Estava saindo da padaria quando de repente dei de cara com ele, confesso que não esperava vê-lo e muito menos reconhecê-lo como reconheci. Fora apenas segundos, mas tempo suficiente para que a minha mente vagasse e trouxesse todas as lembranças a tona, era Ele! Simplesmente ele, ali parado na minha frente esperando que eu passasse.

Eu apenas sorri, ele também sorriu, e por um instante temi não ser reconhecida, neste momento ele falou o meu nome e abraçou-me, eu não soube o que falar. Queria que o tempo parasse para que eu pudesse ficar ali para sempre. Junto a ele como deveria ter sido anos atrás. Então ele como se não fosse nada me disse que eu estava linda naquele meu vestido florido e eu que nem achava aquele vestido isso tudo pensei que agora Só o usaria em ocasiões especiais.

Eu perguntei-lhe por onde ele havia andado e ele triste respondeu-me haver estado pelo mundo a procura da garota que havia mexido com ele como nenhuma outra e olhando para mim, sorriu. Eu sorri tímida e olhei para o chão. Ele continuava aquele charmoso e inveterado galanteador de sempre e tinha um cheiro tão bom que me deixava quase sem ar. Tive vontade de grudar as nossas mãos e correr dali para que não houvesse hipótese de nos perdermos outra vez.

Resolvemos então entrar para tomar um chocolate quente, pois, a temperatura havia caído bastante e os flocos de neve já começavam a cair, como que se houvessem previsto aquele encontro e torcessem para dar certo. Era o destino atuando ao nosso favor.

Eu só conseguia sorrir e olha-lo com cara de boba, às vezes, olhava ao redor com medo que estivessem escritos na minha testa toda aquela saudade e amor que eu sentia.

Ele começou a contar-me que havia viajado por vários países e foi parar na França para fazer o curso de culinária. Neste momento eu não me contive e disse-lhe que o curso era um sonho nosso e que eu esperava por ele para fazer, ele sorrindo disse-me que esperou que eu ligasse para dizer se os nossos planos continuavam de pé, pois, perdeu os meus contatos e não havia tido sucesso em reencontrar-me. Eu não lhe contei que num ímpeto de raiva e muita tristeza havia apagado todos os seus também e simplesmente disse-lhe que também tinha perdido.

Ele então propôs que fôssemos juntos ao curso para me inscrever e seguir o que havíamos planejado. Dentro de mim, acontecia uma confusão de sentimentos, não sabia se ele havia feito isso inocentemente no ímpeto do encontro ou se realmente havia a intenção de cumprir o prometido dessa vez.

Contudo, eu precisava ir embora, pois, tinha um compromisso marcado do outro lado da cidade. Então trocamos telefone e ficamos de marcar um novo encontro para aquele final de semana. Fui embora feliz e pensando na frase do Caio: "Põe no mundo com a sorte da surpresa, ou o azar da decepção, nas mãos do destino"

Continua...

Saí então correndo para o meu compromisso, afinal depois de alguns desilusões havia me prometido que não iria mais abrir mão deles por possíveis amores que talvez não dessem em nada, apesar de achar que com o Alê seria diferente.

*Ao longo dessa história teremos alguns "flash backs" para vocês poderem entender o que nos trouxe até aqui.*

Fui então dá a minha aula, meu aluno já estava me aguardando, quando resolvi ir para França, finalmente realizar meu sonho de morar fora na cidade que sempre sonhei, precisava de algo que me desse um sustento fora a bolsa do metrado em Letras, que dava para o básico, mas, não cobria todos os extras que se tem morando no exterior, então na própria universidade vi algumas oportunidades de ensinar inglês para alunos das escolas locais, o que me deixou bastante animada já que era o que sempre amei fazer. Ao final das 2 horas de aula fui me encontrar com uma amiga para terminar um projeto da universidade que havíamos começado e era para segunda.

A Gi estava me esperando na cantina, tomamos então um chá já que o tempo estava bem frio naquele dia e contei a Gi o que havia acontecido mais cedo.

- Gi não sei se você lembra do Alê...

- O seu amor brasileiro que sumiu sem deixar rastro?

- Hum... Não foi bem assim, mas sim, ele

- Lembro bem daquele bamboccio* o que houve? ( * babaca.

A Gi é italiana, nos conhecemos assim que cheguei na França pagamos algumas cadeiras juntas no mestrado e como estava procurando alguém para dividir moradia, que não é nada barato aqui, fomos morar juntas e ela acabou se tornando a minha melhor amiga nesses 2 anos aqui.

- Você não vai acreditar, estava saindo do “Deux Magots” e dei de cara com ele.

- Non ci credo! ( Não estou acreditando), Como isso aconteceu?

-Pois é, pelo que entendi ele chegou aqui faz poucos dias para fazer o curso de culinaria que tanto falavamos em fazer juntos, você acredita que ele me convidou para fazer também?

-Ma è davvero uno stronzo! ( Mas é realmente um babaca)

- Eu fiquei sem reação amiga, congelei na hora, meu coração quase me sai pela boca!

- E o que você fez?

- Infelizmente nada, eu estava atrasada para dar aula ao Pietro, então trocamos telefone e fui embora.

- E agora? Você vai ligar para ele?

- Não, por mais que eu queira, vou esperar ele me ligar para saber se ele realmente estava falando sério, já me magoei bastante nessa história.

-  Molto sicuro. ( Está certa)

- Vamos terminar logo esse trabalho então? Estou cansada e precisando de um bom banho.

-  Eccoci qui! ( Vamos! )

Terminamos o trabalho e finalmente depois de 2h chegamos em casa, Gi tinha marcado para tomar uns drinks com outros amigos da turma, mas eu decido ficar em casa e botar minha leitura em dia, a semana foi puxada e meu orientador está me cobrando as referências que ele me passou e que ainda não tive tempo de analisar.

Estou deitada lendo e me lembro de quando conheci o Alê.

...Flash Back:  Estava na Faculdade quando passei pela ala do curso de artes e vi um menino empurrando um carro de compras e falando alto, “Olha a promoção, quem vai querer? Livros de segunda mão bem conservados, a partir de 3 volumes tem desconto! Quem vai querer?” Os amigos estavam rindo dele, parecia algo como um desafio entre eles, então ele continuava gritando alto e tentando chamar atenção de quem passava. Resolvi ver do que se tratava, entre os livros vi alguns romances que me interessavam, não faziam bem parte da minha grade, mas, eram leituras leves para as horas de lazer, sempre me divertir lendo, então perguntei quanto custavam alguns e ele foi muito simpático, acabei comprando 3 livros, 2 romances da Émile Zola e um de  Marcel Proust. Esse foi nosso primeiro contato....

Consegui ler metade de um livro de Valery Larbaud que falava sobre viagens e cujo conteúdo meu orientador achou que iria agregar ao conteúdo da minha tese, depois resolvi fazer um jantar leve, fiz uma salada de folhas e tomate com molho Pesto que eu amo e comi com algumas toradas e uma taça de vinho, então quando estava me preparando para dormir ouço o bip do celular avisando que tinha uma mensagem.

Achei que podia ser a Gi avisando que ia dormir fora ou que ia trazer alguém com ela, o que não costuma ser difícil, já que ela é muito bonita e chama atenção por onde passa, mas não era dela a mensagem:

- “Olá! Gostaria de confirmar que esse é o número da Anne, a mais bonita e voraz leitora de romances que conheço”  

- “Olá! Acho que você se enganou.”

-“Ahhhhh, entendi, então acho que anotei errado, me desculpa e obrigada."

- “Esse número é de uma leitora voraz sim, mas ela não faz muita predileção por romances atualmente.”

- “kkkkkkkkk Que susto você me deu Anne, pensei que tinha novamente perdido seu contato.”

- “kkkkkkkk Desculpa, estava só me divertindo!"

- "Que bom que é você! Como está sua noite? Ocupada?"

- "Hum... Na verdade não muito, estava atualizando minhas leituras do curso e agora me preparando para dormir."

- "Entendi, acabou ficando tarde né?! Tive alguns compromissos hoje, será que podemos marcar para tomar um café amanhã?"

- "Hoje ficou realmente tarde. Tenho um compromisso pela manhã e uma reunião depois, mas podemos marcar um café no fim da tarde."

- "Combinado então, como você conhece melhor aqui escolhe um lugar que você gosta e me manda a localização que a gente se encontra lá."

- "Tá bom! Até amanhã então! Boa Noite."

- "Boa Noite, bons sonhos para você linda Anne."

Bloqueio o celular e fico pensando no que acabou de acontecer, ele realmente me mandou mensagem e quer me encontrar, será que agora essa história vai finalmente desencantar? Aí como eu queria que a Gi estivesse aqui para me ajudar a pensar melhor... Vou ao banheiro me organizar e depois decido deitar, o dia foi longo e estou bastante cansada, começo a ponderar sobre o encontro de amanhã e acabo pegando no sono.

Claro que sonho com o Alê...

Continua...

Apresentando os personagens:

Anne:

Gi:

Alê:

O sonho foi muito agitado, estávamos novamente na faculdade e eu via o Alê de longe conversando com os amigos da turma, mas por mais que eu tentasse não conseguia me aproximar, uma multidão me impedia de atravessar o corredor que nos separava, eu tentava chamar a atenção dele, mas não conseguia uma resposta, então começava uma espécie de dança e um som alto fazia com que nada mais fosse ouvido. As pessoas começavam então a se mover e levavam-me com elas para uma espécie de avenida onde todos estavam protestando contra algo que eu não conseguia entender muito bem, estavam todos pintados de vermelho e gritavam palavras de ordem como Fora e basta!

De repente ouço um barulho de algo caindo e alguém sussurrando, mas não era mais no sonho, desperto com Gi que entrou em casa aos beijos com um desconhecido e derrubou um vaso pequeno que fica na prateleira de entrada. Ela então me vê para de beijar e pede-me desculpas.

- Aí amiga te acordei?! Escusa(desculpa)!

- Oi Gi! Não tem problema estava tendo um sonho não muito bom!

- Entendo, esse é o Fran!

- Plaisir ma belle( prazer bela)

- Prazer Fran. Podem continuar de onde estavam vou voltar a dormir.

Então fecho a porta do meu quarto de tento pegar no sono novamente, mas, fico refletindo sobre o sonho e os seus significados, nessas horas sinto muita falta da minha terapeuta que ficou no Brasil, ela iria ajudar-me bastante nessa volta repentina do Alê, afinal foi ela que me ajudou a superar o fim do relacionamento.

Eu e Alê namoramos durante 4 anos no período da faculdade e depois dela, então tivemos um relacionamento a distância, já que ele ganhou uma bolsa para estudar em Portugal, que entre idas e voltas durou mais 1 ano. Nesse período perdemos o contato e depois de 1 mês sem notícias entendi havermos terminado, porém, não foi tão fácil processar esse fim, já que tinha certeza que iríamos casar e havíamos planejado um futuro longo pela frente, na época também estava formada e sem rumo por não saber exatamente o que fazer com o diploma, já que não era exatamente o curso que desejava ter feito, mas sem coragem para começar outro fiquei enrolando por algum tempo, nessa época tive uma depressão que me levou a procurar ajuda psiquiátrica, então fui a Dr.Dilza que me recomendou a terapia e foi uma excelente opção, ajudou-me bastante a resolver várias questões.

De volta ao presente, depois de algumas horas consigo novamente pegar no sono e dessa vez não tenho sonhos perturbadores, acordo com o despertador me lembrando da aula que preciso dar a May, filha de uma colega de curso que estava tendo dificuldades com o inglês.

Apronto-me rápido e quando estou saindo dou de cara com o Fran na cozinha só de cueca bebendo água, nos comprimentos um pouco constrangidos, mas como estava em cima da hora eu só pego uma maçã e saiu sem mais diálogos.

A aula acontece sem surpresas, a May apesar de dispersa é uma boa aluna e com o tempo desenvolvi um bom método para ensina-lá, propondo a ela pequenos desafios que a mantém atenta e está dando bom resultado.

Depois sigo para Universidade onde o meu orientador me espera para revisão de mais um capítulo da tese, apesar de caxias e bastante criterioso o Peter é um ótimo orientador, um dos melhores professores do curso e sei que com ele tenho a garantia de entregar um trabalho bem-feito, além de já garantir créditos para um possível doutorado, como ele vem falado há um tempo. Hoje ele faz algumas observações sobre alguns autores em cujas teses eu poderia aprofundar-me mais, e me recomenda outras leituras, tento não reclamar muito apesar de pensar onde arrumarei tempo para ler tanto, já que preciso dar aulas, fazer todo o serviço da casa e escrever.

Após 1h acaba então a reunião e vou-me encontrar com a Gi para almoçarmos, ficará de ajudar ela a encontrar uma roupa para o casamento de uma amiga que se aproxima, também resolvo procurar algo leve para vestir no meu encontro com o Alê,  já que há tempos não compro nada novo para mim e as minhas roupas têm andado muito escuras ultimamente.

Nos encontramos então no « La Maison de Verlaine” que nós gostamos e fica perto da Universidade.

- Princesa, o Fran disse-me que esbarrou em você na cozinha quando estava bebendo água, ele ficou todo sem jeito.

- Diz a ele que não tem problema, estava tão apressada que nem reparei nele direito.

- Que bom então, mas me conta em que pé está a situação com o Alê ?

- Bom ele me ligou ontem a noite e marcamos de sair hoje no fim da tarde para tomarmos um café e botarmos os papos em dia.

- aaaiii, precisamos encontrar algo melhor para você vestir então.

- Uê, minhas roupas estão feias por acaso?

- No ma belle( não minha bela), pero você precisa de uma cor nesse seu looK sempre Black and White( preto e branco)

- Tudo bem, já havia pensado nisso também. Tem uma loja naquela galeria da esquina que vi algumas coisas bonitas na vitrine e estou querendo dá uma olhada.

- Então ótimo, vamos comer e seguimos para lá.

Pedimos então os nossos pratos, eu uma salada orgânica com molho de gorgonzola e a Gi um risoto de frutos-do-mar, dividimos uma jarra de vinho da casa e fomos as compras.

Primeiro entramos em uma loja de vestido de festa para Gi escolher o vestido do casamento, ela prova alguns e decide por um vermelho lindo com uma fenda lateral que ficou maravilhoso no seu corpo e contrasta com a sua pele alva e cabelos negros. Ela fica muito bonita e vai arrasar no casamento.

Depois vamos à loja que vira antes, vejo alguns conjuntos, mas nada muito diferente até que vejo um cardigan vermelho muito bonito que vai combinar bem com uma calças preta justa que ganhei de uma colega no meu aniversário, resolvo então pegar um par de brincos dourados para combinar e a Gi vê um conjunto azul que também irá ficar bem em mim, provo e resolvo pegar mais uma peça para finalizar, acho uma saia amarela com laranja bem bonita e com uns desenhos de flores que gosto.

Termino as minhas compras a tempo de mandar mensagem para o Alê com a localização do café que fica próximo a minha casa e que eu adoro.

- Oi! Ainda está de pé o nosso café?

- OI Anne, tá sim, bem na hora, manda aí a localização que te encontro lá!

- Segue aí então, até já!

Despeço-me da Gi que se encarrega de levar as compras para casa, deseja-me Boa sorte e sigo em direção ao café, vou caminhando devagar já que presumo estar mais perto do que  o Alê, no caminho até entro numa livraria para ver se tem alguma novidade que chame a minha atenção, encontro um livro de poemas renascentistas que pode servir-me de referência também para tese e sigo para o meu tão esperado encontro.

Continua...

Fran:

Looks escolhidos: