MALU
Maria Luiza, conhecida como Malu, retornou de uma viagem e, instintivamente, dirigiu-se ao quarto de sua mãe. Embora tudo parecesse inalterado, uma sensação incômoda a dominou, como se algo estivesse errado. Ela não conseguia discernir exatamente o que era, mas a atmosfera não estava como ela a deixara.
Com um coração pesado, ela abriu a porta do quarto, e o choque a engoliu. Sua mãe estava deitada na cama, sem roupas e ensanguentada, enquanto seu padrasto estava amarrado a uma cadeira, uma bala na testa. O mundo de Malu desmoronou diante de seus olhos, deixando-a devastada.
Seus gritos ecoaram, despertando os vizinhos que, rapidamente, correram para a casa ao ouvir o alvoroço. Ao entrarem no quarto, confrontaram uma cena de terror, onde o sangue manchava tudo, das paredes ao chão, como em um filme macabro. O silêncio da noite tornava tudo ainda mais aterrorizante.
Ninguém suspeitava de que o casal escondia segredos sombrios, já que raramente eram vistos pelos vizinhos. As investigações iniciais não revelaram pistas sobre o que realmente aconteceu naquela casa.
A polícia e a ambulância foram chamadas com urgência, mas a perplexidade prevalecia, pois ninguém ouvira nada durante a madrugada.
Malu, em estado de choque, estava presente fisicamente, mas sua mente estava destroçada. Nada parecia penetrar sua consciência, enquanto aqueles ao redor dela tentavam em vão acalmá-la.
Os paramédicos decidiram administrar um tranquilizante antes de levá-la ao hospital, dado seu estado extremamente preocupante.
A jovem se culpava por ter deixado os dois sozinhos enquanto viajava, uma tentativa de escapar da turbulência emocional que a assombrava.
A descoberta de um número de emergência em seu celular levou a uma ligação para seu pai, João, que ficou atordoado ao receber a notícia.
Polícia: — Alô, gostaria de falar com o pai da senhorita Maria Luiza Coimbra?
João: — Quem está falando? Sou o pai dela, me chamo João.
Polícia: — Senhor João, aconteceu um duplo homicídio na casa de sua filha, Maria Luiza. Ela está sendo transferida para um hospital local agora mesmo e...
João: — O QUE ACONTECEU COM MINHA FILHA? — interrompeu, em desespero ao telefone..
João estava profundamente preocupado, ciente de que sua filha, apesar de ser uma boa pessoa, seguira os passos do padrasto e estava constantemente em perigo.
João: — Ela entrou em estado de choque, senhor. Ao deparar-se com os corpos do casal em sua residência, o senhor poderia vir imediatamente até Verona para fazer o reconhecimento dos corpos e acompanhar sua filha no hospital? A situação dela é preocupante, e ela não está consciente neste momento.
João: — Estou a caminho. Chegarei aí em algumas horas.
João: — Obrigado, senhor. Estaremos aguardando sua chegada junto com a equipe dos legistas.
João mal desligou o telefone e imediatamente ligou para Victor, seu filho mais velho. Ele pediu a Victor que assumisse a administração da agência, explicando a necessidade de sua ausência, mas evitando entrar em detalhes sobre a situação. Ele preferiu manter sua preocupação em segredo, temendo a reação de Victor, já que sua irmã vivia com a mãe.
Victor aceitou prontamente, sem questionar, e encerrou a ligação. Sua prioridade era cuidar da empresa enquanto seu pai enfrentava um mistério sombrio.
A viagem até Verona foi tumultuada, com os pensamentos de João totalmente concentrados em sua filha. Apesar da determinação e força de Malu, ela ainda era uma jovem aos olhos do pai. Imaginar a cena devastadora que a atingira era quase insuportável. Após tudo o que ela já havia superado, enfrentar algo assim seria uma provação adicional.
João estava decidido: traria sua filha para sua casa e a cuidaria. Não a deixaria sozinha novamente. Agora, ele e seu filho eram a única família de Malu. Ele faria tudo o que estivesse ao seu alcance para garantir que ela encontrasse paz e segurança, algo que sempre quis para ela.
A viagem pareceu interminável, como se estivessem cruzando oceanos em vez de quilômetros. No entanto, seus pensamentos permaneceram com sua filha. Ele sabia que a recuperação dela seria uma jornada árdua.
João: — Da última vez, foi incrivelmente difícil tê-la de volta, Malu. Mas desta vez, você terá todo o meu amor e apoio. Vou transformar completamente sua vida, para que você nunca mais tenha que se envolver nas coisas do seu padrasto.
João falou com pesar. Quando a mãe de Malu pediu o divórcio, ele não queria perder seus filhos. Eles chegaram a um acordo, e ele ficou com Victor, enquanto Malu ficou com a mãe. Hoje, ele lamentava profundamente essa decisão. Se tivesse insistido, sua filha estaria segura, sem os traumas que agora enfrentava.
Até hoje, João não compreendia por que sua ex-mulher chegou em casa e simplesmente desistiu do casamento. Ele tinha se esforçado ao máximo por ela e pelos filhos, mas Marisa não percebeu que estava destruindo a família por capricho.
Diante de tudo o que aconteceu, João decidiu que não se envolveria com mais nenhuma mulher. Sua dedicação era exclusiva aos filhos, Victor e agora também Malu.
Ao chegar a Verona, João seguiu direto para a casa de Malu. No entanto, as luzes piscantes das viaturas de polícia e da ambulância já eram visíveis de longe, criando um cenário sombrio que prenunciava uma tragédia ainda maior do que ele poderia ter imaginado.
João: — Meu Deus, por favor, não permita que minha filha seja vítima desta tragédia. Ajude-me a cuidar dela e a evitar que ela se afunde ainda mais.
João proferiu em lamento, ao se aproximar da fita amarela que circundava a mansão. Dadas as circunstâncias, ele tinha uma sensação terrível de que a situação era pior do que ele poderia imaginar.
O local estava um verdadeiro caos, com carros de polícia e curiosos espalhados. Mas o que chamou mais a atenção de João foi uma van preta com vidros escuros parada do outro lado da rua.
Ele observou atentamente, como se alguém estivesse esperando para ter certeza de que tudo ocorreu conforme o planejado. Porém, ninguém ali, além dele, pareceu notar isso.
Ele pensou em se aproximar e saber se queriam alguma coisa, mas preferiu evitar confusão por enquanto. Nesse momento, tudo o que ele precisava era ver a sua filha e tirá-la daquele lugar o mais rápido possível.
Ao entrar na casa e seguir para o quarto, ele viu uma equipe de legistas avaliando o corpo de sua ex-esposa e outra equipe avaliando o seu atual marido, que estava amarrado a uma cadeira. A porta estava bloqueada com uma faixa para impedir a entrada de qualquer pessoa.
Ao se aproximar da porta, ele já tinha uma ideia do que havia acontecido lá dentro. A cena era perturbadora e teria abalado qualquer um psicologicamente.
Um policial se aproximou dele e tocou em seu ombro. João olhou assustado para trás, mas se acalmou ao reconhecer quem era.
Policial: — Desculpe, senhor, mas você não pode ficar aqui. Esta área está restrita.
Jorge: — Sou o ex-marido dela e o pai de Maria Luiza. Um policial me pediu para vir até aqui.
Policial: — Ah, sim, desculpe. Fui eu que entrei em contato com você, João, certo?
Jorge: — Isso mesmo. Você poderia me dar alguma informação sobre o que aconteceu?
Policial:— Bem, senhor João, ainda não temos certeza, mas pela aparência da cena, sua ex-esposa foi estuprada e morta na frente do marido. Depois, o marido foi morto com um tiro na testa. Mas como eu disse, precisamos aguardar os resultados da perícia para termos certeza.
Jorge: — Entendo. O que preciso fazer aqui para ser liberado e poder ver minha filha? Ela precisa de mim neste momento.
Policial:— Me acompanhe, por favor.
João seguiu o policial, que retirou a faixa de isolamento. Os legistas já haviam terminado seu trabalho e estavam guardando os equipamentos.
Após fazer o reconhecimento dos corpos, João aguardou a chegada do IML para levá-los. Ficou do lado de fora e viu as macas levando os corpos ensacados em sacos pretos.
Somente ao anoitecer os policiais liberaram a área e João, permitindo-lhe finalmente ir ver sua filha. Notou que, assim que o veículo do IML partiu, a van preta também arrancou.
Ele informou ao policial, que anotou a placa para verificação. No entanto, João sabia que, dependendo de quem fosse o dono, as coisas poderiam não progredir.
Decidiu, então, anotar a placa por conta própria para verificar mais tarde. Entrou em seu carro e dirigiu até o hospital local, onde o policial lhe disse que sua filha estava.
Ao chegar lá, ele se dirigiu à recepção e se identificou como pai de Maria Luiza Coimbra. A atendente o olhou com tristeza e indicou o quarto onde ela estava sendo atendida.
Recepcionista:— Senhor, ela chegou em péssimo estado, completamente distraída. Tentamos falar com ela, mas ela não respondia. O médico encontrou o documento dela, então preenchemos o formulário. Peço desculpas por mexer nas coisas dela, mas era a única maneira de registrá-la no hospital.
Jorge: — Está tudo bem, vou ver como ela está. Muito obrigado.
João entrou no quarto e viu sua filha dormindo, mas com as mãos e pés amarrados. Seu coração se partiu ao vê-la naquela condição.
Ele começou a desamarrar os nós, mas foi interrompido por uma voz.
Médico: — Senhor, não faça isso. A paciente estava muito agitada, estava se machucando, então decidimos prendê-la para acalmá-la. No entanto, não recomendo soltá-la ainda.
Jorge: — Primeiro, ela é minha filha, e não permitirei que ninguém a machuque novamente. Se você quer prender alguém, prenda sua mãe ou sua língua maldosa. Minha filha não ficará tratada como um animal prestes a ser abatido.
Médico: — O senhor precisa me respeitar. Sou médico e exijo respeito. Sua filha não pode sair, o estado dela é...
Jorge: — Não perguntei a sua opinião, não pedi sua permissão. Ela é minha filha e você não vai mantê-la amarrada aqui. Vou soltá-la e você vai providenciar a alta dela.
Médico: — Sinto muito, mas o senhor não pode levar a paciente. Ela será transferida para a ala psiquiátrica; já pedi a transferência e ela foi aceita. Os médicos estão a caminho para levá-la.
Jorge: — Ou você faz o que eu disse, ou ela será seu último paciente. Farei questão de arruinar a sua carreira miserável. Ela não irá para lugar nenhum. Vou levá-la para casa, e não tente me impedir. Passarei por cima de todos, se necessário, mas ninguém tocará nela sem a permissão dela.
Médico: — Vou chamar a polícia para o senhor. Ela chegou aqui imobilizada, mas depois ficou agitada, estava machucando a si mesma e aos enfermeiros. Ela é perigosa sem tratamento para controlar seus impulsos.
João encarou o médico, aproximou-se dele, segurou seu jaleco e puxou-o ameaçadoramente. Antes que pudesse fazer algo mais, a voz fraca de sua filha o interrompeu, fazendo-o soltar o médico e se voltar para ela.
Malu: — Papai?
Continua...
( João Coimbra, 45 anos, pai da Malu.)
Malu
João se aproxima dela, pega em sua mão, olha em seus olhos que ainda estão se abrindo e dá um beijo em sua testa.
Malu: — Papai? Você veio... Você... Eu… ai pai.
Malu começa a chorar desesperadamente e ele a abraça forte, para que ela se sinta protegida por ele.
Jorge: — Claro que vim, minha filha. Jamais a deixaria sozinha, nem agora e nem nunca. Vou levar você para minha casa, e tudo isso não vai passar de um pesadelo. Vai ficar tudo bem agora, tá?
Malu: — Aí, papai — ela continua a chorar ao lembrar da cena de sua mãe e de seu padrasto naquela casa. Ela começa a querer se agitar novamente, mas João a segura com mais força, e aos poucos Malu vai se acalmando no conforto do braço de seu pai.
Nesse momento, entram dois homens no quarto de Malu, de terno e gravata. Perguntam se ela está bem para conversarem, mas ao verem seu estado, ficam apreensivos. Seu pai pergunta se é importante.
Advogado:— Sim, é muito importante. Maria Luiza é a única herdeira da fortuna do senhor Jorge Clark. Ele deixou toda sua herança para ela na semana passada.
Pai e filha olham um para o outro com a mesma pergunta na cabeça: "Ele sabia que iria morrer?"
Advogado: — Ele passou tudo para seu nome e para o nome de sua mãe, mas como ela... também... bem... ficou tudo para você. Sou advogado do Senhor Clark há anos, mas na semana passada ele chamou o escrivão até a casa dele para passar toda sua herança para vocês. Enquanto você estava viajando, como a senhorita voltou hoje, preciso coletar sua assinatura para vocês terem acesso a tudo.
Malu começa a chorar, mas seu pai diz para ela resolver logo isso. Ela assina, e ele diz que estará tudo resolvido em uma hora.
Malu lembra que, como seu padrasto era chefe da máfia, ela também herdaria a chefia. No entanto, ela não queria, mesmo tendo capacidade para isso. Ela foi muito bem treinada para assumir como herdeira, mas nunca pensou em fazer parte dela.
Ela trabalhava para ele, fazendo os serviços que ele mandava. Por isso, ela acabou indo viajar, pois estava começando a levar as coisas muito a sério e estava ficando muito agressiva.
Devido a um trauma de infância, quando ela se envolvia demais em uma operação, parecia que a Malu tinha outra personalidade. Nem ela mesma se lembrava do que fazia.
Ela então pediu para seu pai ir à casa pegar sua bolsa e seu celular. Precisava fazer uma ligação, mas seu pai entregou para ela, já que o policial tinha entregado a ele.
Ela liga para seu amigo Gael, que era conselheiro da máfia de seu padrasto, e ele a conhecia como ninguém. Ela pede uma reunião com os conselheiros para o próximo dia bem cedo. Ela tinha essa questão a resolver e não poderia ir para a casa do seu pai deixando isso pendente.
O médico que ouve tudo atentamente sai do quarto e volta um pouco depois, manda ela assinar o termo de responsabilidade e a libera.
João pega a mão de sua filha e eles vão para um hotel próximo à sede da máfia, pois já estarão perto caso acordem atrasados.
O dia amanhece e ela acorda com seu celular tocando. Era Gael, que conseguiu uma reunião para daqui a 1 hora, e que todos os conselheiros estariam lá esperando por ela.
Malu acorda seu pai e vão para o banho. João desce e compra roupas para os dois enquanto isso, e quando retorna ao quarto, Malu está saindo do banheiro e ele lhe entrega sua sacola de roupas, indo para o seu banho.
Descem e tomam um café rapidinho no hotel mesmo, para não se atrasarem para a reunião. Assim que entram na sede da máfia, todos fazem reverência para a nova chefe.
Seu pai não pode entrar na sala de reunião, então ela deixa com uma amiga dela na sala até ela voltar. Sobe no elevador, para em frente à porta de reunião, respira fundo e entra.
Ao entrar na sala, todos abaixam suas cabeças em sinal de respeito pela nova chefe. Depois dão os parabéns pela chefia.
Malu: — Bom dia a todos. Estou aqui para dizer a vocês que eu não quero ser a chefe da máfia. Posso passar minha coroa para outra pessoa. Nunca fiz parte diretamente, estava apenas porque o Jorge colocou meu nome como sua herdeira. Estou aqui para renunciar ao meu mandato.
Conselheiro: — A senhorita não pode desistir da máfia. Isso não é um emprego do qual você se demite se não quiser continuar.
Malu: — Bom, nesse caso, eu passo a transferência para outra pessoa do próprio conselho. Isso eu posso fazer, não posso?
Conselheiro: — E para quem a senhorita iria passar a chefia?
Malu: — Passo a direção da máfia italiana para o conselheiro Gael. Ele será o novo chefe da máfia. Eu não ficarei aqui. Vou com o meu pai e não quero mais me envolver com nada.
Gael: — Mas Malu, mesmo que você transfira para mim, você continuará na máfia, pois não pode haver desistência.
Malu — Tudo bem, mas quero que fique como estava antes. Não quero ser chefe de nada. Vou estar na máfia, mas não diretamente. Pelo menos até vocês me permitirem sair.
Todos concordam com a escolha. Gael é um super Mafioso, bom em tudo o que faz. Ele diz a ela que o que precisar, é só ligar para ele.
Ela assina os papéis que tem que assinar, se despede de todos, dá um abraço em Gael e deseja boa sorte a todos. Vai para a sala onde está seu pai.
Ela dá um abraço apertado em sua amiga e diz para ela não esquecer dela e manter sempre contato. Se despedem e vão embora.
Malu não quis pegar nada da casa dela. Já tinha todos os documentos e tudo o que precisava. Mesmo que ainda haja coisas importantes lá dentro, ela prefere não voltar lá, pelo menos não por enquanto.
Ela pensa em ter uma vida tranquila agora ao lado de seu pai e irmão, mas sabe que aquele que matou sua mãe ainda vai sofrer em suas mãos…
Para mais, baixe o APP de MangaToon!