Sempre fui uma menina mimada, com uma infância rodeada de luxos e na adolescência não foi diferente. Meus pais, dois Advogados respeitados do País, ofereciam-me e continuam oferecendo presentes caros para ofuscar uma coisa que o dinheiro não pode comprar, amor.
Sou charmosa, fashion e minha beleza estonteante chama atenção por onde passo, não é a toa que sou considerada a garota mais linda e popular do colégio, sem contar que minha inteligência nunca passou despercebida por todos os colégio que estudei.
Muita gente diz que os meus cabelos castanhos me deixam com um ar de superioridade que apenas eu tenho e que meus olhos, verdes penetrantes, são capazes de arrepiar qualquer pessoa que me encarre por mais de dois segundos e que meus lábios, carnudos, rosados e feitos para beijar, é uma tentação até para os homens mais correctos e dignos da face da terra.
Tenho 18 anos e estou último ano do ensino médio, assim que terminar, pretendo ingressar para Havard e cursar meu sonho de menina, Medicina, o que chega a ser irônico, visto que não me importo e nem dou a mínima para as pessoas ao meu redor. Nunca fui simpática, apenas converso com quem é do mesmo nível social que o meu e segundo as minhas fontes, esse era o motivo pelo qual a maioria dos meus colegas das classes anteriores não falavam comigo, mas eu estou nem aí para eles, não pagam as minhas contas mesmo.
Minha vaidade por coisas materiais é tão grande e tão avassaladora que chega até a assustar, mas pensando bem, nem tanto assim, afinal de contas, é isso que os meus pais sempre me deram, desde criança, desde que me conheço como gente.
Esta semana iniciaram as aulas e digamos que não gostei nem um pouco disso, não que eu não goste de estudar, muito pelo contrário, mas as férias estavam tão boas, mas tão boas que meu único desejo era que elas durassem um pouco mais. Passei os últimos três meses viajando com a minha amiga, primos e meu namorado Jackson, capitão do time de basebol do mesmo colégio onde estudo, ele é lindo, charmoso, sexy e muito arrogante.
A maioria dos Professores se apresentaram nos seus respectivos dias de aula, e hoje quinta-feira, conhecerei os de matemática, geografia e história. Nenhuma delas é biologia, minha disciplina favorita, mas isso não me impede de ser genial nelas também, sempre tive na mente que deveria ser perfeita em tudo que fizesse e me esforço demais para isso, não tenho defeitos e sou a perfeição em carne e osso.
- Vicenta Borges William - minha mãe grita raivosa do andar de baixo, esquecendo-se dos bons modos que aprendeu com seus pais - quer se atrasar de novo?
Decido ignorar o ataque histérico da dona Camila e continuo me arrumando, de jeito nenhum sairei igual uma sem teto, quero estar lindíssima a qualquer custo, mesmo que tenha de chegar tarde no colégio.
- desça já daí menina!
Minha mãe está impossível nos últimos dias e descarrega tudo em mim, não sei o que deu nela e sinceramente falando isso está enchendo a minha paciência, não tenho culpa se alguém a estressou e ela deveria saber disso. Termino de fazer a maquiagem e desço sem pressa alguma as escadas.
- bom dia pra você também mãe - digo com um leve sarcasmo na voz.
- não sei o que tem de bom - suspirou - seu pai e eu iremos viajar hoje e é bem provável que não nos encontre aqui quando voltar do colégio.
Meus pais tem um escritório de Advocacia mundialmente conhecido, mas nem sempre eles vão para lá, muitas das vezes trabalham aqui de casa mesmo.
- boa viagem então - dou de ombros.
A ausência dos meus genitores não me importa mais, nem lembro a última vez que ouvi um " te amo" vindo deles, nem um abraço e muito menos um beijo na bochecha, apenas " olha o que a mamãe comprou pra você filha" ou um "gostou do relógio que o papai comprou? Valeram milhares de reais". O que eles fazem da vida deles não me interessa mais, não que eu seja insensível, só que aprendi a ter uma vida assim, sem amor ou afeto da parte dos responsáveis pela minha existência.
Saio de casa no meu Mercedes Benz branco que ganhei no aniversário de dezoito anos e nem me dou o trabalho de tomar o café da manhã, estou atrasada e não quero perder mais alguns minutos alimentando o meu estômago, por isso, decidi ir ao colégio desse jeito mesmo.
Assim que chego ao corredor, todos os olhares se voltam para mim, mas isso não me incomoda ou intimida, muito pelo contrário, aumenta mais a confiança e segurança dentro de mim, gosto de chamar a atenção e faço isso sem muito esforço, uma vez que minha beleza está muito acima dos padrões da alta sociedade.
- estou te chamando a muito tempo - reclamou.
Natália é minha melhor amiga e tem dezassete anos, seus cabelos são pretos, seus olhos azuis e um corpo que arranca olhares por onde passa. Crescemos no mesmo ciclo social e seus pais assim como os meus, são dois Advogados conhecidos e respeitados no Brasil.
- conseguiu me encontrar, ou não? - fui fria e grossa.
- está tudo bem?
- sim, porquê não estaria?
- sei lá, parece que estás triste.
- parecer não é ser querida, já deverias saber disso.
- sempre com a resposta na ponta da língua - revirou os olhos.
- é pra quem pode - fiz charme.
- eu te amo - colocou a mão na minha cintura - sabe disso né?
- também te amo sua anã - soltei uma gargalhada gostosa.
- lá vem você de novo - bufou irritada.
Na verdade a Natália não é tão baixinha assim, eu é que gosto de provocá-la e de ver seus olhos azuis igual o céu em chamas. A amo muito, é a única pessoa que sempre me escutou, que esteve ao meu lado em todos os momentos da minha vida, não trocaria ela por nada, nem pelo meus próprios pais.
- desculpa - o divertimento na minha voz é nítido - depois da aula a gente passa daquela lanchonete que você tanto adora.
- que golpe baixo senhorita William - falou com um sorriso largo nos lábios.
- a vida é para os espertos - entrei na sala sorrindo.
A primeira aula foi de matemática e a senhorita Patrícia de cabelos longos até a cintura, deixou trabalho para casa logo no primeiro dia de aula, o que fez com que alguns alunos não estudiosos, a encarrasem com raiva e ódio, porém ela não se intimidou, com certeza já está acostumada a lidar com adolescentes mimados e preguiçosos. A segunda foi de geografia e o Professor de meia idade, fez questão de abordar connosco grande parte da matéria do ano anterior, o que fez me fez revirar os olhos de puro tédio, sou inteligente demais e não tenho porquê voltar a falar do mesmo assunto diversas vezes, mas pronto, eu não mando aqui, infelizmente.
O Professor que eu suponho ser de história, todo lindo, alto, charmoso, com seus cabelos pretos e olhos castanhos claros, entra na sala arrancando suspiros por parte das alunas, o que me deixa irritada digamos assim, elas nunca viram um homem bonito? Deveriam mesmo é se preocupar em estudar e não em apreciar um Professor que nem é tão um galã, tem apenas uma beleza normal, pelo menos para mim. Seu ar é de arrogância e sua cara de poucos amigos, mas ainda assim as adolescentes imaturas e cheias de si estão pulando pra cima dele, literalmente.
Abaixo a minha cabeça e começo a mexer no meu celular.
- bom dia alunos - cumprimentou depois de uns segundos - sou Stefan Silva Andrade e serei o Professor de história de vocês durante o ano inteiro.
Gritinhos atrevidos por parte das meninas tomam conta do lugar, o que me faz pegar os auriculares na pasta, depois colocar uma música calma e proteger os meus ouvidos de ouro do barulho que elas fazem. Estou escutando a maravilhosa voz do Ed Sheeran ao mesmo tempo que converso com a minha prima Bárbara que está na Inglaterra cursando Literatura Inglesa, desde criança é apaixonada por livros da época e fico muito feliz que ela esteja realizando esse sonho de infância.
Minha prima está me contando que a neve que não para de cair por lá, estragou os seus planos com um jovem chamado Augustus, que por sinal é muito lindo, pelo menos na foto ele é e do jeito que a Bárbara fala dele não duvido que seja mesmo. Sorrio ao ler as conversas dela e do tal moço, mas rapidamente sou interrompida por alguém que belisca o meu braço.
- o Professor está te chamando sua idiota - Naty diz baixinho.
Levanto o meu rosto e encaro o mesmo.
- falou comigo senhor?
Parece que seu corpo ficou imóvel, não se mexe e nem tira os olhos de mim, confesso que seu olhar me queima, mas ao mesmo tempo intimida, como pode isso?
- perguntei o seu nome - disse em um tom rude que até me arrepiou.
- Vicenta William Borges.
- perfeito - diz sem desviar o olhar do meu - uma vez que todos nós já nos conhecemos, podemos começar a trabalhar.
A aula decorreu normalmente para mim, mas não sei se posso dizer o mesmo do senhor Stefan, muitas vezes peguei ele olhando para a minha pessoa e confesso que aquilo estava me incomodando um pouco, sei que sou linda e que as pessoas querem sempre olhar pra mim, mas sei lá, de um jeito ou outro aquilo estava me deixando tímida e eu não sou assim, o pior de tudo é que amanhã terei aulas com ele novamente e se continuar me olhando como fez hoje, irei perguntar directamente o porquê de me olhar assim, ninguém me intimida e se ele pensa que irá fazer isso só porque eu estava no celular enquanto se apresentava, está muito enganado.
- o Professor Stefan é tão lindo e tão gostoso - Naty não faz questão de esconder a safadeza na voz - não acha?
- não, acho ele um homem com uma beleza comum - deu de ombros.
- COMUM? - gritou - viu aqueles olhos sedutores? Aquele cabelo e aqueles lábios vermelhos pedindo por um beijo?
- não exagera sua tonta - reviro os olhos.
- viu como ele não parava de olhar pra você? Estava te comendo com os olhos amiga.
- nada a ver Naty.
- é sério, o senhor Andrade te encarou a aula inteira.
- e você ao invés de prestar atenção na aula, ficava de olho nos movimentos dele.
- ele está doidinho por ti Vicenta, acredite em mim.
- cala boca e vamos logo! - falei entrando no carro.
Natália às vezes é muito sem noção, tudo bem que ele ficou me encarando a aula inteira, mas isso não quer dizer absolutamente nada, na verdade acho que ficou me fitando daquela maneira porque eu estava de olho no celular na minha mão. Além disso, o que um homem feito como aquele iria se interessar por mim? É muito mais velho que eu, não duvido que tenha passado da casa dos vinte e sete e eu nem louca ficaria com alguém dessa idade. Mas espera aí? Porquê estou pensando nessas coisas mesmo?
Entramos na lanchonete que a Naty adora e fizemos os nossos pedidos que foram hambúrgueres e refrigerantes.
- o que a gente fará neste final de semana? - pergunta depois de morder o seu lanche.
- não fale de boca cheia - a repreendo - esqueceu dos bons modos?
- claro que não! - se apressou a dizer - só estava ansiosa pra saber o nosso destino no sábado.
- meus pais viajarão hoje.
- sério? Os meus também.
- acho que irão juntos.
- não duvido - sorriu largamente - o final de semana é nosso.
- iremos curtir demais, vai ser bem legal.
- vamos chamar os meninos?
- não sei, estou em dúvida sabe.
- acho que devemos ir sozinhas, aproveitar a companhia uma da outra e quem sabe pegar um gatinhos - piscou pra mim.
- não se esqueça que tenho namorado baixinha.
- e tu sabes perfeitamente que o detesto, é um babaca.
- não fale assim dele!
- é a verdade - deu de ombros - Jackson é um bad boy.
- deixa o meu namorado em paz.
- farei isso no dia que terminares com ele.
- então deves esperar sentada querida amiga.
- obrigada pelo conselho - fez cara de desgosto.
- vamos as compras amanhã? - decidi mudar de assunto antes que a gente discutisse novamente por causa do Jackson.
- depois da aula? - assenti - perfeito.
- o que aconteceu com o seu carro?
- está na oficina.
- ah tá.
Chego a casa e como já era de se esperar meus pais não estão cá, não sei em qual País foram e eles nem se deram o trabalho de me dizer, mas enfim, essa a vida que levo fora das redes sociais e de todo mundo, uma vida praticamente vazia.
Sou Stefan Silva Andrade, tenho vinte e sete um anos de idade e sou Professor de História a sete anos, morava em São Paulo, mas fui transferido para dar aulas em Rio De Janeiro e é aqui onde estou agora. O colégio pH está pagando o apartamento onde me instalei e o combustível no meu carro, eu apenas tenho que me preocupar com água, energia e comida, o que pra mim não é nada, visto que o salário que eles me dão é bastante generoso.
Sou alto, lindo, musculoso e mulherengo, não gosto de me apegar a nada e nem a ninguém, procuro as mulheres só quando quero sexo e gosto muito da vida que levo, não tenho tempo para sentimentalismo, principalmente para o tal dito amor, fui machucado uma vez e não permitirei que nenhuma mulher tenha acesso ao meu coração novamente.
Estamos na primeira semana de aulas e hoje conhecerei a turma do último ano do ensino médio, sei que os alunos nesta idade são mal educados e mimados e eu nunca tive paciência para adolescentes assim e desta vez não será diferente, sou chato, rigoroso, frio e se por acaso algum deles tentar me tirar do sério, terá o que merece.
Antes de chegar ao colégio, passei de uma cafeteria e comprei uma um capuccino e alguns pedaços de bolo, acordei tarde hoje e não tive tempo para preparar um pequeno almoço descente para mim, ainda não tenho empregada doméstica e por enquanto estou cuidado de tudo sozinho, ainda bem que a minha mãe sempre me ensinou todas as coisas que um ser humano deve saber para sobreviver, se não fosse por ela não sei o que seria de mim, devo a minha vida para a dona Graciele e se eu pudesse faria qualquer coisa só pra tê-la de novo aqui, bem perto de mim, foi uma mãe incrível e como ela jamais existirá. Já daquele que também deveria ter cuidado da minha pessoa mesmo antes de eu vir ao mundo, não tenho nada a dizer, não conheço o seu rosto, não sei o seu nome, não sei se está vivo ou morto, não sei absolutamente nada. Na verdade a única coisa que sei é que ele me abandonou ainda no ventre da minha mãe, sumiu das nossas vidas e nunca mais apareceu, quando criança eu perguntava a dona Graciele sobre ele, mas ela nunca me disse nada, sempre fugia do assunto, sem mesmo deixar uma pista de onde procurá-lo. Tenho uma vida praticamente feita e nunca conheci a outra pessoa responsável por me trazer ao mundo, que triste tudo isso é, gostaria de conhecê-lo, de ter jogado futebol com ele, de ter brincando de luta igual todas as crianças fazem com os seus pais, mas infelizmente não tive esse privilégio e nem um irmão de sangue, sou filho único por parte da minha mãe e por mais que eu tenha por parte do meu pai, jamais irei conhecê-los.
Assim que termino de falar com o diretor, sigo para a sala do terceiro ano do ensino médio sozinho, o senhor Jaime quis acompanhar-me para que eu não me perdesse, mas eu disse-lhe que não era necessário, uma vez que ele apresentou-me a escola antes do ano lectivo começar, a duas semanas atrás. Além disso, a idade dele está avançada e não seria nada educado da minha parte permitir que ele viesse comigo.
Entro na minha mais nova turma com uma cara de poucos amigos e oiço suspiros preguiçosos das adolescentes, o que faz com que o meu rosto fique mais fechado ainda. Comecei a arrumar o meu material na minha mesa e quando terminei olhei para todos a minha frente.
- bom dia alunos, sou Stefan Silva Andrade e serei o Professor de História de vocês durante o ano inteiro.
Gritos por parte das alunas tomam conta do lugar, deixando-me com uma grande vontade de revirar os olhos várias vezes, mas infelizmente não posso fazer isso. O que deu nessa gente? Acham que serei amigo delas? Estou aqui para trabalhar, não para ficar de papo com alunas e muito menos para flertar, são todas elas crianças mimadas, sem contar que nunca me envolvi com uma aluna minha e desta vez não será diferente.
- vou pedir que cada um fale o seu nome, pode ser?
- sim - disseram em coro.
- óptimo, vamos começar com você - apontei a jovem sentada na primeira carteira da primeira fila.
- chamo-me Verônica Bernardo Sousa.
Enquanto os alunos se apresentam, olho fixamente para cada um deles, irei trabalhar com esses adolescentes durante o ano e é necessário que eu os conheça. Quase todos já disseram os seus nomes, menos uma jovem que está com rosto para baixo sorrindo de alguma coisa que vê no seu celular, não entendo essa criançada de hoje em dia, porquê são mal educados assim? Será que ela não pode simplesmente prestar atenção no que estamos fazendo? E para piorar senta na última fila e na última carteira, deve ser mais uma dessas alunas ignorantes que não se importam com a escola, mas bom, não estou aqui para fazer nenhum tipo de julgamento, apenas para ensinar e é isso que irei fazer.
- você aí no fundo pode por favor me dizer o seu nome?
Que falta de atenção da minha parte, a miúda está com os auriculares nos ouvidos e eu nem havia notado, não acredito que esteja escutando música na minha aula, é muito mal educada mesmo e parece não se importar com nada. A adolescente chamada Nathaly ou Natália se não me engano, beliscou o seu braço e disse alguma coisa para que só ela escutasse.
- falou comigo senhor? - alguém pode por favor me segurar?
Não acredito no que estou vendo, por Deus, como ela é linda! Na verdade não existe nenhuma palavra capaz de descrever a beleza dessa mocinha, seu rosto é pequeno e angelical, seus cabelos são castanhos e tem alguns fios dourados e seus olhos da cor esmeralda são tão hipnotizantes que deixaram o meu corpo imóvel e a minha mente sem um raciocínio lógico, seus lábios volumosos e rosados são um convite para até para o mais digno dos homens e sua pele branca como a neve faz qualquer um olhá-la mais de duas vezes. Essa adolescente é diferente e como ela não existe.
- perguntei o seu nome - falei em um tom rude.
- Vicenta William Borges.
Nome lindo igual a dona.
- perfeito - digo ainda olhando pra ela - uma vez que todos nós já nos conhecemos, podemos começar a trabalhar.
Durante uns trinta minutos ou mais, fiz um resumo de vários temas abordados no segundo ano do ensino médio e, depois disso, fomos ao tema " Brasil como Primeira República". Confesso que não conseguia tirar os olhos da Vicenta, a cada palavra minha, cada explicação era direcionada para a mocinha, nossos olhares se encontraram diversas vezes e eu não fazia questão de disfarçar, sei que ela percebeu, mas em nenhum momento pareceu estar envergonhada, suas bochechas não ganharam um tom rosado e seus olhos me encaravam na mesma intensidade, não sei nem porquê estou pensando nisso, Vicenta não tinha motivos para ficar sem jeito e eu devo parar de pensar em uma menina, mas como faço isso se o seu olhar é hipnotizante, marcante e penetrante? Nunca vi nada igual e estou fascinado com o tanto de beleza que ela possui, sei que isso é algo louco, mas também é impressionante.
Saí da sala após todos os meus alunos e passei pelo corredor arrancando das garotas e dos garotos olhares curiosos e confusos, o que chega a ser compreensível, visto que sou novo no colégio e todo mundo deve estar se perguntando de onde vim e que faço aqui.
Entrei no lugar de concentração dos Professores e sentei junto a uma das mesas de vidro. Esta escola é muito organizada, chique e bonita, os alunos pagam uma fortuna para estudar aqui e é justo que ela seja sofisticada e moderna desse jeito.
Olhei tudo a minha volta mais uma vez e vi o luxo que habita aqui, os adolescentes deste colégio tem privilégios que muitas outras crianças lá fora não têm, eu também não tive uma vida rodeada de riqueza, muito pelo contrário, vivia numa vila com poucos moradores, todos nós nos conhecíamos e fazíamos de tudo para ajudarmos uns aos outros, não tínhamos um posto policial e nem uma faculdade, apenas uma escola feita de bambu, não era um sítio belo, mas tivemos acesso o que muitos buscam, conhecimento.
Saí de lá aos dezassete anos e passei por muitas dificuldades antes e mesmo depois de ingressar para a faculdade, porém o desejo de não decepcionar a minha mãe era tão grande que tive que lutar com as forças que não tinha para ultrapassar todas as barreiras e sinto orgulho de mim mesmo por ter conseguido, apenas lamento porque a dona Graciele não pôde aproveitar por muitos anos o meu dinheiro, morreu a três anos atrás, mas eu gostaria que ela tivesse vivido por muito mais tempo, era uma mulher incrível e tudo que sou devo a ela.
- boa tarde - a mulher a minha frente é alta, morena e tem olhos castanhos, assim como os meus - sou Débora Martins Silveira, Professora de Educação Física - está explicado o belíssimo corpão.
- muito prazer - levantei e beijei a sua mão - Stefan Silva Andrade, novo Professor de História do terceiro ano do ensino médio.
- seja bem-vindo. Gostaria de tomar um café?
- obrigado, é muito gentil da sua parte.
- isso é um sim? - sorriu.
- claro que é - desci novamente o meu olhar para o seu corpo e quase tive um infarto ao ver suas coxas trabalhadas.
- óptimo. Vamos?
Estamos em uma cafeteria que fica próxima ao colégio, tomando um café com leite e comendo cookies crocante, a Débora é uma mulher maravilhosa e sabe manter uma boa conversa por muito tempo, mas o que mais me chamou atenção nela é o seu corpo, ela é simplesmente gostosa e se der mole não pensarei duas vezes em levá-la para a minha cama, sei que é proibido envolvimento entre funcionários, mas eu sou Stefan Andrade, nunca segui a porra de uma regra, somos adultos e se ela quiser ficar comigo por mim tudo bem.
- veio de São Paulo, certo?
- sim, as notícias correm rápido.
- com um Professor charmoso desses não tem como ser diferente - disse passando a língua nos lábios. Ela também me quer.
- sinto-me lisonjeado com o elogio, mas devo dizer que a única charmosa aqui é você, sem contar que é linda e simpática também - sorrio de lado.
- obrigada Stefan, posso te chamar assim, não é?
- pode sim.
É só uma questão de tempo para a gostosa Professora de Educação Física parar na minha cama, não quero nada mais que sexo, por isso deixarei bem claro para ela antes das coisas acontecerem e assim evitaremos confusões futuras.
Cheguei no meu apartamento por volta das três da tarde e a primeira coisa que fiz assim que entrei foi seguir para o quarto me trocar e tomar um banho. Depois de mais ou menos quarenta minutos na banheira, vesti uma roupa confortável e desci as escadas em direção a sala de estar. Essa vida de solteiro não é fácil e sei que não tenho razão de reclamar, escolhi viver assim, mas tive motivos fortes para isso, ainda estou me adaptando e assim que estiver tudo certo irei procurar alguém para cuidar da casa.
Estou com preguiça de pegar nas panelas, por isso, liguei para um restaurante e pedi uma mini pizza, batatas fritas e pedaços de frango assado. Okay, sei que tenho um estômago grande, mas gasto muita força e energia no ginásio. Falando nisso, não irei pra lá hoje, talvez amanhã ou quem sabe depois, sei lá, isso irá depender da minha disposição e principalmente do meu tempo.
Enquanto o meu pedido não chega, ligo a tevê e fico vendo um jogo de futebol do Atlético Madrid e Barcelona, não sou torcedor de nenhuma das equipes, mas isso não me impede de apreciar e admirar a magia que eles estão transmitindo.
Após dar a grojeta ao entregador, sirvo quase tudo no meu prato e fecho os olhos ao provar o que me trouxeram, está tudo bem preparado, a pessoa que fez isso está de parabéns, tem mãos de fada.
As horas passaram e o cansaço veio junto, segui para o meu quarto e adormeci lentamente.
Estou ao caminho do colégio no meu Ranger Rover Discovery preto, meu corpo está coberto por uma calça jeans, camisa social Branca que marca o meu peitoral e sapatilhas pretas. Antes de sair de casa preparei um caprichado café da manhã, não sou de sair de casa sem me alimentar e se fiz isso ontem é porque realmente estava atrasado.
Darei aulas na sala da Vicenta das sete até às oito e trinta e depois irei a outra turma do terceiro ano das dez e vinte até às onze e cinquenta. Não sei se conseguirei me concentrar vendo aqueles lindos olhos verdes e seus lábios carnudos feitos para beijar durante os noventa minutos, não deveria pensar nela desse jeito, mas não tenho culpa da sua beleza chamar a minha atenção.
Entrei na sala e olhei disfarçadamente para a onde ela senta, sua cabeça está para baixo como ontem e não duvido que esteja mexendo no seu celular, mais uma vez.
- bom dia alunos - cumprimentei assim que deixei as minhas coisas na mesa.
- bom dia Professor Andrade - respondem em uníssono.
- hoje falaremos da I Guerra Mundial e das suas consequências para o mundo.
- assunto mais chato - resmungou uma voz feminina.
- se não quiser assistir a aula é só se retirar, a porta está aberta - digo sem paciência.
Vim aqui para ensinar o pouco que sei e se alguém detesta a minha disciplina é só não vir as aulas, no final de ano não terá nota e eu irei reprovar o aluno com muito prazer, não gosto de adolescentes preguiçosos, mas infelizmente existem vários nos colégios mais caros do País, não entendo como os jovens dessa idade preferem coisas fúteis ao invés do conhecimento, eu nesta idade passava horas e horas na biblioteca, lendo e pesquisando tudo relacionado a história do Brasil, do mundo e muitos outros assuntos interessantes e produtivos. Esta geração está arruinada e será por causa deles que o mundo irá cair.
Começo explicando o início da Mundial da Guerra Mundial e os factores que levaram a mesma a acontecer, quase todos estão prestando atenção no que estou dizendo, menos uma aluna de cabelos de castanhos dourados que senta na última carteira, ela está rindo baixinho de alguma coisa que com certeza vê no celular e isso está deixando-me irritado, Vicenta deveria estar com os ouvidos atentos na aula e não com os olhos fixos no seu iPhone.
- senhorita William, pode partilhar connosco o motivo da sua alegria? - todo mundo virou a cabeça e encarou a Vicenta.
- não, não posso - a turma riu alto por causa da sua resposta.
Suspirei.
- então pode por favor dizer o que eu estava explicando?
- sobre a I Guerra Mundial - respondeu despreocupada.
- quando teve início e o que levou ela a acontecer?
- a I Guerra Mundial começou a 28 de julho de 1914 e durou até 11 de novembro de 1918. Existem várias causas que levaram ela a acontecer, mas a principal foi o assassinato do arquiduque Francisco Fernando da Áustria - me olhou de um jeito desafiador - dá próxima faça uma pergunta a minha altura Professor e não uma boba que até minha prima de doze anos pode responder - a turma começou a rir novamente.
- o que disse? - lancei para ela um olhar mortal.
- eu gaguejei Professor?
- para a diretoria agora!
- o quê? Vai me mandar pra lá só por isso? - perguntou incrédula - mas não...
- agora senhorita William! - elevei a voz.
- como quiser senhor - diz se levantando.
O ano lectivo será longo e com muitas dores de cabeça, algo dentro de mim diz que a responsável por todas elas será Vicenta William Borges e eu não duvido nem um pouco disso.
Não acredito que ele mandou-me para a diretoria logo na primeira semana de aulas somente porque respondi daquela maneira, talvez eu tenha sim passado um pouco dos limites, mas ter me tirado da sala foi um exagero da sua parte, ele é muito rude e já vi que não nos daremos bem, quem ele pensa que é pra me tratar assim? Nenhum Professor nunca fez isso comigo, sempre fui a melhor aluna das turmas que passei, por isso me tratavam como eu mereço, mas este novo é diferente e isso não me agrada nem um pouco.
Cheguei na sala do Diretor e respirei fundo, não acredito que estou prestes a entrar aqui pela primeira vez na vida e tudo porque o senhor Stefan é nervosismo demais para suportar uma brincadeira, ah mas aquele Professor ainda me paga, ah se vai.
Bati na porta duas vezes e ouvi um entre.
- bom dia senhor Jaime - o homem a minha frente está com os olhos na tela do computador.
- Vicenta? O que faz aqui? Quero dizer, algum problema?
- o Professor de História disse pra eu vir pra cá.
- sente-se por favor - assim o fiz - o que aprontou?
- nada - dei de ombros.
- está me dizendo que ele te mandou para a minha sala sem motivo? - levantou uma de suas sobrancelhas.
- Professor Andrade fez duas questões em relação a I Guerra Mundial, respondi elas correctamente e no final disse-lhe que dá próxima deve fazer questões de verdade, não umas bobas que até minha prima de doze anos pode responder.
- porquê fez isso menina?
- sei lá, é que ele não foi com a minha cara.
- será que não é o contrário?
- não senhor.
- uma vez que estamos na primeira semana de aulas e você é uma das melhores alunas do colégio, não direi nada aos seus pais.
- devo lhe agradecer por isso?
- o que disse? - sua expressão está furiosa.
- eu perguntei se devo lhe agradecer por isso.
- deve sim - disse com rispidez - e se por acaso uma situação como essa voltar a se repetir levará suspensão, estamos entendidos?
- sim senhor Jaime.
- óptimo, pode voltar para aula - levantei e abri a porta - Vicenta - revirei os olhos antes de virar para ele.
- sim?
- seja uma boa aluna e trate com respeito os seus Professores.
- claro - sorri sem ânimo - mais alguma coisa?
- não, vá para a sala!
Era só o que me faltava, ter que ouvir esse velho rabugento falar todas essas coisas para mim, ele é Diretor a muitos anos, quando comecei a estudar aqui já ocupava este cargo e não sei porquê ainda ocupa, deveria deixar a direção nas mãos de seu filho, sobrinho ou qualquer outro parente que goste, o melhor para o senhor Jaime seria se aposentar, viajar pelo mundo e aproveitar os anos que ainda lhe restam de vida da melhor maneira possível.
Entro na sala e o senhor Stefan continua explicando sobre a I Guerra Mundial e blá blá blá. Nos encaramos por um momento e pude ver raiva no seu olhar, mas como já disse isso não me intimida, também não gosto dele e fico com muito ódio por saber que será o meu Professor até ao final do ano lectivo.
- ficou louca? - Naty perguntou baixinho.
- falamos disso depois - tirei o meu material na mochila e deixei sobre a mesa.
Fico prestando atenção no que o Professor está falando e vou anotando no meu caderno alguns pontos necessários, por mais que ele seja sério e chato, não posso dizer que ensina mal, muito pelo contrário, explica bem e qualquer pessoa entenderia facinho o que diz. A aula decorreu normalmente, sem gracinhas por partes dos alunos e isso deixou-me surpreendida, os estudantes do ensino médio são indisciplinados e barulhentos, mas parece que todo mundo desta turma ficou com medo dele por ter me mandado para a diretoria logo na primeira semana, ainda estou inconformada e com muita raiva por ter feito isso comigo.
Arrumei as minhas coisas na pasta e saí caminhando em direção a porta com Natália ao meu lado, mas parei ao ouvir uma voz grossa e sexy atrás de mim, espera aí? Eu disse sexy?
- você fica senhorita William!
- te espero do lado de fora - ela piscou e saiu da sala com um sorriso malicioso.
O que será que ele quer? Não basta ter me mandado para a diretoria? Não estou com paciência para aturar nada que possa vir da sua pessoa e ele que não me provoque, senão vai se ver comigo.
- se me faltar com respeito novamente, não hesitarei em mandá-la para o Diretor - diz em um tom ameaçador.
- me fez esperar para isso?
- e pelo que mais seria? - levantou uma sobrancelha.
- escute bem Professor - apoiei os meus braços na sua mesa e o encarei profundamente - não tenho medo do senhor.
- e não quero que tenhas, apenas espero que tentes usar a boa educação que alguém em algum momento da sua vida a ensinou.
Ele não falou isso.
- está me chamando de mal educada?
- estou - apoiou os cotovelos na mesa e se afundou nos meus olhos - cê comportada e nós não teremos problemas, caso contrário....
- não sou obrigada a escutar isso - dou um passo pra trás e sigo para a saída.
- ainda não terminamos de conversar - diz entre dentes - é melhor você parar ou....
- ou o quê? - virei o meu corpo para encará-lo - vai me mandar outra vez para a sala do velho rabugento? Sinto muito em informá-lo, mas não estamos em horário de aulas e isso é meio que impossível sabe? - sorri e deixei ele murmurando alguma coisa inaudível.
Se ele pensa que pode mandar em mim está muito enganado, não recebo ordens nem dos meus pais e ele acha que pode me ameaçar? Homem mais chato e insuportável que esse Professor de quinta não conheço e acho que não existe, não pode simplesmente ser uma pessoa normal? Sorrir, ser divertido ao invés de ficar o tempo todo com a cara fechada? Ainda não vi seus lábios curvaram-se e nem sei se os seus dentes são tão brancos quanto os meus, na verdade não deveria estar pensando em uma coisa dessas, mas sim em arranjar uma forma de aturá-lo durante todo o ano.
- em quê estava pensando Vicenta? Porquê falou com o Professor daquela maneira? E o que ele queria com você?
- uma pergunta de cada vez mulher.
- responda logo poxa!
- não fale assim comigo baixinha - falei um pouco chateada - senhor Stefan não gostou de mim e nem eu dele, tão simples quanto isso.
- não deverias ter lhe faltado com respeito na frente de toda turma.
- estava brincando, além disso, não pensei que ficaria tão nervosinho.
- e o que ele falou agora na sala?
- que eu devo lhe respeitar caso contrário irá mandar-me novamente para a diretoria.
- o gostosão do Stefan não está pra brincadeiras Vicenta, é diferente de qualquer outro Professor que já tivemos.
- infelizmente sim - fiz cara de desgosto - e pare de chamá-lo assim Natália.
- assim como? - faz-se de desentendida.
- de gostoso.
- e ele não é?
- sei lá - dou de ombros.
Não queria ter que assumir isso nem em pensamentos, mas a verdade é que o Professor de História é tudo que a Natália diz, ou quem sabe mais um pouco. É lindo, alto, musculoso, gostoso, charmoso, elegante e tem um ar de arrogância que lhe deixa sexy. Seus olhos são frios e intimidantes, mas também são misteriosos e marcantes, se eu não digo a Naty o que acho da beleza do senhor Stefan, é porque irá me encher o saco por um bom tempo e eu não estou a fim de ouvir a minha melhor amiga dizer que estou a fim dele.
Durante todo o trajeto até ao shopping a Natália não parava de dizer o quão gato é o nosso Professor, se eu não a conhecesse diria que está a fim dele, mas ela é assim quando há uma nova pessoa bonita no colégio, fala do indivíduo por uns dias ou até mesmo semana e depois deixa de comentar como se ele nunca tivesse existido. Sei que em breve esse todo entusiasmo dela irá passar e eu não terei mais que ouvir o nome do senhor Stefan nas nossas conversas.
- Vicenta....
- se falar novamente da sua mais nova paixão juro que irei te deixar falando sozinha - falei firme.
- não ia fazer isso.
- ah não? O que ia dizer então?
- queria perguntar pra qual boate a gente irá.
- inauguraram uma na semana passada, a gente pode ir pra lá.
- uma óptima ideia - bateu palmas igual uma criança quando está contente - e o Professor Stefan não é a minha nova paixão, mas será a sua - entrou na loja deixando-me paralisada com as suas últimas palavras.
O que deu na Natália? Porquê disse isso? Ela só pode estar louca se acha que terei uma apaixonite por aquele brucamonte, grosso e frio, o cara é simplesmente insuportável e não aguento ficar no mesmo ambiente que ele, conheço o mesmo a dois dias e ainda assim conseguiu fazer com que não nos déssemos bem, a culpa é totalmente dele, se não tivesse me mandado para a diretoria, talvez teríamos uma relação de aluna e Professor estável, em pensar que terei que aturá-lo até ao final do ano, meu desgosto somente aumenta, não sei se irei conseguir não tirá-lo do sério, mas farei de tudo para que isso não aconteça, afinal de contas, ele disse que pode me mandar para a diretoria novamente e isso não é nada bom para mim, tenho uma imagem a zelar e não será ele que fará ela cair.
- deixa de ser assim baixinha, porquê falou aquilo?
- é a verdade, escute o que estou te dizendo.
- é cada um que você fala - revirei os olhos.
- os opostos se atraem.
- nem sempre, no nosso caso é ódio mesmo.
- isso vai acabar na cama - sorriu com malícia.
- pare de falar besteira! Vamos logo escolher o que iremos vestir amanhã.
Puxo Naty pelo braço e seguimos para um dos corredores da loja, tem várias peças lindas e chamativas por aqui e é disso que eu amo, gosto de ser o centro das atenções sempre e uma das formas mais fáceis de fazer isso é se vestir de um jeito extravagante, porém sem ser vulgar é claro, para mim a originalidade é tudo e de isso eu tenho de sobra.
Não apenas escolhemos o nosso figurino de amanhã, mas também compramos outros tipos de roupas para usar no dia-a-dia, as mulheres vaidosas são assim, nunca se cansam de fazer compras e no caso da Naty e eu não é diferente, sempre que nos dá na telha a gente abusa do cartão de crédito, afinal o dinheiro serve para isso, certo? Gastar.
Deixei a minha amiga na sua casa, uma vez que o seu carro ainda está na oficina e depois segui para a minha. Assim que cheguei, senti uma solidão me invadir, tudo bem que os meus pais e eu não temos uma relação amorosa, mas quando eles estão cá não me sinto uma formiga nessa mansão, sou filha única, o que quer dizer que estou sozinha com os empregados.
- maldição! - deixei as sacolas no closet e me joguei na cama.
Não estou a fim de arrumar agora tudo que comprei, irei fazer isso outra hora ou posso simplesmente ordenar que a Maria, uma das empregadas, faça por mim, é paga para isso e tenho certeza que fará de bom grado.
Ligo a tevê do meu quarto e não vejo nada de interessante passando, eu até poderia escolher um filme qualquer, mas estou cansada de ver televisão quase o tempo todo, minha vida se resume em colégio, casa, redes sociais, televisor, compras, namorado e viagens. Sinto que está faltando alguma coisa, preciso de adrenalina, de perigo, algo proibido, intenso, que fará eu me jogar de cabeça para baixo, estou farta do que acontece ao meu redor, quero experimentar coisas novas e diferentes e deste ano não passa.
Mandei uma mensagem para Natália perguntando se pode vir dormir comigo e a mesma respondeu que sim na mesma hora, não sei o que seria de mim sem ela, sempre está disposta a me ajudar, ouvir, aconselhar e me apoiar em quaisquer situações, é boa amiga e por mais que tenha o seu jeito meio doido, é uma excelente pessoa.
Finalmente o cansaço me vence e sinto meus olhos pesados e sonolentos.
- acorda rainha da porra toda! - sinto alguém mover o meu corpo de um lado para o outro, porém permaneço de olhos fechados, pois não sei se é um sonho ou não - acorda preguiçosa!
- uhhmm..
- ah, deixa de preguiça garota! - continua me cutucando.
- como você é chata e insuportável - digo esfregando os olhos.
- não pensou nisso quando pediu que eu viesse pra cá?
- pra ser sincera não - fiquei sentada na cama - obrigada por vir, te amo - a abraço.
- eu amo mais - me dá um beijo na testa.
- está com fome? Vamos comer.
- parece que leu a minha mente - rimos.
Fomos para a cozinha e pedi que uma das funcionárias servisse a nossa refeição, comemos na sala de estar vendo um desenho animado que a Naty escolheu e depois de uma hora subimos as escadas rumo ao meu quarto. Tomamos banho juntas e uma vez que a Natália trouxe uma pequena mala não foi necessário eu empresta-la um dos meus pijamas.
- boa noite anã - rio baixinho.
- durma bem girafa.
- não gostei desse apelido não - resmunguei um pouco irritada.
- e eu amei o que você me deu - disse com ironia.
- é melhor a gente descansar, amanhã o dia será longo.
- verdade - desligou o abajur - sonhe com os anjinhos girafa - soltou uma gargalhada malvada.
- sua idiota - digo fechando os olhos devagar.
Estamos indo a nova boate com um dos carros do meu pai, não quis levar o meu Mercedes Benz, por isso peguei emprestado a Lamborghini amarela, sei que irá ficar bravo assim que um dos fofoqueiros daqueles seguranças contar pra ele, mas não estou muito preocupada com isso, sempre quis conduzir essa obra prima, porém o senhor William nunca deixava, e com qual desculpa mesmo? " Você é jovem demais para andar com este automóvel Vicenta, isso pode chamar a atenção de bandidos e eu não me perdoaria se algo de ruim te acontecesse". É óbvio que nenhum mal irá acontecer comigo, quero curtir a vida da melhor forma possível e é isso que estou fazendo, não sei se o meu pai irá me pôr de castigo assim que souber , mas prefiro correr o risco mesmo assim, sei que valerá a pena, a sensação de colocar as mãos neste volante é incrível e estou pouco me lixando para o que vier depois.
A Naty optou por essa noite um vestido midi justo de cetim sem manga da cor rosa e saltos scarpin branco e uma carteira creme. E eu estou usando um body de onça manga longa, saia de napa preta com um zíper dourado na frente, botas de cano alto preta e uma bolsinha preta também. Estamos lindíssimas, na verdade deslumbrantes e hoje a noite é nossa.
Por pouco não tivemos problemas por causa da Natália, ela ainda não fez dezoito anos e um dos seguranças tentou impedir a sua entrada, mas a gente deu uma boa grana a ele e os seus amigos e liberaram a passagem em um piscar de olhos.
- não vejo a hora de ser maior de idade - disse depois de sentarmos em uma mesa do lado do centro.
- ainda falta muitos meses.
- infelizmente - suspirou.
- boa noite, sejam bem-vindas senhoritas - sorriu amigavelmente - o que vão querer pedir?
- eu quero um gin de morango - falei.
- traga para mim um whisky duplo.
- é pra já - disse depois de anotar.
- é melhor trazer a garrafa inteira mesmo - ele riu e eu fiquei com os olhos arregalados.
- não demoro - saiu da nossa presença.
- não olhe pra mim desse jeito!
- tudo bem - levantei os braços em gesto de rendição.
- é sábado Vicenta e irei encher a cara até não conseguir andar.
- aí os nossos pais descobrem e a gente fica de castigo o ano inteiro.
- não irão saber - deu de ombros.
- disso tenho certeza.
- aqui está o pedido de vocês - deixou sobre a mesa.
- és muito flexível.
- meu trabalho exige isso senhorita - olhou para a Naty - qualquer coisa é só chamar.
- obrigada.
- de nada senhorita - se retirou.
O lugar ainda não está cheio, deve ser porque são vinte e duas horas e geralmente as pessoas costumam chegar tarde a lugares como este. A boate é iluminada por lâmpadas em Led, o teto é em formato de gaiola que muda de cor constantemente e as mesas estão muito bem organizadas. Esta casa noturna conta com duas áreas de bar, camarotes VIP, restaurante, pista de dança e um palco com pole dance. É elegante, sofisticado e podem ter a certeza que virei aqui mais vezes.
- olha lá o Professor de história - mas isso não é possível, poxa!
- onde? - perguntei sem ânimo.
- no balcão do bar, vem, vamos ter com ele - levantou-se.
- está louca? Daqui não saio.
- ele já nos viu Vicenta e se você não quer que eu te puxe, é melhor levantar sozinha - meus olhos com certeza estão em chamas.
Não acredito que a Natália esteja fazendo isso comigo, não gostaria de ir falar com ele, mas o que posso fazer se fui ameaçada pela minha melhor amiga? Não entendo o porquê dela estar agindo assim, é como se estivesse me lançando para o senhor Stefan e por Deus, nunca me envolveria com um Professor, principalmente se for fechado e rude como este, seria mais fácil se a gente ignorasse a presença dele aqui e fingisse que não o conhecemos, não é o suficiente vê-lo no colégio? É necessário que o veja fora dele também? Que saco!
- boa noite Professor Stefan - essa miúda ainda vai se ver comigo.
- como vai Natália?
- bem e o senhor?
- óptimo - sorriu - este é o meu amigo Luís.
- muito prazer - estendeu a mão.
- o prazer é todo meu senhorita - beijou ela.
- Vicenta - me encarou sério.
- Professor - não desviei o olhar do dele.
- a gente ainda tem muito o que falar.
- é mesmo? - debochei.
- sim.
- e prefere que seja agora? Porquê eu posso perfeitamente deixar de curtir esta noite mágica e ter uma agradável conversa com o senhor - o amigo riu.
- não, mas na segunda-feira - respondeu com rispidez.
- está bem então - dei de ombros - vamos Naty.
- continuação de uma boa noite senhores.
- pra vocês também senhoritas.
O cara trata bem a Natália, mas é frio comigo e depois a malvada e a bruxa da estória como sempre é a Vicenta, não é possível que eu tenha feito um inimigo em menos de uma semana de aula, fico me perguntando o que seria de mim se fosse uma ignorante na sua disciplina, obviamente teria que ter aulas extras e como consequência ficaria ao seu lado quase todos os dias e isso é tudo que menos quero, este ano será longo, disso eu tenho certeza.
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