Dizem que alguns momentos da nossa vida, podem mudar toda direção dela. Como o tão falado Efeito Borboleta ou também conhecida como Teoria do Caos, que diz " O bater de asas de uma borboleta no Brasil, pode provocar um furacão no Texas". Em suma, o estudo quer dizer que pequenas mudanças, podem gerar mudanças enormes. Celina Correia vai descobrir como um bater de asas se transforma em um furacão imenso.
Parecia um dia normal, Celina trabalhava como assistente administrativa em uma conhecida agência de publicidade. Sempre se destacou por seu trabalho, mesmo sofrendo com o luto de sua mãe, continuava com o mesmo ritmo de trabalho. O seus chefes sempre observaram muito seus resultados e se davam muito bem. Certo dia, Celina é chamada na sala do chefe.
— Bom dia, senhor Kleber e senhora Vanessa. — Celina cumprimenta um pouco nervosa com a situação. Não costumava ser chamada naquela sala.
— Bom dia, querida. Como você está? Soube que sua mãe morreu. Está precisando de algo? — Vanessa Diniz, sócia e esposa do outro sócio da agência perguntou.
— Eu estou ótima. Há algo que eu possa fazer para os senhores? — Celina perguntou de prontidão, não era boa com suspenses.
— Pode se sentar um pouco. Queremos te fazer uma oferta. — Kleber explicou. Celina sentou curiosa, percebeu que não parecia está ali para sua demissão. Que era sua maior preocupação no momento. Não teve nem tempo para lidar com o luto, precisava se manter.
— Sim, senhor. — Celina concordou
— Então, sabe que estamos tentando ter um filho tem algum tempo, certo? Descobrimos que a Vanessa é infértil e estamos buscando algumas alternativas. Pensamos na adoção, mas algo em nós, queria que o filho fosse nosso. Pedaço tanto meu, quanto dela. Dessa forma, chegamos a conclusão que seria interessante uma barriga de aluguel. — Kleber disse, olhando para Celina que não conseguia compreender onde eles queriam chegar.
— Parece uma boa decisão, só não consigo entender o motivo de precisarem de mim. — Celina perguntou.
— Você é bonita, jovem, bastante inteligente e super saudável. Pensamos em você como nossa barriga de alguém. Iremos pagar muito bem após o nascimento e custear tudo que você precisar enquanto estiver grávida. Será por inseminação e depois do nascimento você não precisará mais nem lembrar do nascimento dessa criança. — Vanessa explicou, percebendo que Celina estava desconfortável.
— Quê? Eu? Não. Não tenho nenhum interesse em ser barriga de aluguel. Eu fico feliz em pensarem em mim primeiramente, mas não posso fazer isso. — Celina respondeu se levantando da cadeira. Não queria nem ao menos pensar na ideia.
— Iremos pagar dois milhões para que você tenha esse bebê. Pense nisso. Caso mude de ideia, nos procure. — Kleber sempre achou que o dinheiro compra tudo. E apostou nisso com Celina. Assim como todos os negócios, sempre é necessário um tempo.
Celina nem ao menos conseguiu falar, apenas concordou com a cabeça e voltou para seu trabalho. Passou o dia inteiro pensando naquela proposta. O quão maluca era, ao mesmo tempo, com aquele dinheiro ela poderia realizar seus sonhos. Sua faculdade, sua loja de roupa e tudo que ela sempre quis, mas nunca conseguiu. Foi até em casa pensando em tudo que poderia mudar com aquele dinheiro, estava completamente imersa aos seus pensamentos. Quando vários homens em pé na sala dela chamam ela de volta para realidade.
— Quem são vocês? — Celina pergunta, mas logo se dá conta que não quer a resposta, que precisava mesmo era sair dali. Corre em direção da porta, porém um outro homem estava bloqueando ela já.
— Olá, bonequinha. Viemos cobrar a dívida da dona Edilza. — Um dos homens com cara de poucos amigos disse.
— Não sei se vocês sabem, mas a minha mãe morreu tem dois meses. Acho que vão ter algum problema para isso. — Celina respondeu
— Não teremos nenhum problema. A filha dela vai pagar, claro, se ela quiser continuar viva. — O senhor disse com um sorriso nada agradável.
— Quanto é essa dívida? E como ela contraiu? — Celina perguntou vendo que aquelas pessoas eram problemas.
— Um milhão e meio. Pensei que você já soubesse, mas a velha era viciada em jogos. Perdeu tudo apostando e acabou fazendo empréstimos para continuar jogando — O senhor respondeu para ela.
— Isso é impossível, como acha que posso encontrar todo esse dinheiro? — Celina nem acreditava no que estava acontecendo.
— Não é da minha conta. Como você só soube da dívida agora, daremos 12 meses para que você pague ela ou você terá sérios problemas. FF é o agiota mais perigoso da área. Ele alivia para ninguém. Acho melhor você não brincar. Vamos indo. Aqui está meu celular, me ligue quando tiver o dinheiro ou quiser prazer. — O homem disse, fazendo Celina ter vontade de vomitar.
Depois de ter dito tudo que queria, todos os homens deixaram a casa. Celina caiu de joelhos, sem força no meio da sala, chorando desesperada pensando como poderia pagar uma dívida tão alta. Acabou adormecendo chorando. Acordou pela manhã com os olhos inchados, vermelhos, mas com força de vontade. Iria nos bancos, conseguir um empréstimo. Conhecia vários gerentes, estava na expectativa que tudo daria certo.
Determinada para conseguir os empréstimos, ela tenta vários bancos, mas nenhum liberou o valor e nem próximo dele. Alguns gerentes até riram da esperança de Celina. Sentada na praça pensando em como poderia resolver isso. Recebeu uma mensagem de Vanessa, sua chefe, perguntando se ela não foi trabalhar por conta da proposta que fez para ontem. Na mesma hora, Celina chega a conclusão que essa será a solução. Que Deus havia aberto a janela, quando todas as portas estavam fechadas.
Decidida a aceitar a oferta, Celina vai para o escritório, encontra com os patrões para contar a eles sobre a decisão que tomou. Juntos assinam um contrato, onde eles teriam a responsabilidade de custear os gastos de Celina durante toda gravidez, acompanhariam ela em todas consultas, o valor de dois milhões no nascimento do filho e não menos importante, o fato que ela deveria entregar para eles o bebê, após o nascimento.
Celina esperava que tudo terminasse com um belo "Felizes para sempre", era o que ela desejava para sua vida, mas tudo deu totalmente errado, ela não sabia o quanto que daria errado aquela história toda.
O casal, assim como combinado, participou de todas as consultas e bancou todo custo de Celina nos últimos meses. Até o dia que foi descoberto em uma das consultas periódicas que o bebê teria uma doença, ainda na barriga da mãe, o bebê foi diagnosticado com uma cardiopatia. Na sala do médico, nada foi dito, apenas um grande silêncio se fazia na sala, enquanto o médico explicava todas as complicações e como deveria agir daqui em diante com o diagnóstico. Já dentro do carro, a voz do casal começou a sair.
— Quer fazer quando o aborto? — Kleber perguntou olhando para Celina
— Aborto? O bebê tem seis meses já. Não posso abortar agora. Vocês enlouqueceram? Vocês disseram que cuidariam da criança. — Celina ficou nervosa ao perceber a mudança de atitude do casal após a consulta.
— Não vamos querer uma criança com defeito, ela só vai nos trazer problemas. Você aborta e tentamos novamente. Deve vir um sem qualquer erro, só tivemos azar. — Vanessa explicava, como se o bebê fosse figurinha, que se compra várias até tirar aquela que você realmente precisa.
— Isso não faz nenhum sentido. Eu não irei abortar. Foi uma escolha de vocês. Não podemos fazer isso com essa criança. Ele já tem seis meses — Celina não conseguia pensar como poderia acontecer isso.
— Podemos pagar o aborto, caso queira se livrar disso. Se por ventura, queira tomar outra decisão, você fica por você. Além disso, também será demitida. Nos ligue caso queira o aborto, do contrário, esqueça da nossa existência — Kleber deixou claro parando na frente da casa de Celina. Que desceu sem falar nenhuma palavra.
Três meses depois daquele dia, deitada naquela cama de hospital, segurando o bebê, Celina pensava o que faria da sua vida agora. O casal havia desistido do bebê. Não queriam um filho com defeitos. Isso ecoou por dias na mente de Celina. Como alguém poderia dizer que seu próprio filho era defeituoso? Que tipo de seres humanos tratam o outro dessa forma?
— E agora, Benjamin, o que faremos da nossa vida? — Celina perguntava para criança que dormia no seu colo.
O médico havia dito que Benjamin precisaria de tratamento por toda sua vida e talvez algumas cirurgias. Celina pensou algumas vezes em deixar a criança no orfanato ou até na frente da casa de alguém muito rico. Desistiu quando pensou como sua saúde era delicada. Aquele pequeno bebê em seus braços não sobreviveria sem cuidados certos
Um outra problema assombrava Celina, além de ter que cuidar de um pequeno tão delicado, sem apoio da família. O detalhe de está desempregada, sem qualquer dinheiro na poupança e ainda devendo ao agiota, que garantiu que mataria ela sem o pagamento. Nos últimos nove meses, foi custeada com o dinheiro da família que contratou como barriga de aluguel. Agora sem o auxílio financeiro e sem o pagamento pelo bebê. Ela estava no vermelho.
Três dias depois do parto, Celina e Benjamin receberam alta. Estavam voltando para casa. Uma parte dela estava feliz de volta, outra, estava pensando como pagaria as medicações que o médico passou e como iria comer esses dias. Ao chegar em casa, olhou ao redor, aquele lugar era enorme. Havia sido deixado de herança pelo seu pai. Celina sentou na cama, olhando para o bebê em seus braços e sorriu.
— Vai ser uma grande batalha, mas vamos conseguir vencer. O começo sempre é difícil. Só não sei o que faremos sobre o seu berço, roupa, fraldas. Não tenho nada disso. O que acha de vender a casa do seu avô? Podemos ficar em um quartinho. Você não se importa, certo? — Celina iria vender aquela última lembrança do seu pai. O importante era cuidar do Benjamin.
Logo passou em uma Imobiliária para colocou a casa a venda. Um funcionário fez uma pequena avaliação da casa. O preço não era o que Celina imaginava. Mesmo assim, era a única coisa que tinha por enquanto.
A casa demorou alguns dias para ser vendida, Celina se agarrou ao cartão de crédito para conseguir comprar o básico para sobreviver. Desistiu das fraldas descartáveis e comprou algumas de pano. Conseguiu algumas roupas de bebê mais baratas em um bazar e passou a dormir com seu bebê. Precisava economizar, boa parte do limite do seu cartão foi gasto com medicação.
Pouco mais de um mês, a casa foi finalmente vendida, Celina passou a morar em um pequeno quarto, na casa de uma amiga, pelo menos até se organizar. Como não cabia tudo no lugar, ela vendeu a maioria dos móveis. O que foi ótimo. Cada dia ela se assustava mais e mais com o valor do tratamento do Benjamin. Percebendo que não tinha como manter muito tempo o tratamento com o dinheiro que tinha. Então ela decidiu, encontrou uma nova forma de ganhar dinheiro. Iria comprar alguns materiais e venderia brigadeiro na rua. Conversou com sua amiga para que ficasse com o bebê durante a tarde em suas férias da faculdade. Depois teria que levar a criança, era única forma, mas decidiu não pensar nisso agora.
Celina estava vendendo brigadeiros tem mais de quinze dias. Com a venda conseguia pagar um ou dois medicamentos de Ben. Ela estava já saindo, com sua caixa de brigadeiro, quando Diana chamou ela
—Amiga, desculpa, tenho uma entrevista importante. Eu estava como substituta, a, pessoa na frente deu errado. Me pediram para ir agora. Me desculpa mesmo. — Diana disse passando Ben para os braços da mãe.
— Tudo bem, amiga. Te desejo toda sorte do mundo. — Celina disse sorrindo
A amiga abraçou ela e desceu correndo as escadas, o Uber já estava esperando. Enquanto isso, Celina pegava um pano grande para prender Ben nas suas costas. Não podia segurar ele e os brigadeiros
— Então, Ben. Hoje é dia de trabalhar com a mamãe. Tenho certeza que sua beleza vai ganhar vários cliente — Celina disse apertando as bochechas do filho antes de colocar ele nas suas costas com ajuda do pano.
Com seu filho totalmente seguro nas suas costas, Celina desceu as escadas com sua caixa de brigadeiro, já estava preparada para as vendas de hoje, totalmente esperançosa que fossem rápidas. Já que hoje estava com o Ben. Não apenas por ele chamar atenção, mas por precisar apressar, para que ele não tivesse que ficar muito tempo andando por ai, não faria nada bem agora ele. Celina até pensou em não ir, mas o dinheiro estava saindo muito mais do que entrando, nossa protagonista não podia se dar ao luxo. Mesmo sendo um luxo justificado.
Quando Celina estava saindo do prédio que morava, acabou esbarrando em um homem de terno, ele era enorme, quase um muro em comparação a ela, que era bem pequena. Quando ela levantou o rosto para se desculpar, um outro que também estava de terno, puxou sua caixa de brigadeiros. Celina olhou desesperada. Seria um assalto? Roubam até brigadeiro hoje? Ela se questionava olhando para sua caixa de brigadeiro roubada.
— Olá, senhora. Eu me chamo Fernando Ferrer e você tem uma grande dívida comigo, acho que se lembra bem disso. Vim receber meu pagamento — O homem disse com um sorriso assustador, que arrepiou totalmente Celina.
— Eu não tenho dinheiro para pagar ainda, preciso de tempo para juntar todo o valor, não é uma quantia baixa. A dívida não era minha, como você já deve saber, eu não sabia de nada disso até a minha mãe morreu. Preciso de um tempo para me reorganizar. — Celina estava tremendo já. Ao redor dela tinham vários homens. Ela não sabia o que fazia ela tremer, se era por sua vida ou do filho.
— Pensei que o ano que foi dado tinha sido mais que suficiente para você lidar com seus problemas. Não que eu me importe muito. De qualquer forma, vamos entrar no meu carro e conversar mais sobre isso. Vamos ver se conseguimos negociar sua dívida. O que você pode me oferecer. E tenho certeza que não será esse brigadeiros. — Fernando disse apontando para seu carro sorrindo debochado
— Não podemos conversar aqui? Eu meio que prefiro. Minha mãe me ensinou a não entrar em carro de estranhos. Sabe como é, né? — Celina disse dando um passo para trás.
— A mesma mãe que morreu de overdose e deixou uma dívida milionária para você? Sério? Que herança maravilhosa a boa mãe com conselho deixou. De qualquer forma, não foi um pedido, foi uma ordem. Caso não queria ir por livre e espontânea vontade, acabará indo pela pressão, meus amigos não costumam ser delicados, nem com mulheres e muito menos com crianças. Qual será sua escolha? — Fernando perguntou já andando para o carro. Celina não tinha escolha. Era melhor ir na paz e evitar que Ben fosse ferido em qualquer confronto desnecessário.
Sem muitas opções, Celina tira o Ben de suas costas e coloca em seus braços. Na mesma hora, notou que ele parecia um pouco mais vermelho que o normal. Entrou no carro olhando para o filho, que parecia está respirando com dificuldade e bastante suado. Celina sentou no banco, pensando nas alternativas, o que ela poderia fazer naquele momento. Enquanto buscava uma resposta, alguém falava com ela.
— Bem, como você deve saber, não somos do tipo que perdoa dívidas, muita menos que alisa a cabeça daqueles que nos devem, sejam homens, mulheres ou crianças. Se está devendo tem que pagar. Te demos um ano para que conseguisse isso. Já que não tem o valor, teremos que encontra outra forma de você nos pagar. Só não vou perder dinheiro. — Fernando falava sorrindo olhando para a Celina que era linda ao seus olhos. Já ela, não estava prestando nenhuma atenção em nada que eles estava dizendo. Ao colocar a mão no Ben, percebeu que ele estava queimando em febre. Não tinha como se preocupar com que o agiota dizia
— Motorista! Por favor, pode conduzir até o hospital mais próximo? O mais rápido possível, por favor. — Celina gritou desesperada com lágrimas nos olhos.
— Quem você acha que é para mandar no meu motorista? Você enlouqueceu? Não sabe que posição você está? Não prestou atenção no que eu estava dizendo? Acha que só porque é bonitinha e está com um bebê nos braços, pode fazer o que quiser? Que vamos aliviar para você? Saiba que está muito enganada. Nenhum desses fatores me importo nenhum pouco — Fernando gritou indignado com Celina.
— Que se exploda o que você falou, a dívida ou o que for. Meu filho está doente, ele precisa de um hospital e vamos ao hospital. Se algo acontecer com meu filho, eu juro, gastarei a minha vida para acabar com a sua. Agora me leve ao hospital. — Celina gritou com os olhos cheios de lágrimas, ela queria se mostrar forte e assustadora, para que ele tivesse o mínimo de medo e ouvisse ela. Contudo, era Celina que estava cheia de medos, estava em um carro com um agiota, havia gritado com ele, seu filho estava com febre e dificuldade de respirar. Ela só podia rezar para que tudo desse certo e aquele homem tivesse um pingo de coração.
— O que a criança tem? — Fernando perguntou parecendo desinteressado.
— Não sei, acho que ele está com febre e dificuldade de respirar. Ele nasceu com um problema no coração. Eu não sei. Pensei que ele estava nem agora pela manhã, agora do nada está queimando em febre — Celina só conseguia chorar.
— August, leve para o hospital mais próximo. Rápido. — Fernando ordenou e Celina respirou aliviada.
Ao chegar no hospital, Celina desceu do carro correndo com o bebê no braço em direção da entrada. Os homens armados já estavam do lado de fora e apontaram a arma para ela. Que acabou parando, caindo no chão, chorando pedindo compaixão para que ela pudesse levar seu filho para o hospital. Assistindo a cena, Fernando faz um sinal para seus homens, que se afastam dela, guardando as armas.
— Vá. Seu filho precisa de cuidados. — Fernando disse sério para ela.
— Obrigada. Obrigada — Celina disse antes de se levantar e sair correndo para dentro do hospital
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