14 de maio de 2021. Está data nunca mais vai sair da minha mente, este foi o início do nosso fim. Do meu fim!
Sem dívidas foi o pior dia da minha vida, e digamos eu sou especialista em dias maus.
Eu sei que as coisas não estavam boas entre nós, mas o que eu descobri neste dia foi suficiente para me fazer duvidar se Deus existe, e se ele tem um plano para nossas vidas.
Era um dia comum de trabalho, o meu aviso estava quase no fim, e havia uma pequena satisfação nisso.
Foi uma manhã tranquila no trabalho, e entre um cliente e outro eu conferia o celular, esperando uma mensagem dele.
Nem no meu pior pesadelo eu poderia imaginar o que estava prestes a acontecer!
13:14 da tarde e eu estava lá sentada no caixa imóvel, eu sentia uma dor tão forte que eu não sabia dizer de onde vinha, as minhas mãos frias tremiam tanto. Eu não conseguia acreditar que aquilo estava a acontecer.
_Não o meu Deus, não comigo, não agora!
Eu pedia em pensamento para que tudo aquilo fosse uma mentira, um engano, um sonho!
Eu estava num estado de choque e euforia tão grande, que tudo ao meu redor parecia se mover em câmera lenta.
Ouvi uma voz que chamava o meu nome, bem baixinha, e foi aí que eu tive a certeza de que não estava sonhando.
_Não, isso não é um pesadelo, é real, está a acontecer comigo, e agora. Por quê? O meu Deus! Por que permitisse?
Uma lágrima quente e pesada caiu, cortando o meu rosto gelado em direção ao meu peito, e depois dela veio um rio de lágrimas, o meu corpo gelado e imóvel doía tanto, e o sentimento na quele momento era de um vazio sem fim. Eu não conseguia controlar as lágrimas.
Aquela voz foi se tornando cada vez mais alta, e uma mão tocou o meu ombro.
Nessa altura eu já não conseguia enxergar nada na minha volta, os meus olhos e os meus óculos estavam completamente embaçados, eu fui deixando o meu corpo escorregar pela cadeira e quando me dei conta já estava de joelhos no chão!
E mais uma vez suplique a Deus mentalmente.
_Meu Deus por favor não deixa isso ser verdade. Não tira essa alegria de mim, eu já passei por tantas coisas. Deixe-me continuar a ser feliz, só desta vez! Eu imploro-lhe!
Eu estava ali de joelhos no chão, aos prantos, mal conseguia respirar ou falar. Uma multidão havia se formado ao me redor, todos olhavam para mim. Eu estava a sentir tanta dor que não conseguia pensar em mais nada.
Havia um rio de lágrimas correndo descontroladamente nos meus olhos.
Eu já vivência o fim do "meu mundo" muitas vezes nesta vida, e no entanto acordava na manhã seguinte e continuava a viver. Mas desta vez eu sabia que não teria mais continuação. Não agora, não assim, não para nós!
Eu sabia que da quele momento em diante não haveria mais volta. Sim, este era o fim! O nosso fim! O meu fim!
Você deve estar se perguntando quem é que começa a contar uma história pelo final não é mesmo? E a resposta é ninguém, porque se eu não contar o início talvez você não consiga entender porque aquele era o meu fim também.
Eu chamo-me Gabriela tenho vinte e nove anos, e uma carga de vida de uns cem anos. Sem exageros, mas minha vida daria uma boa novela de drama.
Família pobre, pai alcoólatra e falecido, bullying na escola, abuso sexual na adolescência, abandonos, transtornos piscicologicos, família dilacerada... Em fim sou mais uma típica favelada brasileira.
Mas eu vou falar aqui de uma história de amor, a minha história de amor. O ponto alto da minha vida! Sabe? Parece que vive todo esse tempo esperando por isso, e finalmente aconteceu.
E sim eu preciso falar um pouco do que deu errado para você entender o que deu certo.
O meu primeiro relacionamento de verdade começou quando eu tinha 19 anos, ele foi o primeiro em tudo! Morávamos no mesmo bairro, então eu já o conhecia de vista, mas foi somente pela Internet que eu realmente comecei a conversar com este homem.
Ele era muito bonito, o que chamava atenção de todas as mulheres, de alguma forma que eu não sei explicar ele começou a gostar de mim também, marcamos de nos encontrar no ‘shopping’ da nossa cidade, e depois deste dia começamos a namorar.
Namoramos por cerca de 3 meses até que ele me pediu em casamento. Eu era uma menina boba e inocente nessa época e aceitei, fomos morar juntos e casamos-nos no fim de 2012.
Nos primeiros anos ele era um marido normal, havia muitas brigas por ciúmes, mas eu sempre pensava que eu realmente dava motivos para isso.
Eu passei a usar mais calças jeans porque ele não gostava que eu usasse short, camisas largas para não marcar o corpo. limitei-me a uma ou duas amizades.
Era do trabalho para casa, mal visitava os meus parentes.
O ciúme dele foi aumentando tanto que estava-me a sufocar, mas eu amava-o. Havia momentos bons e eu não poderia deixá-lo.
Em 2014 as nossas brigas eram tantas que um dia ele me bateu, sim ele me bateu. E daí em diante eu apanhava em qualquer discussão.
A minha família morava no mesmo bairro do que eu. Mas não havia contato ou conversas. Eu ajudava-os quando eles pediam, mas era limitado a isso.
Desde que eu me lembro a minha vida foi assim! Sozinha. Então eu já estava acostumada a guardar tudo para mim.
No ano de 2018 decidi que iria voltar a estudar, fazer uma faculdade. Eu convenci-o de que era o melhor, e com isso eu encontraria um emprego bem remunerado, ele concordou e eu comecei a cursar direito empresarial.
Nessa altura já tínhamos o nosso carro e a nossa casa própria. Morávamos numa linda casa e havia mais um imóvel que alugávamos para um casal.
Eu trabalhava como caixa num supermercado local, o trabalho era ótimo, mas eu não tinha interesse em continuar ali por muito tempo. Havia um grupo formado e as hipóteses de crescimento eram zero.
O meu marido continuava-me agredindo frequentemente quando ele estava com ciúmes, e uma ou duas vezes ao mês eu ficava em casa por conta de algum machucado decorrente das agressões.
Eu não tinha amizades, saía com algumas colegas do trabalho, mas ele estava sempre junto.
Na faculdade além de direito empresarial eu cursava duas cadeiras de línguas, inglês e turco.
Participava de alguns fóruns internacionals, eu era simplesmente apaixonada por direito empresarial.
Em novembro de 2018 após ter o meu braço quebrado numa briga, recebi a permissão para ir num fórum internacional. Seria num hotel na cidade vizinha.
Chovia muito eu peguei um táxi até o hotel. Eu estava com gesso no braço quebrado para dificultar.
no táxi eu tentava esconder o roxo do meu olho direito com maquiagem, nessa época eu estava a pesar cerca de 120 kg. Não havia nem uma vaidade em mim, apenas o desejo de esconder-me do mundo.
Eu vestia uma calça, jeans azul-escuro, uma camisa social larga para não marcar o corpo e ténis. Estava com uma bolsa branca e um computador portátil que usava para estudar.
Ao entrarem no hotel fiquei surpresa com o tamanho do salão. Era um hotel fino, e claramente eu não estava vestida conforme as demais pessoas que ali estavam. Eu encontrei uma cadeira vazia na última fileira e fiquei aliviada por isso, O fórum finalmente começou e estava muito animada.
A primeira pessoa a falar foi um advogado argentino. Chovia muito naquele dia, então estavam presentes apenas metade dos palestrantes previstos.
Ao lado de cada palestrante havia um tradutor para que todos pudéssemos acompanhar o raciocínio. Eu assisti a muito empolgada, o último a falar subiu no palco.
Ele era um homem branco de uns 30 anos, usava um terno preto com uma gravata cinza, ele tinha uma barba discreta, cabelo bem cortado, tinha aproximadamente 175 de altura, relógio caro e uma malícia no olhar.
Ele estava lá sozinho, um dos organizadores do fórum subiu ao palco e perguntou se alguém sabia falar turco e ninguém se manifestou. Com a chuva forte o tradutor de turco acabou não vindo ao fórum.
Eu sabia umpouco de turco, mas estava com tanta vergonha. Como que por obrigação eu levantei a mão, o organizador ficou feliz e pediu para eu ir ao palco.
Sentei-me do lado do home turco e comecei a traduzir o que ele estava a falar, ele falava pausadamente para facilitar a minha tradução. Eu estava com muita vergonha, os quarenta minutos que fiquei ali pareceram uma eternidade.
Discurso terminado, eu ia buscar o meu computador portátil e a minha bolsa quando senti alguém segurando o meu braço. Eu me virei e era ele.
Ele queria agradecer por eu ter feito a tradução, e convidar-me para tomar um café.
Eu estava com tanta vergonha. Fazia alguns anos que ninguém era gentil comigo. Acabei a aceitar o convite para o café. Já que teria que comer algo de qualquer maneira.
Sentei-me na cadeira do restaurante do hotel, coloquei a minha bolsa e computador portátil em outra cadeira. Ele sentou-se na minha frente, ele pediu dois cafés e alguns acompanhamentos que confesso não lembrar quais foram.
Ele queria conhecer a cidade e convidou-me para apresentar-lhe, respondi que não poderia, pois, sou casada e também precisava trabalhar.
Conversamos por quase uma hora. Ele contou-me estar no fórum por castigo do seu pai, que administrava a empresa da família. Eu contei-lhe o básico, que era casada, trabalhava, estudava e não saia muito.
Confesso que fiquei extremamente encantada por ele! Havia 6 anos que eu estava casada e desde então sofria muito.
Despedimos-nos e acabei a dar o meu telefone para ele, seria sua tradutora caso ele voltasse ao Brasil.
Sim, eu fiz a burrada de conversar com esse homem lindo que se chamava Mehmet. acabei a contar bastante coisa sobre a minha vida, e ele contou sobre a dele também.
Eu não contei a Mehmet que apanhava do meu marido, mas contei-lhe apenas que ele era rígido e que não pedia o divórcio por medo.
Fomos nos conhecendo gradualmente, e tornamo-nos amigos, Mehmet estava na Turquia, mas voltaria ao Brasil em 20 de dezembro para tratar de negócios.
Nessa altura eu já estava apaixonada por ele! Conversávamos diariamente e confesso que ter ele deu-me ânimo para continuar a aguentar a vida que estava a levar no momento.
Mehmet chegou no Brasil no dia 21, ele trabalhou e cumpriu a sua rotina de reuniões até o dia 24. No dia 24 ele foi ao meu trabalho, pois era a única forma de ver-me.
Almoçamos na praça de alimentação do meu trabalho e todos estavam nos olhando, ele era um homem realmente lindo. Com um toque sofisticado, vestiasse com roupas caras, relógios caros e dirigia carros luxuosos.
Ninguém conseguia entender, inclusive eu, como um homem assim teria interesse ou ao menos uma amizade com uma simples caixa de supermercado.
Mas o que ninguém sabia era que ele era tão estragado mentalmente como eu, Mehmet vinha de uma família de elite, conhecida por movimentar a máfia turca, haviam empresas lícitas, mas 99% era apenas para lavagem de dinheiro do tráfico.
Nos almoçamos em silêncio e Mehmet convidou-me para ir até o seu carro. Eu aceitei!
No estacionamento, no carro Mehmet finalmente se declarou a mim. Ele disse que não conseguia parar de pensar em mim. E no quanto erramos parecidos.
Eu não conseguia acreditar que ele estava atraído por mim. Logo eu? Tão feia, tão gorda!
O fato era que eu sentia o mesmo por ele, neste mês que ficamos a conversar eu pude perceber que erramos exatamente iguais. Duas pessoas cansadas de sofrer a procurar uma maneira de ser feliz.
Mehmet é o típico homem com cara de mau, mas que é tão doce. Eu não sei explicar direito, mas ele tratava-me como uma princesa.
Quando conversava com ele, ou ao lado dele eu não sentia haver diferença tão grande financeiramente entre nós.
Lá estava ele sentado ao meu lado, tão vulnerável que o meu coração derreteu. Contei-lhe que também sentia o mesmo, e disse que se ele tivesse um pouco de paciência eu iria separar-me para podermos ficar juntos.
Ele estava impaciente, mas acabou a entender o meu ponto de vista. Não era a toa que eu o chamava de moranguinho (em turco que era "çilek"), porque ele era doce e azedo ao mesmo tempo.
Conversamos por mais alguns minutos, até que num impulso Mehmet me puxou pela nunca e me deu um beijo apaixonado. Isso foi a coisa mais errada que já fiz, uma mulher casada não sai a beijar outro homem no estacionamento, mas quer saber também foi uma das melhores coisas que fiz.
Eu senti-me viva de novo. Era como se alguém tivesse recarregado as minhas energias.
Voltei ao trabalho e nas horas seguintes fiquei revivendo o nosso beijo na minha cabeça. Aquilo era ótimo.
o meu turno terminou, bati o meu ponto, peguei a minha bolsa e entrei no meu carro. Dirigi até em casa com um sorriso enorme.
Chegando em casa tomei um banho e comecei a preparar a ceia de Natal. Nesta noite receberíamos alguns familiares.
Já fazia bastante tempo que não passava uma data comemorativa com a minha família eu estava muito feliz.
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