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Ahng, ahng, ahng...
Na noite escura e fria de Liande, em um pequeno beco sujo das favelas, veio um som de respiração ofegante misturado com o assobio do vento. Lá estavam um homem de tamanho mediano e gordinho pressionando uma garota pequena na parede.
A menina não se moveu, apenas ficou parada esperando o homem terminar de se satisfazer em seu corpo. Aquela já não era a primeira vez em que foi estrupada.
Quando o homem terminou, ele puxou as calças para cima e jogou um punhado de moedas aos pés da menina.
— Vê se não corre da próxima vez, pirralha, ou você vai levar mais do que alguns tapas.
A menina se agachou e tentou se cobrir com as roupas esfarrapadas e rasgadas, sem responder ao homem. Tremendo, ela limpou o sangue dos lábios ressecados e viu o homem sair do beco e desaparecer na noite escura.
Depois de se recuperar por algum tempo, a menina se esticou e apanhou as moedas caídas enquanto sentia seu corpo doer. Principalmente entre as pernas, onde ainda escorria o sêmen do homem.
Olhando a gosma esbranquiçada descendo pelas coxas, a menina olhou com ódio e nojo profundo na direção em que o homem havia saído. Em seu coração ela jurou um dia se vigar do demônio que a arruinou e da vadia que a forçava a viver assim.
Se levantado, a garota saiu do beco lentamente e desceu a rua sombria em direção ao outro lado da favela, onde passava um pequeno córrego. No caminho, ela parava para se esconder de alguns transeuntes que estavam indo para casa, e demorou um pouco para chegar ao local onde estava acostumada na beira do córrego.
Aquele era um local bem escondido e não dava para ver diretamente da rua por conta de algumas árvores e arbustos espalhados.
A água cristalina corria devagar entre as pedras lisas, e passava uma sensação de serenidade e suavidade para a menina. Por ser um uma parte um pouco mais afastada, a água ainda ainda era muito limpa, ao contrário da parte mais baixa que corria perto da entrada da favela.
A menina retirou as roupas esfarrapadas do corpo e as colocou em uma saliência de rocha à beira do córrego junto das poucas moedas. Enquanto ela entrava na água gélida, era possível contar as costelas em suas costas de tão magra que estava. Seu corpo coberto de hematomas azuis e verdes afundou lentamente na água.
Ela e sua mãe costumavam vir aqui para lavar roupas e tomar banho no passado, porém agora a menina vinha sozinha todas as noites. Sua mãe faleceu há pouco mais de três meses e a deixou sob os cuidados de uma vizinha de quem era um pouco mais próxima. Contudo, sua mãe nunca poderia imaginar que no dia seguinte à sua morte, essa mesma vizinha traria o homem gordinho para estrupá-la em troca de dinheiro.
Desde então, pelo menos duas vezes na semana ela tinha que aguentar esse abuso. Do contrário seria espancada e ainda seria violentada quando eles terminassem de bater.
A menina tinha apenas treze anos naquele ano e, após a morte de sua única parente, sofreu abusos físicos, sexuais e mentais, a fazendo amadurecer rapidamente.
Ela sabia que não conseguiria lutar com a mulher que a explorava e com o homem que a violentada, nem as pessoas ao redor a ajudariam a escapar desse pesadelo. Então ela sufocou sua tristeza e ódio e preparou um plano de fuga para si própria.
A garota tinha consciência de que seu plano tinha 99% de chances de levá-la a morte, entretanto até a morte era melhor do que estava vivendo atualmente. Assim, a menina passou e esconder algumas poucas peças de roupas e, de vez em quando, se houvesse chance, pegava uma moeda ou outra escondida da mulher.
Seu esconderijo era justamente naquele trecho do córrego, em baixo da saliência rochosa onde estava seus farrapos de roupa.
Além de vestimenta e moedas, ela também escondeu algumas ervas abortivas que uma velha prostituta tinha lhe dado por pena de sua situação.
A prostituição e o estupro de vulneráveis era muito comum nas cidades e principalmente nas favelas. Casos como o seu aconteciam com muitas meninas e meninos de todas as idades todos os dias. As vítimas só podiam culpar seu próprio azar e rezar para que os Deuses lhes concederem poderes para que pudessem sair dessa escuridão sem fim.
Saindo da água depois de se lavar até que a pele estivesse avermelhada, a menina foi até a saliência de rocha e procurou abaixo até encontrar uma caixa pequena. Após apoiar a caixa na pedra, a garota abriu o fecho simples e retirou de dentro um pedaço de pano para se secar e uma muda de roupa de calça e blusa de manga comprida, além de sapatos simples de palha.
Depois de se secar e vestir, a menina pegou um punhado de erva abortiva de dentro de um saquinho de pano e misturou em uma cumbuca com água do cantil de couro. Esmagando a erva até um polpa, a garota engoliu junto com um pouco de água. O gosto era amargo e forte, mas ela não exitou ou fez careta.
Geralmente só precisa tomar a erva após o ato sexual, porém a menina sentia tamanho pavor de engravidar que tomava diariamente. Apenas o pensamente de gerar uma criança depois de ser violentada causava arrepios e ânsia de vômito.
Após tomar o remédio, a garota pegou uma pequena bolsa de couro onde guardava suas poucas economias e as contou junto com as moedas que o homem havia jogado mais cedo. Ao todo ela tinha 89 moedas de cobre, o que era pouco, mas o suficiente para ela partir com a caravana que sairia dos portões de Liande ao amanhecer.
Seu plano era muito simples, apesar de arriscado. Ela iria pagar a taxa básica para viajar com a caravana até a cidade de Truzia e tentar recomeçar sua vida lá.
A caravana cobrava 20 moedas de cobre por pessoa se não houvesse bagagem. A única coisa que poderia levar era uma bolsa pessoal com as necessidades mais básicas, além de trazer sua própria comida e cantil de água. A caravana era apenas responsável pelo transporte. Quem quisesse levar mais bagagem teria que pagar mais e o valor variava dependendo da quantidade e peso da mercadoria.
A menina iria apenas com a primeira opção, afinal ela estava fugindo e não tinha dinheiro ou mais bagagem de qualquer jeito.
O problema era o caminho entre as cidades de Liande e Truzia. A maior parte da viagem de 23 dias seria percorrida atravessando a floresta densa e selvagem por uma trilha estreita.
A floresta chamada de Floresta De Fuzia era repleta de bestas poderosas e plantas mortais. As bestas eram a maior preocupação da caravana, e o organizador sempre pagava a um grupo de pessoas com habilidades da guilda de aventureiros para escoltá-los durante a viajem. Porém não era 100% seguro, uma vez que muitas bestas poderosas também tinham despertado habilidades como força, velocidade e visão noturna apurada.
Essa era a parte mais arriscada do plano da menina, mas ela não queria continuar a viver nessa cidade que lhe trouxe tanta dor e ódio. Ela prefere morrer no caminho de uma nova esperança do que continuar confinada aos seus pesadelos.
Assim, a garota tirou uma capa com capuz surrada de dentro da caixa e a vestiu. Jogando as roupas sujas e rasgadas pelo homem gordinho no córrego, ela colocou a muda restante de roupa, o saquinho de ervas, a cumbuca com uma colher, faca e um pedaço de pau que servia de moedor na bolsa de couro simples, amarrou e a pendurou em um dos ombros. Guardou a bolsinha de moedas por dentro da blusa, em um bolso escondido e partiu em direção ao portão da cidade.
A caminhada da favela até a entrada da cidade durou cerca de 4 horas depois de desviar e se esconder de qualquer pessoa que via pelo caminho. Ela não podia arriscar ser pega por alguém e perder essa chance.
Quando chegou perto do portão, subiu em uma árvore com muita folhagem e esperou o dia clarear para se juntar a caravana.
Sentindo frio na barriga, a menina esperou a noite passar e a primeira luz começar a despontar ao leste. Vendo o movimento de pessoas no portão, a menina cautelosamente desceu da árvore e se aproximou do líder da caravana com o estômago apertado de nervoso e medo.
O líder dessa caravana era um homem corpulento de aproximadamente uns 35 à 40 anos, com os cabelos castanhos já com alguns poucos fios brancos na têmpora, vestido de maneira prática mas elegante para estabelecer sua imagem. Ele tinha um rosto sério e estava comandando diferentes pessoas a carregar caixas grandes nas carroças cobertas com lona bege.
Quando se virou para orientar outro ajudante com as mercadorias, viu uma menina vestida com roupas velhas e com o rosto magro se aproximar devagar. A menina devia ter menos de 15 anos olhando por sua altura e olhava desconfiada para todos os lados enquanto andava. Parecia que já tinha passado por alguns maus bocados em sua jovem vida, a julgar pela forma como agia. Contudo, isso não era surpreendente. Não era raro as pessoas comuns e sem status ou dinheiro sofrerem diferentes formas de danos e injustiças. E isso era em todos os lugares, não apenas em Liande.
A menina se aproximou cada vez mais até estar de frente ao líder da caravana. Encarando o rosto sério com as sombrancelha grossas juntas em uma carranca, a menina engoliu em seco e perguntou com voz rouca se ainda havia lugar para uma pessoa com apenas bagagem de mão.
O líder a olhou de cima à baixo, fazendo o corpo pequeno se enrijecer instintivamente e disse que ainda restavam dois lugares.
A garota então enfiou a mão no bolso da calça onde já havia deixado separado dinheiro suficiente para a passagem e para comprar alguns pães de sorgo para comer durante a viagem, contou vinte moedas de cobre e entregou ao líder da caravana prendendo a respiração.
O líder pegou o dinheiro e entregou para a menina um pequeno token de madeira com o símbolo da caravana gravado e explicou brevemente o funcionamento da caravana durante o trajeto para Truzia.
Depois de olhar novamente para a menina e confirmar que ela havia entendido, o líder voltou sua atenção para as mercadorias e a deixou de lado para fazer suas próprias coisas.
A garota agarrou firmemente o token e foi em direção a uma pequena barraca de rua onde vendia pães e sopas quentes para o café da manhã.
O preço do pão de sorgo era dois pães por uma moeda de cobre e a sopa de macarrão com legumes custava 8 moedas de cobre. Ignorando a sopa cheirosa, a menina pediu a tia da barraca quarenta pães de sorgo diretamente.
Isso era mais que o suficiente para durar até alguns dias após chegar Truzia e como o pão era seco ele tinha uma validade bastante longa.
Pegando o embrulho feito de folhas largas, a menina entregou as vinte moedas de cobre para a vendedora e se afastou em direção aos carroções de lona da caravana. Era melhor ficar em um lugar perto para evitar qualquer problema.
Parando ao lado de um dos carroções já carregado, a menina se agachou e enfiou o embrulho com os pães em sua bolsa de ombro, junto a sua roupa. Pegando um dos pães, ela fechou a bolsa e a pôs no ombro novamente enquanto mordisca o pão seco.
Depois de um tempo, quando já tinha quase terminado o pão, começaram a chegar os outros viajantes que iriam para Truzia junto com a caravana.
A garota pôs o capuz na cabeça, escondendo um pouco suas feições e observou o grupo de 8 pessoas se aproximar do líder da caravana.
Entre essas pessoas tinha um casal de aproximadamente 30 anos que estava viajando com bagagem simples como ela, e os outros seis eram donos de mercadorias que seriam transportadas para Truzia pela caravana. Eles ficavam em um carroção separado dos viajantes comuns e tinham prioridade na proteção pela escolta.
Os viajantes comuns ficavam em um carroção ao final da caravana, onde ficavam alguns materiais diários de baixo ou nenhum valor.
Quando os membros da guilda de aventureiros que fariam a escolta chegaram, também foi o momento em que todas as mercadorias foram alocadas nos carroções.
Cumprimentando o capitão da equipe de escolta, o líder da caravana apresentou os donos das mercadorias que estavam transportando e mostrou brevemente as outras três pessoas que estariam viajando com eles para Truzia.
A menina ficou parada sem chamar atenção para si e olhou para a equipe de sete homens e três mulheres que fariam a escolta da caravana. Essa era a primeira vez que via uma pessoa com habilidades tão de perto, fazendo com que ela ficasse ansiosa e temerosa ao mesmo tempo.
Todas as vezes em que ela era espancada pela mulher má ou violentada pelo homem gordinho, ela rezava para que pudesse despertar alguma habilidade e matar essas duas bestas miseráveis que à faziam mal.
Olhando para os olhos com brilhos e cores diferentes mudados pelo despertar da habilidade, a menina engoliu em seco e serrou as mãos firmemente. O desejo de força e vingança brilhando em seus olhos foram escondidos pela sombra do capuz.
Após as apresentações e mais alguns ajustes, o líder da caravana deu ordem de partida e os três carroções com cobertura de lona sairam pelos portões de Liande cercados por dez aventureiros montados em cavalos.
A menina sentada na traseira do carroção ao final do comboio, deu uma última olhada em direção a cidade em que viveu toda a sua vida e prometeu em seu coração que, se sobrevivesse a essa jornada, um dia voltaria e faria os dois demônios que lhe arruinaram pagarem pelos seus pecados.
..."Trail of Dreams" de Gary Niblett...
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O carroção chacoalhava de um lado para o outro no caminho estreito que atravessa a Floresta de Fuzia. O estômago de Alana finalmente se acostumou depois de dois dias de viagem, mas ela ainda estava receosa em comer um pedaço de pão depois de vomitar os últimos três que comeu.
Aquela era sua primeira vez na vida andando em outra coisa que não fosse suas próprias pernas e o sentimento depois de ficar quicando na traseira do carroção a deixou extremamente abatida. Seu corpo já vinha sofrendo abuso à meses e não recebeu muito bem a novidade do transporte.
Sentindo o estômago apertar de fome, Alana desatarraxou o cantil de água e tomou um gole raso.
— Menina, você tem que comer um pouco ou vai desmaiar já já.
A mulher que estava viajando com seu marido no último carroção da caravana disse com simpatia. Ela viu a menina, que devia ter a idade de sua filha mais velha, se debruçando na beira do carroção para vomitar por dois dias consecutivos. Apesar de a própria não estar muito acostumada a viajar em carroções, também não teve uma reação tão extrema.
Alana levantou os olhos em direção a mulher de meia idade e disse que iria esperar um pouco mais antes de tentar comer novamente. Depois puxou o capuz mais para baixo, de forma a cobrir seu rosto quase até o nariz e bebeu mais um pouco de água.
Realmente o enjôo estava muito melhor que antes, mais ela estava com medo de desperdiçar comida novamente. Ela não tinha muito dinheiro sobrando, e não sabia como seria a vida quando chegasse a Truzia. Assim, era melhor não arriscar e esperar um pouco mais.
De qualquer jeito, já era quase pôr do sol e a equipe de escolta logo montaria acampamento junto ao líder da caravana.
A viagem pela Floresta de Fuzia até agora foi bem tranquila e não houve ataques de bestas, porém a equipe de escolta era cautelosa e não ousava viajar à noite, de modo que antes do sol se pôr a caravana montava acampamento em um trecho mais aberto da estrada.
Como os três passageiros no último carroção pagavam apenas pelo transporte, eles não tinham barraca e dormiam sentados no mesmo local em que viajavam durante o dia. Apenas se levantando para atender suas necessidades fisiológicas ou para ir a fogueira que o líder montava para aquecer sua refeição.
Os mercadores e o líder da caravana ficavam em uma única barraca, que fornecia sacos de dormir acolchoados, além de dois aventureiros com habilidades para fornecer proteção exclusiva durante a noite.
Os outros membros da escolta se espalhavam em um círculo em volta de todo o acampamento junto com os funcionários do líder da caravana. Eles se revezavam no descanso durante o dia para que, à noite, pudessem ficar de patrulha e proteger contra ataques de bestas.
Não muito depois de Alana falar com a mulher, o líder da equipe de escolta acenou para o comboio parar. Os cavalos foram direcionados a uma pequena clareira na beira da estrada e os passageiros desceram um a um dos carroções.
Alana pulou da traseira e se esticou, ouvindo seus ossos estalarem. Depois de tanto tempo sentada, seu corpo estava rígido.
Os funcionários do líder da caravana estavam montando a barraca e fazendo uma fogueira no centro do acampamento improvisado, sendo cercado pelos três carroções.
O casal que viajava com Alana já estava pegando uma panela pequena e indo em direção ao rio que corria perto da estrada junto com outras pessoas da caravana. Alana não se apressou e esperou quase todos voltarem ao acampamento antes de ir encher seu cantil.
Quando ela chegou a beira do rio, uma mulher que fazia parte da escolta estava enchendo seu cantil também. Levantando a cabeça, a mulher de cabelos ruivos viu a menina que parecia pálida e perguntou como ela estava.
— Já estou me sentindo melhor, obrigada. — Alana respondeu em voz baixa e se agachou para pegar água.
Olhando de lado para a ruiva, Alana notou seus olhos estranhos e belos, de uma cor verde vibrante com o que parecia pequenas estrelas brilhantes espalhados pela íris, e se lembrou de seu pai.
O pai de Alana era um professor de origem humilde antes de falecer por doença cardíaca. Ele costumava dar palestras para sua filha em casa e ensinava-a acerca do mundo em que viviam. Seu assunto favorito era a magia e as habilidades mágicas. Segundo seus ensinamentos, tudo neste mundo era imbuído de magia. Desde o solo e água aos seres vivos como humanos, animais e plantas. Porém, não eram todos que poderiam utilizar essa magia livremente.
Cada ser já nasce com afinidade para os mais variados tipos de magia, como fogo, água, vento e terra, essas sendo as mais comuns. Ainda era possível despertar habilidades variantes como a mental, espacial, madeira e relâmpago, por exemplo. Existem ainda muitas outras variações, contudo são extremamente raras.
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