma forma como, por exemplo, almas gêmeas ou pessoas destinadas a se encontrarem? Para quem nunca acreditou em destino, aquilo chegava a ser engraçado em sua cabeça.

A mensagem dizia “Acho que você esqueceu sua meia aqui, acho que você tem que vir aqui em buscar” seguida de uma foto de uma meia toda branca. Oliver riu, digitando em seguida: “Tudo bem, pode ficar com ela”. Não demorou muito para Kai retrucar com uma carinha triste. 

Oliver nunca desejou ser considerado apenas um caso e, aparentemente, era o que seria se continuasse a dar trela para Kai. Como um leitor assíduo de romances românticos e clichês, queria viver um pouco daquilo, mesmo que fosse alguma coisa simples como beijar sobre a chuva. Parecia um pouco idiota, por isso, sempre se lembrava de nunca dizer tal coisa em voz alta.

O celular vibrou com mais uma mensagem de Kai que tinha chegado que dizia “Você esqueceu mais uma coisa aqui” e em seguida uma mais uma foto apareceu no chat que fez Oliver abrir a boca incrédulo. Kai tinha simplesmente mandado foto de seu abdômen definido, o quão pervertido ele era? 

O Florence gargalhava, ainda sem acreditar. Bem, se fosse para viver um romance que nem dos livros, que fosse algum da E. L. James.

“Quando nos encontramos de novo?” 

Capítulo 3 — Desistir

As estrelas já preenchiam o céu por aquela hora, iluminando levemente aquela noite escura. O sol já há tempos havia ido embora, trocando o seu posto pela brilhante lua que agora pairava no céu. Era uma noite fria, mas diferente da outra noite, não havia chuva para compor o barulho do lado de fora. Kai dormia tranquilamente abraçado às costas de Oliver, que, ao contrário do rapaz de cabelos negros, se encontrava bem acordado. Observava a vasta paisagem à sua frente, vistos que se haviam esquecido de fechar a janela de vidro do quarto, afinal, à não muitas horas atrás estavam mais concentrados em tirar suas roupas do que fechar a da janela. Agora, Oliver não conseguia adormecer devido à luz noturna que entrava pelas cortinas claras.

Tirou com cuidado o braço de Kai, que rodeava a sua cintura, e se levantou da cama. Tentou achar o seu conjunto moletom no meio das roupas espalhadas pelo chão do quarto do rapaz, mas parecia ter sumido. Era realmente uma noite fria, o Florence podia sentir o vento bater levemente nas suas pernas descobertas e o piso gelado de madeira que rangia um pouco toda vez que ele pisava enquanto procurava sua roupa.

Com o pouco barulho que estava fazendo junto com o suspiro que deu ao não encontrar, Kai acordou totalmente deslumbrado com a bela vista do corpo quase desnudo de Oliver — que estava vestindo somente uma cueca boxer preta da marca Calvin Klein — que ficou em silêncio alguns segundos só para poder continuar a observá-lo com desejo e tentação.

— Já está indo embora? — Kai murmurou baixo, se ajeitando na cama, encostando as costas nuas na cabeceira da cama, sentindo-a bem gelada. 

— Se eu encontrasse minha roupa, eu iria. — Riu baixo, ainda procurando a sua maldita roupa, finalmente achando-a debaixo da cama. Como isso veio parar aqui?

— Eu acho isso um pecado. — Kai comentou, enquanto via Oliver por sua roupa. — Um corpinho tão lindo desses, mas tem que ser coberto por um monte de pano.

— Você não cansa de me paquerar? — Riu novamente, um pouco mais alto, se sentando novamente na cama, de costas para Kai.

— Não, é divertido. Você fica com as bochechas rosadas e evita me olhar no rosto, muito fofo. — Foi a vez de Kai rir, vendo de fato as bochechas de Oliver ficarem um pouco rosadas.

Eles ficaram um tempo em silêncio, embora esteja longe de ser constrangedor, afinal, por tudo que já fizeram, o silêncio seria algo menos constrangedor para eles. Os olhos de Oliver passearam pelo quarto que era a segunda vez visitando, mas nunca tinha parado para prestar muita atenção, pois ambas as vezes ele ficou concentrado em alguma coisa mais importante e não deu para trazer uma das suas principais características: a curiosidade.

O quarto era consideravelmente grande, tinha um grande armário no canto e um espaço para ter televisão, embora não tivesse. A cama ocupava o maior espaço do quarto e o colchão era bem confortável, junto do conjunto de cama. Isso fez Oliver pensar que Kai estava tão acostumado a trazer pessoas ali que arrumava-o rotineiramente. Ou então, outra parte de seu cérebro o fez pensar que ele era especial ao rapaz fazendo-o limpar o quarto para si. De qualquer jeito, não perguntaria, visto que eles não tinham nenhuma relação a mais que apenas sexo.

Seus olhos pararam na mesa de cabeceira onde tinha dois pequenos portas retratos, um deles estava com a foto virada para baixo, ou seja, não tinha como ver a tal imagem, mas o outro dava para ver. Consistia em um provável casal muito bonito, mas ao analisar mais a foto dava para se ver algumas bordas queimadas e alguns riscos, dando a entender que a foto tinha muito mais que uma década.

— Esses são meus pais. — Kai abraçava Oliver por trás, encostando sua cabeça no ombro dele. — Ou pelo menos, eu acho que são.

— Você não os conheceu? — Oliver encarava mais a foto. 

— Não… — Suspirou. — Eles morreram quando eu tinha um ano de idade, então nem consigo puxar na memória nenhuma lembrança dos rostos deles, mas lembro que eles cantavam para mim todas as noites antes de dormir.

— O que aconteceu com eles? Se não for rude perguntar.

— Foi no aniversário de casamento deles, eu acho. Um tiroteio no restaurante, acabou que muitas pessoas morrem nesse dia, inclusive eles. — Kai acabou por apertar um pouco mais forte Oliver. — Minha avó cuidou de mim até meus quatro anos quando ela também veio a falecer.

— Meu Deus, eu sinto muito… — Oliver tinha o coração partido ao ouvir aquilo. Não conseguia imaginar o quão doloroso deveria ser, ainda mais para uma criança. — Você ficou com quem depois disso?

Kai ficou mudo, fazendo o Florence perceber imediatamente o que ele fez entender com seu silêncio.

— Mas… você era só uma criança, como uma criança pode ficar na rua? — Oliver perguntava incrédulo, não acreditando naquilo. Uma lágrima nascia no canto dos olhos dele. — Ninguém foi te ajudar? 

— “Essa criança traz azar”, “Ninguém vai querer essa criança problemática”, “Ele deveria ter morrido junto dos pais e avó”, isso era o que diziam. E eu só tinha quatro anos. — Kai não sentia-se mal falando aquilo, já fazia muito tempo. — Eles apenas me ignoravam todos os dias, mesmo eu passando fome, frio e me sentindo sozinho, pois eu não tinha nenhuma família.

Oliver queria chorar e abraçar fortemente Kai. Como podiam ter feito tal atrocidade com uma criança? 

— Isso perdurou até meus cinco ou seis anos, não me lembro muito bem… quando uma menina um pouco mais velha que eu começou a me dar comida. Ela parava todos os dias para conversar comigo, e, embora eu não falasse com ela, ela nunca desistiu de se aproximar de mim, me ensinou a ler e a escrever, me comprava umas peças de roupa, praticamente cuidava de mim como se eu fosse um gatinho de rua. — Ele riu com sua própria fala, embora Oliver não conseguia achar aquilo nem um pouco engraçado. — Devo minha vida a ela. A família dela me acolheu por algum tempo, me matricularam na escola e me ajudaram em alguns quesitos. 

— Fico feliz que existam pessoas boas. — Oliver sorriu simples.

Pessoas boas… foi o pensamento de Kai, mas ele não contaria para Oliver o final daquela história, seria melhor deixá-lo com a esperança de que realmente houvesse pessoas boas sem pedir nada em troca.

— Eu cumpri minha promessa. — Kai sorriu, depositando um beijo no ombro de Oliver.

— Que promessa?

— Você não lembra? — Ele abriu a boca com uma falsa indignação. — Eu falei que da próxima vez, eu contava sobre mim. Viu, só? Eu cumpro as minhas promessas!

Oliver riu.

— E você quer um prêmio por isso? 

— Eu aceitaria! 

Kai sussurrou no pé do ouvido de Oliver, enquanto suas mãos entravam por dentro de seu moletom, mas sendo paradas de continuar a fazer qualquer coisa quando o Florence às segura.

— Na próxima vez eu te dou então.

Kai ficou boquiaberto, mas acabou por sorrir.

— Mais que vigarista!

***

Oliver chegava em casa pela manhã, quase sete horas, pior tinha sido enfeitiçado por Kai a ficar mais um pouco, comprando-o com um “eu sei fazer um dos melhores macchiatos do mundo”. E, de fato, sabia. Desejava por tudo que era mais sagrado que seus pais não estivessem acordados ou em casa, mas ao olhar para a garagem teve a infeliz revelação de que não apenas seus pais estavam em casa, como o carro de seu primo estava estacionado ali também, fazendo-o desejar não ter saído da casa de Kai nunca mais.

Seu primo mais velho, Nathaniel Florence era o que poderia dizer de menino de ouro, no qual toda a família ama e idolatra. Seu pai gostava muito dele, na realidade, Oliver chegava a pensar que o senhor Florence gostava mais de seu primo do que seu próprio filho, o que não seria uma novidade, já que todo dia seu pai gostava sempre de reforçar o quanto Nathaniel era o melhor em tudo que ele fazia.

Entrou na casa já ouvindo barulhos de risadas e conversas. Quis ir direto para o quarto, mas um de seus empregados fez questão de anunciar sua chega a todos que estavam na cozinha, sentados à mesa com um lindo café da manhã sobre a mesa.

— Oh! Filho, você chegou! — Sua mãe dava um simples sorriso. — Olha quem veio nos visitar.

A mulher apontava para Nathaniel e Katheryn — a namorada de seu primo — que sorriram e fizeram questão de se levantar da mesa só para abraçar Oliver. O Florence mais novo não tinha nada contra seu primo, afinal, ele não era culpado de como seu pai se portava, dando a entender que preferia o sobrinho do que o filho.

— Você cresceu muito, primão! — Nathaniel bagunçou seu cabelo, tal ação que foi de desaprovação de Oliver. Odiava que alguém mexesse em seu cabelo. — Daqui a pouco está mais alto que eu, hein.

Oliver fingiu uma risada, só queria sair dali o mais rápido possível.

— Como vai, Katy? Faz bastante tempo. — O Florence mais novo foi simpático, pois a mulher sempre fora muito simpática consigo.

— Eu estou muito feliz! Nós temos uma surpresa para contar.

— Ah, é! Katheryn está desde o momento que chegou falando dessa tal surpresa, mas queria que você chegasse antes para contar. — A mãe de Oliver falava empolgada. — Sente-se, filho, venha comer conosco.

— Na verdade, mãe, já tomei café da manhã com os meus amigos. — Oliver sorriu. 

Obviamente não diria que no dia anterior saiu para transar com um barista de um café que mal conhecia. Então, para sair de casa sem ter seus pais ligando para a polícia, falou que ia dormir na casa de um de seus “amigos” apenas para despistar, já que era algo que ele comumente fazia quando não aguentava-os e precisava fugir. 

— Sente-se, mesmo assim. — Seu pai ordenou, tentando soar o mais normal possível.

Oliver quase revirou os olhos, mas obedeceu e se sentou ao lado de sua mãe, de frente para Katheryn. 

— Conte, Katheryn. Estou morrendo de ansiedade. — A mulher mais velha falava enquanto tomava um gole do seu café.

— Bem… eu e o Niel iremos nos casar! — Katheryn falava empolgada, mostrando a mão direita com a linda aliança de noivado que tinha no dedo anelar dela. 

Sua mãe e seu pai ficaram boquiabertos e já logo se levantaram para abraçar e dar os parabéns. Oliver sorriu, estava realmente feliz pelo primo e pela Katheryn, conseguia ver de longe que neles havia um amor mútuo e genuíno.

— Ah, nem acredito que meu sobrinho favorito vai se casar! — O senhor Florence falava de gabando.

— Tio, você só tem eu de sobrinho!

— E mesmo se tivesse outros, ainda seria o meu favorito! — Brincou, atraindo risadas de Nathaniel, Katheryn e de sua esposa. — Mas como anda o planejamento? Já tem data e lugar marcados? Podem pedir a minha ajuda para qualquer coisa.

— Muito obrigado, tio. Na verdade, ainda estamos esperando a Katy terminar as gravações dela, sabe como é vida de atriz, diretora e modelo. — Nathaniel falava olhando fundo nos olhos de sua atual noiva, segurando nas mãos dela em seguida. — Mas, nós estávamos conversando e queríamos que vocês fossem nossos padrinhos.

— O que?! — A mãe de Oliver gritou surpresa, colocando a mão sobre a boca após isso. — Eu adoraria ser madrinha do melhor sobrinho do mundo!

Oliver revirou os olhos, uma vez que a atenção não estava nele e sim no casal de noivos que estavam muito contentes em poder compartilhar o novo momento da vida deles com a família.

— Oliver, se você quiser, você e sua namorada podem ser nossos padrinhos também. — Katheryn disse, fazendo o pai de Oliver rir.

— Ele não namora, Katheryn. — O senhor Florence disse com um pesar na fala. — E mais, em menos de dois meses Oliver vai para a universidade no Reino Unido.

— Oh, sério? Parabéns! — Nathaniel parabenizou.

— Obrigado. 

— Mas fala de como foi o pedido de casamento, quero saber tudo. — A mulher mais velha disse cortando a atenção de Oliver indo para os noivos.

Foi a deixa perfeita para Oliver se levantar e sair daquele ambiente. Estava feliz por seu primo, mas com seus pais ali, ele só sentiria um bosta sempre que tentava falar alguma coisa. Ele não foi o melhor da sua turma como Nathaniel fora, ele não era um diretor de filmes extremamente famosos no mundo todo como Katheryn era, ele nem ao menos era inteligente o suficiente para poder passar para a faculdade sozinho e o quem disse que ele precisava namorar e casar para ser feliz? Embora, no fundo ele quisesse isso mais que tudo. Cansou de imaginar ele, casado e com um filho, talvez tentar ser um pai muito melhor que seu pai era.

Chegou no seu quarto já de jogando em sua cama. Queria apenas dormir até não aguentar mais. Porém, não deu nem cinco minutos e alguém já estava batendo na porta de seu quarto. Suspeitava ser de algum dos empregados, já que seus pais não batiam na porta, simplesmente entravam, com a desculpa de “minha casa, minhas regras”.

— Oli, posso entrar? — A voz de Nathaniel se fez presente.

— Pode!

Falou, enquanto se ajeitava em sua cama. O Florence mais velho abriu a porta, fechou-a e se sentou ao lado de Oliver na cama.

— Você não deveria estar lá conversando com meus pais? — Oliver comentou como quem não quer nada.

— Acabei de chegar aqui e você já está me expulsando? — Nathaniel riu baixo. 

— Não, é só que eles agora devem querer te paparicar por causa do casamento e blá blá blá.

— Sei disso, mas queria conversar com você. — Nathaniel passou o braço pelos ombros e nuca de Oliver, trazendo-o mais para perto. — Sabe que pode contar sempre com seu priminho, né?

Era  engraçado o fato que podia ter se passado vários anos, mas Nathaniel ainda chamava Oliver de primão e referia a si mesmo de priminho, embora ele fosse cinco anos mais velho. Tal apelido era de quando eles ainda eram crianças, quando iam para casa dos avós brincarem com os bichos da fazenda.

— Sei. 

— Então, me conta! O que está rolando com você? É por causa da universidade? Problemas amorosos? — Nathaniel questionou um tanto sério.

— Eu tô bem, juro. — Oliver sorriu.

— Eu te conheço desde pequeno, sei que não é isso. — Nathaniel falou. Bem, de fato seu primo poderia conhecê-lo muito melhor que seus pais, afinal nunca foi difícil confiar nele, já em seus pais… — Quando a Katy falou da sua namorada, percebi que você fez uma cara diferente. — Nathaniel suspirou. — Talvez você não queira entrar nesse assunto, mas… você é gay?

A pergunta feita do nada, fez Oliver arregalar um pouco os olhos. Nunca se imaginou conversando sobre isso com absolutamente ninguém, incluindo qualquer pessoa de sua família visto que todos aparentavam ser muito fechados nesse quesito.

— O q-que? Do que está falando? — Oliver desconversou, passando a mão pelos fios de cabelo castanho.

— Sabia que você mexe no cabelo quando está nervoso? — Nathaniel riu novamente. — Pode confiar em mim, eu nunca te julgaria por nada. Ser gay, bi ou pan não muda o quanto eu gosto de você, Oli. Você é meu primo favorito!

— Eu sou seu único primo. — Falou rindo e atraindo risadas de Nathaniel também. — É que eu ainda não estou preparado para me assumir. 

— Por que?

— Você sabe como nossa família é. Além do mais, você ouviu o que meu pai disse, estarei indo embora em menos de dois meses e provavelmente irei construir toda minha vida lá no exterior, talvez eu encontre o amor da minha vida lá, quem sabe. — Oliver riu de si mesmo. — Eu sei, é bobo.

— Bobo? Jamais! — O mais velho bateu levemente na cabeça de Oliver. — Nunca diga que amor verdadeiro é bobo. Eu inclusive pensava assim, mas quando encontrei a Katy, eu não parava um minuto de pensar nela, as coisas mais clichês se tornaram os melhores momentos da minha vida e toda vez que eu a olho, sinto que me apaixono cada vez mais. Quando você encontrar alguém que te deixe assim, não deixe essa pessoa escapar.

— Só falta achar essa pessoa. 

Oliver e Nathaniel riram em sincronia. 

— Você vai achar, ou então, você já até achou. Nunca se sabe! — Nathaniel afagou a cabeça do primo, mas dessa vez Oliver não reclamou mentalmente. — Vou descer, os tios devem estar fazendo trezentas perguntas sobre o casamento pra Katy, preciso salvar minha futura esposa. — Ele suspirou, se levantando da cama, indo até a porta — Nós vamos ficar até a hora do almoço, então trate de aparecer novamente. 

— Pode deixar!

Oliver acenou pro primo, que fechou a porta em seguida. Ele se sentia como se tivesse treze anos novamente e estava conversando com Nathaniel de dezoito anos sobre a sua primeira namorada da escola, mas agora, quem tinha os dezoito anos era o próprio Oliver.

A questão de estar mal era que tudo parecia funcionar na teoria, mas não na prática. Se apaixonar, namorar e casar. Parecia até um conto de fadas, mas era mais difícil do que parece, afinal, o Florence não teve nenhuma pessoa que ele pudesse falar abertamente que era apaixonado. Fora ter se descoberto a pouco tempo sua bissexualidade, ou seja, apresentar um homem como seu namorado para seus pais estava fora de cogitação.

Talvez ele devesse focar em procurar um relacionamento estável e não dormir com lindos baristas. 

É, talvez ele devesse por um fim aquele quase começo de nada, pois sabia que no final era só um sexo qualquer. Seguir com a vida e deixar para trás tudo que aconteceu, seria o melhor.

Seu celular tocou, fazendo-o sair de seus devaneios. Parecia que o universo gostava de brincar mesmo, pois no meio de seus pensamentos de desistir, veio uma mensagem de Kai.

Kai:

(07:43) cheguei no trabalho e uma mulher nova apareceu aqui pedindo um macchiato, aí lembrei de você.

Oliver:

(07:43) Vai dormir com ela também?

Assim que mandou a mensagem repensou se foi uma boa escolha de palavras, afinal, o que ele tinha a ver com o que Kai fazia ou deixava de fazer com a vida dele? 

Duas outras mensagens surgiram no chat, fazendo Oliver gargalhar.  

Kai:

(07:44) *foto*

(07:44) e eu lá tenho cara de maria asilo? 

Oliver olhava a foto de uma senhora de aproximadamente setenta anos. A foto estava um pouco longe, mas ela com certeza era bem mais velha que Oliver e Kai.

Oliver:

(07:45) Você com certeza deve fazer o tipo dela.

Kai:

(07:45) meu tipo são pessoas próximos da minha idade, cabelos castanhos, pele alva como a neve e uma boquinha deliciosa

(07:45) e de preferência que tenha o nome de oliver. gosto desse nome, bem sonoro, principalmente para gemer.

Oliver voltou a gargalhar. Kai era um tremendo paquerador, impossível não rir ou não se enfeitiçar por suas palavras e ações, se ele focasse em ter um relacionamento sério, o futuro parceiro dele seria muito feliz. Por que caralhos eu tô pensando nisso? balançou a cabeça, tirando os seus pensamentos de sua cabeça.

Kai

(07:46) mas então, quando será nosso próximo encontro?

(07:46) estou à espera do prêmio.

Oliver digitou uma mensagem: na verdade, eu queria conversar com você sobre isso. Mas, seu dedo parou em cima do enter. Não queria parar de falar com ele e se em pouco tempo ele iria ir embora e provavelmente perderiam contato, porque não aproveitar cada momento? 

Deletou a mensagem e voltou a escrever outra coisa, sentindo seu coração até bater um pouco mais rápido, mas decidiu ignorar.

Oliver:

(07:45) Quando você puder.

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