Seis anos antes
— Mas eu não quero ir embora, mãe...— resmunguei chorosa.
— Eu sei, querida, mas precisamos.— Minha mãe insistiu, seus olhos escondiam uma dor e desespero, mas ela tentava aliviar com um sorriso fraco.
— Ao menos devia me dizer o porquê, desta saída repentina! Não posso nem contar para ninguém...?
Ela me deve uma explicação, quem muda de estado de um dia para outro sem um motivo convincente?
— Não tenho tempo para explicar agora, filha, mas me promete que vai fingir ser um dia normal na escola?
Apenas a encarei, ela segurava meus ombros apavorada por uma resposta.
— Rebeca, eu sempre cuidei de você, confia em mim quando digo que devemos fugir daqui... é para sua segurança.— Ela estava muito aflita.
— Minha segurança?! Vou deixar todos meus amigos, namorado... por minha segurança? Somos ricos e eu não fiquei sabendo? — falei com indignação.
— Por favor, Beca, me prometa que não vai contar para ninguém e quando estivermos longe daqui, eu vou esclarecer tudo para você. Agora vá para escola, ainda tenho umas coisas pra resolver. Já terminou de arrumar suas malas?
Suspirei decepcionada, mas confiava na minha mãe, no fundo ela estava certa, sempre cuidou muito bem de mim.
— Já terminei a mala...
— Colocou apenas o necessário, né?
— Sim...
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Ruth (mãe da Rebeca)
Com o coração apertado, juntei tudo o que podia carregar, o restante tinha que abandonar sem pensar nos apegos sentimentais. O que importava era a segurança da Rebeca. Olhei os móveis velhos, mas que muito me serviram, a casa antiga foi nosso abrigo desde que Rebeca nsceu. Suspirei pesadamente e deixei uma lágrima cair, é difícil dar adeus a tudo o que tem.
Ainda emocionada com o momento, ouvi batidas fortes na porta, e automaticamente meu coração paralisou no peito, para depois bater freneticamente. A entrada que não havia permitido, mas não podia evitar, o homem que eu mais temia e que um dia me enganou, quebrando meu coração, agora estava diante de mim, com seu olhar ferino.
— R-rodrigo...? — gaguejei olhando o pai da minha filha entrar brutalmente em casa, junto dos seus capangas.
— Vai sair de férias, meu amorzinho?— Rodrigo perguntou olhando as malas arrumadas.
Meu desespero devia estar estampado em meu rosto, ele havia dito que só viria amanhã. Ele estava prestes a acabar com todo meu plano.
— Estava planejando fugir de mim, amor? E levar a nossa filha, logo agora que estou disposto a conhecê-la e dar tudo para ela? —
Rodrigo falou calmo, mas sua expressão era de puro ódio.
Fechei os olhos aterrorizada, respirei fundo buscando o ar. Precisava de um plano de emergência.
— Você nunca quis saber da minha filha, a criei sozinha, agora vem com esse "papinho" de querer conhecê-la? Tem segundas intenções nisso, não sou idiota, Rodrigo!
Ele sorri diabolicamente. — Eu sou um homem de negócios, Ruth. Confesso que criou uma filha linda, quando descobri que era virgem, vi a oportunidade perfeita de dá-la em um casamento de negócios. Ela vai me dar muitos territórios, expandir minha mercadoria e me render alguns milhões!
— JAMAIS! A essa hora ela já está longe! — Arrisquei uma mentira.
— Eu tenho maneiras de fazê-la falar, querida! — Ele me ameaçou.
— Pode fazer o que quiser comigo, eu nunca entregaria a Rebeca para você! — falei convicta.
Ele deu sinal para os capangas andarem pela casa, e logo um deles retorna com a passagem de ônibus que comprei. Meu coração chegou a gelar no peito.
— Florianópolis? É muito longe do seu lugar de origem, doçura. — Rodrigo diz irônico, enquanto rasga a passagem.
Sorte que não acharam a passagem da Rebeca, ela devia ter pegado e colocado na mala.
— Procurem a Rebeca! Revirem a cidade se for preciso! — Rodrigo ordenou aos capangas.
— Nunca vai achá-la! Já está longe uma hora dessas!
Ele se aproximou de mim, passou os dedos no meu rosto e me deu um beijo. Cuspi nele enojada.
— Ousada, linda e gostosa. Exatamente como há dezessete anos! Uma pena que me desafiou, não me serve mais e preciso manter minha posição durona, como um dos principais chefes do tráfico de drogas aqui do Rio de Janeiro. Não é pessoal Ruth, eu sinto muito.
Rodrigo não tinha nenhum sentimento enquanto falava. Ele simplesmente sacou seu revólver com aqueles olhos frios e apontou para mim. Podia ver o meu fim nos olhos dele, minha vida acabou ali. Sem hesitar ele deu dois tiros na minha barriga e eu nem senti nada, foi como se tivesse sentindo uma socos no estômago.
— Esta é a minha marca, vai sofrer um pouco antes de morrer. Pena que foi tudo em vão! Sabe que vou encontrar a Rebeca, Florianópolis não é tão grande quanto o Rio de Janeiro.
Ele se virou e saiu com seus capangas, me deixando jogada no chão. Com toda adrenalina ainda não estava sentindo a minha realidade, mas alguns minutos mais tarde uma dor aguda dominou meu abdômen e corpo inteiro. Levei as mãos aos buracos e pressionei, como se fosse possível estancar o sangue que jorrava.
Rastejei até o celular, precisava falar com a Rebeca. Gravei um áudio para ela, não sabia como estaria até voltar para casa.
A dor dos tiros não era maior do que a dor de deixar a minha filha sozinha neste mundo, exatamente como eu fui deixada. Só podia pedir a Deus que a protegesse do pai, e que ela conseguisse fugir para sempre.
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Rebeca
Estava muito triste e confusa, mas segui as instruções da minha mãe e agi naturalmente na escola. Foi estranho pensar que nunca mais veria meus amigos, me namorado...
Enquanto caminhava para casa, recebi um áudio da minha mãe, então fui ouvir.
"Filha... me perdoe por não falar sobre seu pai... ele é um traficante de drogas perigoso, e nunca se importou com você, tudo que eu quis foi te poupar da dor da rejeição. Agora ele está atrás de você, e não posso deixar que ele te pegue. Eu te imploro, Beca, vai embora daqui, e não olhe para trás! Você tem a oportunidade de ter uma nova identidade. Vai precisar usá-la para não ser encontrada pelo seu pai. Ele quer casar você com outro traficante, para rendimento dos negócios dele... coff...coff... me prometa que quando chegar em casa só vai pegar as suas coisas e ir embora! Não espere polícia, ambulância, nada! Só vá! coff...coff...Filha eu te amo, vai precisar ser forte agora... não desista dos seus sonhos... coff..."
Bastou ouvir as primeiras palavras para sair correndo feito um raio, a voz da minha mãe estava muito estranha, o que era aquela tosse? Com o coração apertado no peito eu corri com toda velocidade que meu corpo permitia. O que será que aconteceu? Pai traficante?
Cheguei em casa ofegante, fui entrando e observando como tudo estava revirado, cadeira de um lado, gavetas abertas e roupas jogadas. Num canto caída, estava a minha mãe sangrando. Corri até ela completamente desesperada.
— Mãe!? Meu Deus! Mãe!? — gritei a sacudindo e chorando.
Ela abriu os olhos bem devagar e tossiu sangue.
— Mãe... O que aconteceu? — Estava chorando amargamente, meu instinto foi abraçá-la.
Precisava fazer alguma coisa, peguei o celular e liguei para emergência. Com muito custo me entenderam e disseram que iam enviar uma ambulância.
— Filha vá embora, eu imploro! Coff...coff... — Ela parecia estar usando os últimos suspiros.
— Eu não posso deixá-la, mãe!
— Você pode, querida! Você ainda tem uma vida pela frente, não deixa seu pai estragar isso. Eu lutei para que tivesse uma vida melhor que a minha... vá... pegue a minha bolsa e uma mala sua e vá... tem tudo o que precisa para recomeçar a sua vida... coff...coff...
— Não mãe... eu não quero! Eu não posso!
— Filha, por favor... coff... realiza um último desejo para sua mãe... eu quero partir desse mundo crendo que fiz tudo o que estava ao meu alcance, quero saber que será livre! Vá embora... coff... A ambulância vai chegar... seu pai chama Rodrigo Torres, lembre desse nome para se afastar dele...coff...eu te amo filha... vá...
— Eu te amo mãe, eu vou embora, só porque eu te amo...
Beijei minha mãe e logo em seguida ela deu um último suspiro.
Sem poder lamentar a sua morte precoce, minha mãe tinha apenas trinta e cinco anos, me levantei tentando desligar meus sentimentos. Ao longe as sirenes tocavam, sem perder tempo, peguei a bolsa da minha mãe, uma das minhas malas e saí de casa antes da ambulância chegar.
Observei tudo de longe, escondida num beco, mas quando a polícia chegou tive medo e fui embora em direção ao ponto de ônibus mais longe que pude ir.
Abri a bolsa e dentro de um envelope havia um novo RG com minha foto, porém com o nome Ângela Novaes, ao invés de Rebeca Camargo. A data de nascimento que constava, me deixava seis meses mais velha, me tornando uma garota de dezoito anos. Tinha um histórico escolar, um cartão de banco com o nome da minha nova identidade, e um papel com uma senha.
Não achei as passagens, onde foram parar? Para onde eu vou agora? Como vou me virar sem minha mãe? Sem direção e completamente só, minha única esperança era a fé que minha mãe tinha em mim, então me confortei com suas palavras e dei tudo de mim para seguir em frente.
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Dias atuais
Olhei o reflexo da mulher no espelho, tentei encontrar algum resquício da Rebeca Camargo, os cabelos originalmente loiros, agora estão castanhos. Do meu verdadeiro eu, só restou os olhos verdes, porque nem mesmo a garota que costumava ser, está presente aqui dentro. Embora tenha vencido as dificuldades que a vida me deu, sou uma mulher solitária e deprimida, que tem por companhia os livros, meus desenhos e um gato, o Bob. Por sorte, tenho uma única amiga, a Nataly, que sem preconceitos, entrou na minha vida e me deu amizade maravilhosa, a conheci na faculdade de Pedagogia. O pai dela é dono da melhor escola particular de São Paulo. Por insistência dela, o seu pai me ofereceu um emprego, como professora suplente e ajudante do primeiro ano. Estou há cinco meses nesse novo emprego, finalmente um trabalho que envolve o meu currículo pedagógico. Trabalhando na escola, minha vida deixou de ser tão deprimente, estou amando o contato com as crianças.
Vinte três anos, pela "lei" vinte quatro, essa mulher que encarei no espelho, a Ângela, só trabalhou, estudou e hoje, mesmo tendo terminado a faculdade, continuou trabalhando e estudando. Pelo menos, tenho tido mais tempo para desenhar, um dos meus hobbies favoritos, além de ler.
Meu pai nunca me encontrou, mas vivo com um medo aterrorizante dele, não consigo me relacionar com ninguém, sempre acho que é um espião do Rodrigo, sair é uma tortura, sempre acho que alguém me persegue.
Suspirei e falei comigo mesmo, apontando o dedo no espelho. — Você tem que viver, Ângela! Quando vai sair das sombras? Já faz seis anos, seu pai não está mais te procurando!
Seis anos antes
— Satisfeito, gostosão? Tem a prova agora... — Lucy, fala mascando um chiclete sem parar.
Ainda sem acreditar, leio o teste de paternidade mais uma vez.
— Jonathan Ferraz, não adianta ler e reler... para nosso próprio bem, me dá o dinheiro que eu pedi, e eu faço o aborto e vivemos felizes para sempre, cada um no seu canto, com suas profissões. Sou uma mulher de palavra! — Lucy coloca a mão no peito.
Encosto na cadeira e estreito os olhos para ela:
— Mulher de palavra? Você me garantiu que não ficaria grávida e nem teria nem um risco... agora veja só? Eu paguei caro por você! Não tem palavra alguma... — Reviro os olhos.
Na verdade, o tolo foi eu. Como fui acreditar numa mulher de programa? As loucuras que faço, bêbado... agora a consequência bateu na minha porta, e não posso mais negar que o filho é meu. Respiro fundo, como poderia deixar ela matar esse bebê? Vinte seis semanas, isso seria um absurdo, não sou um assassino.
— Eu quero o bebê, Lucy. — Falo decidido.
Ela me olha de olhos arregalados e diz: — Eu não quero! Vamos ser realista, seu pai não vai gostar nada disso, logo agora que você assumiu a posição de CEO nos Bancos de vocês. Me paga logo e assunto encerrado, ninguém ficará sabendo e seguimos a vida!
— Eu não vou matar esse bebê, Lucy! Eu quero meu filho! Te pago o dobro do que está pedindo, mas para manter a gravidez. — A sua expressão muda rapidamente.
— Sendo assim, podemos negociar... — Ela esboçou um sorriso interesseiro.
— Vai ficar na minha casa, até esse bebê nascer, depois disso, ficarei com a criança e você seguirá sua vida, seja lá qual vida queira levar. Pago a metade agora e a outrabquando o bebê nascer. Quero um filho saudável, então nada de bebidas e drogas. Se meu filho tiver algum problema por sua causa, não pagarei o restante e vou te infernizar o resto da sua vida miserável! — Exclamei sério, a olhando profundamente, com expressão ameaçadora.
— Credo! — Ela abaixa os olhos.
— Vai assinar um contrato, que vai te proibir de reivindicar o meu filho, visitar, ou até mesmo falar com ele após o nascimento. — Emendei com domínio.
— Vai ser um prazer assinar o contrato, bonitão! Como já disse, não quero filhos, e vai ser muito fácil apagar 'esse' da minha vida!
Espero que o bebê não sinta a rejeição da mãe promíscua e sem escrúpulos.
"Vou amar você meu filho ou filha, na verdade, acho que já amo..."
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Dias atuais
Jonathan Ferraz, 31 anos
Olhando a garotinha de olhos azuis, como os meus, fico feliz e agradecido, pela milésima vez, de ter escolhido deixá-la viver. O ponto alto de luz na minha vida, meu maior bem.
Sentado no seu quarto, participo do "chá" das suas bonecas e nesse momento sou obrigado a ser o garçom dela.
Cuido da minha filha, agora com seis anos, com todo meu carinho, amor, dando o meu melhor para ela.
O sucesso dos negócios, os investimentos que fiz no banco, depois de assumir o cargo de CEO, apaziguou o meu pai, depois que surgi com a mãe da Isabella em casa. Meu pai escondeu a identidade da Lucy, e fez mais contratos para ela assinar do que eu imaginava. O público desconhece a mãe da Isabella, e não tocam mais no assunto. No momento, eu desconheço o paradeiro de tal mulher.
Em partes culpo meu pai, por meu lado mulherengo, ele foi casado pelo menos umas cinco vezes, e me criou dizendo que mulheres são todas iguais, um rostinho bonito que quer tragar toda a fortuna dos Ferraz.
Quando finalmente coloco Isabella na cama, dou um beijo em sua testa. — Boa noite meu anjo!
— Boa noite papai!
Cubro-a um pouco mais e espero que feche os olhos. Uma parte de mim, uma pena não ter uma mãe. Tenho ajuda da Nancy, minha empregada, meu pai se apegou a Isabella também, e já quer criá-la para ser herdeira dos Ferraz. Como sou filho único, por enquanto a Isabella, é a única que procede na família.
Minha mãe gosta da Isabella também, de um jeito diferente, compra muitos presentes e conversa com a neta como se ela fosse uma adulta, mas deixo-a fazer companhia, afinal, precisa de contato feminino, mesmo que por uma socialite extremamente vaidosa e com ar de superioridade.
Saio de casa e vou para o apartamento da Nicole. Há um ano estou num relacionamento, que para mim é apenas sexual, mas para ela somos namorados.
Nicole me tira o fôlego, é muito gostosa, bonita e atraente. Tem cabelos ruivos e olhos verdes sedutores.
Quase pegando no sono, Nicole desperta-me. — Quando vai deixar eu conhecer a Isabella?
Embora esteja cansado e sonolento, a pergunta me desperta totalmente.
— Hum?
— Já estamos juntos há um ano, Jojô, quero aprofundar um pouco mais nesse relacionamento! Começando pela sua filha...
O desespero bate na hora, o que estou fazendo com essa mulher? Nunca me sinto seguro para apresentar qualquer mulher para Isabella, ainda mais uma que eu não tenho o menor interesse de levar mais adiante o relacionamento.
Sempre que as mulheres se "aprofundam" em mim, eu caio fora e procuro outra. Não quero me casar. Para ser igual ao meu pai? Tô fora! Sei que todas são iguais, interesseiras! Mesmo as ricas, me querem por ter uma boa posição na sociedade.
— Bom... eu vou ver... é complicado...
— O quê é complicado? Sua mãe disse que sua filha é um doce! —Nicole me olha com melancolia, enquanto me levanto da cama assustado com as perguntas.
Essa vai ser difícil de me livrar, a minha mãe é amiga dela e faz de tudo para ficarmos juntos.
— Eu vou ver um dia. E... te aviso. — Respondo levantando da cama e colocando as minhas roupas.
— Não precisa ir, dorme comigo hoje... — Nicole continua manhosa.
— Gosto de dormir na minha cama. E depois quero estar presente quando Isabella acordar.
Nicole se joga decepcionada na cama.
— Da próxima vez, podemos nos encontrar na sua casa então... — Ela não desiste.
Não acredito nisso, vou ter que terminar com ela! Mas vou deixar para outro dia...
— Veremos! — Saio do apartamento praticamente correndo, não quero mais perguntas e esse negócio de "aprofundar relacionamento". Sei que minha filha tem sentimentos e jamais a submeteria às minhas "namoradas" sem noção e rasas. Para isso acontecer, eu teria que me apaixonar, de um jeito arrebatador!
— A professora Ângela vai entregar os convites do dia das mães para vocês. — Fabiana, a professora oficial das crianças anuncia.
Começo a entregar os convites, uma apresentação que as crianças farão para homenagear as mães.
Quando chego na Isabella, os olhos azuis me fitam com tristeza, fazendo meu coração partir.
— Não precisa dar o convite para Isabella, ela não tem mãe! — Sophia debocha da colega.
Engulo em seco, e fico esperando a professora oficial repreender tal atitude.
Sem se importar muito, Fabiana responde: — Já conversamos sobre respeitar os colegas, Sophia.
— Desculpa professora... — A menina se desculpa falsamente, porque logo em seguida, cochicha com a amiga ao lado dando risinhos debochados.
Sentindo uma profunda compaixão pela garotinha de olhos melancólicos, que sempre me pede para desenhar em seu caderno, me abaixo e falo bem baixinho, só para ela ouvir: — Não fique triste, princesa. Quer saber um segredo? Eu também não tenho mãe. Tenho certeza que você tem alguém que pode vir aqui, te ver apresentar a homenagem.
Ela me olha um pouco mais animada.— Meu pai!
— Isso mesmo! Entrega o convite para ele. — Sorri gentilmente.
No intervalo das aulas, fazendo um pequeno lanche na sala dos professores, Nataly aparece chamando atenção de todos, mas na verdade ela só queria a minha atenção. Sendo a filha do diretor e dono da escola, todos a respeitam.
— A-MI-GAAAA!!! — Ela grita silabando.
Sorrio do seu escândalo. — Fala, Naty.
Ela se senta do meu lado e dá uma mordida no meu sanduíche de atum e saboreia. — Delicioso como sempre!
— Quer falar alguma coisa? Porque todo aquele escândalo?
Ela termina de engolir. A morena de cabelos cacheados me fita cheia de pretensão.
— Vou sair com um cara, ele vai levar um amigo e pediu para eu levar uma companhia comigo.
Suspiro profundamente.
— Não está pensan...
Sou interrompida imediatamente, ela ainda tem a audácia de colocar a mão na minha boca! — Antes de rejeitar, precisa entender, que na verdade quero que você vá, não para fazer uma mera companhia a um cara qualquer, mas companhia pra mim. Ângela, quando você vai sair desse estado deprimente e melancólico, e aproveitar a vida! O que tanto te assusta, minha amiga?
Sinto meu coração acelerar só de lembrar do meu passado desastroso, que ela desconhece.
— Nada... — Minto.
— Eu respeito a sua ocultação do passado, mas já somos amigas há seis anos, não acha que passamos dessa fase de falta de confiança? Eu conheço você, Ângela, guarda um segredo grande e triste com você.
— Me desculpa, Naty... eu não vou te colocar no meu passado conturbado. Não é por falta de confiança, acredite. É para sua própria segurança.
— Certo, amiga, mas vamos sair da zona de conforto e vêm curtir comigo amanhã.
Lembro das minhas próprias palavras ditas no espelho ontem, suspiro e a encaro um tanto hesitante.
— Pra onde vamos?
— Não se desespere, mas em uma boate.
— Naty! — Exclamo desanimada.
Boates são os piores lugares, é um foco de distribuição de drogas, um risco para mim.
— É uma bem chique da alta sociedade.
— Não muda nada, só piora a situação. Não sou da alta sociedade, Naty.
— Eu sei... mas somos convidadas VIP, o Théo é amigo do dono da Boate.
— O "Théo" é o cara que está saindo?
— É sim, um advogado que conheci recentemente. Então? — Ela me olha ansiosa.
Com muita relutância em minha consciência respondo: — Hum... O que se veste nesses lugares chiques?
— Compro um vestido para você.
— Não, Naty, eu posso me virar.
— Aceite como um presente de agradecimento.
— Não precisa, é sério.
Durante a aula, em um momento, Isabella se levanta par vir falar comigo e acaba tropeçando em uma mochila jogada e cai, batendo a testa no chão. As crianças riam dela.
Levanto imediatamente e vou até ela ajudar a se levantar, com os olhos marejados ela me olha envergonhada. A testa está vermelha e parece iniciar um "galo".
— Está sentindo dor Isabella?
— Um pouco... — Ela choraminga.
A professora Fabiana repreende os alunos que estão rindo.
— Vou levar você para enfermaria. Vamos por um gelo aí, tá bom?— Seguro a mão da menina e olho para a Fabiana. — Vou leva-la na enfermaria e colocar um gelo.
Fabiana assente. — Vou pedir para ligarem para o pai vir buscá-la. Esse povo rico faz escândalos com qualquer coisa que acontece com os filhos. Ela revira os olhos.
Fico indignada com a falta de atenção e preocupação com os alunos dela, em especial agora, com a Isabella.
Na enfermaria, seguro um gelo na testa da menina, enquanto ela faz uma careta de dor.
— O que queria quando se levantou?— Pergunto tentando distraí-la.
— Mostrar um desenho que eu fiz de você...
— Depois você me mostra então, tenho certeza que ficou lindo! — Sorrio.
Ela sorri. — Quero desenhar como você pode me ensinar?
— Claro, princesa. — Prometo acariciando os cabelos loiros da menina.
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