Queridos leitores quero esclarecer antes de qualquer coisa, que o livro foi escrito com a visão de ambos os personagens principais, a Alice e o Hugo. Então em alguns momentos você pode imaginar que voltou ao capítulo que já leu, porém é apenas a versão do outro personagem. Cada capítulo está identificado com o nome ao lado para ajudar vocês a compreender melhor a história. Espero que vocês curtam, porque ela foi inscrita com muito carinho. Beijos a todos!
...(Apenas para constar que todas as imagens contida nesse livro foram retirada do Pinterest.)...
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Sou o tipo de pessoa que está sempre tentando se superar. Sempre me achei diferente de algumas garotas de minha idade que sonhavam em um dia conhecer um rapaz consideravelmente rico, viajar pelo mundo, formar uma linda família, criar e educar os filhos e depender exclusivamente do marido. Eu queria algo diferente disso. Eu queria minha independência. Queria me sentir livre. Vi na corrida essa possibilidade e me dediquei de corpo e alma a ela.
Me chamo Alice Fonseca, sou a terceira filha de um casal de aposentados. Tenho 23 anos e sou formada em educação física. Faço parte de uma equipe profissional de atletismo, além de ser instrutora em uma academia conceituada. Muitos correm apenas visando ser livre, espairecer a mente depois de um dia de serviço estressante, ou até mesmo manter a forma e saúde física. E outros, como eu, veem na corrida uma oportunidade de independência. Afinal, os vencedores das grandes maratonas, além dos troféus, levam para casa uma quantia em dinheiro que bem administrada darão um bom rendimento. Assim era minha pacata e descomplicada vida na cidade de Gravatá, numa região de transição entre o Sertão e a Zona da Mata de Pernambuco.
Acho que o destino, entediado com a minha vida simples, fez cruzar no meu caminho ninguém menos do que o charmoso e conquistador Noah. Um rapaz de pele clara e olhos verdes penetrantes, corpo atlético e um sorriso encantador. Nos conhecemos numa das raras vezes que resolvi sair com as colegas de trabalho para uma balada. Feito uma tola, me deixei levar pelas conversas melosas e apaixonadas do Noah.
Depois daquele dia, vivemos uma história de amor arrebatadora. Em 6 meses já estávamos morando juntos e sonhando planos para uma vida inteira. Como qualquer casal, tínhamos nossas diferenças. Mesmo contra a vontade do Noah, nunca deixei minhas competições de lado, elas, com meu emprego de instrutora, eram que me davam uma estabilidade financeira e eu não abriria mão disso. Sempre foi meu objetivo ser independente e Noah nunca conseguiu mudar isso, apesar das inúmeras tentativas.
Morávamos em uma casa consideravelmente grande se comparada a outras da mesma localidade. Duas salas conjugadas, dois quartos, uma suíte, cozinha grande, banheiro e um quintal em volta de toda casa. Muito bem equipada e decorada de acordo com meus gostos e algumas exigências do Noah. Quando compramos a casa o Noah foi contra eu também pagar por ela, mas não abrir mãos disso também. Apesar dele possuir uma posição elevada na empresa onde trabalhava (gerente administrativo da multinacional) e ganhar muito bem se comparado ao meu salário, eu nunca me sentir dependente dele, eu estava sempre contribuindo de alguma forma para algo que se referia a nossa vida de casal.
Por ele não aceitar a minha profissão, começamos a ter alguns empecilhos em nossa relação. Ele comentava que não suportava outros homens olhando meu corpo e desejando o que era dele. Como se isso fosse motivo de me fazer parar de correr, de fazer com que parasse de sonhar em ser sempre a melhor, de bloquear meus esforços de sempre buscar nada menos que o primeiro lugar nos pódios.
Sempre que eu dizia ter que treinar, Noah dizia ter trabalhos extras a fazer, e mesmo gostando de se exercitar, se negava a correr comigo. Meus colegas para ele, me olhara com olhares de cobiça, mesmo quando a maioria, eram casados e viviam uma vida feliz com suas esposas. Noah alimentava a esperança que eu, como sua esposa, permanecesse em casa aguardando por ele na expectativa de agradá-lo quando enfim, depois de um dia exaustivo de trabalho, ele chegasse em casa. Que eu me tornasse uma esposa troféu. Queria que eu ficasse imaginando formas agradáveis de lhe levar a loucura na cama. E isso eu já fazia, mesmo durante meus treinos. Sempre superei as expectativas de Noah na cama, e muitas vezes, mesmo cansada, nunca deixei a desejar. Porém, isso não era suficiente para ele, e por eu não aceitar desistir de meus objetivos, nossa história arrebatadora de amor começou a declinar.
Treinava algumas vezes durante a semana e sempre que chegava após esses treinos, nunca o encontrava em casa. Quando tentava localizá-lo através do celular, escutava a secretaria eletrônica pedido para deixar o recado após o sinal. Muitas das vezes quando ele chegava em casa eu já estava dormindo. Outras vezes ele me falava que o celular havia descarregado e que tiveram algumas reuniões extras para finalizar alguns trabalhos inacabados. Noah nunca deu muitas informações sobre seu trabalho e eu, como uma idiota, nunca questionei muito sobre o assunto.
Num certo dia, mesmo após ter saído e completado o percurso até a academia para treinar, resolvi retornar para casa, e fazer uma surpresa para o Noah. Mas meus planos foram por água abaixo por não encontrá-lo, mesmo quando ele já deveria estar em casa. Tentei por diversas vezes entrar em contato com ele através do celular, sem sucesso. O telefone de seu escritório ninguém atendia, me fazendo acreditar que todos já haviam largado.
Meus planos não só deram errados naquela noite, como me aguçaram a curiosidade de saber onde se encontrava o Noah. Teria que ocupar a mente em outra coisa que não fosse meu agora misterioso marido, pois as letras gritantes da palavra "TRAIÇÃO", se manifestava em minha mente como letreiros. Resolvi correr nas ruas próximas e não ter dado como perdida minha noite. Ao chegar em minha rua na volta, cruzei com a Vitória, minha vizinha e melhor amiga, apesar do Noah não gosta muito dessa amizade. Eu e a Vitória conversamos um pouco sobre a minha próxima competição, que seria dali a uns 15 dias, numa cidade vizinha a nossa, e que estava oferecendo uma boa quantia ao vencedor. E até comentei que aquela seria a oportunidade perfeita para uma viagem romântica com meu maravilhoso marido.
Noah sabia meus horários com exatidão. A hora em que estaria em casa, a hora que estaria trabalhando e meus horários de treinos. A única coisa que ele não esperava é que naquela noite eu estivesse no sofá a sua espera. O sorriso que ele tinha no rosto desapareceu assim que nossos olhares se encontraram, sua reação mudou, mas só após me aproximar dele foi que descobrir o real motivo. Meu marido cheirava a um perfume feminino que não era o meu, o brilho que ele tinha no olhar se apagou. E mais uma vez aquela voz, que minha mãe costuma dizer que toda mulher tem de sexto sentido, gritava a palavra que tanto eu me esforçava a esquecer, "TRAIÇÃO".
No exato momento que me aproximei e ele percebeu minha reação, ele caminhou até o banheiro e disse precisar de uma ducha, que não sabia como eu aguentava todo aquele suor no meu corpo após meus treinamentos, insinuando haver saído para se exercitar. Mas ninguém se exercita de calça social e muito menos com um sapato que não seja confortável e apropriado para isso. Meus sentidos de mulher sabia qual era a verdadeira intenção dele naquele momento. Levar para o ralo qualquer vestígio do erro que ele cometeu ao me trair.
Eu sabia que após o choque da surpresa, a bomba na qual eu me transformaria após descobrir que fui enganada, não demoraria a explodir. Era só questão de minutos até eu absorver o que meus olhos viam e meu cérebro processava.
O banheiro enorme de nossa casa, se tornou minúsculo com as perguntas que cruzavam a minha mente e minha boca cuspia, e minha cabeça girava com cada desculpa sem nexo que ele me dava. O fim da discórdia foi a marca vermelha que existia em seu pescoço e que ele tanto tentou esconder, mas que não obteve êxito. Naquele momento era como se outra pessoa ocupasse meu corpo, toda a euforia de palavras que eu queria gritar, foram abafadas por uma tranquilidade que eu não imaginei ter. Todo o furacão que pulsava em mim, foi ficando calmo como uma brisa e meu cérebro mais uma vez começou a processar com exatidão a decisão mais sábia a tomar.
Me dirigir ao nosso quarto e peguei uma mala, nesse momento ele já estava enrolado na toalha vindo atrás de mim e ao perceber que eu peguei a mala me fez uma única pergunta:
(Noah) ➖ Você vai ser tão tola ao ponto de voltar para casa de seus pais?
Ele tinha conhecimento que se eu voltasse para casa dos meus pais, sofreria pressão para abandonar as corridas. Minha mãe acreditava que ninguém conseguiria se manter somente com as corridas e suas vitórias, que isso não passava de um hobby. Para ela, uma pessoa bem sucedida tinha que ter uma carteira de trabalho assinada, um bom salário no final do mês e ser dedicada a família, e a corrida não fazia parte disso. Meu pai apenas dizia que eu fosse feliz como escolhi viver.
Eu sabia que Noah tinha razão ao insinuar que eu seria uma tola se abrisse mão de meus planos de vida por uma traição, ele só não sabia qual a minha intenção, até o momento que ele processou que não eram minhas roupas que estavam sendo colocadas na mala, e sim a dele. Naquele momento ele soube que quem estava preste a partir, não era eu, era ele. Mesmo os olhos dele vendo o que minhas mãos faziam ao fechar a mala, ele tinha esperança que após um minuto de explicação dele, eu retrocederia na minha decisão, não sabia ele que o que eu mais presava numa relação era a confiança, a mesma confiança que ele quebrou sem dó e sem piedade ao me trair. Escutei com a maior paciência do mundo o que ele tentava justificar. Escutei calada as acusações dele me falando que eu era a única culpada por toda aquela situação, por não ter escutado os pedidos dele para desistir dos meus objetivos, porque para ele mulher perfeita era aquela que vivia submissa ao marido. E após ele falar tudo que tinha a dizer, como se não fosse eu mesma que estivesse naquele momento em meu corpo, olhei para ele e pedir que saísse de dentro do que antes era nosso lar e que passaria a ser apenas a minha casa.
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