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A Ceo E O Cadeirante Cego

Emma Carter

^^^( Essa é **Emma Carter**)^^^

Sinto as lágrimas escorrerem de meus olhos enquanto ouço o desespero forçado de minha madrasta Margaret e de meus irmãos. Eu não estava lamentando por eles, mas por meu pai, que ditava suas últimas palavras para mim antes de nos deixar.

— Minha Emma, não sabe o quanto lamento não ter impedido a morte de sua mãe. Ela foi a única em meu coração, sempre será — murmurou próximo a mim como se estivesse me contando um segredo, mas eu sabia, todos nós sabíamos disso. — Quero que cuide da nossa empresa, tenho certeza que sua mãe ficaria orgulhosa, assim como eu.

— Papai, farei com que a empresa prevaleça. Ela estará segura em minha mãos, não há com que se preocupar. — Tentei confortá-lo, ele sabia mais do que ninguém o quanto sou problemática, principalmente quando não o ouvia e fazia o que ele não queria.

— Eu sei disso, mas quero que me conceda algo antes que eu morra. Case-se com um homem bom, alguém que irá ajudá-la a seguir em frente. Me prometa. — Suas palavras foram interrompidas por suas tosses rebeldes que insistem em atormentá-lo até mesmo em seus últimos momentos.

— O que o senhor quiser, papai. — Sorri em meio às lágrimas, só eu sabia o quanto me culpava por chegar tarde demais. E todos me julgavam por isso, exceto ele. — Eu prometo.

Segurei firmemente em suas mãos trêmulas, não tínhamos mais nada a dizer, mas nossos olhares eram tudo, eram o bastante para significar o quanto nos amávamos. Parecia que estávamos sozinhos em nosso mundo improvisado, já não ouvíamos os escândalos de Margaret, nem mesmo dos soluços falsos dos meus meio-irmãos. Aos poucos, seus olhos foram se fechando, como se tivesse acabado de tomar os seus remédios para dormir.

Deixei aquele quarto com um único pensamento: Eu faria valer a pena cada minuto que meu pai gastou de sua vida para me dar o melhor. Me casaria com o homem que me ajudaria a prevalecer na empresa, assim como minha mãe fez por meu pai.

Desci as escadas aos prantos, a procura do único que me deixaria desabar em seus braços. No entanto, eu não o encontrava em lugar nenhum, e eu me senti sozinha pela primeira vez em minha vida.

Repentinamente, quando deixei a mansão a caminho dos portões de entrada com a esperança de encontrá-lo à minha espera, ouvi vozes familiares. Meu coração se despedaçou no mesmo instante em que reconheci os longos cabelos loiros de Ava sendo acariciados por meu namorado de longa data, Peter.

Muitas coisas passaram pela minha cabeça, e o desejo insaciável de matá-los quase sucumbiu à minha mente. Mas me controlei, pensei em todas as vezes em que fui cega a ponto de não ter imaginado isso, essa relação suja e nojenta entre eles. E todas as peças se encaixaram, cada uma delas roubando de mim o que eu mais tinha de bom.

Minhas lágrimas finalmente cessaram, demorei um pouco para me recompor antes de deixar aquele lugar. Eu não queria transparecer sofrimento e angústia por aquela traição diante deles, por mais que ainda estivesse doendo como o inferno.

Quando tive forças o suficiente para mover as minhas pernas, suspirei o mais alto que consegui para chamar a atenção que eu queria. Logo, os olhares espantados deles se voltaram para mim quando caminhei em direção ao meu carro, onde o meu motorista particular me esperava como se nada tivesse acontecido.

— Emma, espere! — A voz de Peter ecoou como um cachorrinho arrependido pelo que fez. — Não seja estúpida! Não sabe o que realmente viu aqui!

Após suas palavras cruéis, imaginei o quanto eu estava sendo idiota por deixá-lo falar assim comigo, ainda mais por perceber que ele provavelmente faria isso pelas minhas costas sabe-se lá por quanto tempo. Isso doeu, já não foi o bastante a perda de meu pai?

— Olha, Emma. Eu… — Virei-me em sua direção antes que ele pudesse dizer algo que fizesse meu sangue ferver, os olhares de Ava estavam sobre nós e ela não tinha nada a dizer, afinal, tinha sido pega no flagra. Meu motorista então, estava em alerta, esperando qualquer sinal para que pudesse intervir uma possível briga.

Não houve tempo para que cada um de nós pudesse raciocinar o que estava acontecendo, desferi o melhor tapa que eu poderia dar em alguém. Eu estava chateada, e tudo que eu queria era alguém que pudesse me consolar, mas eu estava sozinha agora.

— Não ouse me difamar nem mesmo pelas minhas costas, Peter. Eu sei o que eu vi, somente eu sei o que estou passando, e não espero mais que você seja o meu salvador. Você não presta para nada, nem para existir, quem dirá para trair. — Deixei com que todos os meus pensamentos viessem à tona, e de alguma forma, me surpreendi com cada uma delas. — Um lixo como você não merece estar em minha vida, então não espere que eu seja misericordiosa para com o que vai acontecer com você.

Dei-lhe as costas enquanto ele assimilava cada palavra, talvez ele não esperasse isso de alguém que não passava de uma garota mimada que ele conheceu, que faria de tudo para dar-lhe o conforto que exigia. Não olhei para trás, nem para minha antiga casa, não queria mais estar naquele ambiente que só me machucou.

Meu motorista não disse uma única palavra durante todo o trajeto até o hotel, onde eu estava hospedada desde quando cheguei de viagem. Dener era o único a quem eu confiava os meus segredos e pensamentos, mas agora eu não conseguia confiar em ninguém, e ele sentia isso.

Quando chegamos no hotel, estava prestes a abrir a porta e deixá-lo para trás com a minha ignorância sem sentido. No entanto, retornei alguns passos para trás e lhe desejei boa noite, e disse que nos veríamos no dia seguinte. Ele pareceu entender, mas estava tão confuso quanto eu.

Após deixar minha bolsa em qualquer canto do quarto, desabei em lágrimas após perceber que tinha perdido a única pessoa que cuidou de mim desde que mamãe morreu. O meu pai era um homem bom, por mais que passasse a impressão de ser arrogante. Minha mãe dizia que isso era um charme, e que eu sempre deveria procurar pelo menos um lado bom em coisas ruins.

No dia seguinte, acordei me sentindo péssima. Nunca tinha bebido tanto em minha vida, mas eu tinha que me levantar para ir ao funeral de meu pai. Dener bateu na porta três vezes seguidas para anunciar que entraria, mas ele simplesmente se revoltou com o estado em que eu me encontrava.

— O que aconteceu com você? — O mesmo franziu o cenho e me chacoalhou quando percebeu que eu não estava muito bem. Eu estava definitivamente acabada. — Argh, eu deveria ter ficado ontem a noite.

No mesmo instante, ele me pegou pelos braços e esqueceu-se completamente de suas formalidades, arrastando-me para o banheiro. Ele sequer se importou como eu estava vestida, apenas me deixou debaixo do chuveiro murmurando palavras desconexas quando a água fria tomou conta de meu corpo.

Parecia que todo o peso do mundo estava indo para o ralo, e aos poucos fui recobrando os meus sentidos. Nossos olhares se encontraram e eu quase não acreditei que Dener estava diante de mim com suas mãos trêmulas segurando o meu corpo para que eu não caísse.

— Céus, Dener! O que está fazendo? — Elevei o tom de minha voz após afastá-lo, sentindo-me envergonhada por tê-lo deixado ver o meu corpo coberto com apenas uma camiseta branca que estava encharcada, marcando totalmente minhas curvas.

Quando ele se deu conta do que estava vendo, ele abriu a boca e a fechou logo em seguida, deixando-me sozinha como se tivesse acabado de cometer um crime. Será que ele estava tão perdido quanto eu? Ou estava preocupado o suficiente para saber o que estava fazendo?

Conheço Dener há muito tempo, desde que o papai o contratou para ser o meu motorista. Não me lembro exatamente quando isso ocorreu, talvez tenha sido há três anos. Ele não era tão velho, mas também não era jovem. Seus olhos eram verdes e sua pele um pouco escura, como eu poderia negar que ele era charmoso? Uma tentação, eu diria.

Deixo o banheiro após aproveitar o momento para tomar um banho digno, não queria que ele sentisse o cheiro de bebida impregnado em mim, se não já o tivesse. Ele estava na cozinha, preparando algo que cheirava muito bem, não sabia que ele tinha tamanho dom para cozinhar.

O clima não estava muito agradável, papai morreu ontem a noite e eu ainda estava abalada. Dener não me deixou um minuto sozinha naquele quarto, eu entendia sua preocupação, afinal, nunca tinha me visto tão decaída quando me encontrou pela manhã.

— Eu deveria me desculpar pelo que fiz mais cedo, eu não estava raciocinando. — Ele mordiscou o lábio e abaixou a cabeça sentindo-se envergonhado pelo que viu. Eu não o culpava.

— Bem, eu não esperava por isso. — Deixei um pequeno sorriso escapar de meus lábios, o que o surpreendeu. — Dener, você me ajudou quando eu mais precisei, nunca vou esquecer disso. Hum, sobre o que você viu no banheiro, eu realmente não me importo, só fiquei surpresa.

— Senhorita, por favor esqueça isso. Eu realmente não vi nada, eu só estava tentando ajudá-la. — Ele virou o rosto para o lado e fingiu coçar a cabeça, nunca o tinha visto assim, tão descontraído e ao mesmo tempo envergonhado. Isso era bom.

Após tomar o café da manhã para a minha ressaca que Dener preparou para mim, me apresso para vestir-me para o funeral. Eu realmente não queria estar presente com toda aquela família falsa que me esperava, mas eu não tinha como evitar.

Quando finalmente chegamos no cemitério, notei que havia muitas pessoas que eu sequer conhecia. No entanto, grande parte deles eram sócios e funcionários do meu pai, ele era amado. Quase revirei os olhos após os cochichos nada disfarçados de meus meio-irmãos, seguido de minha madrasta que minha olhava com repulsa.

Nós nunca tivemos uma boa relação, mas desde que ela tomou o lugar de minha mãe, não houve um momento sequer que ela não deixou de me observar. Tudo que ela queria era me fazer desmerecer a empresa com falsas histórias sobre mim, algo que papai nunca acreditou. E o agradeço muito por isso.

Meus meio-irmãos eram muito bonitos, mas tinham uma personalidade péssima, assim como a mãe. Antes deles nascerem, eu desejava ter ao menos um irmão para brincar, mas após o crescimento deles, minha vida se tornou um inferno. Quando me machucavam fisicamente, sempre diziam ao papai que eu estava fazendo isso de propósito, apenas para enfurecê-lo.

Por isso, e entre muitas outras coisas, acabei por me tornar uma garota problemática. Sempre fugindo de casa para festejar e conhecer garotos bonitos. E quando conheci o Peter na faculdade, acho que minha vida ficou pior do que estava, mas só pude perceber isso quando ele me traiu com minha melhor amiga.

Não demora muito para que eu os veja, e como esperado, fingindo que não tem nada haver um com o outro. Eles realmente acham que sou burra? Sorte deles que eu não estava com cabeça para isso, apenas me concentrei em me comportar diante das pessoas importantes que papai conheceu, e principalmente nele, quando a despedida chegou.

Dener estava ao meu lado o tempo todo, parecia querer me proteger a todo custo, como se eu fosse tão importante. Por mais que ele me ajudasse de vez em quando, ainda estranhei suas atitudes, ainda mais quando Peter tentou se aproximar de mim para se aproveitar do meu luto.

Quando o funeral acabou, fomos diretamente para a mansão, onde iria ocorrer uma reunião entre família, algo que eu não esperava. Mas logo descobri que minha madrasta estava mais ansiosa para saber quem herdaria a empresa e todos os bens que papai deixou para trás.

Dener me deixou na sala de jantar por alguns instantes, e todos os olhares se voltaram para mim. Sorrisos estranhos também se formaram nos lábios da mulher e dos filhos que fizeram tudo isso acontecer. O que eu poderia esperar?

— Pobrezinha, acha mesmo que John deixaria a empresa em suas mãos? Não passa de uma ingrata mimada. — Margaret pronunciou o nome de meu pai com orgulho, ciente que tudo estaria aos seus pés, mas eu não estava com medo, eu tinha certeza que papai não faria isso comigo.

— Ela deveria ir embora, vai nos fazer passar vergonha. — Henry, meu meio-irmão de apenas 15 anos me observou com repulsa, fazendo-me revirar os olhos, como se isso me afetasse.

Eu não disse uma única palavra, não queria perder meu tempo com isso. Não sei porque diabos Dener desapareceu sem ao menos me dar uma satisfação, por mais que ele fosse apenas o meu motorista. E quando eu o vi carregando alguns documentos que eu não conhecia, as peças foram se encaixando.

Papai sempre confiou nele, nunca soube de onde ele veio ou o que fazia antes de ser meu motorista particular. No entanto, era culpa minha. Raramente eu estava em casa ou na empresa ajudando o meu pai, e pensar sobre isso me fazia questionar se eu merecia alguma coisa.

— Bom dia a todos, antes de revelar o que eu tenho em minhas mãos, permitam-me me apresentar. — Dener olhou para mim com um semblante de alívio, era a primeira vez que eu o via tão descontraído, principalmente em uma situação como esta. — Eu sou Dener Febland, atualmente motorista particular da senhorita Emma. Mas, passei longos anos da minha vida trabalhando como braço direito do Senhor Carter na empresa.

Todos olharam para ele como se não acreditassem em suas palavras, inclusive eu. As coisas faziam sentido agora, papai estava me protegendo esse tempo todo, como não pude ver isso?

— Antes de falecer, o senhor Carter deixou uma carta com sua assinatura, assim como um vídeo para esclarecer o que será com sua fortuna. — Nunca me senti tão desnorteada, mas deixei meus pensamentos confusos de lado e ouvi tudo que Dener estava lendo na carta.

Obviamente, Margaret e seus filhos não ficaram muito satisfeitos com o que receberam de herança, e quando o vídeo finalmente terminou, eles não tinham nada a dizer. Eles ficariam com a mansão, além dos terrenos que meu pai comprou em algumas cidades próximas. Minha madrasta conseguiu dinheiro suficiente para viver uma vida de luxo, ainda mais com a loja de roupas que papai comprou sem o conhecimento de ninguém.

Meus meio-irmãos não precisavam se preocupar com a faculdade, ou dinheiro. Cada um tinha um apartamento no centro de Los Angeles para fazer o que quisessem.

E eu…

Meu Sogro e Minha Cunhada

^^^(Senhor Martinez )^^^

Meu estômago embrulha em imaginar casando-me com alguém que eu não conhecia, e sinceramente eu não estava muito satisfeita em saber que papai planejou isso pelas minhas costas.

Eu sei que prometi que me casaria com um homem bom, de acordo com suas palavras antes de morrer. Mas eu não tinha ideia que Peter iria me trair, e eu não nego que ele foi a primeira pessoa que veio em meus pensamentos quando fiz aquela promessa.

Papai sempre foi um homem de negócios, muito rígido por sinal, e eu teria que ficar em seu lugar. E, enquanto Dener me observava de um lugar considerável para me transmitir confiança, eu estava lutando contra meus instintos para ser o mais amigável e profissional possível diante de meu futuro sogro.

Assim como meu pai, o senhor Martinez era o dono de uma das empresas mais conhecidas do país, e ele não deixaria essa oportunidade passar. Obviamente, ele estava vendendo seu próprio filho para beneficiar a sua empresa, e dada as circunstâncias, ele não se incomodava em saber que eu estaria na linha de frente. Contanto que as duas famílias se unissem, ele estava satisfeito.

— Lembro-me perfeitamente de quando você era apenas uma garotinha correndo pela empresa enquanto o senhor Carter tentava alcançá-la. — O mesmo riu após contar-me de uma lembrança que eu mal lembrava, e que eu sequer sabia que existia até então, eu deveria ser muito jovem. — E agora, está uma mulher feita, madura e muito bonita. Tenho certeza que meu filho vai se apaixonar por você, mas não se sinta pressionada, ele também é tão bonito quanto eu.

— Fico lisonjeada, senhor Martinez. Será uma honra chamá-lo de sogro, acredito que nos daremos muito bem. — Forcei um sorriso simples, não queria me animar com algo assim, pois tenho certeza que o meu futuro marido não faz ideia do que está acontecendo aqui.

— Não vou tomar muito de seu tempo, senhorita. — O mesmo parece que percebeu a minha inquietação, então fingiu ler parte do contrato que seria assinado por ele e seu filho. — Tudo está de acordo, levarei para que meu filho possa assinar e assim faremos os preparativos para o casamento.

— Foi um prazer conhecê-lo, senhor Martinez. — Levantei-me e ergui minha mão para nos despedirmos.

Quando o mesmo me deixou para trás, Dener caminhou em minha direção com um sorriso esplêndido. Parecia que só ele estava feliz por tudo isso, tanto que me deu os parabéns no mesmo instante em que me fez companhia à mesa.

— Devo dizer que está se saindo muito bem, o senhor Carter ficaria muito orgulhoso de você. — Ele folheou o cardápio em busca de algo que o agradasse, mas eu não conseguia pensar em mais nada além do que ele fez para me esconder as coisas, não que ele fosse obrigado a me dizer, mas foi uma jogada desnecessária.

— Aprendi com ambos, não acha? — Fiz com que ele encontrasse o meu olhar de desprezo e arrependimento, mas ele pareceu não se importar.

— Senhorita Emma, eu sei que agora eu pareço ser um homem completamente diferente do que costumava ser enquanto me passava por seu motorista. Mas acredite, eu estava apenas protegendo o bem mais precioso do meu chefe. — Dener suspirou, obrigando-se a me explicar seus verdadeiros motivos para tudo isso. — Não me veja como um inimigo, em breve você terá os mesmos interesses que os meus, e vai aprender a…

— Não pense que sou uma criança a ser manipulada, Dener. Eu assinei o contrato pelo meu pai, mas eu tenho os meus princípios, minhas escolhas e ambições. — Deixei com que todos os meus pensamentos viessem à tona, eu não me importava com o que ele pensava disso. — Não sou como você.

Antes que o garçom recolhesse nosso pedido, me levantei e o deixei sozinho. Desde o funeral do meu pai, venho tendo problemas demais com minha madrasta, principalmente pelo fato de eu herdar a empresa. E quando cheguei no hotel, Dener não esperou que eu me recuperasse do meu luto, apenas despejou o contrato de casamento em minhas mãos como se eu fosse um objeto.

Porém, eu não o odiava.

Percebi que, após a minha saída, Dener sorriu como um cachorrinho finalmente domado por seu novo dono. Mas isso não me importava, eu queria a empresa em minhas mãos, queria provar para mim mesma que eu era capaz de suportar o peso.

Quando cheguei em casa, a minha nova casa, fui bem recebida por Sophie, que mais era como uma avó para mim. Eu nunca a deixaria nas mãos de Margaret, mesmo que eu tivesse que protegê-la com meu próprio corpo.

— Chegou cedo hoje, Emma. — A mesma caminhou em minha direção com um sorriso acolhedor, o mesmo de sempre, mas reconfortante. — Deve estar com fome, vou preparar algo para você, está bem?

Ela me abraçou bem forte, seus cabelos grisalhos roçaram no meu rosto, fazendo cócegas. Eu amava o cheiro dela, era como o de minha mãe. A senhora Sophie não era tão velha, mas suas rugas eram bem evidentes.

Quando deixei o hotel onde eu estava hospedada há algumas semanas, fiz com que ela viesse morar comigo como se ela fosse parte da família. Mas ela insistiu em continuar pelo menos cozinhando para mim, então me conformei com isso. Contanto que ela não se esforçasse tanto, eu a deixaria fazer o que quisesse.

— Sim, tive uma reunião com o senhor Martinez. — Suspirei apenas por lembrar que ele seria o meu sogro. — Ele assinou o contrato sem pestanejar, até parece que ele será o meu noivo. Só me resta esperar que o filho dele também assine.

— Eu sinto muito, querida. Não queria que tivesse que se casar assim, sem amor. — Sophie acariciou o meu rosto como se entendesse os meus sentimentos, mas ela sabia que quando se tratava de dinheiro, negócios e principalmente uma promessa, não tínhamos nada que pudéssemos fazer. — Mas tenho um bom pressentimento sobre seu casamento, estou orgulhosa de você.

— Obrigada, vovó. — A abracei novamente, fazendo-a se surpreender sempre que eu a chamava assim. E ela adorava. — Eu vou tomar um banho antes de comer, e Dener não virá para o jantar.

Vovó Sophie achava que eu nutria algum tipo de sentimento por Dener, ele poderia ser muito mais velho do que eu, mas eu realmente nunca soube como responder a isso. Nunca cheguei a amar alguém, mas estive apaixonada por Peter.

Após um banho demorado, visto uma roupa confortável para ficar em casa, já que eu não teria nada para fazer relacionado a empresa, pelo menos eu achava. Dener estava na linha de frente quando papai ficou doente, mas agora eu estou no comando, pelo menos em parte disso.

Antes de descer para o almoço, meu celular começa a vibrar em cima da cama. É um número desconhecido, mas não hesitei em atender. O silêncio pairou enquanto os segundos se passavam, logo minha impaciência surgiu. Eu estava prestes a dizer alguma coisa, quando simplesmente encerraram a chamada.

Quer merda.

Pensando que aquele número não retornaria, meu celular começou a vibrar novamente e dessa vez, deixei que tocasse até o último momento. Quando percebi que poderia ser algo importante, finalmente atendi.

— Olá, seja quem estiver do outro lado da linha, por favor não interrompa o meu momento de lazer, e só para constar, eu estou com fome e não estou com paciência para brincadeiras. — Meu tom de voz saiu um pouco exaltado, mas não me arrependi de cada palavra dita.

— Peço desculpas, Emma. — O homem do outro lado tinha uma voz grossa, mas doce. Parecia que ele não estava brincando comigo, mas ouvi-lo dizer o meu nome me deixou um pouco confusa. O que eu diria a seguir? E que informalidade era aquela? Será que nos conhecemos? Mas sua voz não é nada familiar. — Não vou tomar o seu tempo, eu apenas queria conferir algo, tenha um bom apetite.

E assim ele desligou.

Mordisquei o lábio inferior, eu estava mais nervosa por uma simples ligação do que pelas reuniões que eu teria nas semanas seguintes. Eu deveria esquecer isso, fingir que nada aconteceu e seguir com minha vida. Isso!

Quando chego na cozinha, Sophie está terminando de servir o almoço, o cheiro inconfundível de costelas de porco com salada me deixa desnorteada, mas minha preocupação chama sua atenção.

— Algum problema, querida? — Ela sentou-se juntamente comigo para saborear a comida, e eu fiz com muita vontade, pois estava morrendo de fome. Mas estava precisando de um bom vinho, mesmo que não fosse um bom momento.

— Acredita que alguém me ligou e logo depois desligou na minha cara? — Lembrar da cena me deixou furiosa, mas logo me recompus. — Mas o problema é que ligaram novamente, era um homem que me conhecia, ele pronunciou o meu nome como se fossemos íntimos. E ele disse que só estava conferindo algo, e ainda se desculpou.

— Ele disse o nome dele? Talvez seja algum amigo que não vê há anos. — Sophie estava tranquila, o que me deixou mais ansiosa, afinal, por que eu estava tão inconformada?

— Não, ele não disse mais nada. Nem tive tempo de perguntar, apenas me desejou bom apetite e desligou. — Aproveitei todo aquele almoço que Sophie preparou, mas ainda não estava satisfeita com aquela brincadeira estúpida.

Aquele teria sido meu primeiro dia de folga desde que comecei a frequentar a empresa e participar de algumas reuniões se não fosse por Dener me atormentando logo quando eu estava prestes a assistir a um dorama. Suspirei, eu realmente tinha que atendê-lo?

— O que você quer, Dener? Você disse que hoje eu poderia fazer o que quisesse, e então? — Me esparramei na cama como nunca tinha feito na vida, e ele riu da minha situação.

— Sinto em dizer que preciso atrapalhar seja lá o que estiver fazendo. — Ele estava descontraído, mas ainda mantinha sua postura séria, sim, eu conhecia ver através de uma simples ligação. Eu o conhecia tão bem. — O senhor Martinez entrou em contato comigo, ele disse que seu filho assinou o contrato e exigiu algumas condições.

— É mesmo? Quais seriam? — Não pude evitar sorrir, afinal, não imaginava que o filho do grandioso Martinez seria tão ousado, talvez minucioso. Mas não posso reclamar, ele tem todo o direito, caso contrário, não teria dado liberdade para isso no contrato.

— Não posso dizer agora, estou ocupado no momento. — Ah, Dener. Eu deveria saber disso, ele estava com preguiça, mas também estava tentando me punir pelo que houve mais cedo. — Terá que vir para a empresa, deixei os documentos na mesa.

— Não poderia simplesmente deixar aqui? Esquece, estou indo. — Desliguei a chamada, Dener realmente era um saco quando queria, e eu teria que me acostumar, afinal, o nomeei meu braço direito assim como papai.

Na empresa, sou muito bem recebida por todos os meus funcionários, a maioria eram mulheres, mas eu estava prestes a mudar isso. Eu poderia detestar homens em algumas situações, mas havia aqueles jovens inexperientes que buscavam oportunidades nessa empresa, e eu faria de tudo para valorizar isso.

Não perco tempo na recepção, ou em qualquer outro lugar que chame minha atenção, como o restaurante. Assim que chego no meu escritório, sou recebida por uma pilha de documentos que provavelmente precisavam de minha assinatura, mas dei devida atenção ao meu querido contrato de casamento.

Folheei algumas poucas folhas até encontrar as supostas exigências de meu noivo, mas quase fui interrompida antes de ler algumas delas. Alguém bateu em minha porta, adentrando logo em seguida. Dener, aquele cretino.

O mesmo encontrou o meu olhar de indignação, mas logo desviei minha atenção para o que realmente me interessava. A primeira exigência não era nada avassaladora, era um pouco inusitada, eu diria, mas de certa forma simples e estranha.

— Senhorita Emma, permita-me incomodá-la mais uma vez, mas você tem uma visita. — Balbuciei alguma coisa para que ele permitisse a entrada de quem quer que seja.

— Olá, Emma. Finalmente nos conhecemos pessoalmente! — Uma voz doce e marcante ecoou em meu escritório, fazendo-me dar-lhe a devida atenção. Eu não a conhecia, mas tive uma leve impressão de que a primeira exigência tinha algo haver com ela. — Eu sou Alessia Martinez, sua cunhada.

^^^(Alessia Martinez)^^^

O Meu Casamento

Não sei exatamente como vim parar aqui, dadas as circunstâncias e insistências de Alessia, sinto que não estou tão arrependida assim. Após me forçar a deixar a empresa e os documentos na mesa, ela me arrastou para o shopping onde ela dizia ser dona. 

Devo dizer que não estou impressionada, afinal, a família Martinez usufruía de uma grande fortuna. Ao menos Alessia me transmitia uma sensação boa e confortável, diferente de Ava. Não que eu esteja sentindo sua falta, mas o que fazíamos para nos divertir era contagiante.

— Que tal "aquele lugar"? — Ela sorriu largamente após me mostrar uma loja que não tinha nada haver com ela, mas que chamou minha atenção de imediato. Ou seja, meus olhos estavam brilhando! — Vamos lá!

— Caramba! — Deixei minhas emoções falarem mais alto e não percebi o que tinha acabado de dizer. — Olha isso! 

Mordisquei o lábio inferior quando me deparei com uma coleção de caveiras decorativas na vitrine, seguido de roupas chamativas que ficariam muito bem em meu corpo. Obviamente, se eu pudesse usá-las. 

— Porque não experimenta esse? — Alessia me deixou para trás quando reparou em um conjunto gótico que, de acordo com ela, era a minha cara. — Tenho certeza que ficará sombria!  

Quando deixei o provador, Alessia simplesmente arregalou os olhos quando me viu com aquela calça de couro contornada com tachinhas e correntes. O cropped era como um sutiã rendado com bojo, mas que me deixava com os seios mais fartos do que eram. Eu não poderia esquecer da jaqueta de couro, era linda. 

— Meus deus, mas que corpo perfeito! — Ela me analisou dos pés à cabeça. Me senti tão exposta que não consegui olhar em seus olhos azuis penetrantes. — Meu irmão não perde por esperar! Como consegue esconder tudo isso com aquelas roupas? 

— O que eu posso fazer? Algum dia minha vida teria que mudar, até mesmo as roupas. — Suspirei, olhando-me no espelho para vislumbrar algo que não poderia ter. Sim, eu estava com saudades da minha vida de loucuras e festanças, mas em algum momento eu tinha que amadurecer e ter responsabilidades. Eu simplesmente não poderia chegar na empresa com esse decote absurdo, por mais que eu gostasse.

— Eu vou te contar um segredo, Emma. — Alessia me abraçou por trás, apoiando a cabeça em meu ombro como se fossemos irmãs, talvez uma irmã que ela nunca teve, e eu também me sentia assim. — Eu sei que você é muito jovem, assim como meu irmão, mas não quero que vocês desistam do que gostam de fazer. A vida é curta demais para se esconder em uma bolha, por mais que tenhamos responsabilidades. Eu também tenho a minha, mas não deixo de me divertir de vez em quando. 

E novamente ela sorriu. Como ela conseguia ser tão feliz? No entanto, essa felicidade não era a única coisa que seus olhos queriam me mostrar, parecia que ela guardava um incômodo por dentro, algo que somente ela conseguia lidar. 

— O que acha de comprar tudo isso? — Alessia se afastou para me mostrar mais do que aquela loja tinha a oferecer, e eu não recusei. — Tem algo que eu também quero comprar para você depois de ver tudo isso… 

Seu olhar se voltou em meu corpo novamente, e eu tinha certeza que nada de bom sairia daquela loja. Caminhamos para uma sessão mais reservada, onde encontrei as mais variadas peças sensuais que alguém poderia saber, e todas elas tinham algo em comum, a transparência. Cada uma mais ousada que a outra. 

— Eu não sabia que seu irmão era tão… — Naquele momento, eu não consegui encontrar uma palavra que pudesse definir o que eu estava pensando sobre ele. 

— O que? Ah, ele não sabe nada sobre isso. — Alessia estava estranha, eu não queria dizer nada que a ofendesse, mas depois que chegamos nessa sessão, me senti um pouco desvalorizada. Talvez eu estivesse apenas delirando, mas ela não seria esse tipo de pessoa, certo? — Na verdade, ele não sabe que você está acostumada com isso, por isso estou aqui. 

Muitas coisas passaram pela minha cabeça, e eu fiquei atônita. O que ela queria dizer com isso? Que eu saia transando com qualquer um? Eu poderia muito bem relevar isso, fingir que nada aconteceu e deixar com que ela pensasse isso de mim, mas eu não consegui. 

Alessia poderia ser uma mulher muito interessante, amigável e profissional. Mas ouvi-la dizer isso fez com que eu me forçasse a rir, chamando sua atenção de imediato. Felizmente, apenas a deixei sozinha com aquelas coisas, não queria passar mais um minuto em sua companhia. 

Não posso negar que minha adolescência tenha sido um pouco agitada, e obviamente eu me envergonho de cada coisa que fiz para me divertir. Mas o passado está no passado, eu não tenho mais ninguém para chamar de família além de Sophie, e ela é a única que sabe mais do que ninguém que eu tenho caráter a zelar.

Quando cheguei em casa, me deparei com Dener sentado no sofá da sala de estar conversando amigavelmente com Sophie. Mas eu não estava com paciência suficiente para ouvir mais reclamações sobre o que eu deixei de fazer na empresa para simplesmente sair com Alessia.

— Minha querida, Dener comentou sobre seu encontro com sua cunhada, conseguiu se divertir? — Eu não queria respondê-la, principalmente diante dele. 

— Não, não consegui. — Contei a verdade, o que mais eu diria? Eu apenas precisava ficar um pouco sozinha antes que eu saísse dizendo tudo que aconteceu. — Sophie, poderia pedir para levarem meu jantar para o quarto mais tarde?

— Mas é claro, minha filha. — Ela sorriu para mim para tentar me confortar, talvez ela tivesse percebido o quanto eu estava chateada, mas não tocaria no assunto agora. Um alívio. 

Tomei outro banho para tirar todas as coisas ruins que estavam impregnadas no meu corpo, e isso me deixou mais relaxada. Pelo menos até o meu celular começar a tocar, era aquele número daquele desconhecido novamente. 

— Olá, em que posso ajudar? — Fingi descaso, ao menos Dener tinha algo interessante para me inspirar a fazer.

Silêncio. 

Por mais que eu não conseguisse ouvir muita coisa, a respiração daquele homem era perceptível. Ele estava nervoso? E como eu poderia presumir isso? Eu tinha que perguntar. 

— Eu sei que você está aí, não precisa ficar nervoso. — Sorri, ao menos eu estava me divertindo com isso. E novamente o silêncio. — Tudo bem, eu vou desligar agora, se quiser me dizer alguma coisa, sinta-se à vontade para me ligar novamente.

Alguns dias se passaram desde aquele sufoco, o homem misterioso não me ligou mais. Dener estava mais ansioso do que eu sobre o meu casamento. Sophie estava tranquila, e me ajudava com muito orgulho a me preparar para a cerimônia. Alessia também não entrou em contato comigo, se ela estivesse envergonhada pelo que fez, eu preferia manter distância.

Meu vestido era simples, eu não queria demonstrar felicidade e esbanjar luxo diante de quem não era nada para mim emocionalmente. Tudo o que eu queria era acabar logo com isso e retornar a minha vida como se nada tivesse acontecido.

Tudo estava preparado, até mesmo a festa que aconteceria em um salão reservado. Obviamente, o senhor Martinez cuidou para que isso acontecesse, para ele seria mais sensato mostrar às pessoas o grandioso casamento entre duas famílias poderosas. 

— Você está linda, querida. — Sophie me analisou por completo, sorrindo como se estivesse muito satisfeita. — Tenho certeza que sua mãe e seu pai estão muito orgulhosos de você. 

— Obrigada, vovó. — Me olhei no espelho novamente, mas não consegui sentir nem um pouco de felicidade. Tudo me lembrava dele, de Peter. De suas promessas vazias, seu amor falso e pedidos sem compromisso. — Podemos ir agora?

Dener não mediu esforços para me levar para a igreja, onde o senhor Martinez estaria me esperando para entrar comigo. Ele fez questão de me lembrar que eu não tenho mais ninguém para fazer isso, quis matá-lo, mas eu não me importava mais com essas bobagens.

No altar, todos esperavam por mim, até mesmo pessoas que eu sequer conhecia. Alessia estava lá e como eu tinha imaginado, ela estava envergonhada pelo que fez. Quando desviei o meu olhar para o noivo que eu nunca tinha visto até agora, fiquei sem saber como reagir. 

Em meus pensamentos, eu imaginava que ele seria um homem sem escrúpulos, talvez até mesmo um aproveitador. Mas eu estava enganada, mas a minha falta de reação fez com que todos os olhares sobre mim se tornassem um alívio. É claro, para eles, quem se casaria com um cadeirante? 

Eu não tinha nada contra isso, eu não me importava. Então todo esse segredo e discrição era por causa disso? Quem eles achavam que eu era? Talvez, só talvez agora eu conseguisse entender o que Alessia quis dizer. Mas a sua desconfiança não vai mudar a primeira impressão que eu tive. 

Observei atentamente o meu futuro marido, ele tinha uma beleza indescritível, assim como o resto de sua família. No entanto, eu não conseguia fazê-lo olhar diretamente para mim, qual seria o problema agora? Por acaso ele também era cego?

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