Moro numa fazenda no interior do Sul do país, sou de uma família humilde e trabalhadora, temos uma pequena terra que cultivamos uvas, sou a mais nova de três irmãos. Caio, Vinte cinco anos, Ita de vinte dois e eu Serena de vinte anos.
Meus pais Beto e Cida são nossa estrutura e nossa base. Não medem esforços para nos ajudar a vencer os obstáculos que são muitos. Meus irmãos cultivam a terra e cuidam de poucas cabeças de gado. Não somos ambiciosos e não queremos o que é dos outros, vivíamos tranquilos até o dia em que um poderoso fazendeiro comprou a fazenda vizinha e tem perturbado nossa família com interesse em nossas terras. Estamos ficando cansados de tantas tentativas frustradas todos os dias sobre nós.
Não sabemos o real interesse nessas terras que está na família do meu pai a um século, nosso vinhedo é centenário e a produção é muito pequena diante das fazendas vizinhas.
Eu cresci aqui, no meio desse verde com os pés no chão e sem conhecer a maldade humana. Nunca soube das atrocidades da cidade grande, pois meus pais nunca comentavam casos de violência ou nos deixava saber notícias ruins. Nos protegeu do mundo e não nos preparou para ele.
Temos um vilarejo com pessoas simples que vivem das vendas de vinhos e queijos, muitos turistas visitam nossa vila, temos apenas três pousadas, muito aconchegantes porém simples. O povo aqui não vê maldades nas pessoas, acham que todos são bons, exceto senhor Malaquias, o dono do empório, ele veio da cidade grande a muitos anos, ele está sempre um pé atrás com as pessoas, ele é o melhor amigo do meu pai e sua esposa é prima da minha mãe. Ele tem uma filha que é minha melhor amiga . Rosa é da minha idade, e vive no mundo da fantasia, acredita no amor e em príncipe no cavalo branco, vivo puxando ela de volta para terra quando ela órbita.
Tudo que o chão toca nessa região é verde. As uvas exalam um perfume nobre por onde passamos, é época de colheita e juntamos alguns trabalhadores para a safra, as pessoas cantam e contam casos na hora do serviço, estão todos unidos no objetivo da prosperidade da colheita.
_ Serena! Reúne o povo pro almoço!
Meu pai grita quando para a caminhonete com o almoço, todos se servem, é um banquete em uma mesa improvisada na lavoura.
Olho pelo caminho e vejo dois homens se aproximar a cavalo, estão procurando meu pai, sinto meu coração apertado, não os vejo com bons olhos e meus irmãos ficam atentos próximos a eles.
Um parece ser o dono da fazenda vizinha e outro mais jovem com uns trinta anos, ele é muito bonito e Rosa já está suspirando pelos cantos. Tento ouvir o que dizem, mas meu pai caminha com eles para longe dos empregados.
Sinto uma grande curiosidade e sou interrompida por um dos coletores.
_ Você deveria me dar uma chance Serena! Eu posso te ensinar a me amar, e construirmos uma família.
_ Não Carlos! Eu já te falei pela milésima vez que eu não quero, não está nos meus planos casar, constituir família agora. Eu tenho outros sonhos e você não faz parte dele. Sinto muito!
Não gostaria de ser grossa com ele mas já está ficando inconveniente.
A semana passou e trabalhamos arduamente a semana toda, ainda por mais umas duas vezes vi aqueles homens conversando com meu pai.
Preciso descobrir o que tanto conversam, e o que querem com a nossa terra.
Trabalhamos na colheita da uva a semana toda e estamos fazendo o melhor na produção do vinho. Colhemos as melhores uvas da região, a Cabernet Sauvignon e começamos a cultivar uvas brancas para fabricação de espumantes. Na sexta-feira a noite e durante todo sábado trabalhamos no mercado de rua, uma feira onde turistas de todo o país vem conhecer nossos vinhos e queijos.
Eu e meus irmãos revezamos na feira, vendemos o queijo que minha mãe faz , um dos melhores da região. Somos felizes com a vida que levamos, não precisamos mais do que isso.
Rosa trabalha nos finais de semana com o pai no Empório, de vez em quando ela vem pra onde estou. Vejo os olhares de Caio pra ela, que não dá a mínima pra ele. E olha que ele é lindo, alto, pele clara, cabelos pretos nos ombros, seus olhos pretos o faz ficar mais atraente, as turistas babam no seu porte físico.
Ita é muito bonito também, ele só é um pouco mais baixo e o cabelo é liso e curto. Esse é um moleque, não quer compromisso com ninguém, está feliz pegando uma e outra.
Toda semana é a mesma coisa, só descansamos no domingo, quando não tem algum evento especial na cidade.
Estou na banca vendendo queijos e meus irmãos na calçada vendendo vinhos, vejo um grupo de rapazes, cinco com o filho do tal fazendeiro, o Senhor Otávio. Chegam em dois carros esportivos fazendo muito barulho, falando alto e rindo. Olham as moças trabalhando e se engraçam como se eles fossem a última garrafa d'água no deserto. Vejo Rosa se derretendo e babando nos riquinhos da cidade. Tento chamar sua atenção mas nem olha pra mim.
Caio já está queimado de ciúmes, já nem presta atenção nas vendas. Assim foi durante muito tempo, depois Rosa saiu e disse que ia tomar um banho para voltar.
Procuro Ita para irmos embora e o vejo agarrado a uma turista.
_ Você vai agora ou vai ficar?
_ Podem ir! Vou depois, estou na outra caminhonete.
Ele adora aparecer, já vem na caminhonete mais nova para pegar as tontas de plantão.
Rosa não voltou, deu a hora de irmos e começamos a juntar as coisas e colocar na picape. Quatro dos rapazes se aproximam e começam a puxar assunto dos vinhos, vejo que o filho do Sr. Otávio não tira os olhos de mim. Ele é muito bonito, parece um príncipe, tem um físico escultural, seus cabelos são pretos com um corte moderno, pelas suas roupas percebe-se que tem status. Como não ligo para isso não dou confiança. Sinto que estão nos atrasando com essa conversa. Já estou cansada e louca para ir para casa.
Caio é muito educado e gosta de conversar, dá toda atenção e eu começo a ficar inquieta. Ele percebe e entra na picape.
Andamos poucos metros saindo da vila.
_Caio! Aquela não é a bicicleta da rosa?
_ Sim! E o carro dos rapazes?
_ Sim!
Ouvimos um grito de socorro, descemos correndo e Caio abre a porta do carro e Rosa está sendo violentada por um dos rapazes. Caio pega o infeliz pelo braço e lhe golpeia várias vezes com socos e chutes desfigurando a cara dele, eu grito por socorro e vejo Rosa desfalecendo toda ensanguentada, para um outro carro e são os rapazes, nisso chega mais gente. Eles separam Caio de cima do rapaz. Pegamos Rosa e levamos as pressas para o hospital. Ligo para os meus pais e peço ajuda. Caio está com as mãos machucadas.
_ Você tem que sair daqui!
Fugir do flagrante, eles virão atrás de você.
_ Eu não vou fugir! Ele que é o criminoso.
_ Não! Eles são poderosos, vão te colocar atrás das grades por agressão e você quase matou aquele desgraçado. Você precisa sair daqui. Vai! Papai já está chegando. Vai!!!
_ Eu te mando notícias, você vai me falando como ela está.
Pego todo dinheiro das vendas de hoje e entrego pra ele que vai embora .
Estou muito agitada, preocupada com minha amiga. Não demora muito meus pais chegam com os pais de Rosa, Sr Malaquias está inconformado, Dona Eva está desesperada. Meus pais tentam ajudar.
A polícia chega, foram chamados pela direção do hospital. Ela está em estado muito grave e não podemos vê-la.
Eu estou tentando me controlar, tentando manter a calma. De repente vejo os rapazes entrando e o agressor numa maca desacordado.
_ Onde está seu irmão? Fala onde está aquele covarde? Se acontecer alguma coisa com meu primo eu acabo com ele.
_ Sério? Você acaba? Quero ver! Porquê se seu primo sair dessa ele vai passar o resto da vida dele atrás das grades sendo mulher dos presos, isso eu te garanto.
Encaro o rapaz que me olha com sangue nos olhos, não diferente de mim. Que não suportava esse riquinho e agora o odeio.
_ Serena! O que está acontecendo aqui?
Meu pai pergunta alterado, quando o hospital inteiro ouve nossa discussão.
_ Já resolvi, pai! Agora é com a polícia.
Meu pai arregala os olhos, parece ter medo do filho do Sr. Otávio.
_ Venha Serena! Chega de confusão, os pais de sua amiga precisam de você.
Saio dando as costas aquele cretino. As horas não passam quando precisamos de notícias. já deram calmante para os pais dela. São momentos difíceis, a polícia já tomou meu depoimento e dos rapazes, só falta o da Rosa e do Caio. Liguei pra um amigo advogado aqui na cidade, ele orientou que ele tem que se apresentar em vinte e quatro horas. Se o rapaz que foi agredido não tiver complicações ele responderá em liberdade.
A noite será pequena por tanta espera o pior é ficar toda hora dando de cara com esse playboy.
Estou atenta, para saber se o infeliz não morreu, não quero que meu irmão pague por um crime que não cometeu.
Minha mãe me abraça, me confortando, estou em ponto de explodir. Só espero que justiça seja feita.
Rosa é levada para o quarto, onde eu estou com os pais dela, Está dopada não deve acordar hoje. Já conversei com Caio que vai se apresentar amanhã, já está tudo no jeito para ele não ser prejudicado.
Rosa dormiu a noite toda; estava sedada e está acordando agora. Os médicos pediram para sairmos do quarto, ouço gritos desesperados ela está em surto, meu corpo arrepia e começo a chorar.
O príncipe da uva levanta assustado e me encara com pavor.
_ Está ouvindo? Espero que esteja! Porque meu ódio por vocês só aumenta. Ele destruiu a vida de uma menina linda! Ele acabou com essa família. Eu te aconselho a levá-lo para bem longe daqui, porque o povo dessa cidade vai terminar o serviço que meu irmão começou.
Ele está assustado com minha prepotência. más não consigo me segurar. Abraço dona Eva que chora desesperada, eles não mereciam passar por isso.
Depois de muito tempo ela acalmou, sr. Malaquias não quis entrar no quarto, está sem coragem. Eu e dona Eva entramos, ela nos viu e começou a gritar novamente, custamos acalmá-la. Agora está dormindo, vai ser um longo processo até ela voltar ao normal, se um dia voltar.
Caio deu o depoimento e foi para casa, tem que esperar até o infeliz cicatrizar o nariz quebrado, duas costelas e um testículo.
Foi muito pouco pelo que ele merecia.
Depois de cinco dias ela sai do hospital e volta para casa. sua vida é chorar e olhar para o vazio. Não fala uma só palavra. Estou surtando com isso, ela precisa reagir eu preciso da minha amiga de volta.
Seu pai ainda não a viu, ele foge o tempo todo, quase não fica casa, tem bebido muito. Meu pai tem cuidado dele. Dona Eva é a força dessa família, está de pé por um milagre, cuida da casa, da filha, do marido e do comércio.
O brilho daquela família apagou -se, a casa está escura, as janelas não abrem, nem as cortinas. Tudo fechado como se o mau fosse entrar por alguma fresta.
Vou na sua casa todos os dias depois do serviço. A ajudo com o banho, vejo que ainda tem muitas marcas roxas pelo seu corpo, que parece estar anestesiado.
Ela não está conseguindo comer, coloco colher por colher em sua boca. Amaldiçoo esse cretino a cada dor que ela sente, a cada lágrima que ela derrama, a cada suspiro de angústia que ela dá. Tenho vontade de quebrar a cara dele e espero que algo seja feito.
Os dias tem sido muito difíceis, más tento ser forte.
Estamos novamente preparando para almoçar na vinha, quando vejo sr. Otávio e seu filho novamente conversando com meu pai de dentro de uma caminhonete de luxo. Não suporto mais ver essa situação, meu pai precisa explicar o que esse povo quer, está incomodando muito. Não somos mais crianças e se tem alguma coisa acontecendo que seja ele a falar com a gente.
Juntamos para almoçar na nossa mesa improvisada na vinha, ouço comentários maldosos de Carlos. Meu sangue ferve, pego meu prato e saio de perto, tem pessoas que não merecem nem respostas.
Ele insinua que Rosa foi culpada, que ela foi atrás e que a vítima foi o pobre rapaz rico. Ele está pedindo pra levar um murro na cara, como a situação já não está boa prefiro não discutir
Estou juntando os vasilhames e vejo o tal príncipe me olhando. Finjo não ver, não quero brigar e muito menos me chatear.
_ Boa tarde Serena!
_ O que tem de bom?
_ Não precisa falar assim, só quero saber se sua amiga melhorou?
_ O que você acha?
_ Difícil conversar com você! Está sempre armada, não consegui responder uma simples pergunta sem explodir.
_ Eu não tenho que te tratar bem, eu nem te conheço. Com licença!
Falo passando por ele e colocando as coisas na picape.
_ Eu me chamo Heitor! Agora você já me conhece.
Olho com pouco-caso, entro no carro e o deixo plantado na estrada.
Não me interessa quem ele é, muito menos saber seu nome. Quero distância desse cara.
Chego em casa batendo tudo, estou muito nervosa, preciso procurar relaxar, mas a situação da minha amiga não me deixa voltar a ser o que eu era.
Sento na escada de entrada de casa e choro muito, chego a gritar de nervoso, coloco todos meus fantasmas para fora, respiro fundo, corro para o meu quarto, tomo um banho, visto uma roupa leve e vou para vila, tenho que cuidar da minha amiga.
Chego na sua casa e estão todos procurando por ela, estão desesperados ela saiu e ninguém a viu.
Pego o carro e saio nas estradas de acesso à vila, vejo uma blusa de frio jogada na estrada. Saio do carro e começo a chamar seu nome, ela não responde. Entro em desespero e começo a correr por entre o vinhedo. Avisto ao longe ela andando por entre a vinha, sinto meu coração aliviar.
Ela está perdida em sua dor, não há tento parar, só a sigo e a deixo caminhar até cansar. Quando suas pernas começam a falhar a coloco no carro e a levo de volta para casa. A ajudo tomar um banho e te dou sua sopa.
Não podemos mais deixá-la sozinha, está ficando perigoso.
Volto tarde pra casa, no caminho noto que estou sendo seguida. Olho pelo retrovisor e vejo a caminhonete do Heitor se aproximar, ela é mais potente e mais rápida, ele me fecha e eu paro de uma vez. Saio do carro vendendo azeite aos canecos.
_ O que você pensa que está fazendo?
Ele não me responde, desce do carro com brutalidade e vem em minha direção e me pega pelo cabelo e me beija a força. Me solto dos seu braços e espalmo minha mão no seu rosto, ele sente o peso de minha mão e passa sua mão sobre os vergões dos meus dedos.
_ Você não devia ter feito isso! Não se bate na cara de um homem!
_ Você nunca mais encosta em mim! Não se toca em uma mulher sem seu consentimento.
E se você se aproximar de mim outra vez eu passo em cima de você.
Entro no meu carro e saio às pressas, não entendi porque ele me beijou.
O que ele pensa que sou? É um cretino realmente. Minha raiva só aumenta.
Chego em casa vejo que todos estão deitados. Vou no quarto do Caio que está muito preocupado com Rosa, conto como a encontrei hoje e que se ela não melhorar vamos ter que procurar ajuda de um profissional.
Ele concorda comigo e chora abraçado a mim. É de partir o coração, eles não merecem passar por isso.
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