“SÓ CAFÉ, POR FAVOR.”
A garçonete levantou suas sobrancelhas desenhadas a lápis. “Você não quer
nada para comer?”, ela perguntou. Seu sotaque era forte, sua atitude
desapontada.
Simon Lewis não podia culpá-la, ela tinha estado, provavelmente,
esperando por uma gorjeta melhor, do que a de uma que ela ia receber por uma
única xícara de café. Mas não era sua culpa que vampiros não comessem. Às
vezes, em restaurantes, ele pedia comida, só para manter a aparência de
normalidade, mas em uma noite de Terça, quando Veselka estava quase vazio de
outros clientes, não parecia valer a pena o incômodo.
“Só café.”
Com um encolher de ombros a garçonete tomou o menu plastificado e foi
ordenar seu pedido. Simon sentou-se contra a cadeira dura de plástico e olhou ao
redor. Veselka, um restaurante na esquina da Ninth Street e Second Avenue, era
um de seus lugares favoritos na Lower East Side — uma antiga vizinhança
coberta por murais preto e branco, onde eles deixavam você se sentar o dia todo
desde que você pedisse café em intervalos de meia hora. Eles também serviam o
que tinha sido uma vez seus pierogi vegetariano e borscht favoritos, mas aqueles
dias ficaram para trás.
Era o meio de Outubro, e eles tinham acabado de montar suas decoraçõesde Halloween — um aviso oscilante que dizia Travessuras-ou-Borscht! — e um
falso vampiro de papelão chamado Conde Blintzula. Há muito tempo atrás
Simon e Clary tinham achado as decorações bregas do feriado engraçadas, mas o
Conde, com suas presas falsas e capa preta, não mais divertiam Simon.
Simon olhou em direção a janela. Era uma noite fria, e o vento estava
soprando folhas através da Second Avenue como punhados de confetes jogados.
Havia uma garota caminhando na rua, uma garota em um casaco justo, com
longos cabelos pretos que esvoaçavam ao vento. As pessoas se viravam para
observá-la enquanto ela caminhava.
Simon tinha olhado para garotas como aquela antes no passado,
imaginando onde elas estavam indo, quem elas estavam se encontrando. Não
caras como ele, ele sabia disso muito bem.
Exceto que esta estava. A sineta da porta da frente do restaurante tocou,
enquanto a porta se abria, e Isabelle Lightwood entrava. Ela sorriu quando ela
viu Simon, e veio em direção a ele, retirando seu casaco e o dobrando nas costas
da cadeira, antes que ela se sentasse. Sob o casaco ela vestia o que Clary chamava
de “típico trajes Isabelle”: um vestido curto justo de veludo, meia-calça arrastão, e
botas. Havia uma faca enfiada na beira de sua bota esquerda que Simon sabia que
só ele podia ver; ainda assim, todos no restaurante estavam observando enquanto
ela se sentava, jogando seu cabelo para trás. O que quer que ela estivesse vestindo
chamava atenção como fogos de artifício.
Linda Isabelle Lightwood. Quando Simon tinha a conhecido, ele presumiu
que ela não tinha tempo para um cara como ele. Ele descobriu estar na maior
parte certo. Isabelle gostava de garotos que seus pais desaprovavam, e no
universo dela isso significava Seres do Submundo — elfos, lobisomens e
vampiros. Eles estarem se encontrando regularmente nos últimos um ou dois
meses, o deixavam atônito, mesmo que o relacionamento deles fosse limitado na
maioria, a encontros não frequentes como esse. E mesmo que ele não pudesse se
impedir de imaginar, se ele nunca tivesse se tornado um vampiro, se sua vida
inteira não tivesse sido alterada naquele momento, eles estariam namorando?
Ela prendeu um cacho de cabelo atrás de sua orelha, seu sorriso brilhante.
“Você está bonito.”
Simon lançou um olhar para si mesmo na superfície refletida da janela do
Restaurante. A influência de Isabelle era visível nas mudanças na aparência dele
desde que eles tinham começado a namorar. Ela o tinha forçado a jogar fora seus
casacos de capuz em troca de jaquetas de couro, e seus tênis no lugar de botas da
moda. Que, aliás, custavam trezentos dólares um par.
Ele estava ainda usando suas características camisetas com logotipos —
esta dizia O EXISTENCIALISMO FAZ ISSO INÚTIL — mas seus jeans não
tinham mais buracos nos joelhos e bolsos rasgados. Ele também tinha seu cabelo
maior, então ele caia em seus olhos agora, cobrindo sua testa, mas isso era mais
por necessidade do que por Isabelle.
Clary tinha gozado dele sobre seu novo look; mas, então, Clary tinha
descoberto tudo sobre a vida amorosa incerta hilária. Ela não podia acreditar que
ele estava namorando Isabelle a sério. É claro, ela também não podia acreditar
que ele estava também namorando Maia, uma amiga deles que, por acaso, era
uma lobisomem, de um modo igualmente sério. E ela realmente não podia
acreditar que Simon não tinha dito ainda a nenhuma delas sobre a outra.
Simon não tinha realmente a certeza de como isso tinha acontecido. Maia
gostava de ir a casa dele e usar o seu Xbox — eles não tinham um na delegacia
abandonada onde o bando de lobisomens vivia — e não foi, até a terceira ou
quarta vez, que ela tinha vindo se inclinado e o beijado, se despedindo antes que
ela saísse. Ele tinha gostado, e então ele tinha ligado para Clary para perguntar a
ela se ele precisava dizer a Isabelle.
“Descubra o que esta acontecendo entre você e Isabelle”, ela disse. “Então
diga a ela.”
Isso se tornou um péssimo conselho. Já havia um mês, e ele ainda não
tinha certeza do que estava acontecendo entre ele e Isabelle, então ele não disse
nada. E quanto mais o tempo passava, mais embaraçosa a ideia de dizer alguma
coisa aumentava. Até agora ele fez isso funcionar. Isabelle e Maia não eram
amigas de verdade, então raramente viam uma a outra. Infelizmente para ele, isso
estava prestes a mudar. A mãe de Clary e o seu amigo de longa data, iam se casar
em poucas semanas, e ambas, Isabelle e Maia, foram convidadas para o
casamento, um Simon ansioso descobriu-se mais aterrorizado do que a ideia de
ser perseguido pelas ruas de Nova York por um grupo de caçadores de vampiros.
“Então”, Isabelle disse, arrancando ele de seu devaneio. “Por que aqui e nãono Taki? Eles teriam servido sangue para você lá.”
Simon vacilou com a intensidade dela, Isabelle não era nada sutil.
Felizmente, ninguém parecia estar escutando, nem mesmo a garçonete que
retornou, colocando com barulho uma xícara de café em frente a Simon, olhou
Lizzy, e saiu sem tomar o pedido dela.
“Eu gosto daqui”, ele disse. “Clary e eu costumávamos vir aqui quando ela
tinha aulas em Tisch. Eles têm ótimos borscht e blintzes — eles são como tortas
de queijo doce — além de que fica aberto a noite toda.”
Isabelle, entretanto, estava o ignorando. Ela estava olhando por cima de
seu ombro. “O que é aquilo?”
Simon seguiu seu olhar. “Aquele é o Conde Blintzula.”
“Conde Blintzula?”
Simon deu de ombros. “Ele é uma decoração do Halloween. O Conde
Blintzula é para crianças. É como o Conde1 Chocula, ou o Conde da Vila
Sésamo.“ Ele sorriu para a inexpressão dela. “Sabe. Ele ensina as crianças a
contar.”
Isabelle estava sacudindo sua cabeça. “Há um programa de TV onde
crianças são ensinadas a contar com um vampiro?”
“Faria sentido se você o visse”, Simon murmurou.
“Há alguma base mitológica para tal paralelo”, Isabelle disse, recaindo em
uma preleção do modo de ser Caçador de Sombras. “Algumas lendas afirmam
que vampiros são obcecados por contagem, e que se você derramar grãos de arroz
em frente a eles, eles terão que parar o que estão fazendo e contar um a um. Não
há verdade nisso, é claro, não mais que aquele negócio sobre o alho. E vampiros
não se importam em ensinar crianças. Vampiros são aterrorizantes.”
“Obrigado”, Simon disse. “É uma piada, Isabelle. Ele é o Conde. Ele gosta
de contar. Sabe. ‘O que o Conde comeu hoje, crianças? Um biscoito de
chocolate, dois biscoitos de chocolate, três biscoitos de chocolate...’”
Houve um sopro de ar frio enquanto a porta do restaurante se abria,
entrando outro cliente. Isabelle estremeceu e alcançou sua echarpe de seda preta.
“Não é realístico.”
“O que você preferiria? ‘O que o Conde comeu hoje, crianças? Um aldeão
Indefeso, dois aldeões indefesos, três aldeões indefesos...”
“Shh.” Isabelle terminou de enrolar sua echarpe ao redor de sua garganta e
se inclinou para frente, colocando sua mão no pulso de Simon. Seus grandes
olhos negros estavam de repente vivos, o modo que eles apenas ficavam vivos
quando ela estava caçando demônios ou pensando sobre caçar demônios. “Olhe
ali.”
Simon seguiu seu olhar. Havia dois homens em pé perto da prateleira de
vidro que continha itens de padaria: bolos densamente confeitados, pratos de
rugelach, e Danishes recheados de creme. Nenhum deles parecia como se
estivessem interessados em comida. Ambos eram baixos e terrivelmente
esqueléticos, tanto que seus ossos do rosto projetavam de seus rostos como facas.
Ambos tinham um fino cabelo grisalho e olhos cinza pálidos, e usavam casacos
acinturados que iam até o chão.
“Agora”, Isabelle disse. “O que você acha que eles são?”
Simon estreitou os olhos para eles. Ambos olhavam de volta para ele, seus
olhos sem cílios como buracos vazios. “Eles são como gnomos maus de jardim.”
“Eles são humanos subjugados”, Isabelle sibilou. ”Eles pertencem a um
vampiro.”
“Pertencem a um...”
Ela fez um ruído impaciente. “Pelo Anjo, você não sabe nada sobre sua
espécie, sabe? Você nem mesmo sabe como vampiros são feitos?”
“Bem, quando uma mamãe vampiro e um papai vampiro amam muito um
ao outro...”
Isabelle fez uma careta para ele. “Ótimo, você sabe que os vampiros não
precisam ter sexo para se reproduzirem, mas eu aposto que você realmente não
sabe como isso funciona.”
“Eu também sei.” Simon disse. “Eu sou um vampiro por que eu bebi um
pouco de sangue de vampiro antes que eu morresse. Beber sangue mais morte é
igual a vampiro.”
“Não exatamente”, Isabelle disse. “Você é um vampiro por que você bebeu
um pouco do sangue de Raphael, e então foi mordido por outros vampiros, e
então você morreu. Você precisa ser mordido em algum ponto durante o
processo.”“Por quê?”
“A saliva do vampiro tem... propriedades. Propriedades transformadoras.”
“Eco”, Simon disse.
“Não faça eco para mim. Você é quem tem o cuspe mágico. Vampiros
mantêm humanos ao redor e se alimenta deles quando tem falta de sangue —
como máquinas de lanche que andam”, Izzy falou com desgosto. “Você acharia
que eles estariam fracos por perder sangue o tempo todo, mas a saliva vampira na
verdade tem propriedades curativas. Ela aumenta sua contagem de células
vermelhas do sangue, faz elas mais fortes e mais saudáveis e os faz viver mais. É
claro, de vez em quando o vampiro decidirá que ele precisa mais do que um
lanche, que precisa de um subjugado — e então começará a alimentar seus
humanos mordidos com pequenas quantidades de sangue vampiro, só para
mantê-lo dócil, manter conectado a seu mestre. Subjugados adoram seus
mestres, e ama servi-los. Tudo o que eles querem é estar ao lado deles. Como
você estava quando você voltou ao Dumont. Você foi atraído de volta para o
vampiro cujo sangue você tinha consumido.”
“Raphael”, Simon disse, sua voz fria. “Eu não sinto uma urgência para estar
com ele ultimamente, deixe-me lhe dizer.”
“Não, isso se foi quando você se tornou um vampiro completo. Apenas os
subjugados adoram seus progenitores e não pode desobedecê-los. Você não vê?
Quando você voltou ao Dumont o clã de Rafael drenou você, e você morreu, e
então se tornou um vampiro. Mas se eles não o tivessem drenado, se ao invés,
eles tivessem dado a você mais sangue vampiro, você eventualmente teria se
tornado um subjugado.”
“Isso tudo é muito interessante”, Simon disse. “Mas não explica o porquê
de eles estarem olhando para nós.”
Isabelle olhou de volta para eles. “Eles estão olhando para você. Talvez o
mestre deles morreu e estejam procurando por outro vampiro para ser dono
deles. Você poderia ter bichinhos de estimação.” Ela sorriu.
“Ou”, Simon disse. “Talvez eles estejam aqui pelos hash brown2
.
“Humanos subjugados não comem comida. Eles vivem de uma mistura de
sangue vampiro e sangue animal. Eles os mantêm em um estado de animação
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