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O Escritor

Capítulo - 1

- Bom dia senhor….

- Mendes, pode me chamar de Mendes.

- Bom, o senhor Marshall se encontra meio ocupado então deverá demorar um pouco o seu atendimento, senhor…

- Tudo bem, eu aguardo, na verdade daqui pra frente meu tempo será meu trabalho…

- Desculpe, não entendi?

- ...tudo bem, apenas pensei alto aqui…

  Sou Felipe Mendes, um nobre escritor , já renomado mas, com uma obra pendente. Alguns livros meus viraram novelas famosas e já ganhei um best seller. Mas, nos últimos anos busquei ficar distante dos holofotes.

    Recusei os convites de televisão e rádio. Parei de escrever as notas no principal jornal de Milão, ao qual perdi inclusive meu contato. Dediquei- me a uma reclusão perpétua para desvincular me dá imagem que criei. Um pop star literário.

    Os atores das adaptações de meus livros aos poucos quebravam o imaginário de meus leitores fazendo com que eu perdesse minha identidade. Meus personagens tinham um pouco de mim. Mas, o dinheiro falava alto na época e cedi tudo para as principais editoras e emissoras italianas.

    Tem razões para a secretária que me abordou não me reconhecer. E me sinto livre e liso veado por isto. Mas tenho certeza que Dom Marshall saberia que eu era. Poderia até não reconhecer por rosto mas pelo nome. Mesmo não dando meu primeiro nome. Felipe! De propósito! Gosto do jogo da descoberta.

- Senhor, enquanto aguarda quer um café e uma bolacha?

- Gostaria sim….

  A secretária, uma moça bonita mas com traços conhecidos da família mais poderosa que a Europa já teve. Principalmente na década de 60. Onde a Europa superava as grandes guerras e embarcaram para ascensão de sua economia. 

- A senhorita trabalha aqui a muito tempo?

- Não, tem apenas um ano…

   Na mosca! Está mulher deve ser no mínimo, filha de um conhecido bem próximo de Don Marshall. 

   Percebi que a atarefada secretária estava incomodada com tantas perguntas então peguei minhas bolachas com café e meu caderninho de anotações e desandei em escrever. Este era meu pilar. Desde pequeno escrevia romances. Fantasiava heróis. Meus pais adotivos eram rígidos c minha educação. Eles não podiam ter filhos na época então me adotaram. O problema , para mim , foi que depois minha mãe teve gêmeos. Eu acabei sendo um empregado da família. 

   Mas, me dediquei, estudei e… escrevi. Escrevi tanto que não me casei, não tive filhos, distanciei- me de meus pais a ponto de saber de suas mortes anos depois dos óbitos.

    Meus irmãos? A última vez que os vi estavam na América. Foram a bienal do livro ao qual me pediram autógrafos, e enfim, me reconheceram como irmão! Tudo muda com o sucesso. Tudo mudou em mim, menos meus pensamentos e suas transcrições…

- Senhor tenho que sair, meu turno terminou. Prazer em conhecê- lo.

- Obrigado pela atenção, querida.

    Nada me surpreendia se não fosse atendido por Marshall hoje. Mas, quando tiver uma oportunidade e, com meu currículo sei que ele aprovaria o que eu iria propôr.

    Não há segredos! Um escritor, escreve. E , estou ali para escrever sobre o Dom.

    Seria uma história não de sua vida, mas de sua família. 

    Lógico e evidente que teríamos algumas restrições, Dom Marshall era muito cuidadoso.

    Mas, quem escreve tem seu mundo! E , em meu mundo, quem manda na história sou eu!

- Senhor Mendes!?

- Sim

- Infelizmente Dom Marshall teve que sair mas, amanhã ele atende o senhor…

   Mal o esperei terminar os lamentos e agradeci me direcionando ao estacionamento. Tudo foi adiado, mas tinha certeza que se ele me visse….

Capítulo - 2

No estacionamento , já em meu carro preferi descansar no conforto de sua poltrona. Pelo retrovisor, via engravatados aglomerando um senhor de cabelos brancos, era o Dom.

   Mesmo sabendo que tinha que agir, estava em frente ao meu maior personagem. O livro que sempre quis fazer…. Lá vou eu, Deus me ajude…

- Don Marshall, Dom Marshall….!!!

- Por favor se afaste senhor….

   Os guardas troglodita ameaçavam  pegar as armas de seus ternos italianos caros.

- Deixem-o, deixem-o

   O Dom, se virou pra mim e sua face carrancuda se mudou ao acertar seus óculos e me reconhecer..

- O senhor é o escritor Felipe M.

   Felipe M. É como era apresentado nas adaptações das grandes novelas e nas capas rebuscadas de meus livros.

   Por isto, não fui atendido. Por ter me apresentado como Mendes. Mas, foi o que queria. Conversar com Dom longe de seu mundo. Seria melhor…

- Sim, senhor, me daria um tempo do senhor, sei que o senhor deve estar ocupado…

- Por favor Felipe, tenho todo tempo do mundo…. O que vai fazer agora?

- Bom, estou desocupado também. Na verdade a sua disposição….

- Então vamos. Vamos na minha limousine…

   A limusine reproduzia toda a grandeza do seu passado e presente, carregado de vitórias e memórias , de história! A família Canelloni , mais uma com nome de macarrão italiano, é uma das mais antigas de Palermo. E suas vitórias e derrotas são minha premissa como escritor. E meu porta voz , e não a melhor, teria que ser seu filho ilustre. Marshall Canelloni!

- Então meu nobre, não vejo aos suas novelas e nem livros, o que aconteceu?

- Pois é, preferi me concentrar na vida Don Marshall.

- Muito bom, quando homem percebe seu valor, consegue entender melhor os dos outros!

  Dom Marshall sempre teve bons ensinamentos a dar em suas falas, fato que o resto da família não era tão ameno e pedagógico assim. Talvez isso me entusiasmava escrever sobre sua família agora.

   Lembro-me que um dia sem irmão, Dom Canavari iniciou o registro dos feitos da família, porém dois escritores morreram misteriosamente no processo.

- Então, sua vida não merece ser escrita Felipe?

- Ainda não senhor! Não há interesse ! Se escreve conquistas, aventuras, romances, dramas… minha vida não cabe em páginas!

- Gosto de seus livros. Um dia destes estava lendo " Meu Erro", acho um pouco sanguinário e destemperada a história, pra falar a verdade não gostei dos caminhos que a protagonista levou. Mas gostei dos detalhes. Idas e voltas do passado e presente. Gosto disso!

-Bom ouvir isto Don Marshall.

- Por favor, só Marshall!

- Ok. Então, eu vim aqui….

- Ei… por favor vamos almoçar primeiro, depois que levamos o primeiro Espaguete à boca , a glicose no sangue nos concentram em decisões mais perspicazes.

  Seguimos ao restaurante. Meu pedido reproduziu ao de Don Marshall. Apesar de sua fortuna, seus passos sempre foram discretos. Almoços em restaurantes particulares, reservados com família…

   O macarrão estava ótimo, o silêncio era ensurdecedor mas necessário. Realmente sentia a energia daquela massa explorando meu corpo.

   Dom comia rápido e rapidamente pediu sua sobremesa. Ambrosia! Ele adorava , com muito limão!  A garrafa de vinho foi aberta, curiosamente depois do macarrão. Depois do primeiro drink Dom balançou a cabeça pra mim. Sem pronunciar uma palavra se quer. Ele diminuiu de propósito nossa aproximação. Não sabia o que viria , era estrategista demais. Talvez o maior da família.

- Dom, como o senhor sabe sou escritor e …

- Sim o Dom… sei quem é Felipe,sei quem você é, Acredite!

- Então, eu gostaria de fazer um livro  do de sua família, uma história, genealógica …

   Enquanto falava, com pernas cruzadas , saboreando seu vinho em doses cavalares Marshall me olhava focado, diminuindo seu ar prepotente a cada pronúncia que fazia das vitórias de sua família.

- Sabe, meu irmão um dia quis fazer isto, e não deu muito certo Felipe…

- Por favor Dom, …. Desculpa, Marshall. Não quero divulgar nada que desagrade ou desvalorize sua família. É uma honra para mim, acredite.

- Eu sei que é uma honra, Felipe. Acredite, é uma coisa que queria.muito. Ver uma novela, filme ou mesmo um livro sobre nossa família. 

- Isto é um sim, senhor Marshall?

   Enquanto esperava sua resposta, Marshall recebeu um recado de seu segurança e pediu a conta levando o último gole de seu savignone carbene.

- Por favor levem o Senhor Felipe ao carro dele .

   E assim terminou seu vinho levantando e se virando sem me cumprimentar. Estava meio preocupado com algo. Não era de práxis ele ser  mal educado, principalmente com quem almoçava. E quanto me levantava veio a surpresa.

- A partir de amanhã, o senhor será meu hóspede até o término de seu livro. Leve tudo que tiver de sua casa. Neste processo quero que esteja bem próximo a mim.

Capítulo - 3

Estava na sala de Don Marshall no horário programado, oito da manhã. Não se encontrava, somente sua assessora  pessoal e sua filha única ,Luana Canelloni.

    Enquanto as horas passavam fui orientado por Luana, de revisar a antiga obra , banhada em sangue de seus elaboradores.

    A obra foi feita a mando do filho de Pablo Canelloni, na época Pablo era o Dom da família, e seu filho, assim como Luana hoje, seu assessor.

     Seu filho e assessor , Paolo Canelloni, queria uma obra limpa dos momentos e.passados conturbados da família. Uma obra sanguinária iria atrapalhar as pretensões da família. O problema foi que o primeiro autor do livro, involuntariamente ou não, mancha o início da obra com sangue de Matheo Canelloni, patriarca da família. O escritor sumiu do mapa dias depois de lida a obra por Paolo.

     Enquanto manuseava , privilegiada mente a obra nunca publicada, fui vendo os motivos para tanto… podia fazer melhor…. Sou capaz!

- Senhor Felipe!? 

    E Dom chegou, sua cara estava séria, e estava como.me.deixou ontem depois do jantar…

- Senhor Marshall…

- Bom, vejo que está com a obra anterior. Permiti que minha filha lhe entregasse. Aproveite " cuidadosamente" algumas coisas, por favor.

   Ao manusear a obra percebi o teor cuidadoso de início da presente obra, mas fica evidente que não prestar tinta as vozes que se calaram ao longo destes anos seria inevitável. Teria que ser cuidadoso. Muitas mortes em nome do poder e sua ascensão foram praticadas.

- Então, Senhor Felipe  gostaria que o senhor  tratasse esta obra de forma única e singular. Queria que as batidas de seu coração assim como sua respiração dependesse dela a partir de agora?!

- Sim senhor, existe alguma restrição, haja vista que , como está na presente obra em minha mãos um pouco de sangue nas páginas…

- Não há restrição alguma. Penso que Paolo quando leu estava nervoso com tal obra. Mas, acredito que sua escrita será maleável ao seu discernimento dos momentos de atritos que nossa família teve.

- Entendo, mas senhor M….

  Fui interrompido com a sabedoria de Marshall. Ali vi um representante divino de uma família mafiosa. Um perigo passivamente nobre e cheio de suspense.

- Sua vida não está em risco, senhor Felipe. Minha filha, assim como eu estaremos ao seu lado buscando avaliar sua escrita da melhor forma. Mas, gostaria de sua avaliação criteriosa.

- Sim senhor, eu gostaria de saber ..

- Por favor seja rápido nas perguntas.

- Sim, é sobre isto mesmo. Talvez tenhamos que ter um tempo juntos para elaboração de capítulos. Aproveitando o Ensejo gostaria de saber se posso sair  de vez em…

- Não! A partir de hoje o senhor estará somente aqui em minha mansão. Aqui tem médicos, alimentos , e tudo o que o senhor necessitar. Inclusive um escritório para seu trabalho. O senhor, se precisar de entrevistar alguém, fale para com minha filha Luana, ela irá trazer os entrevistados. 

 -  Ok, mas, tem algumas pessoas que precisaria entrevistar que…

- Está se referindo aos Brasi?

   Realmente , estava me referindo a família rival de décadas dos Canellonis. O silêncio fez Marshall se esparramar em sua cadeira à minha frente e respirar fundo. Ele ascende seu charuto  e ao borrifar dias semi argolas de fumaça, responde categoricamente…

- Nem tudo se.pode ter meu caro. Mas, estará comigo em algumas reuniões e poderá consultar as personalidades dos Brassi.

  Aquilo me surpreendeu e me fez relaxar. 

- Nossos encontros serão sempre às nove da noite num tempo de uma hora. 

           - O senhor será convocado, como disse a algumas reuniões sigilosas da família e das famílias… os riscos não partirão de mim , senhor Felipe. Mas, das circunstâncias…

- Mas, alguma.coisa?!

- Não, senhor.

- Mãos à obra então. Minha filha lhe mostrará seus aposentos. O que precisar de com ela. Inclusive sobre o livro.

  Indiretamente sou um preso literário do maior mafioso que a Europa já viu. Enquanto Luana me mostrava os cômodos eu me debruçava em minha vitória atual. Está seria minha maior obra. Espero que ela não devore o que restou de mim….

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