É madrugada quando a chuva caí forte na estrada, enquanto a água caí lá fora, lágrimas lavam o meu rosto. Sinto um peso sair do meu coração, e um alívio preencher a minha alma.
Eu tenho diversas dúvidas sobre se estou fazendo a escolha certa, se eu não deveria tentar mais uma vez.
Mas confesso que eu estou tão exaurida de ser ofendida, de ser ameaçada de morte, de ser humilhada. A gota d'água foi encontrar a mulher que se diz minha irmã, Paola, com o meu agora ex-namorado Rodrigo.
Nós estávamos juntos a pouco mais de 3 anos, por ele nós já teríamos casado, mas desde que descobri a primeira traição eu desencanei. Ele implorou para voltar disse que mudaria e que foi um erro. Hoje eu sei que traição não é um defeito e sim uma escolha.
Aquele que se diz meu irmão, mais uma vez me bateu, o motivo?
O seu time de coração perdeu!
Sabe quem me apoiou? Me protegeu? Ninguém, por incrível que pareça a minha genitora como sempre lhe protegeu, a que se diz minha irmã simplesmente ignorou e o meu genitor pouco se importou.
Não sei, mas estou começando a acreditar que tem gente que nasceu para viver no sofrimento.
Eu sou formada em Contabilidade, mas isso não significa que eu seja bem sucedida, muitas vezes para conseguir um bom emprego é preciso ter um "padrinho, uma madrinha". Me formei através de uma bolsa que consegui na faculdade. Nasci em um lar completamente desajustado, posso dizer que sou uma sobrevivente.
Estou desempregada a dois meses, tenho um pouco de dinheiro guardado, eu já tinha este desejo de recomeçar longe, por isso fui guardando um dinheiro.
Após mais uma agressão, eu resolvi largar tudo e todos para trás, saí com uma mochila e uma bolsa de mão. Pesquisei na internet uma casa pequena, em uma vila, para alugar em outro estado, liguei para a dona, conversamos um pouco e ela disse que me esperaria chegar, devo chegar em 2 dias, para economizar estou indo de ônibus.
Assim que chegar na cidade comprarei outro chip, não quero ninguém me perturbando, apesar de ter certeza que para eles eu fiz apenas um favor.
Eu me chamo Rafaella, sou preta, tenho 26 anos, olhos cor de mel, cabelo cacheado na altura das costas, meço 1,55m.
[...]
Nossa estou exausta, mas agradeço por ter chego bem, aqui é bem quente, terei que me acostumar com o calor daqui.
A dona Márcia foi muito receptiva, a casa é pequena, mas é bem arrumada, até parece casa de boneca, o melhor de tudo é que ela já está toda mobiliada, o que me ajuda muito financeiramente. Já fiz uma transferência adiantando três meses do aluguel.
Arrumo as minhas coisas, tomo um banho e vou até o mercado comprar algumas coisas.
— Olá moça, você é a nova vizinha?
— Boa tarde! Sou sim, me chamo Rafaella e a senhora?
— Sou a Rosa, se precisar de alguma coisa pode me chamar, moro ali naquela casa.
Ela aponta para uma casa de muro vermelho.
— Muito obrigada dona Rosa, se a senhora também precisar de alguma coisa pode me chamar.
[...]
Faz um mês que mudei e até agora não encontrei nenhum trabalho, tenho enviado currículo para tudo quanto é lugar. Não perco a esperança que em breve tudo irá melhorar.
A dona Rosa e eu estamos bem próximas, ela trabalha de cozinheira para um grande advogado e empresário. Ela é uma figura, me divirto muito com as suas histórias.
Ela é casada com o senhor Geraldo e tem um filho chamado Daniel, ele trabalha de motorista para o patrão da dona Rosa, acho que o seu nome é Leonardo Millani.
Hoje vim ao shopping entregar alguns currículos, eu preciso trabalhar não importa qual é a função desde que seja honesto. Agora que entreguei todos, vou aproveitar para dar uma volta, apesar de não gostar muito, mas como eu quase não saio de casa, vou me dar o luxo de tomar uma casquinha.
Estou a caminho do ponto de ônibus, quando paro em frente a uma joalheria e fico ali namorando um colar lindo, com um pingente vermelho em forma de coração, super delicado.
— Aí!
Digo ao cair no chão, após uma mulher trombar em mim.
— Você! Parada aí.
Olho para trás e vejo uma mulher muito bem vestida falando comigo.
— Pois não.
Digo confusa.
Logo encosta algumas viaturas de polícia em frente a joalheria.
— Quem foi que roubou a loja?
O policial pergunta para a mulher.
— Foi ela.
Diz apontando para mim.
— Eu não roubei nada, eu sou inocente.
— Todos dizem isso, deixa eu ver a sua bolsa.
Estico a minha bolsa lhe entregando.
Assim que eu a pego do chão.
— Inocente é? O que significa isso?
Ele diz apontando para duas pulseiras que caíram no chão quando estiquei a minha bolsa.
— Não sei! Não. não. não fui eu.
Digo gaguejando.
— Você está presa por roubo.
É muito azar para uma pessoa. Eu estava na hora e lugar errado.
Vou para delegacia, o delegado faz o boletim, digo como tudo aconteceu, mas infelizmente contra provas não há argumentos.
[...]
Faz 20 dias que estou presa, eu passei a noite na delegacia, e na manhã seguinte fui transferida para o presídio feminino.
Fui totalmente negligenciada, não me deixaram ligar para ninguém e não me colocaram em uma cela especial por eu ter graduação.
Eu acho que no fundo eu vou morrer aqui dentro, não sei nem se eu terei direito a um julgamento.
Quando cheguei aqui as mulheres foram extremamente hostis, hoje a situação é um pouco melhor após ouvirem a minha história, no começo ninguém acreditou que eu era inocente, mas após verem eu contar sempre com os mesmos detalhes, elas passaram a acreditar em mim.
Tem horas que me arrependo de ter saído da minha cidade, viver aqui é realmente um inferno, você não tem privacidade, não tem o mínimo de conforto, a pior parte é ter que conviver com ratos, eu tenho pânico deste animal, toda vez que vejo um eu faço o maior escândalo.
— Ei nanica, você tem alguém para ligar?
Sim, este é o meu apelido.
— Sim, gostaria de avisar a dona Rosa que estou viva.
— Toma liga aí, você tem que ser rápida, tem 2 minutos para falar.
— Muito obrigada, chefe.
É assim que chamamos a líder da cela.
— Alô dona Rosa?
— Sou eu a Rafaella, preciso falar rápido, eu estou presa no presídio feminino, fui acusada de roubar duas pulseiras, eu sou inocente, mas infelizmente não tenho como provar, só estou te ligando para avisar que estou viva e te agradecer por tudo.
— Tchau dona Rosa, amo a senhora.
Nem lhe dou tempo de falar nada.
— Aqui está, muito obrigada mais uma vez.
Me sento no meu canto e me permito chorar tudo o que tenho segurado estes dias.
Não é fácil você ter sua liberdade privada sendo inocente.
— Coitada da minha menina Daniel, ela está presa, disse que é inocente, mas não tem como provar.
— Onde ela está mãe?
— No presídio feminino.
— No sábado eu vou até lá dar um jeito de vê-la ou descobrir o que eu devo fazer para que possamos visitá-la.
— Ao menos ela conseguiu dar sinal de vida, eu já estava preocupado achando que ela tinha morrido.
— Porque você está chorando Rosa?
Digo ao entrar na cozinha.
— Não é nada senhor Leonardo.
— Como nada, quem foi presa injustamente?
— A minha menina Rafa.
— Quem é esta?
— É a nossa vizinha, uma menina muito boa, a tenho como uma filha.
— Você tem certeza que ela é inocente?
— Tenho sim. Ela tem um coração muito bom.
Me conte o que sabe.
Ouço atentamente as suas palavras.
— Você sabe o nome dela completo?
— Rafaella Peixoto.
O Daniel responde.
— Ok, irei ajudá-la por causa da senhora, mas se ela não for inocente eu mesmo darei um jeito de fazê-la pagar por seus atos.
— Muito obrigada, senhor Leonardo.
— O senhor poderá descontar do meu salário aos poucos.
— Não precisa Daniel, darei o meu melhor, agora me dêem licença que vou começar a ir atrás do processo dela.
Sou o Leonardo Millani, tenho 31 anos, sou preto, tenho 1,93m de altura.
Sou o advogado e CEO junto com os meus irmãos, Pietro de 38 anos e o Márcio de 40 anos dos escritórios de Advocacia Millani.
Como vocês viram eu sou o mais novo de três irmãos, por um motivo que eu desconheço o meu pai sempre foi muito severo comigo, quando ele chegava em casa estressado, eu sempre levava uma surra ou era proibido de jantar. Minha mãe nunca fez nada para me proteger, eu nunca tive privilégios, meu pai sempre fez questão de dificultar tudo para mim, inclusive eu tive que ralar muito para ter as minhas coisas, meus irmãos me ajudavam muito, eles compravam roupas, produtos de higiene tudo o que eu precisava.
Meus irmãos sempre me defenderam, nunca ficava sozinho quando meu pai estava por perto. Quando fiz 18 anos fomos morar nós três juntos em um apartamento e foi neste mesmo período que fundamos o escritório assim que eu iniciei a faculdade, meus irmãos já eram formados, então para mim foi uma grande oportunidade de aprendizado. Meus irmãos deixaram de trabalhar na empresa dos meus pais, não preciso dizer que meu pai só não me chamou de santo, de tanto que ele me ofendeu, dizendo que a culpa de tudo era minha.
Uns 2 anos atrás, estava voltando de uma reunião, quando percebi que o meu carro estava sem freio, fiz o que pude para não machucar ninguém, acabei batendo em um poste e infelizmente eu acabei ferindo a minha córnea, me fazendo perder a visão. Estou na fila aguardando a oportunidade de fazer um transplante.
Eu disse que este acidente foi proposital, mas infelizmente por falta de provas ele foi arquivado.
Nem mesmo o meu acidente fez com que eu me aproximasse dos meus pais, hoje toda esta rejeição e indiferença não me afeta mais.
Eu era noivo, eu amava aquela mulher, foi no dia do nosso casamento que ela me deixou esperando no altar como um idiota. Somente depois de me fazer passar a maior vergonha, foi que ela me disse que não daria para continuarmos juntos.
Como eu sofri! Sofri tanto que achei que não fosse me reeguer, mas aqui estou eu, feito uma fênix.
A falta da minha visão mexeu demais com o meu emocional, passei dois meses trancado no quarto, até que um dia eu acordei e decidi que era hora de reagir, então fui aprender a ler em braile, graças ao meu esforço consigo advogar normalmente.
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