Acordo com um toque barulhento no pé do meu ouvido. Era meu celular na cabeceira da cama. Me levanto rapidinho e atendo o telefone. Era minha melhor amiga ligando.

— Ainda tava dormindo? — Rebeca pergunta do outro lado da linha telefônica.

— O que você quer a essa hora da manhã? — Falo com a voz rouca.

— Não se lembra que dia é hoje?

— Ah, é seu casamento! Não se preocupe, eu vou!... Mesmo que eu não aprove o Diego como seu noivo.

— Você não vai se livrar tão fácil assim… Tô te esperando na minha casa pra me ajudar aqui, vem logo!

— Tá, daqui a 30 minutos eu tô aí.

— Ok, te amo miga!

— Também te amo!

Desligo o celular e me arrumo com uma roupa básica, uma calça jeans e uma blusa amarela regata. E sigo pra minha cafeteria preferida do bairro.

Prazer! Eu me chamo Yasmin Ferraz, e moro de aluguel em um apartamento nos subúrbios de Smalltown. Sou de estatura média, morena de cabelos longos, olhos  castanhos, e possuo sardas no rosto.

Yasmin Ferraz:

Tenho 21 anos e sou dona de um estúdio de dança em que dou aulas pra crianças. Mas como a maioria dos meus alunos são de baixa renda, e eu tenho um grande carinho por todos, às vezes não cobro nada deles. E isso acaba me deixando em uma situação difícil. Pois a manutenção do lugar é caro e as contas são ainda mais. Minha mãe faleceu quando eu tinha 14 de uma doença venérea. Descobri só algum tempo depois que ela trabalhava como Stripper e era Garota de Programa. Meu pai? Não faço a menor ideia de quem seja. E não me importo. Sempre consegui me virar sozinha. E não preciso dele. Tanto que antes de completar 18 já havia conquistado meu sonho de ter um estúdio de dança. Mas nem sempre foi assim. Sempre sobrevivi de bicos. Já fui empregada doméstica, garçonete, assistente, vendedora, babá... E o meu último foi de telefonista. Mas nunca permaneci em nenhum. Pois sempre reclamavam das minhas atitudes e diziam que eu era louca. Mas hoje, estou plenamente feliz com o que eu já conquistei. 

Chego na frente da cafeteria, olho meu reflexo pelo vidro da janela do lugar. Mas quando eu observo o lado de dentro do ambiente, vejo alguém conhecido. Era Diego. Ele estava sentado na mesa com uma mulher loira e segurava a mão dela. Que canalha! Ele tá traindo minha amiga prestes a se casar? E nem  sequer disfarça! Se encontrando com a amante em um lugar público! Que miserável! No mesmo instante, pego meu celular e tiro fotos dessa cena e mando pra Rebeca. Por sinal, minha melhor amiga desde os tempos de escola.

Rebeca Dutra:

Não demora muito e ela logo visualiza minha mensagem. E me liga logo em seguida:

— Mas que p*rra é essa, Yasmin? — Ela se irrita ao celular.

— É o que você tá vendo, Rebeca! Seu noivo tá tendo um caso!

— Não acredito que você chegou a esse ponto, Yasmin! Tá até falsificando provas?!

— Claro que não, Rebeca! Mas se você quiser fazer papel de trouxa é problema seu! — Exclamo e desligo o celular na cara dela.

Pelo menos eu tentei avisar. Mas se ela quiser continuar acreditando no que quer azar o dela! É por isso que dizem que o pior cego é aquele que não quer ver…

Eu me chamo Vicente Donatti, tenho 28 anos e sou formado em administração e engenharia de produção. Hoje presido a Bright Corporation, uma empresa que atua no mercado de jóias. 

Vicente Donatti:

Gosto de tocar piano e de esportes. Meus esportes favoritos são arco e flecha e tiro ao alvo. Aliás, sempre que eu tenho uma folguinha no trabalho vou atirar com alguns amigos. meu pai, minha mãe e meu irmão mais novo moram em outra casa, e eu tenho uma mansão que em breve irei morar junto com Natália, minha noiva. Até hoje me guardei e nunca tive relações com ela. Não que ela não me despertasse... Ela é linda. Mas, não sei. Acho que meu instinto protetor é maior. E a minha vontade é de guardar ela só pra mim e cuidar dela com todo carinho.

Possuo um forte senso de justiça. Não me conformo quando sou injustiçado de jeito nenhum. Quando eu era criança, eu costumava ser baixo, magrinho e tímido. Mas para os meus colegas eu era um "fracote". E claro que eles se aproveitavam disso e mexiam comigo, me provocando. E tudo o que eles pudessem tirar de mim, tiravam. Ou melhor, roubavam. Ficava com um ódio mortal deles, mas eu nunca fazia nada… Por medo.

Eu sempre tive uma paixão por uma menina da minha sala. O nome dela era Natália. Ela era linda, inteligente e gentil. Mas ela nunca me notava e sempre namorava os rapazes mais populares da escola. Nunca me apaixonei por garota nenhuma depois dela. Ela com certeza é meu primeiro e meu último amor. Porém, como uma fênix que renasce das cinzas ou como o patinho feio que se torna cisne, eu me tornei atraente quando fui para o Ensino Médio. Fiquei bem alto, forte e destemido. Quase ninguém se aproximava mais de mim pra mexer comigo. E óbvio que eu não deixei nada barato. Fui ter um acerto de contas com todos os que me provocaram quando eu ainda era um "fracote". 

E foi aí que Natália me notou. Eu comecei a investir meu tempo em declarações de amor e mais outras coisas que todo adolescente faz quando está apaixonado. E de tanto eu insistir, Natália acabou cedendo aos meus encantos e desde então nós namoramos. E depois de tanto convencer ela, hoje vamos nos casar finalmente. E óbvio que eu não vou deixar ninguém atrapalhar o que eu demorei tanto pra conquistar. De repente meu telefone toca e eu atendo. Era Marcelo, meu irmão.

— Você ainda tá em casa, Vicente?! — Meu irmão inicia a ligação e eu fico tenso, já que normalmente ele é calmo e mais controlado que eu.

— Sim, por quê?

— Por que o casamento já tá começando e você tá atrasado!

— O quê? Mas não é só daqui a 2 horas?

— Não, acabaram cancelando um casamento e o seu é o próximo.

— Falou. Tô chegando aí.

— Ok.

Desligo o telefone, visto meu terno e vou direto pra Igreja. E já na porta, vejo alguns paparazzi me fotografando enquanto eu caminhava pelo longo tapete vermelho e paro em frente ao altar, ao lado do padre. Passado alguns minutos, Natália entra. E como sempre, linda e deslumbrante naquele vestido de noiva. Eu pego na mão dela e o padre começa o discurso. Mas assim que ele já terminava e perguntava se ela me aceitava, escuto atrás de mim alguém gritar dizendo que não aceitava o casamento, que eu era canalha e mais outras coisas. Era uma voz feminina. Provavelmente deve ser uma das garotas que não aceitou minha rejeição e veio arruinar meu casamento. Eu ignoro e continuo de olho no padre, talvez assim ela desista. Mas Natália olha pra trás e eu não sei o que ela viu, mas ela me encara com o rosto vermelho de raiva. E diz que sabia que não podia confiar em mim e simplesmente vai embora da Igreja. E eu não consegui fazer nada! Que raios! Me viro pra trás e vejo aquela garota irritante com o celular na mão e uma foto que nem era minha. Essa garota me paga!

[ Yasmin ]

Mas ainda que Rebeca esteja totalmente cega de amores por Diego, não posso desistir dela. Ela é muito carinhosa e gentil… Mas também muito boba, e por isso os outros sempre a fazem de trouxa…  Ela que se mete nos problemas dos outros mas sempre sobra pra mim, que tenho que resolver as mancadas dela. Sempre é assim. E mais uma vez, vou ter que lidar com esse problema. 

[...]

Chega a noite…. E Rebeca deve tá morrendo de raiva de mim agora, por isso ainda não falei com ela desde a nossa última ligação. Então só tenho uma coisa a fazer… Já era quase a hora do casamento. Apresso-me e vou direto pra Igreja onde aconteceria o evento. Pego um táxi e sigo pro lugar, que estava lotado de carros em frente. Abro a porta indo pra entrada da Igreja e estranhamente o casamento já estava acontecendo. Parece que adiantaram…Vejo o padre abençoando os noivos e finalizando o discurso, começava a perguntar se a noiva aceitava o noivo. Eles estavam de costas pro público, que olhavam vidrados cada movimento do casal. E tanto o lugar quanto os noivos, mesmo que de costas estavam mais chiques do que eu achei que estaria… Enfim não vou perder mais tempo! Caminho pelo tapete vermelho. Todos os convidados se viram pra me olhar e eu viro a atração da cerimônia. Mas não me importo. Vou até o altar, mas fico atrás dos noivos e interrompo a fala da noiva:

— Eu não posso aceitar esse casamento! Ele é um canalha! Ele tem uma amante e eu tenho provas! — Digo mostrando a tela do celular pra eles. E a noiva se vira pra olhar. E… Não era a Rebeca! Era outra mulher! Não acredito! Tento falar algo mas, assim que a mulher vê a foto no celular o seu rosto fica vermelho de raiva, enquanto o noivo continuava imóvel.

— Cretino! Sabia que não podia confiar em você! — Ela exclama apontando pro noivo, passa por mim e sai andando até o lado de fora da Igreja e eu não conseguir mais vê-la.

De repente o noivo que parecia uma estátua vira pra mim e eu sinto calafrios e me arrepio toda quando vejo aqueles dois pares de olhos azuis penetrantes me encarando. E obviamente que não era o Diego! Que droga! Invadi o casamento errado! 

— Você! — O noivo exclama apontando pra mim. — Vem comigo agora! — Ele desce do altar, segura meu braço apertando e sai me puxando até fora da Igreja sem se importar com os olhares atentos dos convidados pra nós.

Ele é muito gato… Mas bem agressivo. 

O noivo sai me puxando até fora da Igreja, parando em frente a um carro. Que estúpido! E depois ele me solta.

— Me desculpa! Eu errei o casamento, não era o seu que eu queria invadir, mas o da minha amiga! — Falo e ele me encara.

— E o que eu tenho a ver com isso? Você é louca!

Suspiro.

— Eu já pedi desculpa! Não foi minha intenção! E eu posso falar com sua noiva se você quiser…

— Não acredito! 

— Acredite no que quiser! Se você não quer minha ajuda, me dê licença! — Falo me afastando dele.

— Espera! Você realmente me ajudaria? — Ele pega novamente no meu braço.

— Claro! — Sorrio. — Agora nós estamos falando a mesma língua.

— Então vem comigo. — Ele diz entrando no carro e senta no banco do motorista e eu entro no automóvel logo em seguida me sentando ao lado dele. E ele começa a dirigir.

— A gente não se apresentou ainda, mas eu sou a Yasmin. E você? — Começo.

— Você não me conhece?! — Ele pergunta estarrecido e sem tirar os olhos do volante.

— Não. Eu nunca te vi na minha vida. 

Ele sorri.

— Você não conhece o maior império de Jóias de Smalltown?

— Não, eu preciso?

— Não precisa, mas eu não acredito em você.

— Não, eu nunca ouvi falar.

— Eu sou Vicente Donatti, o primeiro sucessor e presidente da Bright Corporation. Famosa no ramo de jóias pra sua informação.

— E eu sou a primeira fundadora de uma escola de dança pra crianças nesse bairro, famosa por atrair muita diversão pra sua informação.

Ele me encara e volta a olhar pro volante.

— Você chama isso de diversão? Dar aulas pra pestinhas?

— Claro! Cada pestinha desse tem sonhos! E sem falar que eles são como minha família.

— Caraca! Não sabia que sua vida era tão… Chata.

Reviro os olhos.

— Chata é sua vida, que deve ser estressante e sem nenhum tempo pra diversão.

— Você errou! Eu me divirto bastante.

— Resolvendo negócios chatos?

— Não! Com plantas! 

— O quê?! Você se diverte com plantas?

Não me aguento e começo a gargalhar alto. Minha barriga até já doía de tanto rir.

— Hahaha. — Ele me imita com deboche. — Do mesmo jeito que você tem uma família de pestinhas eu tenho uma de plantas.

— Isso é hilário! Só faltou você dizer que ainda coleciona brinquedinhos também.

Ele me encara parecendo que ia me fuzilar. Vixe! Parece que acabei de pegar na ferida dele.

— Olha só, isso não é problema seu, garota! E essa conversa já foi longe demais! Não pense que é minha amiguinha só porque você tá no meu carro, entendeu?!

Que cara mais grosso! É gato, arrogante e altamente irritante. Então porque eu ainda  me sentia atraída por ele? Por quê? Não sei… Acho que tem algo no olhar dele que me perturba. O semblante dele era frio e distante. Havia uma tristeza escondida na expressão dele que me angustiava. Mesmo ele tentando parecer calmo diante daquela situação, eu percebia que ele estava muito tenso e ansioso.

— Mas você ainda não me disse, aonde você tá me levando? — Pergunto.